CristinaAlgumas semanas depois...Hoje o dia está muito quente, mas sei que em breve vai cair uma pancada de chuva daquelas. Já ouvi na rádio e também na tevê do vestiário que vem muita chuva. Parece que tem um tufão bem na frente, na costa e se aproximando.Na Bahia já está chovendo horrores e muitas pessoas estão desabrigadas. Casas caíram, ruas ficaram inundadas, falta de energia e muita confusão. Meu medo é que isso vá acontecer por aqui também.Aqui é uma cidade plana em sua maior parte, mas alguns bairros são mais baixos que outros e como acontecia no meu bairro anterior, toda a água que vinha da parte mais alta descia pela escada que servia de caminho para chegar até o asfalto.Graças a Deus não moramos mais lá ou eu estaria bem nervosa agora. Estou no meu décimo sexto mês de gestação e minha barriga já está alta e bem redonda. Agora eu já sei que vou ser mãe de uma menina. Quando soube chorei como doida e a médica riu comigo, brincando que eu seria uma mãe babona. Não sei, a
Parte 1...Norton Já sabia que isso poderia acontecer. Estou ligado nas notícias desde ontem quando vi que falavam sobre toda a chuva que caía na Bahia e que provavelmente viesse para cá.O estado é pequeno e geralmente quando chove dessa forma por lá, respinga aqui, por assim dizer. E nesse caso, era o fim de um tufão. Espero que não faça tantos estragos.Mandei que fechassem tudo e baixassem as portas de segurança para proteger as paredes de vidro da empresa. Mandei que guardassem os carros mais luxuosos e caros no fundo onde o galpão é mais forte.Dispensei os funcionários. Dificilmente alguém iria aparecer para comprar um veículo nessa situação, apenas se fosse maluco o suficiente para isso. E não posso forçar meus funcionários a ficarem. A maioria deles mora muito longe e precisam pegar uma condução, às vezes mais de uma para voltar para casa.Não sei, mas meu pensamento voou para Cristina, quando vi duas funcionárias saindo apressadas em direçao ao ponto de ônibus. Será que ela
Parte 2...— Não esteve com mais ninguém?Ela se virou de novo para mim e dessa vez, seus olhos me matariam se tivessem raios saindo dele.— Não - disse apertando os dentes — Cruzar com um canalha já foi o suficente para mim, não tenho intenção de me meter com outros do seu nível - se virou e fechou a caixa maior — Se quiser um exame de DNA para comprovar, posso fazer aqui mesmo no trabalho, mas é seu.Pelo menos ela não disse infelizmente é seu. Porra!Fiquei incrédulo. Que absurdo. Eu nem sabia que seria pai. Toquei seu ombro.— Não ia me contar?— Claro que não. A criança é só minha - se virou.— É minha também - falei alto.Ela me olhou franzindo os olhos e começou a rir. Me senti um imbecil parado ali.— Sério que você acha mesmo - ergueu as mãos — Que tem algo a ver com essa criança? - segurou a barriga alta — Você foi só um deslize em mminha vida, nada mais. Não tem paternidade aqui.— Claro que tem - bati o dedo na testa — Está louca?— Estive, quando me deixei levar por seu
Cristina Quando entrei em casa minha pulsação estava acelerada. Sentei na primeira cadeira que achei pela frente. Minha mãe ficou preocupada.— O que aconteceu? Como ele veio parar aqui?— A senhora não imagina o susto que eu levei quando o vi no hospital, lá na clínica - puxei o ar — Nem sei de onde tirei forças para continuar de pé. Estava organizando as coisas para o internos idosos.— Vou pegar um copo com água pra você.Larguei a bolsa de lado quando minha mãe saiu apressada. Nem prestei atenção se ele já tinha ido embora. Levantei com as pernas tremendo e fui até a janela, puxando a cortina.A chuva estava forte, mas o carro não estava mais lá fora. Minha mãe voltou com o copo. Bebi tudo sem parar, de tão nervosa que estava. Nem sei mesmo como eu ainda consegui conversar com ele.— E agora? - mamãe estava preocupada.— E agora nada - devolvi o copo e me sentei de novo — Eu disse a ele que não tem que se preocupar, não quero nada dele.— Minha filha - ela gesticulava nervosa — E
Norton Cheguei em casa no modo automático. Nem sei como não fiz uma merda pelo caminho, com minha mente longe.Eu não conseguia parar de ver a imagem de Cristina com aquela barriga. Eu ia ser pai. Meu Deus, eu vou ser pai.— Norton... Que cara é essa?Olhei para o lado e vi meu irmão, Normando. Eu fui para a casa de minha mãe ao invés de meu apartamento. Nem percebi.— Você está todo molhado, cara.Balancei a cabeça jogando o cabelo molhado. Só agora notei isso. Preciso me livrar dessas roupas. Nem respondi e fui para o quarto, sendo seguido por Normando.Ele sentou na minha cama e eu fui até o closet procurar o que vestir. Estou com a cabeça a mil. Por que diabos eu estou me importando?— Vai me dizer que porra você fez?Parei com a roupa no braço. Olhei para meu irmão e ele entendeu que eu preciso de ajuda.Sentei ainda com a calça molhada na cadeira ao lado da janela e suspirei, olhando para baixo. Não sei, mas acho que estou emocionado.— Cristina está grávida - soltei.Ele abriu
Parte 1...CristinaDois anos depois...Não é fácil ser filha, mãe, dona de casa, trabalhar fora, estudar, ser amiga e ainda por cima, evitar cometer erros.Nunca pensei que teria uma vida tão cheia, mas entre dificuldades e alguns entraves, consigo ser feliz na maior parte do tempo, o que já está bom para mim.Minha pequena Lúcia veio ao mundo em uma tarde, quase escurecendo, depois de me fazer penar por mais de nove horas em trabalho de parto. Mas chegou forte, saudável e barulhenta. Por isso escolhi esse nome. Lúcia quer dizer luz, que é o que ela representa em minha vida.E eu chorei muito quando a colocaram em cima de mim. Um choro de felicidade máxima de ter aquele pedacinho de mim que já me fez sentir que tudo o que eu for fazer, será para que ela tenha a melhor vida possível, não importa o que seja.Eu escolhi o nome. Fiz uma lista imensa de nomes e fui riscando um por um, a cada significado que eu lia. Deixei cinco separados. Um deles seria o escolhido e isso eu saberia na ho
Parte 2...Faço pequenas coisas por ele, porém é muito mais por minha filha. Não vou deixar que algo que me machucou no passado, fique em cima dela, trazendo algum problema futuro.Nossas conversas são apenas sobre ela. Eu não falo nada sobre minha vida particular, embora eu tenha a desconfiança de que Pauline o informa de algo vez ou outra.Já eu não pergunto nada sobre ele. Tenho plena certeza de que ainda deve ter suas muitas amantes e ele é livre para fazer isso. Não existe um compromisso entre nós. O que nos liga é nossa filha.Em poucos meses Lúcia irá completar dois anos de idade e Pauline desde já, está preparando uma comemoração.Eu não queria, mas ela está tão animada que não quis cortar sua felicidade. Os dois outros filhos dela são apaixonados pela sobrinha, foi o que eu soube. Mamãe esteve na casa um dia para buscar a neta e disse que os dois estavam praticamente babando em cima dela.Gostei de saber disso. Quanto mais gente amando minha filha, melhor. Eu só quero coisas
Norton Não é fácil ser pai e não ter a cria por perto. Tive que aprender isso na prática e não posso mudar, pelo menos não agora.Tentei algumas vezes me chegar para Cristina, mas ela sempre me dava um gelo e me cortava. Demorou até que começasse a conversar comigo mais solta, mas ainda assim, nem perto do que ela foi comigo quando ficamos juntos.E como eu penso nesse fim de semana e em tudo que vivi com ela. E também em como sou idiota. Nunca imaginei que uma ideia tonta tivesse uma consequência dessa.Depois de ficar com várias mulheres e a cada nova tentativa eu ir perdendo o interesse, decidi procurar ajuda de um terapeuta para entender meus sentimentos. E também porque foi algo que minha família me indicou, após verem que eu não estava mais como antes.Coloquei tudo para fora e fui percebendo que eu sempre fui um covarde. Nunca quis me envolver de verdade com uma mulher porque eu tinha medo de perdê-la. Eu tinha uma ideia de que seria muito melhor nunca me envolver emocionalmen