As 48 horas longe de casa pareciam ter passado lentamente, mas agora, no caminho de volta, meu coração estava mais leve. Eu e Erick havíamos feito uma venda bem-sucedida para um cliente importante, e tudo indicava que as coisas estavam se encaminhando para um futuro ainda melhor. Estávamos animados, conversando sobre os planos para a oficina e a família.Erick havia cochilado no banco do passageiro, o ronco suave dele preenchendo o silêncio dentro dq caminhonete. A estrada estava movimentada, mas eu mantinha o foco. Cada quilômetro percorrido me aproximava de Holly e das crianças, e isso me dava forças.De repente, um caminhão carregando várias árvores cortadas entrou na minha frente. As enormes toras estavam amarradas com cordas grossas, mas era óbvio que o peso fazia com que tudo balançasse. Bufei impaciente e pressionei a buzina, esperando que o motorista acelerasse ou mudasse de faixa. Mas ele continuava lento, obstruindo minha visão.O tráfego estava complicado, e ultrapassá-lo p
O relógio na parede parecia se mover devagar, cada segundo uma inquietação crescia em meu peito. Já haviam se passado 72 horas desde que Grady partiu, e ele não voltou como prometido. Tentei afastar os pensamentos ruins, mas o aperto no coração era forte demais para ignorar.“Se ele fosse se atrasar, ele teria avisado”, pensei, enquanto pegava o celular pela décima vez naquela manhã.Disquei novamente o número de Grady, mas o som frio da mensagem de “fora de área” me recebeu mais uma vez. O desespero começou a se instalar.— Droga, Grady... onde você está? — murmurei, abraçando-me como se isso fosse conter a angústia.Eu sabia que ficar parada em casa não me ajudaria. Decidi ir até a casa de Liz, a única pessoa que talvez tivesse alguma notícia. Erick estava viajando com Grady, e Liz também devia estar ansiosa.Peguei minha bolsa e caminhei até o carro. As crianças estavam com Tammy, então, pelo menos, não precisavam ver minha preocupação. Durante o trajeto, tentei me convencer de que
Liz percebeu o clima pesado que pairava na sala. Não era difícil notar que aquela mulher bem-vestida, que me encarava com um olhar frio, trazia um fardo do passado.— Crianças! — Liz chamou, sua voz sempre gentil, mas dessa vez com um tom decidido. — Que tal brincarmos no quintal? Vocês podem tomar banho de mangueira! Vai ser divertido!Ryan e Trevor gritaram animados, enquanto Megan hesitou, lançando um olhar preocupado para mim.— Vá com eles, querida — sussurrei, forçando um sorriso tranquilizador. Ela obedeceu, ainda relutante, e segurou a mão de Liz, que rapidamente os conduziu para fora da casa.Quando a porta se fechou, o silêncio tomou conta. Só restávamos eu e Sheron.Eu respirei fundo, tentando processar a cena surreal à minha frente. A mulher que sempre me julgou, que nunca aceitou meu relacionamento com Derick, estava ali, na minha sala. Sheron Derick Simpson.Meu coração estava disparado. Por que ela tinha vindo? Como descobriu onde eu morava? Cada pensamento parecia mais
— Seu marido é o quê? Mecânico? — Sheron perguntou, com um sorriso irônico se formando nos lábios finos. — Uma profissão que mal consegue colocar comida na mesa.Eu fiquei boquiaberta, incapaz de acreditar no nível de desprezo que essa mulher tinha.— Como você sabe tanto da minha vida? — perguntei, com o tom afiado.Sheron ajeitou o coque impecável e sorriu com uma calma que me irritou profundamente.— Eu tenho as minhas fontes, querida. Não se engane, eu sempre sei o que preciso saber.Antes que eu pudesse respondê-la, Liz entrou na sala ofegante, a expressão dela cheia de preocupação.— Holly! — ela chamou, com a voz trêmula e acelerada. — Ligaram do hospital...Meu coração parou.— Do hospital? — perguntei, sentindo as pernas ficarem fracas.— É o Erick e o Grady — Liz continuou, tentando recuperar o fôlego. — Eles sofreram um acidente de carro... Estão internados!As palavras dela ecoaram na minha mente, e senti o chão sumir sob meus pés.— Meu Deus... — foi tudo o que consegui d
As últimas semanas haviam sido intensas. Grady e eu estávamos tentando voltar à nossa rotina após o acidente. Ele ainda sentia dores de cabeça, mas os médicos garantiram que era normal e que passaria com o tempo. Observávamos as crianças brincando no quintal. Os risos delas eram como música, ajudando a silenciar os pensamentos turbulentos que ainda insistiam em rondar minha mente.Grady segurava minha mão, e por um momento tudo parecia tranquilo. Mas o som de um motor se aproximando quebrou a serenidade. Um carro preto de vidros fumê estacionou em frente à nossa casa, e um calafrio percorreu minha espinha. Grady apertou minha mão, notando minha tensão.— Quem será? — ele murmurou, sua voz carregada de alerta.Antes que eu pudesse responder, a porta do carro se abriu, e um homem alto e bem vestido desceu com passos firmes. Ele segurava um envelope pardo em suas mãos e parecia saber exatamente o que estava fazendo.— Boa tarde! — disse ele com formalidade, parando a poucos metros de ond
O ambiente do tribunal estava tenso, com um silêncio que parecia gritar. Meu coração estava acelerado enquanto caminhávamos até nossos assentos, com Grady ao meu lado e o nosso advogado liderando o caminho.Sheron já estava lá, sentada de forma confiante, com aquele olhar de superioridade que me deixava inquieta. Seu advogado, um homem impecavelmente vestido e claramente experiente, mantinha uma postura firme, parecendo pronto para atacar.Quando nossos olhares se cruzaram, senti o desprezo evidente nos olhos dela, mas não deixei transparecer nenhuma fraqueza. Pelo menos, tentei.Grady colocou a mão nas minhas costas, num gesto de apoio. Sussurrou baixo:— Estamos juntos nisso, Holly. Não se esqueça disso.Assenti, apertando minha bolsa com força.O juiz entrou na sala, e todos se levantaram. Ele era um homem mais velho, com uma expressão neutra e firme. Quando nos sentamos novamente, o julgamento começou.O advogado de Sheron foi o primeiro a falar. Ele se levantou com confiança e co
Ao chegar em casa, tirei os sapatos na entrada e senti o alívio imediato ao tocar o chão frio com os pés descalços. Grady se sentou no sofá da sala, passando a mão na nuca, visivelmente cansado.— Vou preparar um café. Quer uma xícara? — perguntei, enquanto caminhava em direção à cozinha, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava.— Quero sim. — A voz dele era firme, mas eu percebia o cansaço misturado à preocupação em seu tom.Acendi o fogão e coloquei a chaleira para esquentar. Enquanto esperava a água ferver, meus pensamentos vagavam. A imagem de Sheron no tribunal, com aquele ar de superioridade, não saía da minha cabeça. Me apoiei no balcão, sentindo o peso da situação.Grady apareceu na cozinha, encostando-se à porta.— Você está bem?Olhei para ele por cima do ombro e forcei um sorriso.— Não sei... Fico pensando se estamos fazendo o certo. Levar as crianças ao tribunal... será que é mesmo a melhor decisão?Ele se aproximou, cruzando os braços enquanto se encostav
O som da porta se abrindo foi o primeiro sinal de que as crianças estavam de volta. Não precisei olhar para saber que era Megan, a pequena sempre foi a mais rápida. Ela correu para mim, com aquele sorriso que só ela tinha, e, ao me ver, se jogou nos meus braços.— Mamãe! — Ela gritou, me abraçando forte.Eu sorri, aliviada ao sentir o calor do abraço dela, a sensação de normalidade retornando, mesmo que tudo ao nosso redor estivesse desmoronando.Enquanto isso, os meninos correram para Grady. Ele, sempre tão gentil com eles, os abraçou com a mesma intensidade que me abraçou. Eu podia ver o quanto ele os amava, e a forma como eles o viam como uma figura paterna. Aquela cena me trouxe um conforto imenso.Mas o peso da situação ainda estava ali. Eu respirei fundo, me afastando um pouco dos abraços calorosos das crianças, e falei, tentando manter a firmeza que sabia que precisaria:— Crianças, precisamos conversar... Na sala. — Minha voz era suave, mas firme.Grady, sempre ao meu lado, pe