Júlia então trancou a porta e finalmente pode prestar atenção em todos os detalhes do quarto. Era um quarto simples, com uma cama, uma mesa de estudos e refeição, um painel com uma tv, um aparelho de telefone e um de ar condicionado, e a pouca decoração que tinha era feita com palha e concha. Tudo impecavelmente limpo.
Sentou-se na cama e ficou pensando se não estaria ficando louca em se aventurar sozinha, desbravando lugares, sem se preocupar com trabalho ou contas a pagar. Mas por fim concluiu que merecia um descanso. Que merecia um pouco de paz.
Tomou um banho, colocou uma roupa leve e deitou-se para descansar um pouco. Como estava há alguns dias sem dormir direito e agitada organizando tudo para a viagem, logo pegou no sono.
Já eram nove horas quando alguém lhe despertou de seu sono, ligando para o telefone do quarto:
- Oi – Atendeu ainda sonolenta.
- Olá, boa noite! Sou o Fred! Desculpe-me por te acordar, mas a Laís deixou anotado que você gostaria de usufruir do nosso serviço completo e o horário do jantar já está se encerrando.
- Nossa, eu perdi a noção do tempo. Já são nove horas?
- Sim! Nove e dez.
- Ainda dá tempo de eu jantar?
- Dá sim. Por isso estou te ligando. Vamos aguardar você descer.
- Muito obrigada! E desculpe-me pelo incômodo, estava muito cansada da viagem.
- Sem problemas!
Júlia então se levantou e se arrumou rapidamente para descer e jantar.
Ao descer as escadas encontrou Fred no balcão da recepção.
Fred era um homem alto, moreno, de corpo malhado, olhos castanhos, boca carnuda e cabelo curto. Um verdadeiro deus grego, pensou ela.
- Oi! Começou Júlia
- Oi Júlia! Muito prazer em conhecê-la!
- O prazer é todo meu! – Disse se esforçando para parecer natural, ao passo que por dentro estava pensando que literalmente era um prazer ver aquele homem tão lindo que mais parecia uma miragem.
- A Laís te mostrou onde fica nossa sala de jantar?
- Não.
- Venha comigo que lhe mostro.
- Claro, obrigada!
Fred lhe acenou mostrando a direção a seguir.
A sala de jantar estava vazia. Júlia ficou com vergonha, pois havia perdido o horário e atrapalhado o trabalho da pessoa responsável pela cozinha.
- Desculpe-me mais uma vez pelo atraso! Prometo que não vou me atrasar mais!
- Sem problemas. Essas coisas acontecem. Pode ficar à vontade para se servir. Vou voltar para à recepção. Qualquer coisa é só me chamar.
- Obrigada!
Júlia então foi até o buffet se servir. Não haviam muitas opções, mas a comida parecia estar saborosa. Tinha arroz, feijão, sopa de legumes, carne de panela e uma pequena variedade de salada.
Serviu-se de sopa e sentou-se em uma das mesas. Ao provar teve a sensação de que estava comendo a sopa que sua avó fazia para ela quando era ainda uma criança. Esforçou-se para não ser invadida pela emoção que uma simples sopa lhe trouxe. Fazia muito tempo que não comia uma comida tão saborosa e que a fazia lembrar de sua infância.
Tentou comer o mais rápido possível, pois estava com medo de atrapalhar o descanso de alguém.
Logo que terminou a refeição saiu em direção à recepção onde novamente encontrou Fred.
- Comeu tão rápido. Gostou do jantar?
- Nossa! Como gostei! Fiquei até emocionada com o sabor daquela sopa. Lembrou a minha infância, minha avó. Só comi rápido porque não queria atrapalhar o descanso de ninguém.
- Fico muito feliz que tenha gostado. Nossa comida é muito conhecida na cidade. Modéstia parte todo mundo gosta.
- E como não gostar? Pela amostra que tive hoje, é uma verdadeira delícia.
- Muito obrigado!
- Mudando de assunto...Como é o funcionamento da pousada? Fica aberta a noite toda?
- Eu fico aqui até que todos os hóspedes cheguem. Aí vou descansar um pouco. Mas caso precise, perto do telefone tem o número do meu quarto e o do meu celular. É só me chamar.
- Ah sim! E já chegaram todos os hóspedes?
- Ainda não. Geralmente fico até umas duas horas da manhã aqui.
- Nossa!
- Já estou acostumado. Aí durmo até mais tarde, porque a Laís começa às sete.
- Ah sim! Então dá tempo de eu conhecer a praia?
- Dá sim, claro!
- E não é perigoso ficar sozinha lá à noite?
- Nossa cidade é muito tranquila. Graças a Deus o índice de criminalidade aqui é muito pequeno. E nossa praia é muito familiar, você vai ver.
- Que maravilha! Vou aproveitar então. Cheguei e nem conheci nada ainda.
- Você vai gostar. Bom, eu acho que vai gostar.
- Também acho! - Sorriu esperançosa. – Até mais tarde então!
- Até! Bom passeio!
- Obrigada!
Ela então saiu e seguiu em direção à praia. A lua estava cheia, as estrelas brilhando no céu. O mar estava calmo e seu barulho lhe acalmava ainda mais o coração. Tirou a sandália e começou a caminhar pela areia.
Notou que haviam vários casais passeando de mãos dadas. Também tinham rodas de adolescentes conversando e ainda famílias passeando e brincando com as suas crianças.
Realmente o lugar era muito tranquilo e ainda mais lindo sob a luz do luar.
Sentou-se na areia e ficou refletindo sobre todos os acontecimentos da última semana. Ficou impressionada como sua vida tinha tomado um rumo totalmente diferente do que ela imaginava pouco antes. Mas também estava com esperança de que uma nova vida estava começando. Uma vida muito mais feliz...
Lembrou-se também do quanto se impressionou com a beleza de Fred. Não sabia nada a seu respeito, mas estava muito interessada em saber. Ele morava na pousada, isso ela sabia. Seria ele o dono do lugar? Será que era solteiro? Logo, logo ela descobriria tudo isso, pensou.
Assustou-se quanto o telefone tocou. Era Paula preocupada:
- Vou te matar, mulher! Como que você some e não me liga para contar se está bem, se está viva?
- Oi para você também! Também já estou com saudades! – Ignorou o puxão de orelhas e brincou com a amiga.
- Como você está? Como foi a viagem? Gostou da pousada?
- Estou bem. Cheguei e fui dormir. Estava muito cansada, por isso esqueci de te ligar. Desculpe!
- Tudo bem. Eu imaginei mesmo que isso tinha acontecido. Afinal te conheço né...
- o lugar é lindo. A pousada é tudo aquilo que as fotos mostravam mesmo. O quarto é bem simples, mas muito confortável. E o recepcionista, dono, sei lá...ai,ai, aí.
- GATO? – Gritou Paula curiosa.
- Gato é pouco. Um verdadeiro deus grego. Fazia tempo que não via um cara tão bonito assim.
- Já quero fotos e a ficha dele.
- Não sei nada dele...ainda. Amanhã vou começar o trabalho investigativo. E se conseguir uma foto eu te mando.
- Não tem essa de conseguir não. Quero a foto na minha mesa amanhã sem falta. – Paula brincou.
- Só você mesmo.
- Vou deixar você desbravando aí e dar atenção para o Matheus aqui. Amanhã quero saber tudo.
- Pode deixar. Espero ter muitas novidades para te contar. Beijos! Dorme com Deus!
- Beijos! Amém! Durma com Ele você também!
Desligou o telefone e seguiu de volta para a pousada. Quando chegou encontrou novamente com Fred na recepção. Desta vez ele estava cochilando e se assustou com a porta se abrindo.
- Desculpe te assustar! Apressou-se em se desculpar.
- Sem problemas! Está muito silencioso aqui, aí acabei cochilando.
- Deve ser muito difícil ficar acordado esperando todos chegarem.
- Tem dia que realmente bate um sono, mas eu aproveito esse horário para colocar a documentação em dia...a casa em ordem.
- Tudo tem seu lado bom. – Brincou, Júlia.
- Com certeza! A vida é cheia disso. Coisas boas acontecem todos os dias em nossa vida. As vezes nem damos importância, mas elas acontecem
- Falou bonito! – Júlia brincou novamente.
- Quase filosofei. – Fred gargalhou.
Júlia ficou atônita com o sorriso de Fred. Fazia muito tempo que não se encantava por um sorriso assim. Mas não podia dar na cara que estava encantada com a beleza dele. Então tentou disfarçar e continuar a conversa
- Mas agora é sério, é isso que eu penso também. Temos que aproveitar as coisas boas que a vida nos dá.
- Sim. Temos que sempre estar disponíveis para receber os presentes que a vida nos dá.
- Isso mesmo.
- Bom, vou deixar você colocar a documentação em dia. – Júlia brincou com o fato de Fred cochilar.
Fred novamente gargalhou.
Júlia pensou em como precisava fazê-lo gargalhar novamente. Era bom demais vê-lo rindo daquele jeito.
- Boa noite! Bom descanso! – Fred atrapalhou seus pensamentos.
- Boa noite para você também!
Chegando no quarto decidiu organizar suas roupas e depois ir tomar um banho e se preparar para dormir. Decidiu que queria conhecer a cidade no outro dia e comprar algumas coisas no supermercado.
Às oito horas despertou depois de dormir uma noite inteira sem pesadelos ou ter insônia. Arrumou-se e desceu para o café Dessa vez era Laís quem estava na recepção. - Bom dia, Laís! - Bom dia! Dormiu bem? - Como uma pedra! – Respondeu à Lais. - Está gostando daqui? - Muito! Acho que você tinha razão. - Eu sei. – Brincou Laís. - Ontem quase morri de vergonha quando o Fred teve que me acordar para jantar. Perdi totalmente a hora. - É que você estava muito cansada. - Estava mesmo. Mas falando em janta. Que comida é aquela? Nossa! Deliciosa! - Dona Maria é famosa por seu tempero. A comida dela realmente é maravilhosa. Isso porque não experimentou o peixe-frito que ela faz. É dos deuses. -
Já era quase meio dia quando resolveu voltar para a pousada, cheia de sacolas. Quando chegou encontrou Laís rindo do tanto de sacola que carregava. - Eu sabia que você ia gostar. - Como não gostar. É o paraíso. Tive que me esforçar para não comprar muita coisa. Nem poderia ter comprado tudo isso. Sorte que senti fome, senão ainda estava lá, gastando meu rico dinheirinho – Riu. – Bom, vou lá guardar tudo e desço para almoçar. Você vai almoçar agora? - Tenho que esperar o Fred chegar para ficar no meu lugar. Mas ele já deve estar chegando. - Bom que você me faz companhia. Se quiser, é claro. - Claro que quero. Adoro conversar com você. Júlia fez um sinal de coração com as mãos e subiu as escadas rumo ao seu quarto. Quando desceu já encontrou Fred junto de Laís na recepção.
Deixou suas coisas na areia e deu um mergulho no mar. Estava verdadeiramente encantada com o lugar. Fazia muito tempo que não se sentia tão leve e em paz consigo mesma. Voltou para a areia, estendeu sua canga e acomodou-se para garantir um bronzeado. Ficou admirando a paisagem quando de repente viu um surfista saindo do mar. Parecia uma cena de filme, onde um moreno molhado e malhado, com uma prancha debaixo do braço corre em direção à mocinha. Prendeu a respiração, que neste momento já estava ofegante. Era impressionante como Fred mexia com seus hormônios. Precisava fugir daquele lugar, senão estaria encrencada, pensou ela. Mas seus pensamentos foram interrompidos por ele, que percebeu sua presença e se sentou ao seu lado. - Curtindo nossa praia? Ele perguntou. - Esse lugar é incrível. Estou apaixonada. – Respondeu. - Eu sempre vivi aqui e confesso que não trocaria esse l
Após tomar um banho, se arrumou como há tempos não fazia. Em seu inconsciente sabia que estava se arrumando para ver Fred, mas se esforçava para se convencer de que era somente porque merecia estar bonita. Quando desceu as escadas percebeu que novamente Fred lhe olhava fixamente. Dessa vez ele não fez questão de disfarçar. E lhe rendeu elogios. - Nossa! Você está linda! Parece uma miragem! Júlia, por sua vez, ficou constrangida com os elogios inesperados e se limitou em agradecer. - Obrigada! – Falou enquanto sentia seu rosto ruborizado. – Deixa eu ir jantar que estou faminta. – Disse ao final. - Bom apetite. Chegando na sala de jantar encontrou dona Maria que veio em sua direção. - Oi minha filha. Fiquei o dia todo pensando na nossa conversa. Fiz o jantar pensando em você. Espero que te faça feliz mai
Às dez horas acordou assustada com Laís lhe telefonando para avisar do horário do café. - Oi Laís, bom dia! Pode falar para a dona Maria que não precisa me esperar. Estou sem fome. Depois eu como qualquer coisa antes do almoço. - Você está bem? - Fui dormir muito tarde ontem. Tive insônia. Então aproveitei para dormir até mais tarde. Mas está tudo bem sim. - Você estava dormindo bem aqui. Aconteceu algo? - Na hora do almoço eu te conto umas coisas. - Nunca fale isso para uma pessoa ansiosa! – Ordenou. – Não vou conseguir ficar esperando até na hora do almoço para saber. Se eu deixar a recepção sozinha e subir aí, a culpa é sua. – Brincou. - Cadê a responsabilidade, garota? – Júlia se divertiu. – Prometo que depois te conto tudo. - Só uma pergunta...posso?
Tomou um banho demorado, escolheu um vestido bem praiano, leve, soltinho e bem curto. Optou por prender o cabelo de lado, amarrou com um laço em formato de flor. Fez uma maquiagem leve, porém que destacasse seus olhos. Caprichou no perfume. – Até que estava bonita. Concluiu ao se olhar pela décima vez no espelho. Às sete horas, como combinado, desceu as escadas para esperar por Laís. Quando Fred a viu, ficou calado. - Oi Fred! Ela disse. - Oi! Está muito bonita!... A Laís disse que te levará no luau. - Sim. Ela quer me mostrar as coisas interessantes daqui. - Não vai pela cabeça dela hein, por favor! - Pode ficar tranquilo. Só quero aproveitar ao máximo está cidade. Conhecer pessoas diferentes. - Tem como eu te proibir de ir? – Fred disse preocupado, fazendo com que ela caísse na gargalhada.
Acordou às nove horas. Fez sua higiene e desceu para o café. Encontrou Fred na recepção.- Bom dia! Cadê a Laís?- Bom dia! Ela está de folga hoje.- Estou me sentindo uma pessoa muito má por ter te deixado esperando até altas horas sendo que você teria que começar a trabalhar bem cedo. Perdoe-me?- Pode ficar tranquila. Não se preocupe. Eu dormi aqui. Sentado, mas dormi.- Vou ficar com a consciência pesada para sempre.- Já sei como compensar isso.- Como? Tenho até medo da resposta. – Disse ela rindo.- O que realmente queria era isso que você pensou mesmo, mas como não podemos, pode ser um café.- Estou me sentindo igual um café
Acordou às oito horas, mas como estava com preguiça ficou na cama até nove e meia. Levantou, se arrumou rapidamente e foi tomar o café. Dessa vez era Laís quem estava na recepção. --Bom dia, Flor! – Disse bem-humorada, tentando provocar Laís. - Vou chamar a Amanda aqui para bater em você, viu! - É assim que você responde meu bom dia carinhoso? - Pelo jeito hoje você acordou de bom humor. Que maravilha! - Você nunca me viu de mau humor. - Nem quero ver. Deus me livre. – Brincou. - Pensei que hoje você não viria também. - Prefere outra pessoa aqui no meu lugar, né? - A outra pessoa eu preferiria em outro lugar, gosto de você aí. - Tá safadinha hoje também? - Estou na seca, minha filha.