Depois que Isadora me contou tudo, fiquei um tempo pensando. Ela parecia mesmo acreditar que eu ia deixá-la por causa do tamanho do problema.— Olha, Danilo. Eu sei que sou um problema pra você. Sou a ralé, não sirvo pra ser sofisticada como a esposa de um CEO. Você teve que me comprar, e agora estou trazendo esse problema enorme para toda sua família...— Espera, o que você está falando?— Você está aí pensando em como vai me dar o fora. Sou problema demais pra você...— Claro que não, Isadora. Você é perfeita pra mim. Eu te amo, Isa. Te amo de verdade. Tenho algo pra conversar com você, algo que se tornou ainda mais urgente com essa situação que você me contou, mas acredito que quem vai me deixar será você. Só que, infelizmente, não dá pra ser agora. Preciso garantir a segurança da minha mãe primeiro.— Claro. Primeiro a Sheila e o Douglas. Eu sei que a Eleanor quem bateu nela. Por mais que as duas neguem, eu sei. Já o Thomas, não tenho certeza do que ele é capaz. Ele é ex-presidiár
Eu estava com a mesa posta, aguardando ansiosa a chegada de Danilo para almoçarmos e conversarmos. Precisava entender todos os detalhes do que ele havia feito. Assim que ele chegou, me deu um beijo quente, um daqueles que quase me faziam esquecer de tudo, depois acariciou meu rosto e foi lavar as mãos para o almoço.— Precisamos voltar a trabalhar direito. Nenhum dos dois para mais no escritório — ele comentou, tentando mudar de assunto.— Danilo, pare de me enrolar. O que aconteceu? — pressionei, sem paciência para rodeios.— Tudo correu como deveria. Sheila vai para a França amanhã. Ela vai acompanhar a reforma e mobiliar nossa casa. Eleanor aceitou noivar hoje, mas achei estranho que foi bem categórica em dizer que não queria no seu apartamento. Se ela está tentando entrar na sua vida e te vigiar para aquele psicopata, seu apartamento seria perfeito.As palavras dele me fizeram parar, o garfo no ar, a caminho da boca.— A menos que a intenção seja me tirar de casa para invadir meu
Quando finalmente me acalmei, Danilo me soltou e me deixou dar um passo para trás. Ele passou os dedos pelos meus olhos, limpando as lágrimas que teimavam em cair, e disse:— Sei que a gente precisa conversar e esclarecer muitas coisas, mas agora precisamos frear o Thomas. Eu prometo que vou te ajudar a recuperar tudo o que aquele verme te tomou. Então, você pode considerar guardar esse momento numa caixinha e seguirmos com o plano?Olhei para ele, tentando entender como ele conseguia ser tão prático depois de tudo.— Se você queria seguir com a vida, por que me contou agora? — perguntei, desconfiada.— Porque eu deveria contar para você e mais ninguém. Não podia arriscar que eles te contassem antes. Mas, Isadora, tem uma coisa que você precisa saber antes de decidir se quer me deixar. Eu só soube quem você era depois que a Juliete acordou. Procurei muito por você, mas o Thomas me afastou.Fiquei em silêncio, ponderando suas palavras. Eu sabia como Thomas podia ser sórdido. Não era di
A noite do jantar foi tranquila para mim e Danilo. Estávamos cheios de mimos e carinhos, e isso deixou Sheila contente. Ela nunca nos viu sequer trocando um olhar mais intenso ou deixando a discrição de lado. Acho que Sheila sempre pensou que isso se devia à esposa dele. Então, nos ver felizes, trocando carícias, era uma alegria.Nós combinamos isso! Não só para que Sheila fosse embora mais aliviada, mas também para que Thomas e Eleanor acreditassem que estávamos tão apaixonados, que eles teriam o trunfo de nos separar, contando sobre o acidente.A ideia de tudo isso foi minha, junto com outras que tive, que eram muito boas:— Eleanor só tem um foco: Danilo, de qualquer jeito. E Thomas, o projeto. Eles têm a mente limitada. Enquanto tiverem uma carta na manga, não vão pensar no plano B. Estamos à frente deles na carta que acham que têm. Se souberem que estamos estremecidos ou que esclarecemos tudo, vão pensar em outra opção. Vamos deixar que eles curtam o plano A. Depois que estiver
O dia começou tenso para mim. A noite foi longa com Laila dormindo no meu apartamento. Não tínhamos certeza se ela estaria segura no dela, muito menos na casa dos pais. Danilo havia tomado providências, contratando seguranças discretos para nos acompanhar sem chamar atenção. Mesmo assim, a sensação de insegurança persistia.Na manhã seguinte, levei Laila para o escritório. Expliquei o básico do trabalho e deixei Solange cuidando dos detalhes. Enquanto isso, Danilo ficou de olho em como ela estava se saindo. Eu tinha outro compromisso: precisava conversar com Leandro antes de sua promoção.Fui até ele com um nó na garganta, mas Leandro, sendo quem era, me recebeu com um sorriso largo e ideias ainda melhores do que eu poderia ter imaginado. Ele sugeriu que, após a promoção, pudesse usar a sala de Eleanor e Sheila, e que Laila poderia trabalhar com ele. Era sempre assim com Leandro: leve, inspirador, como um raio de sol em dias nublados. Por um momento, me perguntei como seria minha vida
Os dias foram passando, e a nova configuração no escritório estava funcionando melhor do que eu imaginava. Mas eu não conseguia deixar de me sentir desolada com o conteúdo da carta do meu pai. Uma charada? Só isso? Que idiotice esconder uma informação tão importante! Procurei por toda a caixa e não achei nada que pudesse me ajudar. Durante o almoço, Danilo perguntou sobre o significado de NEOQEAV, mas quem respondeu foi Laila. Ela contou que a tia Lúcia e o tio Geraldo tinham isso tatuado no ombro direito, junto com o meu nome. Era como eles sempre se despediam de mim.Eu não estava no clima para conversar. A carta já tinha mexido demais comigo. Danilo parecia entender, mas não desistiu de me puxar de volta para a realidade. Ele perguntou sobre a “aeronave” que meu pai mencionou, e foi impossível segurar as lágrimas. Meu pai adorava brincar de aviãozinho comigo. Ele deitava no chão, colocava os pés na minha barriga e me levantava enquanto segurava minhas mãos, fazendo sons de avião. M
Ficamos parados, em choque, na frente de todos os nossos funcionários. Mas, antes que o silêncio se prolongasse, Laila apareceu e veio em meu socorro.— Deixa que eu resolvo, vão!Sem dizer uma palavra, entrei no carro de Danilo e, enquanto ele dirigia, coloquei uma música para quebrar o clima. Sempre que podia, ele pegava minha mão ou passava a mão na minha perna, e a sensação de conforto voltava aos poucos, mas ainda havia algo estranho no ar.Chegamos no meu apartamento e, ao olhar para aquele lugar, não pude deixar de pensar que era por causa de Elza que ele sempre vinha aqui.Fizemos amor urgente, carinhoso, ali mesmo na sala. Depois fomos para o banho, e quando Danilo saiu do chuveiro, me deu um tempinho para me lavar. Pedi para ele pegar um sabonete íntimo para mim, pois o que estava no boxe já tinha acabado.— Está na última gaveta do gabinete.Danilo sorriu e abriu a gaveta. Ele parou de repente, e eu percebi que estava demorando demais. Fui até o boxe e perguntei:— O que fo
Na manhã seguinte, acordei bem cedo. Saí da cama de fininho, para não acordar o Danilo. Fiquei olhando aquele homem nu deitado em minha cama e pensei em tudo o que estava acontecendo.Era emoção demais para uma vida! Pensei no que eu teria que enfrentar só naquela manhã, e no prazo que se reduziu para resolver a situação com Eleanor e Thomas. E ainda tinha o encontro com o avô, que iria acontecer dali a duas horas.Coloquei a água do café para ferver. Eu tinha uma cafeteira normal e outra expressa, as duas porque meus pais sabiam o quanto eu amava café! Eles haviam comprado uma cada um para mim, mas eu sempre preferi o café de coador, e adorava o cheiro que ficava na cozinha enquanto ele coava.Pensei que, em breve, talvez começasse a enjoar desse cheiro, e torci o nariz. Não gostava da ideia dessa parte da gravidez!Fui pro quarto, escovei os dentes enquanto a água fervia e, na volta, peguei meu celular. Vi uma mensagem de um número desconhecido, marcando um encontro no Starbucks pró