POV Miguel
Vivemos assim por mais ou menos 1 ano, apenas cumpríamos o que esperavam da gente e como o casal perfeito, foi quando ela finalmente engravidou, todos à nossa volta ficaram felizes, eu incluindo, mas Patrícia parecia estar em choque e em desespero, tentei conversar com ela e ajudar, mas não fui muito bem recebido, ela parecia me culpar. Mais tarde descobri que ela tinha um amante, ela dizia ser o amor da vida dela, por isso não queria e não podia ter aquele filho.Consegui convencer ela de ter o filho por mim, eu queria e muito aquela criança, foram nove meses horríveis de convivência, a ajudei em tudo o que ela precisava e dava tudo o que queria, mas, era como se não bastasse, a gestação toda Patrícia estava distante e indiferente. Me sentia um lixo desprezível, fingíamos na frente de nossos pais e de outras pessoas que éramos uma família feliz e amorosa, mas, quando ficávamos a sós, cada um ia para o seu canto.Fábio nasceu numa madrugada muito chuvosa, o parto foi um procedimento muito longo e doloroso para Patrícia, nossas famílias fizeram questão que ela fizesse o parto normal e, como sempre, acatamos o que achávamos melhor para a família e, sua grandiosa imagem. Foram exaustivas horas para ela, e logo que acabou Patrícia dormiu como uma pedra.Fui guiado até a maternidade por uma enfermeira, e quando cheguei perto do vidro a emoção veio a mim naturalmente, naquela sala havia vários bebês recém nascidos, alguns dormindo, outros chorando, mas quando a enfermeira apontou aquele montinho de cabelos pretos meu mundo desabou. Encostei minha testa no vidro e comecei a chorar, tinha me dado conta que fiz aquele pequeno pedaço de milagre, ele era tão lindo e já tão amado por mim, mesmo o conhecendo em tão pouco tempo.Alguns dias depois Patrícia e Fábio receberam alta e fomos para casa, eu comecei a cuidar do bebê enquanto Patrícia não queria nem chegar perto, foi muito difícil nessa época, por algum motivo ela não tinha leite, por isso tive que dar fórmulas na mamadeira para Fábio. Como ela não o amamentava, parecia que mais uma barreira foi construída entre ela e o bebê.Assim, ela começou a sair cedo de casa e voltar tarde da noite, quase não a víamos e quando nos encontrávamos, era só uma saudação fria, e, às vezes, nem isso. Nesse tempo, éramos eu e Fábio, juntos um pelo outro, às vezes pensava em desistir quando me via naquela situação, mas, era só olhar para aquele olhar de admiração para mim que nada importava, eu iria conseguir.Um dia percebi que Patrícia não iria mais voltar, nem por mim e nem pelo filho, à última vez que tinha visto ela foi há alguns dias e ela não apareceu mais, não telefonou e nem mandou notícias, fiquei arrasado e muito triste pelo Fábio, mesmo ela não gostando de mim, deveria querer notícias dele.Vivi assim na incerteza por 1 mês, até que batem na minha porta, e quando abro está um senhor que se apresenta como oficial de justiça, Patrícia tinha entrado com um pedido de divórcio e cedido a guarda de nosso filho para mim, não me lembro de pegar os papéis dele e entrado de casa, foi tudo um borrão horrível.Mais tarde, descobri que ela havia fugido com o amante, aquele quem ela realmente amava, foi um verdadeiro escândalo na sociedade, tive que fugir de paparazzis e meu nome estava constantemente em revistas de fofocas, a família dela saiu da cidade de vergonha pelo que a filha tinha feito, e, até hoje não voltaram.Quando a poeira abaixou, resolvi dar um rumo na vida, saí daquele apartamento que só tinha memórias ruins, comprei uma mansão e criei minha própria empresa, depois de tudo aquilo, quatro anos se passaram e hoje a minha vida é tão corrida que quase não interajo com meu filho.Realmente, minha vida é muito complicada, balanço a cabeça e saio do elevador caminhando em direção à minha sala.— Bom dia, senhor Miguel. — A secretária, senhora Marta, me cumprimenta, ela está trabalhando aqui desde que comecei esta empresa e é uma ótima pessoa.— Bom dia, Marta, algum recado para mim? — Paro em frente a sua mesa, enquanto aguardo.— Tem dois recados do escritório de advocacia e uma reunião marcada para daqui a uma hora, senhor. — Ela vai informando enquanto verifica sua agenda.— Ok, retorna a ligação e passa para a minha sala, e também me leva um café sem açúcar. — Aceno a cabeça para ela em agradecimento e vou para a minha sala.Entro no local claro e arejado, é um dos poucos lugares em que me sinto eu mesmo, foi totalmente planejado para o meu gosto, nele há paredes de vidro em que posso ver toda a vista da cidade, prateleiras lotadas de livros, o chão é de uma madeira polida e lustrosa, a mesa de centro contém tudo o que eu preciso nos devidos lugares e atrás da está uma cadeira de couro, extremamente aconchegante e macia.Vó até lá e me sento, ligo meu computador e vasculho minhas notas enquanto procuro uma caneta, trabalho por aproximadamente 20 minutos quando o telefone toca.— Alô? Senhora Marta? Ok, pode passar a chamada para a minha linha. — Aguardo alguns instantes e depois tenho uma longa conversa com o escritório de advocacia. Logo após a ligação vejo a hora e saio do meu escritório, vou à sala ao lado para a reunião de marketing da empresa, quando entro alguns dos outros executivos já estão aguardando, nos cumprimentamos e conversamos sobre as metas, enquanto aguardamos o resto das pessoas. Foi uma reunião de aproximadamente 1 hora e meia, bem produtiva e com vários projetos para a evolução da companhia, me despeço de todos e volto ao meu escritório, algum tempo depois Marta entra com um café e alguns recados, termino outras obrigações e me levanto um pouco para espairecer.Observo a hora e dou o dia por satisfeito, desligo todos os eletrônicos e saio da sala, paro em frente a mesa da senhora Marta e a dispenso também, desço os andares com o elevador e vou em direção ao estacionamento, desativou o alarme do carro e entro, começo a dirigir pela vida novamente, mas, agora o céu está alaranjado, o sol está se pondo no horizonte com seus tons lindos, quando vejo já chego em minha casa, manobro o carro até a garagem e desço dele.Caminho pelos jardins da propriedade, querendo ir até meu quarto para tomar um banho, mas antes disso, ouço várias risadas pelo jardim. Estranho, nunca tinha ouvido isso aqui, curioso, procuro pelos lugares até achar os donos daquela alegria. Quando chego perto, travo, um pouco ao longe está um Fábio que eu nunca vi antes, e junto dele está a babá Simone. Meu filho está corado e com os olhos brilhando de alegria enquanto brinca com ela de pega-pega, fazia muito tempo que ele não sorria desse jeito, quase não brincamos juntos devido aos horários de meu trabalho, fico ali só olhando eles brincarem pelo que pareceu uma eternidade, um dia estressante foi totalmente gratificado pelo que estava havendo ali.Saio na ponta dos pés para que eles não possam me ver e parem o que estão fazendo, caminho até em casa com um sorriso pleno e calmo no rosto, vou ao meu quarto tomar um banho e quando saio me deito um pouco na cama.— Tenho que me lembrar de agradecer a Roberta pela indicação de babá, incrivelmente ela já conquistou meu filho. — Digo em voz alta para mim mesmo. — E, acho que Simone ainda vai ajudar bastante essa família de corações quebrados.Relembro os momentos em que flagrei a diversão dos dois, Simone estava tão linda e espontânea, parecia que ela estava amando entreter o Fábio, o tratando com tanto respeito carinho, não ligando de se sujar ou de despentear o cabelo, apenas aproveitando o momento como se fosse o último, isso meu encantou muito, nunca tinha conhecido uma mulher como ela.Suspirando me levanto da cama e caminho até as janelas que vão até o chão, abro elas e entro na grande varanda adjacente ao quarto, sento em uma das espreguiçadeiras que ali contém e estico minhas pernas na frente. Meus pensamentos voam para olhos castanhos como chocolate, e quando percebo entro em um sono sem sonhos, com a brisa do vento ao meu redor.POV SimoneJá se passaram alguns dias desde que comecei a cuidar do anjinho Fábio, incrivelmente temos nos dado muito bem, pensei que demoraria um pouco para ele confiar em mim, mas, estava enganada, ele me aceitou muito mais rápido do que eu esperava possível. Temos uma convivência ótima e agradável, como ele não tem a mãe por perto, me parece que ele tem essa carência de atenção elevada, e como o pai trabalha mais do fica em casa, ele direcionou toda essa carência para mim, tento ao máximo possível suprir o amor e o carinho que ele precisa, mas, entendo às vezes em que ele fica um pouco triste, precisamos dos pais por perto, ainda mais quando se é apenas uma criança.Vou até à cozinha para pedir um lanche para Fábio, ele está assistindo alguns desenhos infantis na grande televisão de plasma da sala, aproveito e vou lá rapidinho.— Bom dia galera, como vocês estão? — Converso um pouco com minha tia e os outros funcionários da cozinha.— Tia Roberta, a senhora pode fazer um lanche para
POV MiguelNão sei o que deu em mim, sinceramente, nunca algo do tipo tinha acontecido, quando dei por mim, já tinha pedido para que Simone se sentasse e comesse conosco, a sua timidez e hesitação em aceitar o convite de primeira fizeram, com que eu insistisse mais do que devia. Quando ela por fim aceita e se senta ao lado de Fábio, um sorriso adorna meus lábios, de longe dá para perceber o carinho genuíno que ela tem pelo meu filho, diferente das outras babás que contratei, eram muito frias e cheias de regras, depois de alguns dias tinham que ser mandadas embora, porque Fábio não se enturmava e nem se acostumava com elas.Mas essa menina, não sei como conseguiu a proeza de conquistar meu filho, só de olhar nos olhos dá criança se percebe o carinho que ela nutre, meu coração se aperta quando penso nisso e evito olhar novamente para lá. Tento focar no jantar, sim, o jantar, tusso e chamo a atenção dos dois do outro lado.— Vocês podem começar a se servir, e senhorita Simone, fique a von
POV Miguel— Concordo, sim, senh... Miguel, está mais que certo, Fábio vai ser muito legal você tomar outro banho, você e seus brinquedos vão poder andar de novo no mar, não é incrível? — Ela olha para ele e fala cada palavra com uma empolgação palpável.Fascinado, observo Fábio acenar e concordar mais que prontamente com o que Simone fala, me parece que meu filho está tão encantado com a nova babá que concorda com tudo o que ela diz.— Meu Deus! O que seria de mim sem você aqui, para convencer essa criança, Simone? — Bato minhas palmas e exclamo em voz alta.— Que isso Miguel! Fábio é um amor, é só saber falar com ele, que tudo vai dar certo. — Corando Simone explica a situação e olha com carinho para direção de Fábio.— Fique tranquila Simone, estou apenas brincando, e, além disso, fico muito feliz que meu filho respeite você. — Olho para ela, enquanto falo.Nos encaramos depois disso, e como se um ímã nos atraísse, não consigo desgrudar meus olhos dela, tudo nela parece atrair meu o
POV SimoneEm choque, observo meu chefe se despedir e praticamente sair correndo para longe, o que foi isso? Chacoalho a cabeça, e, devido ir até à cozinha em busca de um copo de leite. Chegando lá, encontro minha tia, e peço para ela o copo de leite, estranho que ela começa a me encarar fixamente, parecendo em busca de respostas, me sento no banquinho da bancada e espero ela trazer a bebida, com mais alguns biscoitos.Começo a beber o leite morno e mordo um biscoito, incomodada ainda com seu olhar em mim, resolvo perguntar o que ela quer.— Tia Roberta, o que houve? Tem alguma coisa de errado? — Aflita, pergunto para ela.— Bem, minha filha, você sabe que em casa de rico as paredes têm olhos e ouvidos, não sabe? — Ela questiona me encarando com seriedade. — Fiquei sabendo que você jantou com o patrão e o menino Fábio, os empregados daqui já estão fofocando sobre isso.— Sim, o patrão acabou me convidando e eu aceitei, mas não aconteceu nada de mais tia, apenas jantei e ajudei o Fábio
POV Simone— Meu celular! Ainda bem que hoje me lembrei dele! — Volto correndo até o criado mudo e pego o aparelho, o colocando dentro da minha bolsa. Saio do meu quarto e vou até à sala de estar, já encontrando tia Roberta pronta e esperando por mim, chego ao seu lado e vamos para fora de casa, espero ela trancar a porta e vamos até o ponto de ônibus perto de casa. Chegando lá, nos sentamos e esperamos o ônibus certo por alguns minutos, ao longe vejo ele chegar e me levanto, puxando minha tia comigo, entramos nele e a viagem dura em torno de 20 minutos, o trânsito estava bom e graças a Deus não pegamos engarrafamentos. Descemos no ponto próximo à mansão e o restante do caminho vamos a pé, chegando perto do grande portão, nos aproximamos e minha tia toca o interfone identificando a nós duas, logo ele se abre e adentramos para o jardim da casa. Andamos até a porta dos fundos que dá para a cozinha e entramos, me despeço da minha tia e vou até às escadas, depois que as subo sigo o caminho
POV MiguelDepois daquela desastrosa despedida com Simone, não parei de pensar nela e no que eu quase fiz, se não tivesse me segurado no último minuto, não sei se teria forças para parar aquilo depois. A noite foi longa, fiquei me revirando na cama sem conseguir fechar os olhos, só conseguir um tempo de sono quando já eram altas horas da madrugada, quando o despertador me acorda, sinto que um trem passou por mim, o cansaço ocupa todo o meu corpo e mente, desistindo de continuar deitado, me levanto e vou até o banheiro jogar uma água no rosto, me olho no espelho e vejo as grandes orelhas em baixo de meus olhos, resignado bufo e pego a escova e o creme dental para escovar meus dentes.Gargarejo e enxáguo minha boca, tiro a toalha do gancho na parede e seco meu rosto, me observo no espelho novamente e passo a mão na região da minha bochecha, reparo que minha barba já começa a pinicar, e assim, me incomoda bastante, decido por fim a aparar e abro a segunda gaveta do gabinete da pia, dou um
POV SimoneO caminho para a mansão foi feito em um silêncio absoluto e desconfortável, Fábio ainda está no meu colo, com um olhar perdido , acaricio seus cabelos e o observo com preocupação, ele sempre foi um menino alegre, o que pode ter acontecido para ele ficar assim? Olho para a janela do carro, pensando em uma forma de ajudar o menino.O tempo passa e logo chegamos na vizinhança conhecida, entramos no portão da casa e o carro por fim para, espero o senhor Antônio abrir a porta para mim, e, com cuidado saio do automóvel, ajustando Fábio em meu colo e tomando cuidado para não bater a sua cabeça no teto do carro.Me despeço de seu Antônio e vou andando para dentro da casa, colocando minhas mãos em suas costas para firma-lo, me dirijo até a sala de estar e me sento no grande sofá fofo. – O que houve, meu amor? Me conta o que está acontecendo, por favor. – Seguro seu rosto e o encaro com carinho. – Eu preciso saber, para poder te ajudar.Ele me olha de volta, com os olhos começan
POV MiguelApós deixar meu amigo Cris para trás, tenho um dia tranquilo no trabalho, resolvo algumas pendências e checo mais contratos com alguma urgência. Sentado na minha poltrona, termino de ler um último papel, e, cansado, encosto minha cabeça na poltrona, alongo meu pescoço e esfrego meus olhos, que estão ardendo do esforço do dia.Provavelmente vou ter que ir em busca de um oftalmologista, mas, vou esperar até o último minuto possível, médicos ainda não são minha praia. Respirando fundo, olho para o relógio na parede e percebo que já passei tempo o suficiente na empresa, agora o que eu preciso é um bom banho quente e uma refeição saborosa.Levanto-me, esticando meus braços para o alto, depois pego minha maleta e vou andando até a saída do escritório, paro em frente a mesa da senhora Marta e me despeço.— Até amanhã! A senhora já pode ir se quiser, os documentos mais importantes já foram revisados e assinados. — Explico para ela. — Se tiver algo importante, pode mandar para o