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Um Jantar Repleto de Surpresas

POV Miguel

— Concordo, sim, senh... Miguel, está mais que certo, Fábio vai ser muito legal você tomar outro banho, você e seus brinquedos vão poder andar de novo no mar, não é incrível? — Ela olha para ele e fala cada palavra com uma empolgação palpável.

Fascinado, observo Fábio acenar e concordar mais que prontamente com o que Simone fala, me parece que meu filho está tão encantado com a nova babá que concorda com tudo o que ela diz.

— Meu Deus! O que seria de mim sem você aqui, para convencer essa criança, Simone? — Bato minhas palmas e exclamo em voz alta.

— Que isso Miguel! Fábio é um amor, é só saber falar com ele, que tudo vai dar certo. — Corando Simone explica a situação e olha com carinho para direção de Fábio.

— Fique tranquila Simone, estou apenas brincando, e, além disso, fico muito feliz que meu filho respeite você. — Olho para ela, enquanto falo.

Nos encaramos depois disso, e como se um ímã nos atraísse, não consigo desgrudar meus olhos dela, tudo nela parece atrair meu olhar, as pontas perto de sua boca, as linhas de expressões em seu olhar, o momento é quebrado por Fábio, que começa a tossir e Simone vai em sua ajuda e lhe dá um pouco de água.

— Está tudo bem campeão? — Preocupado observo meu filho.

— Sim, papai, me engasguei, mas agora estou bem. — Fábio termina sua água e diz.

— Parece que todos terminaram de comer, não é? — Os dois, a minha frente concordam. — Então podemos ir para sobremesa agora.

Fábio comemora feliz e começa a pular na cadeira de ansiedade, Simone olha para ele e ri de sua animação.

— Calma, o doce não vai fugir, não precisa se preocupar. — Seu estado de espírito ainda é ansioso.

Então pego um sino que fica sobre a mesma e balanço ele, logo alguns empregados entram com a sobremesa, uma mousse de maracujá com cobertura de chocolate e granulado em cima. Pedi que fizessem essa receita porque é a favorita de Fábio e percebo que acertei quando olho em sua direção e ele está salivando de vontade.

Os empregados pegam a mousse e colocam na mesa, também pegam as taças e as colheres e deixam a nossa disposição, quando está tudo pronto os agradeço e os dispenso, pego minha colher e me sirvo com uma quantidade generosa da sobremesa, percebo que só eu estou me servindo e digo:

— Vamos, podem pegar, Simone é melhor você colocar para o Fábio primeiro, ele parece meio desesperado pelo doce. — Rio quando Fábio se irrita e mostra a língua para mim.

Ela assente e começa a servir meu filho, quando ela dá o prato na mão dele, Fábio não espera nem um minuto a mais e já começa a devorar a mousse, Simone pega para ela e suspira, parece que os dois adoraram a sobremesa.

Conversamos um pouco mais enquanto comemos, e a noite vai passando, esse foi uma das melhores noites da minha vida, percebo, com meu filho e uma pessoa que cuida muito bem dele, olho para os dois no outro lado da mesa e abro um sorriso calmo e radiante.

Simone começa a se soltar depois disso, e finalmente, relaxa com a minha companhia, conta algumas coisas de sua vida antes dali e parece mais calma do que no começo da noite. Começo a perguntar para ela sobre sua vida acadêmica e percebo seu desconforto, parece algo que entristece ela.

— Quando li seu currículo, percebi que só terminou o ensino médio, não quis fazer uma faculdade ou alguma especialização? — Pergunto para ela, enquanto a observo atentamente.

— Bem, nessa época não tive condições financeiras para fazer uma faculdade, meus pais tinham morrido 1 ano antes de eu terminar o ensino médio, então tive que me virar até sair da escola, arranjei um emprego e não pensei em mais nada, mas, quem sabe agora que estou aqui, numa cidade maior e com mais oportunidades de cursos, possa retomar meus estudos em uma faculdade. — Ela fala, mas parece mais que ela está desabafando.

Fico em um silêncio pensativo por um minuto, até pensar bem no que falar.

— Você com certeza vai conseguir voltar a estudar aqui, temos mais intuições de ensino aqui e também bons programas de bolsas de estudos, porém, qual áreas você iria querer cursar? — Termino a pergunta com curiosidade.

— Ainda não pensei nisso, sim, é ridículo, eu sei, querer estudar, mas não saber o curso que pretende cursar. — Ela suspira chateada e termina de falar.

— Não é ridículo, é natural não saber o que se quer para vida, eu também te entendo, porque, não escolhi o curso que queria, basicamente, o curso e a faculdade que entrei foram escolhidos a dedo pelos meus pais. — Penso em tudo que perdi por sempre obedece meus pais e um sentimento ruim se apossa de mim. — Foi difícil fazer uma coisa que era para mim, mas hoje em dia consegui superar.

Simone me encara, aparentemente chocada e desconfortável com o rumo que nossa conversa tomou, sorrio para ela e tento amenizar o clima.

— Não ligue para o que falei, você com certeza vai achar uma área que combine com seus gostos, é sério, Simone você ainda é jovem e tem todo o tempo do mundo para pensar sobre isso. — Falo com naturalidade sobre o assunto. — Relaxe, agora que sua vida está começando.

— Muito obrigada! Miguel, não sabia, mas realmente precisava ouvir essas palavras, obrigada de novo. — Simone abre um sorriso lindo e agradece.

Conversamos sobre outros assuntos e logo Fábio começa a dar sinais de sono, com sua cabeça escorada no ombro de Simone e os olhos em um piscar lento e cansado, nos levantamos e ela pega meu filho no colo, me aproximo deles e vamos saindo da sala de jantar, em silêncio, para não perturbarmos a criança dormindo.

Andamos pelo corredor iluminado pelas luzes das lâmpadas, chegando ao começo das escadas, Simone ajusta a cabeça de Fábio em seu ombro e depois continuamos a subida. Caminhamos até o quarto do meu filho e entramos, delicadamente Simone coloca a criança na cama, arruma seu corpo e o cobre com um cobertor. Apago o abajur ao lado da cama e me viro para Simone, juntos vamos até à porta sem fazer barulho e a fechamos.

No corredor, com apenas nós dois ali, sinto um arrepio subir pelo meu corpo, Simone me encara e eu a encaro de volta, não consigo pensar no que falar, e, antes que eu faça uma besteira que vou me arrepender, lhe dou uma Boa noite e desejo um bom descanso, saio dali mais rápido do que achei ser capaz, e quando viro a esquina corre em até meu quarto, no conforto dele expiro fortemente e percebo a situação em que me meti.

— O que você ia fazer Miguel? — Pergunto para mim mesmo, na escuridão do meu quarto.

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