2- O sonho do rei

Yan

A escolhi por dois motivos: seus olhos negros e desafiadores e seu poder de fogo. Preciso de um herdeiro, mas não quero uma companheira. Também não quero uma mulher maculada, por isso escolhi uma virgem. Resolvi unir a utilidade de uma escrava pessoal e possível genitora do meu filho com uma habilidade que pudesse me ser útil em um futuro próximo.

A guerra se aproxima, meu reino estará exposto, meu império de lobos será abalado se eu morrer e não houver um herdeiro para herdar o que conquistei.

O som na porta me desperta.

Eu ordeno:

— Entre.

— A escrava, senhor — A serva avisa e, ao se afastar, o meu lobo desperta ao ver a mulher linda na minha frente. O corpo imaculado vestindo apenas o tecido banco fino e transparente.

Marry se assusta ao ver o lobo negro gigantesco se aproximar dela, mas logo se recupera e se mantém inabalável em seu lugar. Gostei disso nela, silenciosa e controla o medo como poucos conseguem. Perfeita.

Cheiro a beldade na minha frente. Seus cabelos foram domados pelas mulheres que a prepararam e seu corpo está limpo e cheiroso. Meu focinho toca seu ventre e ele permanece imóvel, quero sentir seu cheiro. O cheiro da sua intimidade, por isso abaixo o focinho apreciando o aroma. Pura, posso sentir pelo seu cheiro que nenhum outro homem a tocou antes.

Volto a minha forma humana, completamente nu, e ela evita olhar meu corpo.

— Observe aquele que a tomará pela primeira vez, escrava — ordeno e ela obedece, seus olhos me avaliam e não vejo nenhum lampejo de medo — Sob esta lua cheia, a mãe Lua me abençoará com um filho. Nesta noite será possuída e seu ventre será abençoado pela deusa da Lua.

Ela responde calmamente:

— Lamento, majestade, mas se tivesse me dito suas intenções eu teria lhe avisado.

— O que quer dizer, escrava? — Eu falo irritado.

— Meu ventre é seco — Seus olhos estão focados em um único ponto e eu tento farejar a mentira, mas só encontro o perfuma da verdade.

— Como sabe que seu ventre é seco se é uma virgem? — questiono.

— Uma maldição, majestade. Fui amaldiçoada por uma bruxa em seu leito de morte e eu senti sua maldição se instalar quando seus olhos se fecharam e seu fôlego a deixou.

Mais uma vez percebo que ela fala a verdade.

Ando para a janela do quarto, observo a lua cheia. Não há tempo para escolher outra virgem e preparará-la para o ritual desta noite. Sinto uma brisa agradável em minha pele exposta, encorajo-me em prosseguir com o ritual.

Aviso a ela:

— A deusa da Lua abençoará seu ventre e gerará meu herdeiro.

Ela não fala nada e continua olhando para um ponto fixo.

Me aproximo dela e retiro o tecido fino, deixando-a totalmente exposta.

Eu a escolhi, ela é minha e eu aproveitarei de seu corpo. Se não gerar uma vida nesta noite, a usarei como arma e encontrarei outra escrava para a próxima lua cheia.

A coloco sobre a cama, de quatro. Me aproximo por trás e me abaixo. Meu nariz toca seu sexo, passo a língua ali para umidecer sua carne. Detenho-me ali por um bom tempo, com a finalidade de preparar seu corpo para me receber. Chupando, fazendo minha língua dançar em sua intimidade e percebi que ela tentava conter as reações de seu corpo.

Cansado de me conter e louco para possuí-la, viro-a rapidamente e a jogo sobre a cama. Meu meu menbro duro encontra seu caminho assim que me ponho sobre seu corpo.

Ela foi silenciosa, não gritou nem gemeu. Não houve som de dor ou de prazer, ela apenas me serviu com seu corpo imaculado. Agora, porém, não mais, pois retirei sua pureza.

Satisfeito, chamo a serva para levá-la e seguir com o ritual. Ela deve tomar um chá por sete noites até se confirmar se houve a benção da deusa Mãe.

Deito-me ainda nu em minha cama com lençóis bagunçados e manchados de sangue, o sangue da pureza dela.

Meu sono sempre foi pesado, sem sonhos, sem perturbação, mas essa noite foi diferente. Rolei na cama e acordei diversas vezes na noite, mas a pior parte foi o pesadelo.

“Meus pés estavam descalços e eu corria por uma escada infinita, degrau após degrau, fugindo de algo ou procurando a saída, não consigo definir. Há algo atrás de mim, mas sempre que olho para trás vejo somente escuridão.

Volto a olhar meus pés e então me surpreendo em ver que não são mais meus pés humanos e sim minha forma de lobo, um lobo negro com uma mancha branca no peito em formato de cruz. Não estou mais em uma escada, agora é uma longa estrada, não consigo ver seu fim, mas é noite e muito distante há algo brilhante. Continuo me aproximando e concluo que é uma chama, algo está sendo consumido pelas chamas.

“Yan”

Escuto me chamar. É um sussuro, e ele se repete várias vezes. Continuo a correr. A lua se torna cada vez maior, as chamas se aproximam e há uma pessoa no meio delas. Cada vez mais próximo... escritos gritos. Os gritos estão altos, cada vez mais altos. É ela.

De frente para as chamas observo que a pessoa que grita a plenos pulmões é Marry, seu corpo está envolto em chamas, chamas negras.”

Eu desperto. Estou suado e ainda ouço os gritos de Marry. Na verdade eles se parecem reais demais.

Pulo da cama e visto uma calça. Puxo meus cabelos rebeldes para trás e os prendo. Abro as portas do meu quarto, sendo guiado pelos gritos que se tornam cada vez mais alto conforme me aproximo dele. Vejo uma movimentação estranha na entrada do quarto que selecionei para a minha escrava e futura mãe do meu filho.

Eu questiono:

— O que está acontecendo?

As servas me encaram preocupadas e respondem:

— Não sabemos, majestade. Ela está gritando há quase vinte minutos e não para, não acorda, já tentamos de tudo — fala a mulher idosa desesperada.

Invado o quarto de Marry e me deparo com seu corpo quase nu, já que a camisola que usa se embolou acima da barriga com sua movimentação constante. Minha escrava se contorce e grita. Seus olhos estão fechados, sua expressão é de dor e sua pele está banhada de suor.

— Marry, acorde! — Eu ordeno, mas de nada adianta. Ela continua a se contorcer e a gritar.

— Não adianta, senhor, já tentamos de tudo — fala outra empregada mais jovem.

Me lembro do sonho. Nele ela estava queimando e gritava desesperadamente.

— Água, traga água, agora.

As servas me olham confusas, mas saem imediatamente em busca do que pedi. Aguardo o retorno delas, equanto assisto Marry gritar. Por algum motivo que não identifico, sinto uma grande angústia enquanto a assisto sem poder fazer nada.

As mulheres chegam com duas grandes jarras de água e eu despejo todo o conteúdo de um deles sobre seu corpo e ela cessa os movimentos e gritos, mas continua agitada. Pego a outra jarra e o esvazia sobre o corpo dela, deixando-a totalmente molhada, assim como o colchão sobre si. Mas ela se cala, seu corpo se acalma.

— Como sabia que água resolveria? — A serva mais idosa perguntou.

— Não sabia, mas tive um palpite.

Observo Marry e suas pálpebras se movem e de repente ela se senta na cama, olhando para seu corpo totalmente molhado e depois me encara.

Antes que ela diga algo eu dou uma ordem:

— Saiam todas da quarto.

As servas se apressam em se afastarem e deixarem o cômodo. Ficamos sozinhos novamente.

— Teve um pesadelo — Eu falo com certeza das minhas palavras e ela balança a cabeça em confirmação.

— Sobre o que sonhou? — Eu questiono, mas só obtenho silêncio em resposta. — Quando eu faço uma pergunta, espero receber uma resposta — Eu exijo me aproximando mais dela.

— Não sei explicar — ela sussurra. — Foi um sonho confuso.

— Eu também tive um sonho — revelo e ela me observa em silêncio. —Nunca tive sonhos antes. Você costumava ter esses pesadelos?

Ela balançou a cabeça em negação.

— Levante-se dessa cama, vista-se e vá para o meu quarto.

Seus olhos arregalam em surpresa, sei que não quer repetir o que aconteceu há pouco. Hoje só quero descansar tranquilo, sabendo que a mãe do meu filho não ficará doente, mas em outro momento a tomarei novamente.

— Não quero que fique doente. Por hoje, só quero que durma. Meu filho irá crescer em seu ventre e não quero que adoeça.

— Sim, senhor — Ela respondeu secamente.

— Não demore ou virei buscá-la, aí sim terei que repetir nossa noite para conseguir dormir novamente.

Acreditei que com essas palavras ela fosse correr para fora do quarto, mas não, ela apenas me respondeu:

— Irei em breve, majestade — Ela permaneceu em pé, esperando que eu saia de seu quarto.

Ando desconcertado até meus aposentos. Marry é uma escrava como nunca vi antes. Ela me enfrenta e me desafia, sabe controlar seu medo.

Minutos depois ela entra no quarto vestindo uma camisola seca. Entra em silêncio e aguarda minhas ordens. Agora só quero deitar e dormir. Por isso dou uma única ordem:

— Deite-se, Marry.

Ela vem lentamente e se senta no outro lado da cama, se acomoda no colchão macio e se cobre, mas seus olhos permanecem abertos, encarando o teto.

Repito a ordem:

— Durma, Marry.

Ela fecha os olhos com minha ordem, mas sei que ainda está acordada.

Não tiro a calça, me deito da mesma forma e encaro o teto como ela fazia antes. Nunca compartilhei a cama com nenhuma mulher. Eu as usava e depois iam para seu próprio quarto, por isso eu me viro para todo lado e não consigo dormir.

Me sento sobre a cama e encaro a lua cheia que já não está no centro do céu, ela me convida a correr. Me aproximo da janela e admiro a lua luminosa, peço a ela que me dê a bênção de um filho, que faça um milagre no ventre de Marry. Olho a mulher na minha cama. Ela está com os olhos fechados, mas provavelmente não dorme ainda.

Poderia acordá-la e tomá-la novamente, quantas vezes quisesse até me cansar e finalmente poder me deitar e dormir, mas não sinto este desejo. Meu desejo é correr, a lua me chama para isso. Deixo a forma de lobo tomar meu corpo e pulo a janela. Começo a correr em direção à floresta.

Enquanto corro tenho uma visão. Tudo passa rápido demais, a lua muda de forma, se torna minguante, nova, crescente e se torna cheia novamente.

Continuo a correr.

Vejo Marry na minha frente, ela está envolta em uma chama negra azulada e está de costas para mim. A chama escura rodopia ao redor do corpo dela e se destaca em sua pele pálida, mas ela se vira e seus olhos estão brilhando em um azul reluzente e suas mãos pairam em seu ventre. A barriga dela está grande, ela está grávida.

A imagem de Marry grávida me agrada, mas ela some. Em seu lugar surge a imagem de uma guerra, lobos negros e lobos cinzas, os dois clãs rivais há séculos. Vejo sangue, muito sangue. Vejo o castelo cair, o meu castelo está caindo e os lobos cinzas avançam. Mas há algo no meio do castelo destruído e é uma chama negra com estalos azuis reluzentes.

Me senta sobre a cama. Olho para o lado e vejo Marry dormindo, deitada de lado, e pela janela vejo o sol entrar pelas cortinas. Me olho e estou vestindo a calça preta na qual me deitei.

Tudo foi um sonho.

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