— Pode ser que a sensação de que ela estivesse crescendo foi o que te machucou — sirvo novamente, menos que da última vez.— Uma parte de mim sabia — sorri com tristeza — Não é como se Amanda tivesse se desentendido de sua filha. Nunca a tinha visto tão motivada por ninguém antes. Sinto que demorou uma eternidade e, ao mesmo tempo, muito pouco.Eu sabia que isso aconteceria desde que Amanda deu à luz. Muito tola e jovem para ser mãe, América criou uma mulher em um mundo irrealista de caprichos e aparências. Poderia ter funcionado se Amanda tivesse se interessado por outro empresário que buscasse uma linda esposa troféu, não pelo namorado da irmã que acabou na cadeia.Com a morte de Sergio, a fuga de América, a prisão do marido, Amanda ficou desamparada, e tal como previ, Marianne veio ao resgate dessa menina. Ela termina de beber a dose. Deve ter sido forte o que quer que tenha acontecido naquele edifício para também detonar seu comportamento.— Você está assim por algo mais que a meni
Narrado por Luciano BrownOdiava Mateo com um afinco e uma repugnância inauditas. Odiava imaginar o tempo que viveu com Marianne, odiava pensar nos beijos que compartilharam, odiava saber que ela o deixou entrar em seu corpo. Mas, sobretudo, odiava sequer vislumbrar que ele fosse seu marido ou o pai de seus filhos.Isso não podia acontecer. E se acontecesse, seria por cima do meu corpo frio. Marianne ainda não compreende, me olha como um bicho estranho, depois ri muito. Tanto que sua cabeça vai para trás, suas risadas devem chegar a cada canto deste quarto de hotel.— Você não pode me dizer com quem estar ou não. Ou quer que eu me torne freira? Assim seu ego estará em melhor estado? — zomba de mim.— Não, mas gostaria que procurasse um homem alheio ao complô empresarial no qual esteve envolvida. Alguém mais seguro, chato e capaz de te dar estabilidade — resumo com o punho formigando pelas características do próximo parceiro de Marianne.Ela ri mais, e eu bebo mais da garrafa. Cada gole
O álcool é uma espécie de escape, uma forma de desabafar seus sentimentos, e aqueles desejos que estão reprimidos no mais profundo, vêm à tona com uma bebedeira. Ou seja, seja lá o que tenha acontecido ontem à noite, provavelmente eu mesma provoquei.Mal acordando posso perceber um par de coisas. Uma delas é que não amanhecei no meu apartamento, e a outra que a dor de cabeça vai me matar. Para meu azar, baixo minha cabeça para constatar que estou nua debaixo deste lençol branco.Sento-me na cama com dificuldade, esfregando minha testa dolorida. Abraço minhas pernas para encontrar um ponto de equilíbrio de tão tonta que ainda estou. É quando meus olhos sonolentos percorrem o lugar onde estou, parece um quarto de hotel, e que ontem houve um desastre aqui pelas roupas no chão.Posso avistar meu uniforme amassado em um canto, e uma calça preta com uma camisa com a mesma cor que Luciano usava ontem à noite.Luciano.Meus olhos se abrem completamente e sinto a presença de alguém ao meu lado
— Do que... do que você queria falar comigo? — digo um pouco trêmula. — Quão grande foi a briga que você teve com o Mateo para se vingar dele dormindo comigo? — questiona com um toque de tristeza e auto-desprezo.Pela primeira vez desde que me levanto penso em Mateo. Em como o "tempo" dele será um rompimento definitivo. Não sei como terminará minha história com Luciano, mas dormi com ele e sei que provavelmente ele com sua "prima". Não havia nada para salvar ali, ainda mais considerando que rejeitei seu pedido de casamento.— Como você consegue ser tão certeiro e tão errado ao mesmo tempo? — digo irritada com ele. Espeto a salada de frutas com raiva.Ele se surpreende com minha resposta.— O que você quer dizer?— O nosso relacionamento está praticamente acabado, e o que aconteceu entre nós foi a última cartada — explico.— Você descobriu? No que ele estava metido? — pergunta muito empolgado.Reviro os olhos porque isso não podia ser verdade.— Você também sabia que ele estava me tra
Minha vida continuou apesar das perdas. Após mais de uma semana do meu encontro "acidental" com Luciano, tenho lutado para me dar estabilidade.Amanda respeitou o acordo de trazer Amy de volta até que eu assine o contrato de aluguel, os do seguro aceitaram que meu carro será perda total, e Giana me envia mil fotos da sua lua de mel de vez em quando. Tudo está mais ou menos em ordem.Nisso tento me concentrar enquanto desembaraço o cabelo molhado da minha sobrinha. Ela está entretida com a televisão. É uma noite tranquila como qualquer noite de sábado. Ou era, até que olho pela janela para a rua e aquela sensação volta quando vejo o carro de Luciano.Não estou gostando disso. Do quê exatamente? Da sensação de que estou fazendo algo errado. Esse erro é fingir que não sei que Luciano está me vigiando de perto. Desde suas advertências, tenho me tornado mais consciente de onde estou e de quem me rodeia. Incluindo ele. Às vezes vejo sua silhueta quando almoço fora do trabalho, outras vezes v
—Sim, é incrível, admito. Mas você realmente não tem a aprovação de Leonel? Você fugiu ou algo assim? — tenho que questionar — Ele é seu pai, se preocupa com você. É natural.—Eu sei... mas às vezes é tão sufocante. Minha mãe teve que convencê-lo, e eu tive que lembrá-lo que não devia fazer comigo o mesmo que meu avô fez com ele. Daí veio o ultimato.—Que bom que vocês chegaram a um acordo. Quando é o seu voo? — percebo que não ofereci nada a ela — Você jantou? Quer algo para beber?—Sai de madrugada e... — de repente o sorriso de Sara desaparece e ela olha aterrorizada para o meu sofá.Olho na mesma direção, o que ela está observando é Amy que está se escondendo atrás do sofá. Ela espia timidamente, acho que pensa que não estamos vendo. Rio.—Amy, não precisa se esconder. Venha cumprimentar minha amiga, Sara — convido.Minha sobrinha sai do esconderijo, caminha com o rostinho voltado para o chão até onde estamos. Coloco minha mão sobre seu ombro.—Oi... sou... Amy... Amy... Belmonte —
Um gesto de simpatia e agradecimento. Isso seria tudo o que eu daria a Luciano. Era tudo o que eu podia dar àquele homem que está tocando a campainha do outro lado da minha porta. Verifico se a mesa está servida para ele, e se pareço o mais "despreocupada" possível com minhas roupas de ficar em casa. Vou abrir a porta.—Vejo que você aprendeu a usar a campainha — cumprimento.—Por esta noite, sim. Embora não vá devolver a chave que guardo para emergências.—Vou trocar a fechadura um dia desses. Entre — reviro os olhos.Luciano entra no meu apartamento, ele simplesmente vai se sentar à mesa com o prato vazio. É o único que há. Não perco nem um segundo, começo a encher o prato com a comida que sobrou, foi um jantar simples, arroz, filé de frango à milanesa e salada. Enquanto coloco a comida, sinto seu olhar em mim. Está como que me analisando.É torturante que, no meu gesto de simpatia e agradecimento, tenha que ficar tão perto dele. Não gosto da proximidade que temos. Seu aroma me intox
Quando saio, Luciano está deitado no sofá de maneira desconfortável. Tenta dar a forma correta ao seu corpo para que caiba nele. A verdade é que meu sofá é pequeno para acomodar um homem tão alto como ele deitado. Olho para ele com culpa.—Vai conseguir descansar bem no meu sofá?—Acho que não — está contorcido no móvel tentando caber enquanto olha para o teto.Mordo a unha do meu polegar pensando no que fazer por ele. Tenho uma ideia.—Tenho um colchão inflável guardado no meu armário. Mas a bomba para enchê-lo quebrou. Você poderia inflá-lo do jeito antigo?—Quer que eu fique sem pulmões? Estou muito cansado para isso — ele se senta e suspira — Daria qualquer coisa para dormir numa cama...Ele diz isso em um tom melancólico olhando para o chão. É a imagem perfeita de uma vítima, e eu a vilã.—Caso você não saiba, neste apartamento há duas camas. Uma da Amy e a minha. O que você pede não vai rolar — esclareço.—Tem certeza? Estava pensando que... — lá vem seu tom de vítima — ao amanhe