Luciano não dormiu comigo, mesmo assim, o vejo à mesa com o resto dos Brown no almoço. Esse almoço ao qual acabei descendo. A maioria está presente: Leandro, Lucía, Liam, Leah, Leonel, Lemuel e, obviamente, Luciano.Tomo um dos assentos ao lado do meu comunicativo esposo que me olha de soslaio.— Conseguiu descansar? — ele me pergunta baixinho.— Você conseguiu fazer isso com a consciência tão suja que deve ter? — respondo no mesmo volume. Isso o machuca.— Clara e Selena não vão nos acompanhar? — diz Lucía a Leonel e Lemuel enquanto nos servem a comida.— As duas beberam além da conta. Estão de ressaca — comunica Lemuel.— E Sara? — insiste Lucía.— Está fazendo horas extras como babá do irmão e dos primos. Quer economizar para custear sua própria viagem escolar à Disney — explica Leonel, exausto.Olhando para esta casa e o modo como essa gente vive, não acredito que Sara precise economizar para uma viagem escolar. Embora, conhecendo o quanto enérgica e independente ela parece ser, nã
Os dois dias se passaram comigo trancada entre as paredes da mansão Brown, tentando me adaptar a uma calma falsa e artificial. Obedeci à ordem, mais que sugestão, de Luciano, e aqui estou finalmente retornando à minha cidade, ao apartamento de Giana. À minha amiga que, assim que me abre a porta, me agarra num abraço forte.— Como você está, Mari? Conseguiu chegar a tempo, pensei que teríamos que ir sozinhos ao funeral — diz ela.Nos separamos para darmos as mãos e compartilharmos uma visão mútua de como estamos vestidas. As duas estamos de preto. Ela com um vestido de mangas longas, e eu com um conjunto de blazer. Não somos as únicas vestidas de preto, ao fundo está Derek que vem nos cumprimentar, e atrás de mim está... Luciano.Luciano não se descolou de mim nem por um instante desde que descemos do avião há algumas horas. Apesar da minha confusão em relação a ele, não era como se eu pudesse pedir que me deixasse ir sozinha ao funeral do senhor Dominic. Ele também era seu colega de tr
Luciano sorri com tanta raiva olhando para Andrew, como se estivesse recitando em sua mente os motivos para não atacá-lo no meio de uma igreja.— Não é o momento para ter esse tipo de conversa — decide dizer.— Quando será? Você chegou à Belmonte Raíces com a boca cheia de promessas de expansão internacional. Onde está essa expansão? Você veio para nos desestabilizar e semear o caos — acusa Andrew.— Você está dizendo puras bobagens, Andrew. É preciso te lembrar do projeto New Century e dos outros que estão em andamento? — defendo.— A curto prazo isso soa maravilhoso, não é? Mas a longo prazo, o quê? E quanto à sua sabotagem ao nosso acordo com SMB? À sua conspiração com os Nichols? Você não me engana, Marianne. Vocês dois se uniram para nos tirar o que é nosso, mas não vão conseguir — exclama Andrew antes de ir embora furioso.Andrew é um louco, já tinha concluído isso. Embora não haja louca maior que América, essa que está olhando com um ódio voraz para meu marido. Para seu filho, p
— Tem certeza? Porque eu não consigo me convencer de que, dentre tantos lugares para fazê-lo, ele escolheria o escritório do seu trabalho — argumento.— Ah, vamos lá, Marianne. Você nunca ouviu falar de advogados e médicos? Onde mais eles são encontrados quando decidem fazer o que fazem? Seus escritórios, seus estudos em casa, eu já li sobre vários casos. E de qualquer forma, não quero falar sobre isso. Me dá uma sensação ruim — defende Giana.Minha amiga não é a única se sentindo mal, Sergio precisa de ajuda para se afastar da multidão, o mesmo acontece com outra senhora idosa que se parece muito com Dominic, suponho que seja sua irmã ou algum familiar.— Podemos ir embora? — pede Giana comovida.— Deixe-me encontrar Luciano. Espere com Derek lá fora.Com isso, Giana se afasta daqui. Eu procuro com o olhar o paradeiro do meu marido. Não o encontro na concentração de pessoas, por isso me afasto um pouco mais desse local e ligo para ele com meu celular. Caminho entre as lápides e mausol
É difícil respirar e ver o que está acontecendo comigo. Sei que caí no chão por causa do golpe que recebi, e para meu desespero, sei também que o homem que me agrediu está tentando me levar para outro lugar. Posso sentir quando ele levanta meu corpo e me joga sobre um de seus ombros.Ele dá muitos passos enquanto luto para recuperar minha lucidez e não sentir náuseas com o gosto de sangue na minha boca. Deduzo que me fizeram sangrar, e que meu agressor não está sozinho, pois escuto a voz de outro homem que se juntou a ele.Tento novamente entender do que estão falando, mas não consigo. Não compreendo o idioma que estão usando. Também não entendo para onde foi toda a gente que estava nos arredores do cemitério. Não há ninguém a quem pedir ajuda. Meu medo aumenta quando percebo que esses dois desconhecidos querem me levar para dentro da floresta que fica ao lado.— Me solta! Socorro! — começo a gritar, me recompondo e debatendo.O cara me ignora, meus esforços são inúteis. Até que o home
— O meu também foi — diz ele com tanta... com tanta tranquilidade. A mesma que usa para tirar o celular do bolso e fazer uma ligação — Venha limpar, a situação fugiu do controle hoje.Me sinto doente e perturbada com o que acabei de vivenciar. Tão nauseada que esvazio meu estômago na terra até ficar, desta vez sim, sem nenhum vestígio de consciência.……Algumas vezes seu corpo falha quando não aguenta mais. Este tem sido meu caso hoje. Sinto que estou prestes a despertar do meu desmaio, mas o problema é que eu preferiria não acordar. Por mais que tenha implorado pela verdade, agora que estou tão perto, tenho medo de conhecê-la, quero adiá-la.Me recuso a abrir os olhos, mas ainda assim posso ouvir as vozes ao meu redor.— Você não foi tão estúpido a ponto de engravidá-la, não é? — ouço a voz de uma mulher.— Pare de dizer bobagens. Vai acordá-la. Não a perturbe — ouço a voz de Luciano.— Por favor... — fala a mulher em tom debochado — Nem parece que ela é feita de cristal. Pelo jeito c
No meio das minhas lágrimas ainda não consigo aceitar, me recuso a fazê-lo. Saber sobre as acusações de Luciano quebrou algo dentro de mim.— Somos uma empresa pequena de imóveis. Uma chata e tradicional empresa de imóveis com pessoas comuns trabalhando nela. Não somos criminosos, Luciano — afirmo.— A maioria dos funcionários assalariados, não. Dos gerentes para cima, muitos estão beirando os limites da legalidade, outros como seu pai, já ultrapassaram — explica ele.— O senhor Dominic sabia? O que eles faziam? — pergunto devastada.— Alguns eram capazes de ver que os números não fechavam. Agiam como cegos enquanto houvesse dinheiro. De tantos crimes existentes no mundo corporativo, é preciso cair muito baixo para chegar a um como o tráfico humano. Sabemos de uma briga que ele teve com Sergio antes do falecimento, pode ser que tenha descoberto a verdade tarde demais.— Sabemos? No plural? Quem sabe? Para quem você trabalha?— Especificamente não posso responder, mas se existem bons e
— Os altos executivos e acionistas sabem em maior ou menor grau o que está acontecendo. Isso inclui Andrew, devo imaginar?— Essa é uma pergunta muito fácil para alguém inteligente como você.— Já que vou considerar isso como um óbvio sim, Amanda sabe? Ela está envolvida nisso?— É complicado saber. Por enquanto ela não está sendo investigada, nem figura entre os envolvidos diretos. Não mais do que você.Esfrego minha testa pelo estresse que estou experimentando. Meus dedos passam para minha bochecha, e é aí que toco por acidente o canto da minha boca. Me machuco pela intensidade do meu toque e porque lembro que levei um direto exatamente ali.— Tenha cuidado. Não toque seu rosto. A pele vai cicatrizar logo se não a maltratar — aconselha Luciano, tirando minha mão do rosto.Ele faz isso com tanto cuidado e suavidade que minhas emoções me traem. Desta vez, deixo que pegue minha mão e que o contato continue.— Não aceitei essas ações, não assinei documentos de trabalho sem precaução desd