É difícil respirar e ver o que está acontecendo comigo. Sei que caí no chão por causa do golpe que recebi, e para meu desespero, sei também que o homem que me agrediu está tentando me levar para outro lugar. Posso sentir quando ele levanta meu corpo e me joga sobre um de seus ombros.Ele dá muitos passos enquanto luto para recuperar minha lucidez e não sentir náuseas com o gosto de sangue na minha boca. Deduzo que me fizeram sangrar, e que meu agressor não está sozinho, pois escuto a voz de outro homem que se juntou a ele.Tento novamente entender do que estão falando, mas não consigo. Não compreendo o idioma que estão usando. Também não entendo para onde foi toda a gente que estava nos arredores do cemitério. Não há ninguém a quem pedir ajuda. Meu medo aumenta quando percebo que esses dois desconhecidos querem me levar para dentro da floresta que fica ao lado.— Me solta! Socorro! — começo a gritar, me recompondo e debatendo.O cara me ignora, meus esforços são inúteis. Até que o home
— O meu também foi — diz ele com tanta... com tanta tranquilidade. A mesma que usa para tirar o celular do bolso e fazer uma ligação — Venha limpar, a situação fugiu do controle hoje.Me sinto doente e perturbada com o que acabei de vivenciar. Tão nauseada que esvazio meu estômago na terra até ficar, desta vez sim, sem nenhum vestígio de consciência.……Algumas vezes seu corpo falha quando não aguenta mais. Este tem sido meu caso hoje. Sinto que estou prestes a despertar do meu desmaio, mas o problema é que eu preferiria não acordar. Por mais que tenha implorado pela verdade, agora que estou tão perto, tenho medo de conhecê-la, quero adiá-la.Me recuso a abrir os olhos, mas ainda assim posso ouvir as vozes ao meu redor.— Você não foi tão estúpido a ponto de engravidá-la, não é? — ouço a voz de uma mulher.— Pare de dizer bobagens. Vai acordá-la. Não a perturbe — ouço a voz de Luciano.— Por favor... — fala a mulher em tom debochado — Nem parece que ela é feita de cristal. Pelo jeito c
No meio das minhas lágrimas ainda não consigo aceitar, me recuso a fazê-lo. Saber sobre as acusações de Luciano quebrou algo dentro de mim.— Somos uma empresa pequena de imóveis. Uma chata e tradicional empresa de imóveis com pessoas comuns trabalhando nela. Não somos criminosos, Luciano — afirmo.— A maioria dos funcionários assalariados, não. Dos gerentes para cima, muitos estão beirando os limites da legalidade, outros como seu pai, já ultrapassaram — explica ele.— O senhor Dominic sabia? O que eles faziam? — pergunto devastada.— Alguns eram capazes de ver que os números não fechavam. Agiam como cegos enquanto houvesse dinheiro. De tantos crimes existentes no mundo corporativo, é preciso cair muito baixo para chegar a um como o tráfico humano. Sabemos de uma briga que ele teve com Sergio antes do falecimento, pode ser que tenha descoberto a verdade tarde demais.— Sabemos? No plural? Quem sabe? Para quem você trabalha?— Especificamente não posso responder, mas se existem bons e
— Os altos executivos e acionistas sabem em maior ou menor grau o que está acontecendo. Isso inclui Andrew, devo imaginar?— Essa é uma pergunta muito fácil para alguém inteligente como você.— Já que vou considerar isso como um óbvio sim, Amanda sabe? Ela está envolvida nisso?— É complicado saber. Por enquanto ela não está sendo investigada, nem figura entre os envolvidos diretos. Não mais do que você.Esfrego minha testa pelo estresse que estou experimentando. Meus dedos passam para minha bochecha, e é aí que toco por acidente o canto da minha boca. Me machuco pela intensidade do meu toque e porque lembro que levei um direto exatamente ali.— Tenha cuidado. Não toque seu rosto. A pele vai cicatrizar logo se não a maltratar — aconselha Luciano, tirando minha mão do rosto.Ele faz isso com tanto cuidado e suavidade que minhas emoções me traem. Desta vez, deixo que pegue minha mão e que o contato continue.— Não aceitei essas ações, não assinei documentos de trabalho sem precaução desd
— Eu, no seu lugar, não sairia daqui. Vai complicar nosso trabalho se fizer isso... — me diz... a mulher loira de mais cedo.Ela está encostada em uma das paredes do lado de fora. Reviro os olhos diante do fato de que ela continua aqui, e Luciano, muito obrigada, já foi embora.— Isso é uma ameaça? Se for, me diga de uma vez. Estou cansada dessa m***a de espiões secretos — exclamo.Ela ri bastante.— Posso entrar? Eu posso falar com mais clareza sobre qual é sua verdadeira posição nesta operação, Marianne — convida.É um convite que aceito, por mais desagradável que essa mulher me pareça. E por mais que esse desagrado seja causado pela confiança que sinto existir entre ela e quem é, por enquanto, meu marido........O silêncio que esta mulher e eu mantemos no quarto é total. Ela pegou uma cadeira para sentar na minha frente, mas o mais longe possível da cama onde estou. Eu também estou sentada aqui, esperando que ela fale.Nunca conversamos antes, e mesmo assim sentia como se ela me od
Se eu tivesse que dizer algo bom sobre minha prisão atual, é que servem comida deliciosa. Estou saboreando um bom almoço, cordeiro com purê de batatas. Já haviam se passado mais de 24 horas desde minha chegada a este quarto. Como eu sabia? Uma enfermeira teve pena de mim e me trouxe um relógio de mesa.Então, estou cortando a carne com meus talheres com a paciência que decidi demonstrar após minha negociação com Julia. Era questão de tempo até que meu flamante marido aparecesse.Como suspeitei, vejo a porta se abrir com um grande buquê de rosas brancas surgindo. É carregado pelo sujeito em questão. Luciano chega com elas, uma bolsa pendurada no braço e um sorriso tímido.— Está melhor? — pergunta.Lanço-lhe um olhar fatal e continuo comendo. Não deixaria que ele estragasse minha comida. Ele suspira.— Ver você comer com esse apetite me dá um bom indício da sua saúde. Não a forma como está me olhando...— Olhando como? Com o desprezo merecido por ter me deixado presa neste lugar? Espero
Como esperava a equipe de Luciano, América era uma mulher que vivia de aparências e não permitiria que os rumores se espalhassem. Quais rumores? Bem, na Belmonte Raíces correu como pólvora a discussão que Sergio e Dominic tiveram, acusavam-no de ter culpa pelo seu suicídio. Fato pelo qual tinha forçado meu pai a dar as caras no escritório. Sei disso também porque me incorporei à rotina da empresa.Isso último foi contra a vontade de Luciano. Mas não contra as indicações que me deram em geral. Quem? Ele, Julia e Mohamed, que no final não eram delírios meus. Esse homem também estava me vigiando.Quando chego à sala de jantar principal da casa, sou recebida por América, que está à mesa com Amanda e Andrew. América tem um sorriso hipócrita no rosto, Andrew uma careta de desagrado com minha presença, e Amanda evita me olhar, parece abatida.— Marianne, fico feliz que tenha conseguido separar alguns minutos da sua agenda ocupada para comer conosco — dá as boas-vindas minha madrasta.— Não po
— Vamos descer para comer — pede saindo do quarto.Também quero sair daqui para segui-lo, no entanto, o imbecil do Andrew me impede. Segura-me pelo braço para me ameaçar.— O que você queria fazer com seu pai?Solto-me do seu agarre. É capaz de me adoecer.— Desde quando devo explicações a você sobre o que falo com meu pai? — exclamo.— Desde que se casou com o inimigo e se vendeu a ele. Que negócio você tem com eles, hein?— Eles quem? — indago.— Não se faça de inocente. Você adquiriu ações na SMB? Descobriu como vai o negócio e quer se juntar ou investir nele? — argumenta — Não vou deixar você fazer isso, tudo o que você toca, você destrói.— Olha quem fala. Para que eu quereria ações da SMB? — me faço de desentendida — Qual é a sua obsessão com essa empresa, afinal? É doentia, como você.— Não finja que não sabe, você foi calculista desde o primeiro dia — garante.Vou responder-lhe com algum insulto, mas não posso porque Amanda chegou e nos olha contrariada. Com isso, Andrew acaba