— Mataram? Ele não se suicidou? Você admite? — pergunto com a voz embargada.— Foi uma ameaça, essa gente é perigosa. Eu não... eu não...— E você não chegou a pensar que poderia ser eu quem encontrariam morta se tivesse aceitado suas ações, pai? — pergunto com o coração completamente partido.Sergio me olha da mesma maneira. Não sei se acredito nele ou se tenho pena. Veja onde a ambição e a sede de poder o levaram. Até este ponto em que me envergonha tê-lo como pai.— Nunca acreditei que fossem capazes de ir tão longe. Você precisa me entender, filha, como Dominic não quis me entender naquela noite. Nos negócios, você tem que fazer o que tem que fazer. Temos tantos funcionários dependendo de nós, tantas perspectivas de futuro. Como eu poderia ficar parado em um cenário como esse?— Ah, é que agora você se importa com nosso legado e as pessoas que trabalham para você? Não disse há alguns segundos que queria se desvincular da empresa para fugir como um covarde? — acuso furiosa.— Não so
Mordo sem parar a unha do meu polegar, ando de um lado para o outro no corredor desta clínica, e ainda não me deram resposta sobre como está o Sergio agora. Depois de pedir socorro, uma ambulância nos trouxe até aqui, digo "nos trouxe" porque não estou sozinha. Naquele canto está uma policial que fica vigiando para que meu pai não fuja.Não acho que ele consiga fugir nas condições em que está. Os médicos me disseram que ele teve um acidente vascular cerebral hemorrágico, que estão tratando-o da melhor forma possível. Ou seja, vivo ele está, mas não sei em quais condições sairá deste lugar.— Amiga... — Giana vem até mim apressada. Me dá um forte abraço que eu retribuo — Como está seu pai? O que os médicos disseram? Vim o mais rápido que pude, a empresa está um caos.— Estão tratando dele, foi um AVC — explico exausta.Giana faz um barulho de espanto e preocupação. Acaricia meus braços em consolo.— Coitado. A morte de Dominic e a auditoria na empresa o levaram a esse extremo. Foi muito
—Cadê ele? Cadê o papai? — questiona Amanda, saltitando com a filha que não se acalma.—Ele está lá dentro. Não me disseram mais nada além de que ele teve um AVC — respondo.—Ele vai morrer? Vai nos deixar sozinhas? — pergunta sem conseguir conter suas lágrimas.Nasce em mim um profundo sentimento de compaixão por Amanda. Ela parece tão mal e desamparada.—Você não está sozinha, Amanda. E quanto à sua mãe e... Andrew?Sei que os dois são péssimos, no entanto, uma é sua mãe, e o outro, espero que tenha o mínimo de afeto pela filha pequena.—Andrew está com seus advogados e não sei onde minha mãe está. Ela não atende minhas ligações nem minhas mensagens. Tive que ficar sozinha enquanto os policiais vasculhavam o escritório do papai, me deram um mandado de busca — ela chora, a menina chora ainda mais.—Eles também foram à casa dela? Tem certeza que tentou ligar o suficiente? — intervém Giana.—Para de chorar... por que você não para de chorar? — diz Amanda entre soluços para o bebê.Giana
—Sei que nosso relacionamento não tem estado no seu melhor momento na última semana, mas você poderia deixar sua irritação de lado e me explicar o que está acontecendo — pergunto.As portas do elevador se abrem. Meu parceiro sai sem falar comigo, olho-o obstinada por sua atitude. Ambos entramos no apartamento, Luciano vai direto para nosso quarto, onde se perde no armário. Reúno a maior quantidade de paciência de que sou capaz.—O que você está fazendo, seu maníaco? — pergunto.Luciano então sai do armário com uma mala e um monte de roupas no braço. Joga tudo na cama, abre a mala e começa a enchê-la com as roupas.—América desapareceu. Ela deve ter ido com os Kosnikov — informa finalmente.—Não estavam vigiando ela? Como conseguiu escapar?—Ela entrou na New Century e nunca saiu, deixou o carro dela lá. Suspeitamos que a tiraram em outro veículo — explica.—Aquela bruxa, que grande bruxa... esse não é um vestido meu? — digo franzindo a testa ao perceber que as roupas que Luciano está c
—Você realmente quer que a gente vá embora juntos? Quer abandonar tudo por mim? — pergunta ainda desconcertado, como se não acreditasse.—Se você vier comigo, sim. Posso ir para qualquer lugar, só não me deixe — asseguro.Ele compreende que não estou brincando. Em seu rosto nasce uma leve expressão de esperança, no meu também. Eu tinha chegado a um ponto em que não conseguia conceber minha vida sem Luciano, em que me doía mortalmente imaginar uma vida sem ele. Eu o amava profundamente, e sabia que ele tinha fortes sentimentos por mim. Não sabia se era amor, não sabia que diabos estou fazendo, mas mesmo assim vou me arriscar.Luciano vai novamente ao armário para pegar outra mala e roupas, desta vez dele. O que me dá um sinal verde para arrumar minha própria mala com meus itens indispensáveis. Nós dois nos apressamos a empacotar nossas vidas em duas malas de mão, e em questão de segundos, estamos descendo com elas para o estacionamento.Entramos no carro em que viemos, Luciano arranca e
4 anos depoisNão é fácil entender por que as pessoas saem da sua vida, levando consigo as lembranças do que viveram juntos e os sonhos do que não poderá ser. Mas a dor do abandono, com o tempo, vai se acomodando em um canto do seu coração; não desaparece, apenas se esconde. Algumas vezes você se lembra que ela está lá, outras vezes simplesmente a esquece por um dia.Hoje, particularmente, acordei com aquele peso que costumo sentir nos dias de aniversário da partida de Luciano. Limpo uma lágrima furtiva que escorre pela minha bochecha enquanto preparo o café desta manhã.Perdi as esperanças de que ele volte para minha vida, e segui em frente como deve ser. Como em qualquer outro aniversário, digo a mim mesma que foi o melhor para mim. A prova disso é a rotina tranquila que consegui construir nesses anos, das cinzas do que se tornou a Belmonte Raízes.O escândalo envolveu a empresa e outras semelhantes em tamanho, foi um efeito dominó que acabou pegando a SMB. Seus crimes vieram à tona.
Não vou dizer que cheguei ao ponto de perdoar Amanda, nem que dei abrigo a ela, foi apenas para a menina. Amanda a visita de vez em quando, a criança sabe que ela é sua mãe, e ela me passa pontualmente todos os meses o dinheiro necessário para sua criação. O plano é que algum dia ela venha buscar a menina... Esse é o plano.— Estamos atrasadas — olho para o relógio — Quer usar o cabelo solto hoje ou quer que eu prenda?— Prende. Está calor — reclama segurando o cabelo.— Vai buscar o pente e as fitas então. Anda — dou um tapinha nas costas para que vá correndo para o quarto.Termino de me servir o café, preparar a lancheira da menina e dar algumas mordidas na minha torrada. Alguns segundos depois Amy sai com sua escova e suas fitas de cabelo favoritas. Penteio-a na frente da televisão da sala, está passando o noticiário da manhã.— Em um trabalho conjunto com a INTERPOL, foi capturada no aeroporto de Verona – Villafranca na Itália, América Belmonte...Meu rosto se levanta imediatamente
Meus dias de semana costumavam ser assim: acordar cedo para preparar o café da manhã para mim e para Amy, dirigir até o jardim de infância para deixá-la e depois ir para o trabalho. Tinha conseguido um emprego bem remunerado em uma empresa onde estava há alguns anos. Por enquanto, estava no departamento de Recursos Humanos.Depois, tinha que buscar Amy em alguma das atividades extracurriculares nas quais a inscrevi para que me desse tempo de terminar minha jornada de trabalho. Chegávamos em casa para preparar o jantar juntas, porque se há algo que devo destacar nessa menina, é que ela é disciplinada e obediente. É um anjinho.Mas infelizmente, nossa rotina foi interrompida pelo problema que não conseguem detectar no meu carro. Estou sem veículo há uma semana, e não gosto de ter que incomodar Mateo para nos levar, mas ele se ofereceu. E quem cuida de crianças sabe que ajuda nunca se recusa.Então, estamos vendo Amy de mãos dadas com sua professora na porta do jardim de infância. Ela se