— Vamos descer para comer — pede saindo do quarto.Também quero sair daqui para segui-lo, no entanto, o imbecil do Andrew me impede. Segura-me pelo braço para me ameaçar.— O que você queria fazer com seu pai?Solto-me do seu agarre. É capaz de me adoecer.— Desde quando devo explicações a você sobre o que falo com meu pai? — exclamo.— Desde que se casou com o inimigo e se vendeu a ele. Que negócio você tem com eles, hein?— Eles quem? — indago.— Não se faça de inocente. Você adquiriu ações na SMB? Descobriu como vai o negócio e quer se juntar ou investir nele? — argumenta — Não vou deixar você fazer isso, tudo o que você toca, você destrói.— Olha quem fala. Para que eu quereria ações da SMB? — me faço de desentendida — Qual é a sua obsessão com essa empresa, afinal? É doentia, como você.— Não finja que não sabe, você foi calculista desde o primeiro dia — garante.Vou responder-lhe com algum insulto, mas não posso porque Amanda chegou e nos olha contrariada. Com isso, Andrew acaba
Uma vez que o caos começou, é impossível detê-lo. Esse é o pensamento que tenho na cabeça com o que está acontecendo ao meu redor. Ao saberem da auditoria, tanto Sergio como Andrew e a própria América saíram correndo para seus carros para ir à Belmonte Raíces. No frenesi da notícia, não pude fazer mais que segui-los em minha própria caminhonete até a empresa.Nenhum dos três está calmo ou parece normal sequer. Aliás, tenho que acelerar meus passos para entrar no elevador com eles. Tudo está acontecendo tão rápido que sinto que vivo numa sequência que estão reproduzindo com maior velocidade do que deveriam.— Não quero que ninguém fale mais do que lhe for perguntado — impõe América — Sim e não são as únicas respostas que deveriam dar.— Não me dê ordens, América. Sei o que faço. Os que não sabem são vocês. Olhe para o seu marido! — discute Andrew.Referia-se a que papai parecia um desastre ainda, exceto que agora era um desastre agitado. América não gosta que a contradigam, quer ofendê-
— Você fala como se eu não tivesse dedicado anos de trabalho à Belmonte Raíces.— Se você apreciasse tanto a empresa como diz fazer, teria feito mais para protegê-la. O que você fez, ao contrário, foi afundá-la ao romper ligações com a SMB. Esse contrato nos garantiria mais do que você pode imaginar, menina tola.— Mais como o quê? — indago.— Tenho que te explicar isso também? Você se meteu em assuntos que não lhe envolviam, e agora olhe para nós, desprotegidos — acusa.— Desprotegidos de quem? Dos órgãos de segurança nacional? Da lei? Não são os que temem auditorias aqueles que têm processos deficientes e sistemas arcaicos? Por que deveríamos ter medo?— Dos Kosnikov! — grita fora de si América. Olha-me como se eu fosse a maior estúpida da história — Não vai me dizer que não sabe quem são eles? Porque estou imaginando você me dizendo uma barbaridade como essa.Ela os havia mencionado por conta própria, e eu ainda estava com o microfone comigo.— Terei que dizer a barbaridade da qual
— Mataram? Ele não se suicidou? Você admite? — pergunto com a voz embargada.— Foi uma ameaça, essa gente é perigosa. Eu não... eu não...— E você não chegou a pensar que poderia ser eu quem encontrariam morta se tivesse aceitado suas ações, pai? — pergunto com o coração completamente partido.Sergio me olha da mesma maneira. Não sei se acredito nele ou se tenho pena. Veja onde a ambição e a sede de poder o levaram. Até este ponto em que me envergonha tê-lo como pai.— Nunca acreditei que fossem capazes de ir tão longe. Você precisa me entender, filha, como Dominic não quis me entender naquela noite. Nos negócios, você tem que fazer o que tem que fazer. Temos tantos funcionários dependendo de nós, tantas perspectivas de futuro. Como eu poderia ficar parado em um cenário como esse?— Ah, é que agora você se importa com nosso legado e as pessoas que trabalham para você? Não disse há alguns segundos que queria se desvincular da empresa para fugir como um covarde? — acuso furiosa.— Não so
Mordo sem parar a unha do meu polegar, ando de um lado para o outro no corredor desta clínica, e ainda não me deram resposta sobre como está o Sergio agora. Depois de pedir socorro, uma ambulância nos trouxe até aqui, digo "nos trouxe" porque não estou sozinha. Naquele canto está uma policial que fica vigiando para que meu pai não fuja.Não acho que ele consiga fugir nas condições em que está. Os médicos me disseram que ele teve um acidente vascular cerebral hemorrágico, que estão tratando-o da melhor forma possível. Ou seja, vivo ele está, mas não sei em quais condições sairá deste lugar.— Amiga... — Giana vem até mim apressada. Me dá um forte abraço que eu retribuo — Como está seu pai? O que os médicos disseram? Vim o mais rápido que pude, a empresa está um caos.— Estão tratando dele, foi um AVC — explico exausta.Giana faz um barulho de espanto e preocupação. Acaricia meus braços em consolo.— Coitado. A morte de Dominic e a auditoria na empresa o levaram a esse extremo. Foi muito
—Cadê ele? Cadê o papai? — questiona Amanda, saltitando com a filha que não se acalma.—Ele está lá dentro. Não me disseram mais nada além de que ele teve um AVC — respondo.—Ele vai morrer? Vai nos deixar sozinhas? — pergunta sem conseguir conter suas lágrimas.Nasce em mim um profundo sentimento de compaixão por Amanda. Ela parece tão mal e desamparada.—Você não está sozinha, Amanda. E quanto à sua mãe e... Andrew?Sei que os dois são péssimos, no entanto, uma é sua mãe, e o outro, espero que tenha o mínimo de afeto pela filha pequena.—Andrew está com seus advogados e não sei onde minha mãe está. Ela não atende minhas ligações nem minhas mensagens. Tive que ficar sozinha enquanto os policiais vasculhavam o escritório do papai, me deram um mandado de busca — ela chora, a menina chora ainda mais.—Eles também foram à casa dela? Tem certeza que tentou ligar o suficiente? — intervém Giana.—Para de chorar... por que você não para de chorar? — diz Amanda entre soluços para o bebê.Giana
—Sei que nosso relacionamento não tem estado no seu melhor momento na última semana, mas você poderia deixar sua irritação de lado e me explicar o que está acontecendo — pergunto.As portas do elevador se abrem. Meu parceiro sai sem falar comigo, olho-o obstinada por sua atitude. Ambos entramos no apartamento, Luciano vai direto para nosso quarto, onde se perde no armário. Reúno a maior quantidade de paciência de que sou capaz.—O que você está fazendo, seu maníaco? — pergunto.Luciano então sai do armário com uma mala e um monte de roupas no braço. Joga tudo na cama, abre a mala e começa a enchê-la com as roupas.—América desapareceu. Ela deve ter ido com os Kosnikov — informa finalmente.—Não estavam vigiando ela? Como conseguiu escapar?—Ela entrou na New Century e nunca saiu, deixou o carro dela lá. Suspeitamos que a tiraram em outro veículo — explica.—Aquela bruxa, que grande bruxa... esse não é um vestido meu? — digo franzindo a testa ao perceber que as roupas que Luciano está c
—Você realmente quer que a gente vá embora juntos? Quer abandonar tudo por mim? — pergunta ainda desconcertado, como se não acreditasse.—Se você vier comigo, sim. Posso ir para qualquer lugar, só não me deixe — asseguro.Ele compreende que não estou brincando. Em seu rosto nasce uma leve expressão de esperança, no meu também. Eu tinha chegado a um ponto em que não conseguia conceber minha vida sem Luciano, em que me doía mortalmente imaginar uma vida sem ele. Eu o amava profundamente, e sabia que ele tinha fortes sentimentos por mim. Não sabia se era amor, não sabia que diabos estou fazendo, mas mesmo assim vou me arriscar.Luciano vai novamente ao armário para pegar outra mala e roupas, desta vez dele. O que me dá um sinal verde para arrumar minha própria mala com meus itens indispensáveis. Nós dois nos apressamos a empacotar nossas vidas em duas malas de mão, e em questão de segundos, estamos descendo com elas para o estacionamento.Entramos no carro em que viemos, Luciano arranca e