Se há algo a dizer sobre os Brown é que eles sabiam como dar uma festa. Ou essa é a impressão que estão me dando com toda a parafernália que é o aniversário de Selena. A mansão foi decorada de maneira elegante em sua recepção com rosas, peônias e orquídeas, que depois conduzem a um salão de festas. Nele, repete-se o mesmo padrão decorativo somado a mais candelabros, velas e tecidos.Há música ao vivo por uma banda que está tocando no palco montado, e uma parte dos convidados está dançando enquanto os outros estão conversando de um lado para outro. O código de vestimenta é formal, então estou com um vestido longo cor de pêssego e Luciano veste um terno. Estamos em um dos cantos analisando a festa e bebendo vinho.— Não sabia que tinham um salão de festas nesta casa — comento.— Não é só um, são vários — me corrige levemente.— Claro que são vários — respondo disfarçando meu impacto com o tamanho desta propriedade.Visualizo então a aniversariante da noite, Selena dançando com o tio Lemu
— Estamos tão felizes que vocês estejam aqui pelo meu aniversário. Foi o melhor aniversário que já tive e sei que ficará para a lembrança com a surpresa que temos preparada... — deixa Selena na expectativa.— Que surpresa pode ser? Pode nos dar uma dica? — pergunto baixinho para Clara.Para minha confusão, ela está tão duvidosa quanto o resto.— Não sei de que surpresa ela está falando. Não temos nenhuma, exceto o bolo com fogos de artifício...— É uma que acreditamos ser propícia por ter as pessoas mais importantes para nós reunidas em um só lugar — acrescenta Lemuel.Há um ar estranho no ambiente, e não consigo identificar o que é ou o que vai acontecer. Ouço as risadas de Luciano de repente, olhando para a entrada do salão.— Aquela não é sua irmãzinha, Leonel? Como está grande, quase não aparenta os 30 anos de diferença que vocês têm — ri Luciano para tirar o primo do sério.Ele dizia isso pela que, se não me engano, é a mãe de Selena, que se chama Celia, carregando Salomé nos braç
— Isso não estava nos planos... — nega lentamente Clara, tão atônita quanto eu — Pensei que se casariam em um cartório sem festa. Não assim. Esse não é meu sogro, não o sogro que conheço...Vou colocar minha mão em seu ombro como gesto de companhia, mas Clara vai atrás de seu marido que está saindo da festa três vezes mais irritado.— Isso foi forte — comento com Luciano. Que não me responde nada, o que me parece estranho.Viro para olhá-lo, descubro o motivo para ficar mudo, Liam está se aproximando de nós. Sua linguagem corporal é tensa, não sabe o que dizer. Luciano está calado, e igualmente tenso.— Sabia do casamento surpresa, senhor Liam? Por isso desceu do seu quarto? — pergunto com simpatia para preencher o silêncio.— Me ligou para contar isso há alguns minutos. Sabia que era verdade. Meu irmão não inventa histórias por inventar — revela.— Parece que também contou ao Leonel. De que os reuniu, reuniu mesmo... — comento com um sorriso.Ainda assim, se eu não falo, parece que ni
O poder da fofoca nunca deve ser subestimado. Uma prova disso está no que estamos fazendo agora mesmo. Liam, Leah, Luciano e eu, digamos que estamos supervisionando para que a briga entre Leonel e Lemuel não vá além. Como fazemos isso? Bem, grudados na parede do quarto ao lado de onde eles estão.— Será que está certo fazer isso? — pergunto sussurrando aos três que estão com os ouvidos colados na parede.— Claro que não está. Não estou ouvindo nada — protesta Leah sussurrando.— Se você não está ouvindo é porque eles não estão falando, esta parede é muito fina. Dá para ouvir tudo dentro do estúdio — responde sussurrando meu sogro.— A falta de álcool no sangue despertou sua curiosidade de novo? Quando era pequeno, você vivia bisbilhotando, por isso papai te castigava tanto — menciona Leah no mesmo tom.É interessante descobrir que o senhor Liam foi uma vez uma criança curiosa que explorava esta mansão apesar das fortes repreensões de seu pai. Igual ao Luciano, se me perguntarem, cuja p
— Aprendi com meus erros, estou em uma nova etapa da minha vida — diz Lemuel.— Quem dera esquecer fosse tão fácil como você quer. Eu não esqueço. Como você me treinou para ser o herdeiro dos Brown, me transformou em uma máquina e fez com que eu visse meus primos como competição, como inimigos. Acha que posso esquecer isso? Como cresci sozinho e isolado por sua culpa? Desculpe se não estou feliz com sua nova família e história.Rivalidade familiar, ciúmes, perdões ainda não concedidos, tantas coisas pendentes com os Brown que é difícil manter a conta. A esta altura, começo a me sentir mal por estar ouvindo esta conversa.— Não acho correto continuar ouvindo isso... — me afasto da parede.Leah é a única que concorda comigo; já Liam e Luciano estão muito obstinados em continuar ouvindo. Olho para eles sem que nenhum me devolva o olhar. Então, Leah me pega pelo braço com gentileza.— Vamos nós duas na frente. Eles precisam continuar ouvindo — menciona.Com isso, nós duas saímos daquele qu
— Juro, Marianne, antes eu também era como você. Dizia para mim mesma que não era de ter filhos, que não teria um. Mas quando tive meu bebê, algo em mim mudou — garante Selena.— Aposto que sim, Salomé é linda...— É a coisinha mais adorável do mundo. E é tão bem comportada. O único desafio é que ela é muito curiosa. Adora ir de um lado para outro, é especialista em abrir portas — ela se gaba sorridente com a taça na mão.— Isso de explorar e descobrir segredos é de família, pelo que vejo — digo igualmente sorridente.— Especialmente com o tio que ela tem e que você conhece a fundo... — fala sugestivamente, inclinando-se para mim — Sabe... Clara e eu temos uma piada sobre Luciano.— Que tipo de piada? — pergunto interessada.Selena olha para os lados como para se certificar de que ninguém está nos ouvindo.— Achamos que ele é um policial disfarçado.Essa frase me impacta muito, mas de repente Selena explode em gargalhadas e me dá um tapinha no braço de brincadeira.— É uma piada, é uma
A incredulidade está dominando meus sentidos. O que Giana me diz não tem coerência, nem pode ser verdade. Há apenas alguns dias, o senhor Dominic estava conversando e compartilhando comigo as grandes perspectivas que tinha para a New Century. Não o percebi deprimido, nem preocupado, mas sim otimista e confiante.A notícia me impacta de tal maneira que uma opressão nasce em meu peito. Minha língua deve pesar um quilo para que eu não consiga movê-la.— Você desligou, amiga? Está bem? — pergunta Giana do outro lado do meu celular, ela também não parece estar bem.— Não... eu ainda estou aqui — limpo minha garganta — Quando foi? Que horas?— Uma moça da limpeza do turno da manhã o encontrou... — ouço-a chorar — acredita-se que ele fez isso à noite. Não sabemos muito... mas pude ver como o levavam em um saco. Foi horrível... seu escritório ficou... ficou...— Como ficou? Como ele fez isso? — esfrego minha cabeça. Ainda não acredito.— Uma arma de fogo... — soluça — Isso é um caos na empresa
— Como assim? — falo desconcertada.— O falecimento de um colega de trabalho é um fato trágico, mas que não tem relação com você. O que você vai ganhar voltando precipitadamente para a cidade? Vão enterrá-lo amanhã mesmo, por acaso?Meu corpo sem pensar se separa do dele. Há algo em sua tranquilidade que me faz repeli-lo.— Acham que foi um... um... suicídio. E Giana precisa de mim, ela viu como retiravam o corpo dele.— Giana tem o namorado dela. Ela ficará bem.— Como você sabe que ela ficará bem? Mandaram ela depor. Depor o quê? Eu conhecia o senhor Dominic, ele não tinha motivos para tirar a própria vida. Seus netos eram sua felicidade e ele teria mais um em poucos meses. Por que a polícia está envolvida nisso? — argumento.— A depressão funciona assim. Os rostos mais sorridentes podem acabar sendo apenas uma fachada — resolve com simplicidade, eu diria que com indiferença.— Seja como for. Preciso voltar, e tudo bem, não será esta noite. Mas amanhã de manhã cedo comprarei minha pa