Luciano reclamando de uma situação que ele mesmo provocou não é nem surpreendente, nem digna de alguma reação forte da minha parte. Que esteja olhando como se fosse partir para cima de Mateo em três segundos, também provoca o óbvio, que este se sinta intimidado.—Não estávamos falando de nada importante. Estão me chamando ali... — comenta Mateo para depois se afastar de nós.Meu marido agora é para mim que olha com essa expressão de valentão. Não me incomodo em repreendê-lo ou me defender. Não tinha sentido.—Estou esperando uma explicação — diz.—Eu também estou esperando uma. Por que você chega a essa hora? Nem ao jantar conseguiu ser pontual — lembro a ele.De repente, a expressão de Luciano muda, ele sorri e pede a uma garçonete que passa por perto uma das bebidas que ela leva em sua bandeja. Ele bebe.—Estou cansado de fazer essa cena de ciúmes para você. Vamos pular isso e chegar à oferta de uma recompensa para acalmar minha possessividade — fala esse louco.Estreito meus olhos.
—É uma oferta tentadora, mas... — bocejo e cubro minha boca — passo dela.—Precisamos trabalhar na sua necessidade de me contrariar...—Também na sua necessidade de mentir para mim compulsivamente.—Ai. Volte a dormir, vai — brinca ele. Luto para não sorrir, e mesmo assim sorrio.Apesar do sucesso deste dia, ainda não consigo esquecer a particularidade em que vivo. Relacionado com Luciano, está a impressão que tive mais cedo de... Mohamed. Tê-lo visto. Com o risco de que volte a mentir para mim, o confronto.—Esta tarde achei ter visto alguém que não deveria estar na inauguração...—Quem? — pergunta duvidoso, concentrado na estrada solitária.—Mohamed... — digo analisando sua reação. Ele não tem nenhuma.—Quem é Mohamed? — é o que responde com confusão depois.—O homem da nossa lua de mel. Você não se lembra dele?—O das Maldivas? O que ele faria aqui? — ele franze a testa.—Não sei. Você me diz. Você me disse que estavam nos seguindo quando estava bêbado. Me pergunto se ele é um deles
É a segunda vez que venho à mansão Brown e a impressão continua sendo tão grande quanto da primeira vez. Como já tinha experiência, me comporto o melhor que posso ao ser recebida pelo grupo de funcionários desta propriedade, e ao sentir seus olhares sobre mim, continuo pelos degraus da entrada.Luciano e eu entramos na recepção da casa para encontrarmos uma cena interessante. Lucía segurando uma escada enquanto no topo está Sara pendurando um tecido longo no lustre. Há outras decorações pelo chão que ainda não foram organizadas. Este ambiente está desarrumado, o que me surpreende.—Assim? Assim fica melhor, tia? — pergunta Sara fazendo movimentos perigosos na ponta da escada.—Não importa como fica. Desça, que não quero outro acidentado na casa — pede Lucía sem notar nossa presença.—Diga que está bom, e eu desço. Se não, me recuso — exclama Sara.—Esta menina... — reclama Lucía rangendo os dentes.Ouvimos uma tosse falsa e alta, é de Gregorio, o mesmo funcionário elegante da outra vez
—Surpreendente, não é? — isso me escapa com uma pitada de amargura.—Depois da maneira como me comportei no seu casamento, sim, é... Não pude me desculpar adequadamente com você. Mas é que foi um grande choque para mim ver América naquela festa. Descobrir que Luciano sabia de antemão o paradeiro da mãe dele foi desconcertante, no mínimo.A amargura vai embora para dar lugar ao impacto de ouvir Liam falando assim, sóbrio e composto. Ele apresenta uma aparência melhor apesar de ter o braço imobilizado, até me atreveria a dizer que sua voz soa melhor. Ocupo uma das cadeiras que encontro por perto e aproveito para me aproximar mais dele.—Bem, meu pai também não agiu da maneira mais pacífica. Foi um evento infeliz para todos os envolvidos... — digo querendo talvez consolá-lo.Este senhor me dá compaixão. Sei o que ele fez com Luciano, mesmo assim continuo sentindo compaixão.—Conseguiu resolver a disputa com América? Conseguiram fazer as pazes?Pergunto por um motivo. Esse é que, segundo S
— Do que vocês dois estão falando? — Luciano nos interrompe com um aspecto irritado.Liam endireita as costas automaticamente, como se buscasse a aprovação de Luciano. Luciano não é a versão simpática e charmosa de sempre, mas uma amarga que desaprova minha presença aqui.— Queria saber como seu pai estava. Passei para cumprimentá-lo — digo.— Já que pôde cumprimentá-lo, vamos almoçar com Leandro, Lucia e Sara. Eles estão esperando lá embaixo — propõe.Olho entre Liam e Luciano.— E quanto ao seu pai? Ele pode sair da cama, não? A fratura foi só no braço? — me dirijo aos dois.— Foi no braço. Eu poderia... poderia me vestir com a ajuda do meu enfermeiro e sair juntos para... para... — Liam se emociona com a ideia, até está tentando se levantar.— Você não vai a lugar nenhum. Fique aqui. Não vamos sair com você — afirma Luciano.Ele diz com tanta frieza que vejo como o rosto de Liam se quebra instantaneamente.— Não precisa falar assim com seu pai — peço, intimidada por sua atitude.— C
Se há algo a dizer sobre os Brown é que eles sabiam como dar uma festa. Ou essa é a impressão que estão me dando com toda a parafernália que é o aniversário de Selena. A mansão foi decorada de maneira elegante em sua recepção com rosas, peônias e orquídeas, que depois conduzem a um salão de festas. Nele, repete-se o mesmo padrão decorativo somado a mais candelabros, velas e tecidos.Há música ao vivo por uma banda que está tocando no palco montado, e uma parte dos convidados está dançando enquanto os outros estão conversando de um lado para outro. O código de vestimenta é formal, então estou com um vestido longo cor de pêssego e Luciano veste um terno. Estamos em um dos cantos analisando a festa e bebendo vinho.— Não sabia que tinham um salão de festas nesta casa — comento.— Não é só um, são vários — me corrige levemente.— Claro que são vários — respondo disfarçando meu impacto com o tamanho desta propriedade.Visualizo então a aniversariante da noite, Selena dançando com o tio Lemu
— Estamos tão felizes que vocês estejam aqui pelo meu aniversário. Foi o melhor aniversário que já tive e sei que ficará para a lembrança com a surpresa que temos preparada... — deixa Selena na expectativa.— Que surpresa pode ser? Pode nos dar uma dica? — pergunto baixinho para Clara.Para minha confusão, ela está tão duvidosa quanto o resto.— Não sei de que surpresa ela está falando. Não temos nenhuma, exceto o bolo com fogos de artifício...— É uma que acreditamos ser propícia por ter as pessoas mais importantes para nós reunidas em um só lugar — acrescenta Lemuel.Há um ar estranho no ambiente, e não consigo identificar o que é ou o que vai acontecer. Ouço as risadas de Luciano de repente, olhando para a entrada do salão.— Aquela não é sua irmãzinha, Leonel? Como está grande, quase não aparenta os 30 anos de diferença que vocês têm — ri Luciano para tirar o primo do sério.Ele dizia isso pela que, se não me engano, é a mãe de Selena, que se chama Celia, carregando Salomé nos braç
— Isso não estava nos planos... — nega lentamente Clara, tão atônita quanto eu — Pensei que se casariam em um cartório sem festa. Não assim. Esse não é meu sogro, não o sogro que conheço...Vou colocar minha mão em seu ombro como gesto de companhia, mas Clara vai atrás de seu marido que está saindo da festa três vezes mais irritado.— Isso foi forte — comento com Luciano. Que não me responde nada, o que me parece estranho.Viro para olhá-lo, descubro o motivo para ficar mudo, Liam está se aproximando de nós. Sua linguagem corporal é tensa, não sabe o que dizer. Luciano está calado, e igualmente tenso.— Sabia do casamento surpresa, senhor Liam? Por isso desceu do seu quarto? — pergunto com simpatia para preencher o silêncio.— Me ligou para contar isso há alguns minutos. Sabia que era verdade. Meu irmão não inventa histórias por inventar — revela.— Parece que também contou ao Leonel. De que os reuniu, reuniu mesmo... — comento com um sorriso.Ainda assim, se eu não falo, parece que ni