Controlo minha respiração e mantenho meu pescoço imóvel. Não preciso ser óbvia com meu sentimento interno, não preciso deixar em evidência os nervos efervescentes que estão me dominando agora. Por que estou nervosa? Porque estou vendo como o portão gigante da famosa mansão Brown está se abrindo, tudo isso desde este banco traseiro na companhia de Luciano.O fim de semana chegou mais rápido do que esperava, e a facilidade que é ter dinheiro agilizou para que voássemos como se atravessar um oceano fosse mais um passeio à praia da esquina. Mantive minha "atitude irritada e distante" durante a semana, também na viagem de avião. Devo ter sido a companheira de voo mais chata que Luciano já teve, mas não me arrependo.Do único que estou me arrependendo é de ter vindo a este lugar. Quanto mais avançamos, mais nos aprofundamos no verde da floresta, e quanto mais avançamos, mais nítidas ficam as proporções de uma casa que parece saída de um livro de história.Não é uma mansão qualquer, posso des
—Não, obrigada, vou me manter afastada. Será suficiente—garanto desconfortável.O carro para, e um funcionário abre a porta para mim. Esse mesmo funcionário se surpreende ligeiramente ao me ver no carro. É um homem mais velho que está uniformizado.—Jovem Luciano, não sabia que traria companhia desta vez...—cumprimenta o homem.—Você me conhece, Gregório. Gosto de dar surpresas—é a saudação de Luciano—Quer uma ainda maior?—Se é sua vontade me dar, é meu dever recebê—la—menciona o senhor com um tom cansado que acho muito engraçado—Peguem a bagagem e avisem da presença da senhorita para preparar seu quarto.Essa é a indicação que Gregório dá a dois rapazes bem mais jovens, eles vão diligentemente fazer o que lhes é pedido. Tanto Luciano quanto eu saímos do carro.—Não será necessário preparar outro quarto. Ela ficará no meu—pede Luciano.Os rapazes ficam paralisados me olhando, Gregório também. Isso é muito mais que constrangedor, é como se ele tivesse dito aos três que iríamos transar
Estou acostumada a não ser bem—vinda pelas famílias dos meus parceiros. A família de Andrew me suportava por aparências e negócios, pude concluir depois do meu término com ele. E agora, os Brown deviam ser outra lição que o destino me daria. Esse destino que não vai com a minha cara por todas as coisas que me acontecem.—Vocês poderiam trocar essas expressões de choque por umas mais receptivas, Lucía, Clara?—questiona brincalhão Luciano.—Não precisa levar mal nossas reações, são de surpresa... pela rapidez do casamento porque... bem... ah...—responde a que confirmo ser Lucía, a da voz doce.—É um acontecimento absurdo de qualquer ângulo que se olhe, Luciano—responde a outra.Lembro de onde sua voz me é familiar, é a mulher que zombou de mim ao lhe dizer o relacionamento que tinha com o homem ao meu lado. Clara, a esposa de Leonel, essa com quem há algum tipo de problema.—Isso diz você, que não sabe nada da minha vida. Também não é como se devesse te interessar muito—continua num tom
—Teria sido mais fácil essa versão. Em que muda ser uma coisa ou outra?—Menos drama com meus tios. Mais compatível e credível com meus gostos.—Você poderia me explicar melhor essa parte do drama? Como se um casamento relâmpago já não fosse dramático o suficiente?—Lúcia e Clara vinham de baixo, e isso foi uma guerra idiota com eles. Também não precisamos exagerar sobre meu amor por você. Que nossa união seja conveniente vai torná—la mais viável. Vou assentar a cabeça com alguém do meu nível. É assim que deve ser.Sua versão me deixa pensando e pensando nas coisas que não sou, e que ele quer que eu seja. Me dá vontade de perguntar se, quando isso acabar, ele vai procurar outra pessoa. Se outra mulher realmente vai fazê—lo assentar a cabeça ou se sua solteirice valerá muito mais que isso. Não posso perguntar porque seu celular toca, ele dá algumas respostas secas e desliga.—Vou ter que sair por algumas horas. Volto para o jantar—revela e quer ir embora. Me alarmo.—Espera!—grito pra e
—Simplesmente aconteceu. É assim... o amor—menciono coçando meu queixo.—Que lindo é o amor!—exclama ela dando um último movimento e baixando a alavanca, que desce sem problemas—Consegui desentupir. Desculpe pelos transtornos, senhorita Marianne. Com licença.Ela se despede voltando à versão submissa que vi quando entrei no quarto. A garota vai embora e eu ainda estou impactada com sua atitude. Inclusive entro no banheiro e abro o compartimento das toalhas. Ao fazê—lo, tenho que reagir rápido para que não caiam.Neste compartimento há mais toalhas do que deveria ter. Metade delas são da cor cinza que a psicótica Martha trouxe, e as outras são em tons creme.—Não precisava trazer mais toalhas, ou estou paranóica?—me pergunto em voz alta.A porta volta a bater.—Sério? Mais uma louca? Não tive o suficiente delas pelo mês?—reclamo me dirigindo desta vez para abrir a porta por conta própria.Em vez de encontrar Martha ou alguém parecido, me surpreendo ao ter aqui na minha frente Lucía.—Ou
As crianças são sagradas, não importa de que ângulo se olhe. É uma verdade inalterável, e esse status sobe a outro nível quando se trata dos seus próprios filhos. Por isso, o fato de Clara estar dizendo que Luciano foi capaz de colocar em risco a geração mais jovem dos Brown vai muito além da minha compreensão.—Desculpa, mas... o que você acabou de dizer?—preciso confirmar que não tive uma alucinação auditiva.—O que você acabou de ouvir. Luciano é um perigo ambulante—afirma Clara.—Também não vamos perder a perspectiva por causa das nossas emoções, Clara—acrescenta Lucía.—Você tem razão. Já que considera que tenho uma opinião tendenciosa, explique você a última grande façanha do Luciano, e como ela afetou nossa família. Deixo com você. Vá em frente—oferece Clara.Lucía parece desconfortável com tal oferecimento, no entanto, se prepara para aprofundar no assunto.—Luciano é extremamente querido na família, mas você deve conhecer sua inclinação pela aventura e... pelo perigo. Não é?—a
—Na verdade, tenho 24 anos...—corrijo envergonhada.—Nossa, isso torna tudo melhor. 24 e 34, certamente não há desequilíbrio de poder no relacionamento de vocês. Nenhum—ironiza Clara—Você é capaz de entender meu ponto de vista? Luciano já passou por todas. Uma vez se meteu numa igreja de famosos que era uma seita; outra vez ficou viciado num esporte pouco compreendido pela sociedade, eram lutas de rua, e mais uma e mais outra. Está pronta para se casar com um homem assim?Agora eu entendia muito bem. A irresponsabilidade e como tinha sido selvagem a vida de Luciano. Era uma grande aposta estar ao lado dele, mas também não podia ignorar o que significava estar com ele. Luciano não só me enlouquecia fisicamente, como também tinha me ajudado muito economicamente. E isso era um negócio, era sobre dinheiro, sobre aparência e sobre vingança.Estava cansada de ser pisada, e se estar com ele me daria poder. Eu aceitaria. A qualquer preço.—Só te ouço falando do passado, Clara. Não te ouço fala
—As máscaras agora sim estão caindo?—Não é uma máscara, é minha vida. Casar com você é um risco que precisa de uma reavaliação. Eu era alheia ao perigo que representava me casar com você, agora não. O que me diz disso?—Quanto você quer?—menciona ríspido.—100.000 $ livres de impostos, por ano—lanço no ar um valor que é o dobro do que ganho por ano. Muito dinheiro pra mim, pra ele, não deve ser tanto.Não sei se é decepção o que leio em seus olhos ou raiva infantil, seja o que for, Luciano rasga em dois o contrato e joga pra trás.—Terá seu dinheiro. Desça pra jantar—diz amargo se adiantando nessa tarefa.Um gosto desagradável fica preso na minha garganta. Me sinto culpada e assustada, mas aliviada. Dinheiro, tudo isso é sobre dinheiro, aparência e sexo. Devia colocar isso na minha cabeça se quisesse sobreviver ao mundo que estava vindo em cima de mim.......Com esses pensamentos em mente, desço como ele me pediu. Ao seguir seu rastro, chego à sala de jantar dos Brown e vejo na mesa