A vida depois de uma ameaça de morte não pode voltar a ser normal. Com essa mesma paranoia não consegui pregar o olho à noite, também fui capaz de colocar uma mesa atrás da minha porta de entrada e manter todas as luzes apagadas durante a noite.Outro sinal da minha paranoia é que paguei um táxi para me trazer ao escritório, e aqui estou, em uma das cabines individuais de videoconferência. Estou conversando com um cliente antigo da Belmonte Raízes sobre os impostos de uma das propriedades que comprou conosco para sua aposentadoria.—Desculpe por fazer você perder tempo Marianne. Mas você é a única que tem paciência comigo—comenta o senhor Aguilar que tem idade pra ser meu avô.—Não se preocupe. Estamos aqui pra ajudar. Vou passar o número da Ariana, ela vai orientá—lo melhor sobre a documentação diretamente da receita. Tem mais dúvidas?—Por enquanto não, se depois eu tiver posso te ligar?—Me mande uma mensagem, e resolvemos. Como sempre fazemos na Belmonte Raízes. Até logo, se cuide—
—Não me diga que é comum que uma ex sei lá o quê, te ameace de morte, te encurrale junto com dois caras num banheiro, e esses dois caras até se atrevam a machucar sua amiga. Não fui a única machucada, a Giana também se machucou enquanto a seguravam pra que não interferisse. Não vai me manipular pra que eu acredite que isso não foi nada, já cansei dessa m****.Estou irritada, muito irritada com a atitude do Luciano. E o que eu dizia era a verdade. Tinha saído de um relacionamento em que meu namorado me fazia acreditar que eu sempre era a exagerada, e a culpada de cada discussão, quando não era assim. Não voltaria ao mesmo.—Ah, as garras você tem que mostrar comigo que te defendi até não poder mais—comenta totalmente sarcástico, e sei que irritado.—Agora você é que está irritado?—zombo.—Não estou irritado. Estou de saco cheio de você. O que você quer que eu faça? Acha que planejei que machucariam vocês duas? Anfisa é parte desse passado que quero deixar pra trás. Você como alguém que
—Você está falando de sentimentos? Porque desses nunca te dei garantia, a única coisa que te dei garantia foram fatos. Você e eu temos um acordo que agora não pode descumprir—exige.Dou de ombros para irritá—lo mais.—O que você vai fazer se eu não cumprir? Me ameaçar como a senhora Kosnikova?—dou mais um passo em sua direção.—Deveria te dar umas boas palmadas para você aprender o que é estar realmente em risco—ele dá mais um passo em minha direção.—Como se eu já não tivesse estado... POR SUA CULPA—mais um passo e estou bem perto dele.—Como se você já não tivesse estado POR CULPA DA SUA FAMÍLIA—Luciano dá mais um passo e com isso estamos o mais próximos possível.Nossas respirações se misturam, assim como posso sentir o calor do seu corpo emanando. Deveria estar irritada pelo que ele me fez, mas sinceramente, não sei se fico irritada ou excitada como começo a ficar. Em minha mente vêm lembranças das coisas que fizemos ontem, de seus dedos entre minhas pernas, e de sua semente em meu
Controlo minha respiração e mantenho meu pescoço imóvel. Não preciso ser óbvia com meu sentimento interno, não preciso deixar em evidência os nervos efervescentes que estão me dominando agora. Por que estou nervosa? Porque estou vendo como o portão gigante da famosa mansão Brown está se abrindo, tudo isso desde este banco traseiro na companhia de Luciano.O fim de semana chegou mais rápido do que esperava, e a facilidade que é ter dinheiro agilizou para que voássemos como se atravessar um oceano fosse mais um passeio à praia da esquina. Mantive minha "atitude irritada e distante" durante a semana, também na viagem de avião. Devo ter sido a companheira de voo mais chata que Luciano já teve, mas não me arrependo.Do único que estou me arrependendo é de ter vindo a este lugar. Quanto mais avançamos, mais nos aprofundamos no verde da floresta, e quanto mais avançamos, mais nítidas ficam as proporções de uma casa que parece saída de um livro de história.Não é uma mansão qualquer, posso des
—Não, obrigada, vou me manter afastada. Será suficiente—garanto desconfortável.O carro para, e um funcionário abre a porta para mim. Esse mesmo funcionário se surpreende ligeiramente ao me ver no carro. É um homem mais velho que está uniformizado.—Jovem Luciano, não sabia que traria companhia desta vez...—cumprimenta o homem.—Você me conhece, Gregório. Gosto de dar surpresas—é a saudação de Luciano—Quer uma ainda maior?—Se é sua vontade me dar, é meu dever recebê—la—menciona o senhor com um tom cansado que acho muito engraçado—Peguem a bagagem e avisem da presença da senhorita para preparar seu quarto.Essa é a indicação que Gregório dá a dois rapazes bem mais jovens, eles vão diligentemente fazer o que lhes é pedido. Tanto Luciano quanto eu saímos do carro.—Não será necessário preparar outro quarto. Ela ficará no meu—pede Luciano.Os rapazes ficam paralisados me olhando, Gregório também. Isso é muito mais que constrangedor, é como se ele tivesse dito aos três que iríamos transar
Estou acostumada a não ser bem—vinda pelas famílias dos meus parceiros. A família de Andrew me suportava por aparências e negócios, pude concluir depois do meu término com ele. E agora, os Brown deviam ser outra lição que o destino me daria. Esse destino que não vai com a minha cara por todas as coisas que me acontecem.—Vocês poderiam trocar essas expressões de choque por umas mais receptivas, Lucía, Clara?—questiona brincalhão Luciano.—Não precisa levar mal nossas reações, são de surpresa... pela rapidez do casamento porque... bem... ah...—responde a que confirmo ser Lucía, a da voz doce.—É um acontecimento absurdo de qualquer ângulo que se olhe, Luciano—responde a outra.Lembro de onde sua voz me é familiar, é a mulher que zombou de mim ao lhe dizer o relacionamento que tinha com o homem ao meu lado. Clara, a esposa de Leonel, essa com quem há algum tipo de problema.—Isso diz você, que não sabe nada da minha vida. Também não é como se devesse te interessar muito—continua num tom
—Teria sido mais fácil essa versão. Em que muda ser uma coisa ou outra?—Menos drama com meus tios. Mais compatível e credível com meus gostos.—Você poderia me explicar melhor essa parte do drama? Como se um casamento relâmpago já não fosse dramático o suficiente?—Lúcia e Clara vinham de baixo, e isso foi uma guerra idiota com eles. Também não precisamos exagerar sobre meu amor por você. Que nossa união seja conveniente vai torná—la mais viável. Vou assentar a cabeça com alguém do meu nível. É assim que deve ser.Sua versão me deixa pensando e pensando nas coisas que não sou, e que ele quer que eu seja. Me dá vontade de perguntar se, quando isso acabar, ele vai procurar outra pessoa. Se outra mulher realmente vai fazê—lo assentar a cabeça ou se sua solteirice valerá muito mais que isso. Não posso perguntar porque seu celular toca, ele dá algumas respostas secas e desliga.—Vou ter que sair por algumas horas. Volto para o jantar—revela e quer ir embora. Me alarmo.—Espera!—grito pra e
—Simplesmente aconteceu. É assim... o amor—menciono coçando meu queixo.—Que lindo é o amor!—exclama ela dando um último movimento e baixando a alavanca, que desce sem problemas—Consegui desentupir. Desculpe pelos transtornos, senhorita Marianne. Com licença.Ela se despede voltando à versão submissa que vi quando entrei no quarto. A garota vai embora e eu ainda estou impactada com sua atitude. Inclusive entro no banheiro e abro o compartimento das toalhas. Ao fazê—lo, tenho que reagir rápido para que não caiam.Neste compartimento há mais toalhas do que deveria ter. Metade delas são da cor cinza que a psicótica Martha trouxe, e as outras são em tons creme.—Não precisava trazer mais toalhas, ou estou paranóica?—me pergunto em voz alta.A porta volta a bater.—Sério? Mais uma louca? Não tive o suficiente delas pelo mês?—reclamo me dirigindo desta vez para abrir a porta por conta própria.Em vez de encontrar Martha ou alguém parecido, me surpreendo ao ter aqui na minha frente Lucía.—Ou