Ser uma corretora de imóveis de um projeto de tal envergadura como o New Century requer características como eloquência, distinção, elegância e mordacidade. E a verdade é que Marianne Belmonte apenas finge que esses detalhes fazem parte de sua identidade enquanto vende para ganhar o pão. Caso contrário, eu não me esforçaria para ter outra personalidade diante de um cliente.Mas uma coisa era ser meu "eu do trabalho" e outra meu "eu normal". A primeira exigia concentração, descanso e assertividade. Coisas que sinto que estou me esforçando para oferecer neste percurso pelas imediações do shopping center em construção.— Quando a obra seria finalizada? — questiona Ernesto, um dos secretários do empresário que é um potencial comprador. Ele não pôde vir pessoalmente devido à sua agenda.— Prevemos que ao final do segundo trimestre do ano. Atualmente estamos adiantados com a mesma, como você pode perceber — explico ao homem enquanto caminhamos através das paredes brancas da estrutura.Ernest
— É verdade que você também sabe trabalhar sob pressão. Não decepciona, Marianne.— Com o tempo você se acostuma a cumprir expectativas irracionais. É o requisito principal do nosso perfil de clientes — explico enquanto entramos no elevador. Aperto o botão para subir.— Irracional, gosto dessa palavra — diz ele acariciando o queixo.Dou uma olhada franzindo os olhos. Não podia perder a paciência com meu chefe, dono e suposto noivo. As portas se abrem rapidamente e estamos entrando no penúltimo andar. Tiro do meu blazer as chaves do imóvel e ambos entramos.O apartamento é um sonho. Está decorado por um famoso designer de interiores da cidade, tem espaço suficiente e deve estar ao nível de um milionário como Luciano. Recito suas características em voz alta.— Quatro quartos, cada um com banheiro privativo. Uma ampla sala e sala de jantar com uma vista privilegiada para o mar — explico — a cozinha é o sonho de qualquer amante da boa comida. Todos os eletrodomésticos são novos. Foi recent
Reúno forças para me conter, mas não consigo da maneira que quero. Não há como Luciano me acompanhar para ver esse apartamento. Simplesmente não há.— Você não pode me acompanhar para ver esse apartamento! — minha voz sai mais alta e estridente do que eu gostaria.— Por que não? Eu te mostrei o meu. Ou você está escondendo algo de mim? — ele brinca comigo.— Que necessidade você tem de querer ver onde eu vou morar? É desnecessário — digo na defensiva.O elevador se abre no térreo, e meus pés se dirigem à saída. Tenho um pé fora quando ouço a voz de Luciano. Firme e contundente.— Saia do elevador e não haverá casamento entre nós.O medo me preenche até o último canto. Olho para ele assustada. Ele parece imperturbável e bem diferente do Luciano brincalhão que conheci. Consegui deixá-lo irritado, talvez na defensiva também.— Vamos começar com as regras deste acordo, Marianne. Não gosto que me contrariem quando sei que estou certo.— Isso é totalmente subjetivo... — digo evasiva.— É mes
Esta cidade tinha um problema de gentrificação, que por acaso decidiu disparar justamente no último ano. No ano em que eu estava alheia aos problemas dos mortais por causa do meu namorado rico. Nunca deveria ter me acostumado com aquele conforto. Nem sonhar com mais do que poderia conquistar com minhas próprias mãos. Minha mãe tinha razão. Dependa de um homem e sua vida dependerá de algo volúvel e instável.— Quantos meses precisa de adiantamento? — pergunto resignada ao meu destino.— Três meses de caução e seis de adiantamento. Ah, esqueci de mencionar, o horário limite de chegada é às 19h. As portas são trancadas com chave dupla depois disso.— Desculpe... como assim as portas são trancadas? Quem vai trancá-las?— Eu. O quarto ao lado é meu.Minha boca se fecha de espanto, não consigo dizer nada diante da cara lavada da senhora. O único som que ouço são as risadas contidas de Luciano ao fundo. Ele está lutando com sua alma para não explodir em gargalhadas. A senhora o repreende com
Meus pés batem no chão com constância e meu coração bate com uma força sobrenatural. Eu finalmente consegui, uma promoção no meu trabalho, e o primeiro que tinha que saber disso era Andrew, meu noivo. Caminho pelo corredor tão emocionada e agarrada à minha pasta que agradeço por ninguém estar neste corredor. Vão pensar que estou louca ou que não sei me controlar pelo sorriso enorme que tenho no rosto. Mas quem poderia me culpar.Minha vida estava se transformando no que sempre deveria ter sido. Uma vida feliz e abençoada. Eu me casaria em alguns meses com o amor da minha vida, e finalmente deixaria de servir café na empresa. As lágrimas, humilhações e solidão acabariam. Eu, Marianne Belmonte, deixaria de ser o saco de pancadas da minha família, seria a esposa de um promissor empresário. Finalmente, todos me respeitariam e aceitariam.—Querido? Tenho boas notícias... — digo abrindo a porta do apartamento do meu futuro marido.As luzes da sala estão apagadas e há uma melodia suave de Jaz
Na manhã de ontem, acordei com o homem que amava conversando sobre como estávamos animados com o casamento dos nossos sonhos. Na manhã de hoje, acordei em um quarto de hotel barato com os olhos inchados de tanto chorar. Não haveria casamento, não haveria um final feliz para mim, não teria a família com a qual sonhei. Fiquei praticamente sem nada. Sem um teto, e quem sabe se Andrew teria a decência de me devolver minhas roupas. A única coisa que me restava era meu trabalho. Um ao qual voltei a me trancar em meu cubículo para mergulhar no meu mundo, os números. Trabalho para a Belmonte Raízes, uma imobiliária de bom tamanho dedicada ao que todas as imobiliárias fazem: comprar e vender imóveis. E eu, que tinha quase três anos de formada em administração de empresas, trabalhava nela desde então. O fato de compartilhar o mesmo sobrenome no nome da empresa não é coincidência. Seu dono é meu pai, Belmonte Raízes é uma empresa familiar. Uma na qual conquistei meu posto por mais que meus col
Tenho uma lista interminável de humilhações provocadas pela minha família em minha memória. A vez em que vim a esta casa me ajoelhar diante do meu pai para que me desse dinheiro para o tratamento da minha mãe. A vez em que Amanda e sua mãe me deram uma caixa com roupas usadas e rasgadas, porque eu "precisava me vestir melhor".Mas me pedir para ajudar a organizar o casamento do meu ex-parceiro com sua amante grávida, que é minha meia-irmã, essa devia ser uma das mais sádicas da lista.—Não ajudarei Amanda a organizar seu casamento com Andrew. Por que eu faria tal coisa? — digo lentamente como se estivesse dando tempo ao meu pai para confessar que isso é uma piada de mau gosto.Sergio me olha com desaprovação, Amanda o faz com um sorriso que tenta esconder enquanto come sua salada de frutas.—É decepcionante que você não decida ser uma pessoa melhor neste assunto. Se não for, me verei obrigado a reconsiderar seu contrato em nossa empresa. Ouvi dizer que você conseguiu assinar para ser u
Estou em uma nuvem de prazer da qual não quero descer. Os beijos vão e vêm, assim como as carícias em minhas pernas nuas. Me contorço entre os lençóis brancos e desfruto do calor do homem sobre mim. Não quero que isso nunca acabe.—Você é linda, Marianne — sussurra ele em meu ouvido.—Você também é lindo — sussurro eu, soando tão ousada como nunca havia sido.Mordo seu lábio com delícia e isso o anima a ir mais rápido. A forma como está entrando e saindo do meu corpo me faz soltar muitos gemidos lastimosos que nem sabia que podia fazer.—Se for demais para você, me diga... — soa contido.Demais para mim? Que coisas ele dizia? O pequeno incômodo ou a pontada de dor que senti no início? Isso não é nada comparado ao prazer que me domina. O sexo era a melhor coisa do mundo, nem sei do que eu tinha tanto medo.—Se for pouco para mim também devo te dizer? — digo acariciando seu rosto — Vá mais rápido.E mais, e mais rápido ele foi......Acordo rindo. Sim, rindo e com uma terrível dor de cab