— É verdade que você também sabe trabalhar sob pressão. Não decepciona, Marianne.— Com o tempo você se acostuma a cumprir expectativas irracionais. É o requisito principal do nosso perfil de clientes — explico enquanto entramos no elevador. Aperto o botão para subir.— Irracional, gosto dessa palavra — diz ele acariciando o queixo.Dou uma olhada franzindo os olhos. Não podia perder a paciência com meu chefe, dono e suposto noivo. As portas se abrem rapidamente e estamos entrando no penúltimo andar. Tiro do meu blazer as chaves do imóvel e ambos entramos.O apartamento é um sonho. Está decorado por um famoso designer de interiores da cidade, tem espaço suficiente e deve estar ao nível de um milionário como Luciano. Recito suas características em voz alta.— Quatro quartos, cada um com banheiro privativo. Uma ampla sala e sala de jantar com uma vista privilegiada para o mar — explico — a cozinha é o sonho de qualquer amante da boa comida. Todos os eletrodomésticos são novos. Foi recent
Reúno forças para me conter, mas não consigo da maneira que quero. Não há como Luciano me acompanhar para ver esse apartamento. Simplesmente não há.— Você não pode me acompanhar para ver esse apartamento! — minha voz sai mais alta e estridente do que eu gostaria.— Por que não? Eu te mostrei o meu. Ou você está escondendo algo de mim? — ele brinca comigo.— Que necessidade você tem de querer ver onde eu vou morar? É desnecessário — digo na defensiva.O elevador se abre no térreo, e meus pés se dirigem à saída. Tenho um pé fora quando ouço a voz de Luciano. Firme e contundente.— Saia do elevador e não haverá casamento entre nós.O medo me preenche até o último canto. Olho para ele assustada. Ele parece imperturbável e bem diferente do Luciano brincalhão que conheci. Consegui deixá-lo irritado, talvez na defensiva também.— Vamos começar com as regras deste acordo, Marianne. Não gosto que me contrariem quando sei que estou certo.— Isso é totalmente subjetivo... — digo evasiva.— É mes
Esta cidade tinha um problema de gentrificação, que por acaso decidiu disparar justamente no último ano. No ano em que eu estava alheia aos problemas dos mortais por causa do meu namorado rico. Nunca deveria ter me acostumado com aquele conforto. Nem sonhar com mais do que poderia conquistar com minhas próprias mãos. Minha mãe tinha razão. Dependa de um homem e sua vida dependerá de algo volúvel e instável.— Quantos meses precisa de adiantamento? — pergunto resignada ao meu destino.— Três meses de caução e seis de adiantamento. Ah, esqueci de mencionar, o horário limite de chegada é às 19h. As portas são trancadas com chave dupla depois disso.— Desculpe... como assim as portas são trancadas? Quem vai trancá-las?— Eu. O quarto ao lado é meu.Minha boca se fecha de espanto, não consigo dizer nada diante da cara lavada da senhora. O único som que ouço são as risadas contidas de Luciano ao fundo. Ele está lutando com sua alma para não explodir em gargalhadas. A senhora o repreende com
Nunca subestime a determinação de uma mulher sem teto próprio. Em questão de algumas horas, tinha preenchido os formulários e reunido a maioria dos documentos para solicitar o financiamento imobiliário. Seria pelo preço médio de um apartamento confortável de dois quartos perto do centro. Nada de luxo, mas um excelente investimento para os próximos anos.—Conseguiu nos poupar meses de trabalho e vendeu o projeto? — pergunta Giana encostando-se em uma das paredes do meu cubículo na empresa.—Não. Mas prometeram entrar em contato para negociar. Foi um bom primeiro encontro — digo juntando os arquivos para imprimir.—É uma boa notícia, mas não tão boa a ponto de você ter tomado mais dois copos de café — olha cética para os copos vazios na minha mesa — Quer ter uma taquicardia? É pra dormir no hospital pelo plano de saúde? Prometo que posso ser uma colega de quarto melhor.Faço uma expressão de que não é isso, e a convido para se aproximar de mim. Para fofocar. Ela pega uma das cadeiras vaz
—Não podemos ter mais surpresas com meu casamento e SEU SOBRINHO tão perto — fala enfatizando as palavras mais suculentas para que os outros ouçam — No sábado à noite, Andrew e eu vamos fazer um jantar de boas-vindas no nosso apartamento para seu novo amor. Papai e mamãe estarão lá. Acredite, estamos todos empolgados para saber mais sobre seu relacionamento, e descobrir se vai terminar em casamento. Quer dizer, sua mão ainda está vazia.Com um olhar mordaz para meus dedos nus, aquela infeliz vai embora. Deixando os que a ouviram com dúvidas sobre quem diabos era meu novo namorado, se era verdade que ele era um dos nossos superiores e confirmando o que se comentava, que ela está grávida do meu ex.—Acha que vai me vencer, princesinha? — ranjo os dentes clamando por sangue.Me levanto e vou até o escritório de Luciano. Não bato, entro porque sei que está sozinho e não o ouço falando em videoconferência ou algo assim.—Preciso de um anel. O anel de noivado mais ordinário e grande que você
A sexta-feira chegou, e com ela a noite que eu não queria que chegasse, chegou. Meu rosto de pânico me anunciando na portaria do novo edifício de Luciano é de retrato. Me deixam passar rápido, e o elevador sobe mais rápido do que eu gostaria. Em alguns segundos estou batendo em sua porta, e poucos depois ele me abre.—Olha quem está aqui. Pensei que não viria, digo, como você pensa que eu mordo — saúda descarado. O mais descarado é que ele está usando uma calça de pijama, está sem camisa e tem o cabelo mais bagunçado do que nunca.—Você estava dormindo? Não tinha um compromisso mais cedo supostamente?—Tinha? Mesmo assim sou uma criatura noturna. Entre — zomba e me dá passagem para que eu entre.Faço isso contendo minha língua e comentários agressivos. Meu chefe se mudou completamente para seu novo apartamento, não mudou seu design desde que chegou, a única coisa que sim sinto que mudou é o aroma no ambiente. É um masculino e notório, dele.Não me é indiferente que ele ande sem camisa,
—Não tenho mãe, Marianne. Alguma outra pergunta que eu possa responder? — ele oferece.Entendi na hora. A mãe era pior que o pai e nem piadas ele se atrevia a fazer sobre ela. Assunto proibido e anotado. Reorganizei minhas ideias. Tinha um propósito para esta noite.—Você tem com você o anel de noivado que me falou? — mudo de assunto.—Isso nem se pergunta — vira sua taça de uma vez — Me segue, está embaixo da bíblia.—O quê? — falo confusa com Luciano se esgueirando como criança travessa até o escritório.Devia estar zombando de mim porque descobri que essa é sua atividade favorita comigo. Deixo minha bolsa no balcão e vou até onde ele sumiu. Quando entro no elegante escritório com a vista linda para o mar à noite, encontro ele abrindo o cofre na estante. Não acredito nem um pouco na história do anel amaldiçoado, ando perto dele e cruzo os braços.—Que mentira vai me contar dessa vez, Luciano Brown?—Mentiras? Nuuunca vai ouvir uma de mim — diz cheio de ironia e tirando uma caixa comp
—Quando você vai me entregar? Precisamos organizar o pedido de casamento — sento na cadeira disponível.—Serve amanhã? Estava pensando em fazer amanhã — oferece.Adoro a ideia.—Seria perfeito fazer no apartamento daquele infiel. Com toda minha família presente — imagino e me ocorre outra ideia — Podemos combinar o horário e chamar uma serenata? Imagine só, com certeza Amanda vai fazer alguma das dela pra ser o centro das atenções da noite, mas nós vamos atacar com o pedido com essa joia. Ela vai morrer de raiva.Luciano não gosta muito da minha ideia.—Eu deixaria alguns detalhes de fora. Gostaria que fosse mais simples. Deixa que eu cuido disso.Com ele me emprestando esse anel, aceito não forçar além dos limites dele. Me parece bem, e mostro isso com meus gestos.—Como foi que nos conhecemos afinal? O que vamos contar pra eles? — pergunto pra construir nossa história.—Podemos dizer que nos conhecemos ano passado à distância, e com minha chegada ao país, mais o término com seu ex, n