—Apresentarei minha demissão, esta tarde. Desculpe por minha atitude, não foi profissional — menciono com mais lágrimas caindo.Ouço um suspiro profundo, muito profundo.—Não há necessidade — diz ele rendido. Olho para ele esperançosa — Todos temos decisões e dias de m****. Você não merece ser demitida por um. Mas não aceitarei sua proposta de casamento, é um absurdo, Marianne.Meu peito se afrouxa, se alivia e volto a respirar normalmente.—Sim, foi um absurdo. Não sei no que estava pensando — medito brincando com o lenço, e me lembro imediatamente — Há algo seu que quero devolver.Não especifico o que quero devolver, saio de seu escritório fingindo que não há nada fora do comum e pego da minha pasta o envelope. Volto e o deslizo pela mesa. Luciano o pega e abre. Tira do envelope o cartão com seu número de celular, e se surpreende ao ver os 1000$ que ele tinha me deixado. Eu os trazia comigo há dias, caso ocorresse a mim como devolver esse dinheiro.—Espero que, com isso, não fiquem c
A uma semana do desastre da loja de vestidos de noiva, a perversa da mulher que tenho como madrasta não parou de insistir para que eu passasse o nome do meu suposto noivo. Mas a única coisa que consegui daquele infame aplicativo de encontros foram vinte fotos de partes íntimas, cinco propostas de sexo casual e horas de frustração. Não tenho ninguém para levar a essa festa.Puxo meu cabelo desesperada e estressada. Tais são essas emoções em mim, que percebo que arranco um tufo de cabelo que fico olhando com vontade de chorar.—Estou preocupada com você. Estou falando sério — me diz Giana sentando-se ao meu lado no meu cubículo. Ela me trouxe um café que me oferece — Um mocha, para abrir seu apetite e podermos ir almoçar como o resto do andar.Era hora do almoço, havia apenas uma colega na cabine privada para videoconferências no fundo do corredor. Me dedico ao meu computador.—Não estou com fome. Preciso conseguir um homem para esta noite — aviso à minha amiga.—Ainda com isso? Você não
—Nada. Vou ao clube equestre. É o jantar de noivado de Amanda, minha irmã — explico.—Com o que planeja sabotá-lo desta vez? Não me diga que desistiu, isso seria muito chato da sua parte.Olho para ele com minha língua grudada na bochecha. Me sinto ridicularizada, zombada, mas e daí? Mais baixo eu não podia cair. Se ele queria drama, eu daria drama.—Aparecerei com um atraente noivo que atuará como se eu fosse a mulher mais encantadora do mundo, e me fará parecer o que quero aparentar, uma mulher sã da cabeça, engenheiro Brown — presumo.Leio o sorriso nos olhos de Luciano ao volante. A brisa despenteando seu cabelo o torna mais irresistível.—Você também chantageou esse? — brinca com crueldade.—Não, paguei adiantado — solto sem culpa.Ele solta uma expressão atônita, depois uma grande gargalhada. Eu não acho graça que ele ache graça dessa loucura. Uma mulher deve fazer o que deve fazer. Aperto minha bolsa para não corar pelo disparate que acabei de dizer. Mantenho meu queixo erguido.
América, América de Belmonte é o nome da minha detestável madrasta. Mas eu odeio tanto esse nome que tento não me lembrar dele. Era o nome que minha mãe repetia sem parar quando estava doente, culpando-a pela destruição de seu casamento. Desde jovem, pude entender que meu pai tinha mais culpa do que sua amante na doença da minha mãe. Mesmo assim, mamãe estava obcecada em responsabilizá-la. América, aquela destruidora de lares. América, aquela qualquer estrangeira.Seu nome era como o de um fantasma que eu preferia não invocar. Um fantasma para mim, é inquietante a reação da própria América com Luciano. Parecia que ele fosse o fantasma dela.— América — meu pai repreende discretamente sua esposa — Essa não é uma pergunta apropriada para fazer ao meu sucessor.— Como assim, seu sucessor? — ela pergunta aterrorizada a Sergio — Você não me falou sobre isso.— Desde quando você se importa com os nomes dos meus sócios, mulher? — ele diz com desprezo, depois se dirige a nós — Vocês trocaram p
— Não seja mal-educado, Andrew. Ele é meu convidado. Veio comigo — informo para que ele se controle.— Ele é seu chefe. Não precisa ir a lugar nenhum com você — ele impõe irritado, mal se contendo.Reviro os olhos e passo por ele depois dessa cena.— Não seja ridículo, controle-se — sussurro quando passo perto dele.Me acomodo no lugar indicado na mesa comprida, e Luciano faz o mesmo ao meu lado. A mesa está ocupada por quase todos os convidados, incluindo a esposa do meu pai com ele a alguns lugares de nós, e mais adiante os noivos. Agradeço aos céus que desta vez não tenha que ter nenhum desses insetos na minha frente ou ao lado.— O futuro marido da sua irmã é um pervertido, quer se meter na sua cama assim que você se descuidar — Luciano me fala ao ouvido.Ouvir sua voz tão perto produz sensações prazerosas no meu corpo. Não sei se são os mojitos e a taça de vinho branco que me serviram e estou degustando, que me deixaram assim, leve e quente.— Como você? — provoco coquete — É uma
Uma madrasta no chão, um aparente namorado que surgiu do nada e mais álcool no meu sistema do que deveria ter. Esse é um resumo da cena que estou vivendo neste momento. Com América desmaiada, Sergio não demora a reagir. Meu pai a carrega nos braços, mais atrás sai Amanda gritando e alarmada. Meu ex-noivo, antes de ir atrás de sua futura família, me lança um olhar enojado.— Você acha que a bruxa morreu? — pergunto a Luciano.— Acho que não, a grama deve ter amortecido a queda — ele responde enquanto ambos vemos os convidados se acumularem sob a tenda para onde a levam — E as bruxas nunca morrem.— Assim como os mentirosos. Por que você disse a eles que era meu namorado? Os mojitos subiram à sua cabeça ou o quê? — indago confusa e me afastando dele.— Pode ser — ele diz examinando minha bolsa. Eu a tiro de suas mãos.Não confio em Luciano. Não sei o que ele está planejando ou por que decidiu que é uma boa ideia estar comigo justo agora. Há alvoroço por onde América está, um par de param
Ambos saímos do espaço e caminhamos até o carro dele em silêncio. Entramos no carro no mesmo silêncio.— O que foi aquilo? O que você quer fazer comigo? — questiono consternada.— Por enquanto, te levar para comer comida de verdade — ele resolve, dando a partida tranquilo como uma alface......A "comida de verdade" a que Luciano se referia é este glorioso hambúrguer de carne e queijo que estou mordendo agora. Sujo minhas mãos ao dar esta mordida por causa da quantidade de molhos que coloquei. Ele está na mesma situação que eu, embora concentrado nas batatas fritas da nossa mesinha.Sei que damos uma imagem curiosa. Vestidos como se tivéssemos saído de uma festa de gala e sentados ao lado de uma barraca de hambúrgueres de rua. Há poucos clientes ao redor e cada um está na sua, então ninguém nos presta tanta atenção. Luciano deixou seu paletó no carro, e eu prendi o cabelo em um coque bagunçado para não sujá-lo.— Eu te disse que te traria a um lugar de comida real — ele se gaba.— Cuid
Ser uma corretora de imóveis de um projeto de tal envergadura como o New Century requer características como eloquência, distinção, elegância e mordacidade. E a verdade é que Marianne Belmonte apenas finge que esses detalhes fazem parte de sua identidade enquanto vende para ganhar o pão. Caso contrário, eu não me esforçaria para ter outra personalidade diante de um cliente.Mas uma coisa era ser meu "eu do trabalho" e outra meu "eu normal". A primeira exigia concentração, descanso e assertividade. Coisas que sinto que estou me esforçando para oferecer neste percurso pelas imediações do shopping center em construção.— Quando a obra seria finalizada? — questiona Ernesto, um dos secretários do empresário que é um potencial comprador. Ele não pôde vir pessoalmente devido à sua agenda.— Prevemos que ao final do segundo trimestre do ano. Atualmente estamos adiantados com a mesma, como você pode perceber — explico ao homem enquanto caminhamos através das paredes brancas da estrutura.Ernest