Felipa— Puta que pariu!Sim, essa foi a primeira coisa que ouvimos ao entrar no restaurante. É Nania que fala, antes de vir correndo abraçar minha tia e eu.— Você estão tão com cara de ricos. — Ela segura minha tia pelos ombros, analisando seu vestido. — Quase não reconheci.— É uma ocasião especial. — Tia Joyce diz de um jeito misterioso. Já meu tio fica quieto em seu canto diante dessas pessoas barulhentas.— Qual? Por acaso vieram enfrentar o CEO? — um dos funcionários fala.— Fiquei sabendo que ele te demitiu — outro completa olhando para mim.— Mesmo depois de readmitir a Joyce que nem veio trabalhar — outro se intromete.Não disse... pessoas barulhentas. O ambiente que minha tia adora.— É uma longa história. Que tal um cafezinho para eu contar a fofoca?Reviro os olhos para minha tia. Ela adora mesmo essas coisas.Seguimos até uma das mesas e sentamos os quatro. Nem preciso dizer que fomos rodeados por curiosos.— A minha Felipa foi demitida sim. E eu não vim trabalhar hoje.
FelipaDurante o caminho até o cartório, Vincent finge não se importar com o que minha tia relata que inventou, mas sei que está puto, posso sentir a ira emanando dele. Não falei muito, deixei que minha tia monopolizasse a conversa.Quando chegamos ao cartório fomos recebidos como se fossemos da realeza e nos levaram em uma sala onde um senhor muito idoso estava sentado segurando uma bengala cravejada de pedras vermelhas.— Demorou, Vincent! — ele levanta com um sorriso pequeno.— Desculpe, vovô. Tivemos um pequeno problema. Essa é a Felipa Baker, minha noiva. — Ele me apresenta ao senhor.O homem me analisa com a um objeto diferente de tudo que já viu.— É tão linda. Agora entendo sua obsessão.Vincent ri.— Esses são seus tios. — Ele os apresenta um a um.O senhor olha ao redor.— Onde estão seus pais? Desculpe a pergunta, mas são vivos?— Não são presentes — digo simplesmente. Não gosto de entrar nesse assunto.O senhor parece não se importar com minha resposta vaga.— Entendo. Inf
AquilesFoi bem esquisito dormir em casa sabendo que minha esposa dorme em um quarto próximo ao meu. Estou mesmo casado. A aliança pesa em meu dedo de tal forma que acabo tirando para dormir.Acordo no horário de sempre e me arrumo para o trabalho. Sem esquecer de colocar o símbolo do meu “amor” por Felipa. Ao chegar na sala de jantar encontro a mesa posta para dois. As duas empregadas que estão finalizando seja lá o que na mesa, param ao lado.— Bom dia! — cumprimento.— Bom dia, senhor! — respondem baixo, em uníssono.— Avise a senhora que estou aguardando.— Sim, senhor. — Elas se olham, e uma sai.Ela sai e demora quase dez minutos para voltar, rindo com uma Felipa em um vestido da cor vinho que se molda a suas curvas. Os cabelos dela estão soltos e brilhantes. A mulher é um caralho de linda.— Bom dia, senhor! — diz parando de rir ao me ver.— Senhor? — a repreendo.— Desculpe, Vincent. É o costume. Vai demorar um pouco para me acostumar.— Venha aqui me dar um beijo de bom dia e
FelipaAntes de ir para a casa da minha tia, passo no alojamento para pegar minhas coisas e informar para Lana que ela terá o quarto só para ela.— Oi, ruiva! — digo ao abrir a porta e ver a garota na sua cama, com livros espalhados ao redor e de pijama.— Uau! Que linda! — ela coloca tudo de lado e vem me fazer dar uma volta. — Esse ar de gente rica. Me passa um pouco.— Rico é o meu marido — falo rindo.— Rico nada, querida. Está na lista dos cem mais cheios de grana. Eu queria ter o rabo sortudo como o seu. E por falar em rabo... como foi a noite? — dá uma risadinha safada.— Muito curiosa você. Sem detalhes. Hoje só vim aqui liberar o quarto. — Sento na minha cama. — Você vai ter ele só para você.— É bom, mas ainda preferiria ser a esposa do gostoso cheio de grana. — Ela se joga ao meu lado, batendo levemente no meu ombro por a cama ser pequena. — Sou invejosa mesmo. Me processe!Apenas rio e levanto. Vou separando as coisas enquanto conversamos, mas não demoro muito.— Está com
FelipaMe jogo na cama e bato os pés, como uma criança em birra.Maldito! Por que ele não pode simplesmente ter esse filho do jeito certo, com inseminação? Qual a necessidade de fazer naturalmente?Rodo de um lado para o outro, frustrada.Não consigo mais ficar aqui. Levanto, tomo um banho e me troco rapidamente. Não pego as minhas coisas, não estou com cabeça. Vou para a faculdade antes que eu surte e falte mais uma vez. Não posso me prejudicar assim por causa dos problemas que esse homem me causa.Como saber se posso ser casual? Sequer consigo me imaginar agindo como ele pede. Se meu corpo reage assim a ele, é perigoso. Posso acabar descobrindo que ele é o único homem capaz de me tocar se causar medo ou nojo.Fico na biblioteca, em uma tentativa tola de esquecer o que aconteceu e focar na matéria que terei prova. Quando inicia os horários de aula, vou para o prédio e continuo sem conseguir dar atenção a nada. Pelo menos garanti não ter falta.Fim das aulas... e agora, para onde vou?
Aquiles— Que mulher teimosa! — resmungo sozinho na sala.Estava com a mesma roupa que saiu de casa e com olheiras, e ainda teima em me dizer não.— Falando sozinho, amigo? — só agora percebo Jordan na porta aberta por onde Felipa saiu.— Intrometido como sempre.Viro as costas para ele e sigo para minha cadeira atrás da mesa.— A porta estava aberta. — Ele entra sem ser convidado. — Sua esposa passou por mim tão furiosa que não me viu.— Como se ela tivesse obrigação de te ver.— Puta merda! Que mau humor. Brigaram novamente?— Aquela mulher foi um erro. — É o que me passou pela cabeça depois que ela saiu feito um furacão.— Por que dessa vez?— Preciso chegar a extremos para que me obedeça. Mas se ela pensa que vou voltar atrás... — dou um sorriso. — Eu não sou bonzinho... muito menos covarde.Ele me olha desconfiado.— A chantageou outra vez? — assinto brevemente. — Com o que?— Se ela não me obedecer, fecho esse lugar e transfiro a sede para outro país. Gosto da ideia de começar m
FelipaO desgraçado teve a ousadia de ameaçar fechar a empresa e deixar todos desempregados se eu não fizesse o que mandava. Pude ver em seus olhos que não era blefe.Por isso estou aqui, encarando a mensagem que me mandou.Só volto a realidade quando uma ligação cai. Só assim percebo que ainda estou andando por uma rua qualquer.É quase nove da manhã.— Tia? — atendo. — Acon... — antes de completar, ouço seu choro. — Tia?— O que vou fazer, Lipa? O que vai ser de mim? — ela chora muito.— O que aconteceu?O barulho de uma ambulância me assusta.Ela não fala nada, apenas chora.— Onde você está?— Estamos indo ao hospital.Hospital? Meu coração está batendo rápido e desesperado.Mal noto o momento em que pergunto o número do hospital e aceno para um táxi.Chego ao hospital e nem preciso perguntar por ela. Vejo minha tia na sala de espera conversando com um médico. Ando o mais rápido possível, meu coração doendo ao ver ela desabar de joelhos diante do homem.— Tia? — chamo.Ela me olha
Aquiles— Vamos para casa — digo para Felipa logo após o médico informar que o tio dela está fora de perigo, mas que só poderá receber visitas amanhã.— Eu quero ficar com a minha tia.— Me obedeça, Felipa.— Por favor, me deixa ficar com a minha tia. Ela precisa de mim agora.— Sim, ela precisa que você venha comigo, tome um banho, troque essa roupa de ontem, se alimente e providencie tudo que ela precisa para passar a noite aqui. Ou você acha que sua tia deve continuar com o uniforme da empresa?Ela olha para a tia, como se só agora percebesse suas vestes. Logo volta a olhar para mim. Seu rosto está um desastre depois de chorar tanto, mas é um lindo desastre.— Obrigada, Vincent. Eu nunca vou poder te compensar pelo que fez. Mas saiba que vou tentar.— Eu sei. Agora vai avisar sua tia que estamos indo.Ela obedece e segue até a tia, as duas conversam, se abraçam e depois saímos.No carro, ela pergunta:— Como você sabia qual era o hospital? Não me lembro de ter dito. Eu disse?— Não