Será que ele vai jogar sujo?
Deitado em sua cama, Victor fixa os olhos no teto, mas sua mente está longe dali, presa ao que leu no quarto de Marina. O plano de defesa que ela estava traçando era brilhante, cada ponto meticulosamente estruturado, algo que ele não esperava de alguém com nenhuma experiência no tribunal. Ela havia encontrado brechas que podiam muito bem virar o jogo e fazer com que a sentença pendesse para o lado dela.Mas, se isso acontecesse, ele perderia o caso. Seria o primeiro de sua carreira impecável, e o peso disso seria esmagador. Victor sabia como o mundo da advocacia era cruel; bastava um deslize para que os sussurros e críticas começassem. E perder para Marina, uma advogada iniciante, seria o suficiente para transformar sua reputação em motivo de questionamento.O conflito em sua mente era implacável. Por um lado, admirava o talento de Marina e sentia orgulho dela, mas, por outro, seu ego profissional e a responsabilidade para com seu cliente o atormentavam. Era mais do que uma questão de
O juiz ajusta os papéis à sua frente, passando os olhos pelas anotações uma última vez. Com um tom firme, inicia sua sentença:— Após ouvir as alegações finais de ambas as partes, analisar as provas apresentadas e considerar os depoimentos das testemunhas, este tribunal chega à seguinte conclusão.Ele faz uma pausa, olhando para Dona Valquíria e Otávio Mendes.— É inegável que a AgroTech Solutions possui a patente registrada do protótipo “AquaSmart” e, conforme as leis de propriedade intelectual, o registro confere a titularidade legal à empresa. No entanto, também ficou evidente, com base nas provas apresentadas, que as ideias de Dona Valquíria tiveram um impacto significativo no desenvolvimento final do produto, contribuindo diretamente para o seu sucesso comercial. Sendo assim, este tribunal determina que, embora a patente permaneça com a AgroTech Solutions, a autora tem direito a uma compensação financeira proporcional ao impacto de suas ideias no projeto e aos lucros obtidos pela
Assim que veem Dona Valquíria entrar no táxi e partir, Victor permanece ao lado de Marina. Ele então volta o olhar para ela, seus olhos brilham com uma mistura de orgulho e admiração.— Parabéns, linda — diz ele, num tom sincero e caloroso. — Estou muito orgulhoso de você.Marina, ainda emocionada com tudo o que havia acontecido, sente suas bochechas corarem ao ouvir as palavras dele.— Obrigada, Victor — responde com um sorriso tímido. — Isso significa muito, vindo de você.Ele se aproxima um pouco mais, colocando as mãos suavemente nos ombros dela.— Não estou dizendo isso como namorado, mas como alguém que sabe o quanto você trabalhou duro por isso. Você foi incrível lá dentro, Marina. Mostrou força, inteligência e coração.Ela abaixa o olhar por um momento, sentindo-se tocada pelas palavras dele, mas logo o encara novamente, sorrindo.— E você também merece parabéns, Victor. Conseguiu manter a patente com a empresa, mesmo com toda a pressão. Foi um resultado incrível para ambos —
Os dias passam e a cada momento ao lado de Marina, Victor sente crescer dentro de si a vontade e a segurança de dar o próximo passo no relacionamento. Entretanto, as palavras do irmão ressoam em sua mente: “Fale com a mãe primeiro.”Ao chegar na mansão Ferraz, não consegue ignorar o silêncio pesado que paira no ambiente. A casa parece mais vazia e fria, como se refletisse o estado emocional de seus moradores. Até mesmo o número de funcionários parece ter diminuído.— Bom dia, senhor — cumprimenta Adelina, a funcionária mais antiga da casa, com sua costumeira educação.— Bom dia, Adelina. Onde está minha mãe?— Ela está tomando café no jardim — revela com um leve aceno de cabeça.— Obrigado.Victor a agradece brevemente e segue pelo longo corredor até o jardim dos fundos. De longe, avista Joana sentada em uma cadeira de ferro trabalhado, perdida em pensamentos enquanto encara o horizonte. A cena dela, solitária e melancólica, não o comove. Ele sabia que o isolamento da mãe era um refle
Assim que Victor desaparece de vista, Joana, tomada por uma raiva incontrolável, empurra a delicada xícara de porcelana sobre a mesa, que se estilhaça no chão com um som ensurdecedor. Em seguida, ela se levanta bruscamente, jogando a bandeja com o restante da louça refinada no chão, onde os cacos se espalham pelo piso. O grito que escapa de seus lábios é repleto de fúria e desespero.— Maldita! Maldita! — vocifera, enquanto caminha de um lado para o outro. — Está querendo roubar o meu filho de mim!Ela passa as mãos pelos cabelos, em movimentos rápidos e descontrolados, como se tentasse encontrar algum alívio para a tempestade que se forma em sua mente.— Isso não vai ficar assim! — declara para si mesma, com a voz rouca de raiva. — Ele é meu filho, meu! E não vou permitir que aquela desqualificada o leve de mim.Joana respira fundo, tentando conter as lágrimas misturadas à tempestade de emoções. Contudo, seu olhar permanece fixo no vazio, carregado de determinação.— Adelina! — grita
Um mês após o julgamento, Marina recebeu finalmente o pagamento pelo caso de Dona Valquíria, uma quantia que não apenas representava sua dedicação profissional, mas também mudou a dinâmica de sua família. Quando compartilhou a notícia com seus pais, viu os olhos de José e Daniela brilharem de orgulho.— Agora que recebi esse dinheiro, quero que vocês descansem — ela anuncia, com um sorriso decidido, enquanto se senta à mesa da cozinha com eles.José, franzindo o cenho, olha para a filha, confuso.— Descansar? Como assim? — pergunta, ajustando o corpo na cadeira, como se quisesse escutar melhor as intenções dela.Marina inspira fundo, antes de responder, num tom carinhoso.— Quero que parem com a padaria — revela. — Vocês já trabalharam demais a vida toda, é hora de descansarem um pouco, de aproveitarem a vida.Daniela arregala os olhos, surpresa, enquanto José balança a cabeça, ainda assimilando a ideia.— Mas filha, não podemos simplesmente parar assim, do nada — argumenta José, incr
Os dias passam e, a cada dia, Victor parece mais distante e ocupado. Marina mal consegue vê-lo no trabalho, já que ambos estão sobrecarregados com suas responsabilidades. Ela percebe que ele está sempre atarefado, envolvido em reuniões e viagens, tornando a comunicação entre eles ainda mais escassa.Por outro lado, sua rotina no escritório também começa a mudar. Havia recebido uma nova sala e uma assistente, algo que todos os advogados mais experientes no escritório possuem. O espaço é elegante e funcional, e a presença da assistente facilita o andamento de seus casos, permitindo que ela se concentre mais nas partes estratégicas.Embora as mudanças profissionais sejam positivas, a distância crescente entre ela e Victor começa a inquietá-la. Apesar de compreender a carga de trabalho de ambos, não pode evitar a sensação de que algo mudou entre eles.De repente, uma onda de insegurança toma conta de seu peito. É como se borboletas agitadas passeassem por seu estômago, mas em vez de uma s
Quando está prestes a sair do quarto, Marina é surpreendida pela entrada da mãe, carregando uma caixa grande que parece pesar tanto quanto a empolgação estampada em seu rosto.— Que bom que te encontrei acordada, Mari! — exclama Daniela, já atravessando a porta sem cerimônia. — Olha só o que comprei para você! — diz ela, abrindo a tampa da caixa com um brilho nos olhos.Apesar da pressa que a domina, Marina sente-se forçada a parar por um momento. A energia da mãe é quase contagiante. Ela se aproxima e olha para dentro da caixa. Seus olhos se deparam com um vestido branco, deslumbrante, todo de seda. Os detalhes delicados e o caimento perfeito são de tirar o fôlego.— Que lindo, mãe! — exclama, deixando escapar a surpresa que não consegue esconder.— Então, vista-o agora! Quero ver como você fica nele — insiste Daniela, quase como uma ordem mascarada por entusiasmo.Marina hesita.— Faço isso quando voltar, mãe. Estou indo ver o Victor agora — explica, tentando argumentar com suavidade