É tão fácil colocar a culpa dos erros nas outras pessoas…
Quando acorda, Victor nota que já se passa das duas da tarde. Ele vê Marina ao seu lado, dormindo com uma expressão cansada, o que o faz sorrir suavemente. Decidindo não perturbá-la, ele se levanta devagar, cuidando para não fazer barulho. Pegando o celular na mesinha de cabeceira, sai do quarto em silêncio.Ao chegar no jardim de sua casa, desbloqueia o celular e percebe várias mensagens e chamadas perdidas de Rodrigo. Sem perder tempo, disca para o irmão, que atende imediatamente.— Victor, onde você está? Por que não veio para casa? — pergunta Rodrigo, com um tom de urgência.— Estou na minha casa, acabei de acordar agora. Tive uma madrugada muito movimentada — explica, esfregando os olhos enquanto se senta em um banco do jardim.— Sério mesmo que conseguiu pensar em sexo depois do que aconteceu? — Rodrigo questiona, com uma mistura de surpresa e sarcasmo, pensando que a “madrugada movimentada” do irmão se referia a isso.— Para te falar a verdade, pensei, sim — responde, com ironia
Ao ouvir as palavras da mãe, Victor sente o sangue ferver. Joana mantém o semblante firme, como se não tivesse acabado de proferir uma ameaça absurda. Ele se afasta para trás, respirando fundo, mas o ar parece não ser suficiente naquele momento. Seu olhar furioso encontra o dela, e, pela primeira vez, ele não vê ali a mulher que o criou, mas alguém disposto a destruir sua felicidade por um capricho idiota.— Como é? — ele pergunta, tremendo a voz de indignação. — Como a senhora ousa dizer um absurdo desses?— É o que acabou de ouvir — declara.Joana cruza os braços, como se tivesse acabado de fazer a afirmação mais razoável do mundo.— Tem noção do absurdo que diz? — Sou sua mãe, Victor, e conheço o que é melhor para você. Aquela mulher não é a pessoa certa para você. Ela é interesseira, manipuladora… é por causa dela que nossa família está desse jeito.Victor solta uma risada sarcástica, sem acreditar no que ouve.— Interesseira? Manipuladora? É só isso que a senhora consegue inventa
Quando vê o irmão sair do quarto, Rodrigo percebe pela expressão sombria de Victor que a conversa com a mãe foi um desastre. Ele cruza os braços, observando-o com preocupação.— Você contou para ela o que aconteceu? — pergunta, hesitante, mas ansioso por respostas.Victor solta uma risada amarga antes de responder, seus olhos refletem a exaustão emocional que carrega.— Contei. E sabe o que ela disse? — Ele ergue as sobrancelhas, deixando um sorriso de puro sarcasmo escapar. — Disse que vai perdoá-lo porque tem certeza de que, agora, ele vai mudar.Rodrigo arregala os olhos, incrédulo.— Isso não pode ser sério! — exclama, como se esperasse que Victor desmentisse.Victor balança a cabeça, enquanto o sarcasmo dá lugar a um cansaço profundo. Ele passa a mão pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos, enquanto sua voz ganha um tom mais grave.— A mãe está cega, Rodrigo. Completamente cega. E nem vou começar a listar as atrocidades que ela teve coragem de dizer naquele quarto. Mas sa
No quarto, Joana desperta com um peso opressor no corpo, como se as emoções das últimas horas tivessem se materializado e repousado sobre ela. Ela olha ao redor, esperando ver algum movimento, mas encontra apenas o vazio. Nenhum dos filhos está ali. Nem mesmo Valentina, que tantas vezes fazia questão de estender a mão. A solidão a invade, deixando um gosto amargo na boca.Com um suspiro longo, ela se levanta, ajustando o roupão que estava jogado na cadeira próxima. Seus passos ecoam no silêncio enquanto se aproxima do espelho. Ao olhar para o reflexo, a visão de seus olhos inchados, com marcas profundas de cansaço, a faz desviar o olhar por um instante. Ela toca suavemente o rosto, tentando compreender o que vê: uma mulher cansada, desgastada pelas escolhas e pelas palavras ditas e ouvidas.Lembranças da conversa acalorada com Victor doem como feridas abertas. As acusações dele, as verdades que ela tenta ignorar, tudo agora pesa sobre seus ombros. Joana fecha os olhos por um momento, m
Quando Xavier, movido pela esperança, inclina-se lentamente na direção de Joana, acreditando que está prestes a tocar seus lábios, um tapa estrondoso corta o momento. O impacto faz seu rosto arder e a surpresa o deixa imóvel por um instante.— Por que você fez isso? — ele pergunta, levando a mão ao rosto que lateja com a força do golpe, enquanto a confusão e a dor misturam-se em sua expressão.— O que você pensa que está fazendo? — Joana dispara emotiva, enquanto seus olhos denunciam uma mistura de raiva e mágoa. — Acha que pode simplesmente se aproximar de mim assim? Como se nada tivesse acontecido?— Estou tentando me desculpar com você, não percebe? — Xavier responde, tentando manter a calma, embora a humilhação o consuma por dentro.— É assim que tenta se desculpar? Eu nem sei onde você passou o dia inteiro, e acha que pode chegar aqui e dizer apenas duas palavras como se fosse suficiente? — Ela cruza os braços, mantendo o olhar fixo nele, mas sua voz já denuncia a luta interna que
Ao observar a expressão do marido, Joana percebe que sua revelação o atingiu mais profundamente do que ela esperava. Os olhos dele, que estavam exalando confiança, agora revelam um misto de surpresa e inquietação, como se ele estivesse calculando rapidamente os desdobramentos do que acabou de ouvir.— Por que ficou em silêncio? — questiona Joana, erguendo uma sobrancelha, desconfiada.— Não é nada, só estou surpreso com essa história. — Xavier responde, tentando manter a compostura. — De onde o Victor tirou isso? — Ele inclina a cabeça levemente, como se quisesse demonstrar curiosidade, mas o brilho nervoso em seus olhos o trai.— Não sei, mas quero saber de você. — Dessa vez, é Joana quem dá um passo à frente, encarando o marido com um olhar inquisidor, buscando a verdade que ele tenta esconder. — Isso é mesmo verdade, Xavier?— Claro que não! — responde ele, quase instantaneamente, elevando a voz em um tom defensivo. — Pelo amor de Deus, Joana, o que acha que sou?— Eu não sei, me di
Quando a campainha da casa toca, o som ecoa pela mansão como um golpe no clima tenso que já pairava no ar. Joana, com o coração disparado, tenta manter a compostura. Sem desviar o olhar do marido.— Vá para o nosso quarto e se esconda lá, até que eu resolva isso — declara, com a voz confiante, embora por dentro seu coração esteja em uma onda de sentimentos.Percebendo que a esposa estava disposta a ajudá-lo, Xavier não discute. Ele se move rapidamente, entrando na casa sem que nenhum dos empregados o veja. O som de seus passos apressados desaparece ao longe, deixando Joana sozinha para enfrentar a situação.Respirando fundo, ela tenta reorganizar os pensamentos enquanto caminha até a sala. Seu olhar varre o ambiente, como se precisasse se convencer de que tem tudo sob controle. Parando no meio do cômodo, ela chama uma das empregadas.— Adelina! Vá até a porta e a abra — ordena, firme, mas não completamente imune ao nervosismo.A empregada obedece e segue em direção à entrada. Joana per
Em silêncio, Joana caminha até a cama e se senta, sugerindo que o marido faça o mesmo. Mesmo nervoso, Xavier faz o que a esposa pede, já que percebe que ela é a sua única saída naquele momento.— Querida, lembra-se de quando eu te disse estar começando a sentir o peso da idade? — ele começa, com um tom cauteloso, tentando iniciar uma conversa que não apenas a convencesse de sua versão dos fatos, mas também despertasse compaixão suficiente para que ela o perdoasse e o ajudasse a escapar das acusações iminentes.— O que isso tem a ver, Xavier? — Joana responde, arqueando as sobrancelhas, claramente impaciente com a tentativa de rodeios.— É que, naquele momento, eu comecei a me sentir vulnerável, insuficiente… como se minha vida estivesse escapando pelo meio dos dedos — Xavier continua, tentando controlar o nervosismo que transparece em sua voz. — Eu estava me afogando em trabalho, em cobranças… vendo o meu rosto mudar, as minhas forças diminuírem em tudo. Foi aí que cometi o erro de pro