Capítulo 4

Nollan Hoffmann

Nada tira da minha cabeça que meu pai está inventando esse problema cardíaco somente para me trazer de volta para Nova York.

Sei que já faz mais de 10 anos desde que fui embora para Londres, mas aqui estou eu mais uma vez. Sendo obrigado a cuidar de uma empresa que não queria para mim.

Em meus 36 anos de vida, nunca pensei que seria trazido de volta à realidade americana. Dias caóticos, e cheios de gente correndo atrás dos seus próprios propósitos. Eu estava habituado a um outro ritmo de vida. Trabalhava e ia direto para minha cobertura onde ninguém mais tinha acesso a mim até o dia seguinte, e agora, estou aqui, em uma sala que dá acesso a uma das mais importantes empresas do país.

Sei que sou bom o suficiente para fazer essa empresa prosperar ainda mais, porém, não me sinto satisfeito com isso. Ter que largar meus deveres em Londres e ter que me adaptar com uma nova rotina, novas pessoas e novos hábitos só me faz ter uma sensação assombrosa de irritação.

Olhando a poltrona do meu pai, lembro-me da última vez em que ele me ligou por chamada de vídeo. Sua expressão estava intragável. Mais uma vez ele iria me fazer odiar nossa relação desajustada como pai e filho.

      — Preciso que você volte para a cidade, Nollan.

Ele falou autoritário, e assinando um último documento, eu neguei em um gesto firme e respondi.

      — Você acha que posso me afastar de tudo só por que você quer me ver depois de 10 anos?

Ele se encostou em sua cadeira e respondeu.

      — Não me obrigue a tomar medidas drásticas.

Ele nem esperou eu responder, logo desligou a chamada e fechando meus olhos, puxei o ar com força para manter minha paciência intacta. Algo ele estava aprontando mas não vou deixar passar batido. Cada um que decidir infernizar minha vida, terá que lidar com meu pior.

Sei que posso ser bem irritante, indiferente e até mesmo arrogante quando quero, e sem dúvidas, farei cada um arrancar todos os fios de cabelo.

(...)

Com a mão fechadas em punho, atravessei o corredor após dar de cara com a assistente do meu pai. Eu realmente torcia para que fosse uma mulher mais velha e mal amada para que não me distraísse mas além de grosseira, também é a tentação em pessoa e o pior, me irrita para um caralho por que me faz sentir a necessidade de irrita-la como se a doença do meu pai não pesasse em nada na minha vida.

Sem dúvidas ela deve pensar que sou um sem coração, o que também não me interessa muito, já que tenho 75% de certeza de que meu pai está ótimo de saúde, e que tudo isso foi apenas uma forma de me obrigar a voltar para casa.

Soltando um suspiro, atravessei o hall de entrada da empresa e me direcionei até a vaga em que eu havia deixado meu carro e logo que me acomodei no acento, vejo Laysla Albuquerque olhando a sua volta enquanto andava apressada até um carro escuro e arqueando a sobrancelha, acompanhei ela entrando desesperada.

O carro tinha película escura, mas não era escura o suficiente e de onde estou, foi possível ver que ela iria trocar a saia dentro do minúsculo carro e coçando a garganta, desci do meu carro e me direcionei ate onde ela estava e dei algumas batidas no vidro sem olhar. No mesmo instante o carro parou de ranger e isso quer dizer que o carro é tão velho que já está rangendo com qualquer movimento.

Descabelada, a mulher abriu o vidro traseiros e levou um susto quando me viu ali parado.

— Eu sabia que tinha algo estranho com você, mas eu não tenho dinheiro para dar, então pode ir...

Arregalei os olhos quando ela falou isso e antes que ela fechasse o pequeno espaço da janela, enfiei minha mão pelo pequeno espaço e murmurei.

— Não vim pedir dinheiro, eu…

Nesse momento ela trancou minha mão entre o vidro e a janela e eu gritei alterado pela dor e ela se apavorou enquanto baixava o vidro com velocidade. Sua expressão estava assustada e alarmada ao mesmo tempo.

   — Ai Deus, eu sinto muito.

Nesse momento pude ver suas bochechas vermelhas devido ao constrangimento quando ela abriu a porta e se colocou de pé diante de mim e engolindo em seco, eu murmurei ao me virar de costas.

— Eu só vim avisar que dá para ver o que está fazendo dentro desse carro mas considerando que você está seminua aqui fora, com certeza não deve se importar.

Eu me virei rapidamente para olha-la no rosto e então vi que ela arregalou os olhos e se encolheu, descendo rapidamente para se esconder, e num movimento rápido, pousei a mão sobre o teto do carro impedindo que ela batesse sua cabeça ali.

 É um pouco desastrada.

   — Eu sinto muito pela bagunça…

Ela murmurou enquanto vestia a sua calça social preta rapidamente e me ajeitando, afrouxei a gravata, e fiquei olhando a nossa volta tentando dar um pouco de privacidade enquanto ela continuava falando.

    — Esses últimos dias tem sido um caos para mim.

Eu franzi a testa enquanto ouvi isso e enfiando as mãos em meu bolso, eu respondi.

   — Eu sei como é…

Nesse momento, ela pôs os pés para fora e levantou, e com uma expressão tranquila, ela me olhou nos olhos e disse.

    — Queria me desculpar por hoje e agradecer por ter me avisado sobre a privacidade do carro.

Eu confirmei com um gesto de cabeça e respondi sendo irônico.

    — Se você continuar sendo gentil comigo, posso esquecer o que aconteceu hoje.

Esboçando um sorriso, ela confirmou com um gesto e disse.

     — Farei isso, já que você viu coisas que nunca deveriam ter existido na história dessa empresa.

Nesse momento soltei uma risada e provoquei.

    — Então quer dizer que essa foi a primeira vez que sua saia rasgou no meio do expediente?

Ela confirmou com a cabeça enquanto fechava a porta do carro e respondeu.

    — Esse tipo de incidente nunca aconteceria se meu chefe estivesse aqui, ele sempre foi um cavalheiro, então acredito que ele iria me permitir voltar para casa ao invés de passar por esse estresse todo.

Curioso, percebi que ela não havia percebido que eu era o filho do seu chefe tão gentil e tentei arriscar para ver até onde iria nossa conversa.

    — E onde está o seu chefe?

Ela deu de ombros e começou andar devagar, e dessa vez, foi possível ver o seu brilho sumindo.

    — Ele está doente, já faz alguns dias que não vem até a empresa, e tudo o que sei é que vou ajudar o filho dele a se adaptar aqui até que sua saúde melhore.

Franzindo a testa, senti um misto de culpa e preocupação pela primeira vez. Se nem sua assistente está o acompanhando de perto, significa que algo pode estar acontecendo de verdade.

     — Eu queria muito saber como ele está, mas não tem ninguém da família além do filho.

Nesse momento ela parou de andar quando percebeu que eu estava a alguns metros de distância e perguntou.

   — A propósito, você veio na empresa por algum motivo específico? Quem sabe eu possa ajudá-lo.

Eu engoli em seco e a encarei e respondi.

   — Na verdade eu vim conhecer a empresa.

Ela assentiu com a cabeça e iria responder algo quando olhou para o relógio em seu próprio pulso e saiu correndo enquanto falava alto.

Em um segundo estava andando e no outro saiu correndo em cima de um salto fino.

    — Estou muito atrasada para uma reunião, caso precisar de algo, me procure.

Ela saiu correndo por entre os carros e me deixou em meio aos meus próprios pensamentos. Me fazendo considerar uma possível visita para o meu pai depois de tanto adiar essa viagem e até mesmo a possibilidade de retornar para minha casa.

De onde estou, consigo ver ela se afastar e em choque, senti minhas sobrancelhas se unirem por confusão.

 Como ela consegue correr desse jeito num salto daquele?

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