3 Eu estou grávida!

— Está bem. Você, minha melhor amiga, e o meu irmão… — Disse e repeti aquilo na minha cabeça. Não era estranho. Era só… Estranho pra caralho. Eu não sabia como colocar aquilo em palavras. Não que eu tivesse alguma coisa contra. Amava Diogo e Julia na mesma proporção. Só não entendia o fato de eles esconderem isso de mim até agora.

— Não faz essas caretas, Gabi. — Ela pediu, e eu nem sabia que estava fazendo careta. — Simplesmente aconteceu. — Ela falou com a voz um pouco baixa.

— Desde quando? — Perguntei olhando diretamente em seus olhos. Ela balançou a cabeça, aquilo significava que tinha algum tempo que eles… Era a minha melhor amiga e o meu irmão, tudo bem. Tudo bem! Aquilo não era nenhum bicho de sete cabeças, ninguém iria morrer por aquilo. Eu dava graças a Deus por estar tão relaxada, caso contrário eu poderia ter um pequeno surto.

— Tem um mês. — Ela explicou, e eu arregalei os olhos. Um mês, tem um mês que eu viajei para fazer um trabalho com a minha turma de administração. — Foi quando você viajou. — Ela percebeu que eu tinha pensando exatamente naquilo. — Eu tenho tanto medo de perder a sua amizade, por isso eu nunca te contei. — Franzi o cenho.

— Nunca me contou? Se só tinha um mês. Como assim “nunca”?

— Escuta. Só escuta, por favor. — Pediu, e eu puxei uma respiração forte. — Eu sempre gostei dele, mas eu sempre prezei a nossa amizade. Nunca quis ter que dividir isso, e eu estava indo bem, até o dia que você viajou, e eu me esqueci. Vim aqui e, bem,... — Parou.

— Você não pôde mais se segurar? — Perguntei e vi lágrimas brilharem nos olhos dela.

— Não.. Não pude. Mas não foi uma coisa carnal. Quando lembrei que você tinha ido viajar eu estava saindo, e ele pediu que eu ficasse. Tem noção do que é isso? A pessoa que você gosta pedindo para você não ir? No começo achei que a conversa iria ser sobre você. — Fez uma pausa. — Mas ele começou a contar uma história. Uma história que resumia bem o que sentíamos. Mas, por medo de magoar você, sempre reprimimos — e também pela diferença de idade. — A questão da idade fazia mais sentido, pois eu jamais colocaria barreiras entre eles. Levei a minha mão até a dela por cima da mesa.

— Você sabe que eu jamais os condenaria ou ficaria chateada. — Falei, e ela abriu um sorriso. Seus olhos voltaram a brilhar, desta vez pelo motivo certo.

— Você é minha melhor amiga. É a família de Diogo. A prudência fez mais sentido. — Ela explicou, e eu me senti mal por saber que pensaram em mim ao invés de se entregarem ao que sentiam há tempos. Levantei do meu lugar e me joguei no colo de Julia.

— Agora, além de minha melhor amiga, você também é minha cunhada. É da família. — Afirmei, e ela gargalhou com vontade.

— Eu achei que já fosse da família. — Ela falou enquanto eu a apertava em abraço. Balancei a minha cabeça em falsa negativa, e ela riu ainda mais.

— Meu Deus. Acho que eu nunca te vi tão dramática. — Disse, e ela fez um biquinho que me fez retorcer o rosto em uma careta. Voltei para o meu lugar rapidamente. — Por que vocês dois não me contaram isso juntos?

— Eu convenci o seu irmão que era melhor assim. E eu também precisava conversar com você sobre a noite passada. Não foi nada fácil inventar uma desculpa pra ele. — Ela explicou, me fazendo levantar a sobrancelha em sua direção. Confesso que estava curiosa para saber o que ela falou, e Julia percebeu a curiosidade estampada em minha cara. — Eu disse a ele que você tinha dormido no táxi e acabou indo com uma colega para a casa dela. — Ela deu de ombros. Eu só me espantava era de Diogo ter acreditado naquilo.

— O que me espanta é o Diogo ter caído nessa. — Falei, balançando a minha cabeça de um lado a outro. De repente a gargalhada de Julia invadiu o lugar. Eu levantei a minha sobrancelha em direção a ela, esperando saber o que eu havia dito de tão engraçado.

— Na verdade ele não acreditou, mas eu o convenci de outra forma. — Arregalei os meus olhos, horrorizada com o que ela estava dando a entender. Eu quase senti a minha bile vir à boca… Era o meu irmão, ela não podia me falar aquelas coisas... Com aquelas insinuações.

— Julia.. Por favor, guarde isso para você. — Falei e vi ela rir mais ainda, achei que ela estivesse ficando louca. Ou talvez eu estivesse.

— Não é o que você está pensando, Gabi. Eu juro. — Ela falou, me fazendo suavizar um pouco a minha expressão. — Você sabe que quando começa a falar do trabalho ele perde horas e horas. Eu usei isso como escape. — E então foi a minha vez de rir, agora acompanhada por ela. Acho que Julia entendeu que eu não queria imagens obscenas do meu irmão com a minha melhor amiga. Aquilo seria um pouco demais para mim.

Tivemos um dia apenas para nós duas. Um dia após chutar o balde na balada. Volta e meia eu não podia me impedir de me pegar pensando no deus italiano que me levou às nuvens. Eu mesmo cheguei a pensar nos “e se”. E se eu não tivesse saído daquele jeito, e se eu tivesse o conhecido em outro lugar, e tivéssemos mais uma oportunidade. Eu dava um jeito de me livrar daqueles pensamentos rapidamente.

Eu tinha sorte de o cara não ser um traficante internacional de órgãos. Era só isso o que ele iria conseguir de mim, ou se ele fosse um traficante de mulheres para o mercado de escravas sexuais. Balancei a minha cabeça com aquelas possibilidades hediondas. Era tudo a mais pura loucura da minha mente. E também a ressaca moral. Depois de ter meu organismo limpo da bebida, eu me via raciocinando e querendo me bater pelas burradas que eu fiz. Bem, mas tinha sido a melhor burrada da minha vida.

Duas semanas haviam se passado. Eu me sentia extremamente cansada e havia dormido bem mais do que a cama por duas vezes. Diogo teve que me arrastar da cama, e quase eu perco as entrevistas de emprego que eu havia conseguido. Mas no fim, uma não deu certo, e eu estava esperando apenas a resposta da outra, porém eu já me preparava para começar a procura novamente. Ninguém gostava de dar empregos a recém formados e aquilo era um saco.

— Eu pedia uma portuguesa e uma de quatro queijos. — Julia falou enquanto balançava o telefone no ar. Como passamos o dia resolvendo coisas na rua, ninguém fez o jantar, e os pais dela estavam viajando. Pizza era a melhor opção naquele momento ou morreríamos de fome.

— Por mim parece ótimo. — Falei. Bem, eu achei que seria realmente ótimo até que elas chegassem, mas o meu estômago se revirou completamente ao sentir o cheiro. Mas não podia ser. Eu amava os dois sabores de pizza. O que estava acontecendo comigo?

— Você está bem, Gabi? — Julia perguntou enquanto segurava o meu cabelo. Eu estava debruçada no vaso sanitário.

— O que está acontecendo aqui? — Ouvi a voz de Diogo. Aquilo não podia ficar pior. Na verdade, podia sim. Eu estava enganada se pensava que aquilo era o pior.

— Está tudo bem. Eu só não comi nada o dia todo e, agora que senti o cheiro das pizzas, o meu estômago não aceitou. — Levantei a cabeça, passei uma água do meu rosto até o meu pescoço e escovei os dentes para tirar o gosto ruim. Julia tinha saído com Diogo, me dando privacidade. Quando eu saí do banheiro os encontrei na cozinha. Ninguém voltou a abrir as caixas de pizza, mas Diogo tinha uma cara nada boa.

— Pode me contar o que está acontecendo agora, Gabriela! — Ele falou em um tom autoritário, que só usava quando preciso — e ele quase nunca precisou.

— Não está acontecendo nada. — Eu disse. Ele balançou a cabeça, e Julia segurou o braço dele. — Eu já falei tudo. Eu não comi nada durante todo o dia.

— E esse maldito sono? Você sempre acordou cedo para correr na praia. Agora mal consegue levantar se eu não arrastá-la. — Ele falou, e eu engoli a seco. — Você está grávida, Gabriela? — Sua pergunta me deixou completamente em choque.

— Grávida?! Não, meu Deus! É claro que não! Eu… — As palavras se perderam ao me lembrar que a minha menstruação estava atrasada há quase nove dias. Ela nunca atrasou tantos dias, nem mesmo nas semanas de maior estresse na faculdade. Senti as minhas vistas escurecerem ao me dar conta de que a noite com o deus italiano teve consequências. E que eu nunca mais iria esquecê-las, pois carregava um fruto daquela minha loucura. — Eu estou grávida! — Afirmei quando voltei ao normal. Ou ao menos “quase”.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo