— Está bem. Você, minha melhor amiga, e o meu irmão… — Disse e repeti aquilo na minha cabeça. Não era estranho. Era só… Estranho pra caralho. Eu não sabia como colocar aquilo em palavras. Não que eu tivesse alguma coisa contra. Amava Diogo e Julia na mesma proporção. Só não entendia o fato de eles esconderem isso de mim até agora.
— Não faz essas caretas, Gabi. — Ela pediu, e eu nem sabia que estava fazendo careta. — Simplesmente aconteceu. — Ela falou com a voz um pouco baixa. — Desde quando? — Perguntei olhando diretamente em seus olhos. Ela balançou a cabeça, aquilo significava que tinha algum tempo que eles… Era a minha melhor amiga e o meu irmão, tudo bem. Tudo bem! Aquilo não era nenhum bicho de sete cabeças, ninguém iria morrer por aquilo. Eu dava graças a Deus por estar tão relaxada, caso contrário eu poderia ter um pequeno surto. — Tem um mês. — Ela explicou, e eu arregalei os olhos. Um mês, tem um mês que eu viajei para fazer um trabalho com a minha turma de administração. — Foi quando você viajou. — Ela percebeu que eu tinha pensando exatamente naquilo. — Eu tenho tanto medo de perder a sua amizade, por isso eu nunca te contei. — Franzi o cenho. — Nunca me contou? Se só tinha um mês. Como assim “nunca”? — Escuta. Só escuta, por favor. — Pediu, e eu puxei uma respiração forte. — Eu sempre gostei dele, mas eu sempre prezei a nossa amizade. Nunca quis ter que dividir isso, e eu estava indo bem, até o dia que você viajou, e eu me esqueci. Vim aqui e, bem,... — Parou. — Você não pôde mais se segurar? — Perguntei e vi lágrimas brilharem nos olhos dela. — Não.. Não pude. Mas não foi uma coisa carnal. Quando lembrei que você tinha ido viajar eu estava saindo, e ele pediu que eu ficasse. Tem noção do que é isso? A pessoa que você gosta pedindo para você não ir? No começo achei que a conversa iria ser sobre você. — Fez uma pausa. — Mas ele começou a contar uma história. Uma história que resumia bem o que sentíamos. Mas, por medo de magoar você, sempre reprimimos — e também pela diferença de idade. — A questão da idade fazia mais sentido, pois eu jamais colocaria barreiras entre eles. Levei a minha mão até a dela por cima da mesa. — Você sabe que eu jamais os condenaria ou ficaria chateada. — Falei, e ela abriu um sorriso. Seus olhos voltaram a brilhar, desta vez pelo motivo certo. — Você é minha melhor amiga. É a família de Diogo. A prudência fez mais sentido. — Ela explicou, e eu me senti mal por saber que pensaram em mim ao invés de se entregarem ao que sentiam há tempos. Levantei do meu lugar e me joguei no colo de Julia. — Agora, além de minha melhor amiga, você também é minha cunhada. É da família. — Afirmei, e ela gargalhou com vontade. — Eu achei que já fosse da família. — Ela falou enquanto eu a apertava em abraço. Balancei a minha cabeça em falsa negativa, e ela riu ainda mais. — Meu Deus. Acho que eu nunca te vi tão dramática. — Disse, e ela fez um biquinho que me fez retorcer o rosto em uma careta. Voltei para o meu lugar rapidamente. — Por que vocês dois não me contaram isso juntos? — Eu convenci o seu irmão que era melhor assim. E eu também precisava conversar com você sobre a noite passada. Não foi nada fácil inventar uma desculpa pra ele. — Ela explicou, me fazendo levantar a sobrancelha em sua direção. Confesso que estava curiosa para saber o que ela falou, e Julia percebeu a curiosidade estampada em minha cara. — Eu disse a ele que você tinha dormido no táxi e acabou indo com uma colega para a casa dela. — Ela deu de ombros. Eu só me espantava era de Diogo ter acreditado naquilo. — O que me espanta é o Diogo ter caído nessa. — Falei, balançando a minha cabeça de um lado a outro. De repente a gargalhada de Julia invadiu o lugar. Eu levantei a minha sobrancelha em direção a ela, esperando saber o que eu havia dito de tão engraçado. — Na verdade ele não acreditou, mas eu o convenci de outra forma. — Arregalei os meus olhos, horrorizada com o que ela estava dando a entender. Eu quase senti a minha bile vir à boca… Era o meu irmão, ela não podia me falar aquelas coisas... Com aquelas insinuações. — Julia.. Por favor, guarde isso para você. — Falei e vi ela rir mais ainda, achei que ela estivesse ficando louca. Ou talvez eu estivesse. — Não é o que você está pensando, Gabi. Eu juro. — Ela falou, me fazendo suavizar um pouco a minha expressão. — Você sabe que quando começa a falar do trabalho ele perde horas e horas. Eu usei isso como escape. — E então foi a minha vez de rir, agora acompanhada por ela. Acho que Julia entendeu que eu não queria imagens obscenas do meu irmão com a minha melhor amiga. Aquilo seria um pouco demais para mim. Tivemos um dia apenas para nós duas. Um dia após chutar o balde na balada. Volta e meia eu não podia me impedir de me pegar pensando no deus italiano que me levou às nuvens. Eu mesmo cheguei a pensar nos “e se”. E se eu não tivesse saído daquele jeito, e se eu tivesse o conhecido em outro lugar, e tivéssemos mais uma oportunidade. Eu dava um jeito de me livrar daqueles pensamentos rapidamente. Eu tinha sorte de o cara não ser um traficante internacional de órgãos. Era só isso o que ele iria conseguir de mim, ou se ele fosse um traficante de mulheres para o mercado de escravas sexuais. Balancei a minha cabeça com aquelas possibilidades hediondas. Era tudo a mais pura loucura da minha mente. E também a ressaca moral. Depois de ter meu organismo limpo da bebida, eu me via raciocinando e querendo me bater pelas burradas que eu fiz. Bem, mas tinha sido a melhor burrada da minha vida. Duas semanas haviam se passado. Eu me sentia extremamente cansada e havia dormido bem mais do que a cama por duas vezes. Diogo teve que me arrastar da cama, e quase eu perco as entrevistas de emprego que eu havia conseguido. Mas no fim, uma não deu certo, e eu estava esperando apenas a resposta da outra, porém eu já me preparava para começar a procura novamente. Ninguém gostava de dar empregos a recém formados e aquilo era um saco. — Eu pedia uma portuguesa e uma de quatro queijos. — Julia falou enquanto balançava o telefone no ar. Como passamos o dia resolvendo coisas na rua, ninguém fez o jantar, e os pais dela estavam viajando. Pizza era a melhor opção naquele momento ou morreríamos de fome. — Por mim parece ótimo. — Falei. Bem, eu achei que seria realmente ótimo até que elas chegassem, mas o meu estômago se revirou completamente ao sentir o cheiro. Mas não podia ser. Eu amava os dois sabores de pizza. O que estava acontecendo comigo? — Você está bem, Gabi? — Julia perguntou enquanto segurava o meu cabelo. Eu estava debruçada no vaso sanitário. — O que está acontecendo aqui? — Ouvi a voz de Diogo. Aquilo não podia ficar pior. Na verdade, podia sim. Eu estava enganada se pensava que aquilo era o pior. — Está tudo bem. Eu só não comi nada o dia todo e, agora que senti o cheiro das pizzas, o meu estômago não aceitou. — Levantei a cabeça, passei uma água do meu rosto até o meu pescoço e escovei os dentes para tirar o gosto ruim. Julia tinha saído com Diogo, me dando privacidade. Quando eu saí do banheiro os encontrei na cozinha. Ninguém voltou a abrir as caixas de pizza, mas Diogo tinha uma cara nada boa. — Pode me contar o que está acontecendo agora, Gabriela! — Ele falou em um tom autoritário, que só usava quando preciso — e ele quase nunca precisou. — Não está acontecendo nada. — Eu disse. Ele balançou a cabeça, e Julia segurou o braço dele. — Eu já falei tudo. Eu não comi nada durante todo o dia. — E esse maldito sono? Você sempre acordou cedo para correr na praia. Agora mal consegue levantar se eu não arrastá-la. — Ele falou, e eu engoli a seco. — Você está grávida, Gabriela? — Sua pergunta me deixou completamente em choque. — Grávida?! Não, meu Deus! É claro que não! Eu… — As palavras se perderam ao me lembrar que a minha menstruação estava atrasada há quase nove dias. Ela nunca atrasou tantos dias, nem mesmo nas semanas de maior estresse na faculdade. Senti as minhas vistas escurecerem ao me dar conta de que a noite com o deus italiano teve consequências. E que eu nunca mais iria esquecê-las, pois carregava um fruto daquela minha loucura. — Eu estou grávida! — Afirmei quando voltei ao normal. Ou ao menos “quase”.—Eu vou matar.. O desgraçado! – ouvi a voz de Diogo completamente alterada, eu entendia ele completamente.. Diogo era a minha família, ele sentia como um pai e uma mãe ao mesmo tempo.. Mas o lado que estava falando agora era o lado cem por cento pai. As lágrimas começaram a banhar o meu rosto, ouvi Julia falar alguma coisa e correr para mim, me amparando.Eu chorava por desespero da minha situação.. Estava grávida, possivelmente. Eu não sabia nem o nome do pai do meu filho, não sabia onde o encontrar e o meu irmão estava decepcionado comigo... Na única vez que eu decido ser irresponsável e me entregar aos meus desejos e aos meus sentimentos bobos acontecia aquilo. Maldito destino.. Maldito!—Mantenha a calma.. Olha o estado em que Gabriela está – ouvi a voz de Julia e seus braços me rodearam. Ela sabia que o pai dessa criança poderia estar muito longe agora.. Eu não seria a primeira mãe solteira da história, mas com certeza eu seria a mais burra de todos os tempos. – Ela não precis
Quando nasce um bebê uma mãe também nasce! Eu ouvi tanto isso durante a minha gravidez.. Só que o meu filho não precisou nascer para que o meu lado maternal nascesse. Mesmo antes de ver o rosto dele... Sim era um menino, um lindo e forte menino. Que demorou quase sete horas para nascer. Eu já sabia que o amava com todas as minhas forças, enquanto ele crescia dentro de mim, mas eu só fui entender completamente o que queriam dizer.. Quando ouvi o choro dele, quando o segurei em meus braços.. Aquela pequena coisinha, coberto de sangue.Eu não havia escolhido um nome.. Por não saber se seria uma menina, ou um menino, porém foi só olhar para ele que eu já sabia que nome lhe dar.. Giovanni, esse seria o nome do meu bebê. Giovanni Nolasco, eu sabia que aquele era um nome de origem italiana.. Mas não poderia ser diferente, aqueles cabelos negros e os olhos que me lembravam duas safiras.. Eu não poderia escolher um nome diferente, ele me lembrava o deus italiano. —Como vai essa mamãe? —a en
Os primeiros meses com o meu filho passou tão depressa.. Eu piscava os olhos e ele esticava um pouco, talvez fosse apenas o meu lado mãe boba que estivesse enxergando aquilo... Mas quando Diogo e Julia me falou o mesmo, eu tive certeza que ele realmente estava crescendo. O meu coroação só faltava explodir a cada mês.. Saber que ele já estava completando um ano, me deixou tão melancólica. Eu havia saído com ele da maternidade.. A apenas algumas horas, pensar que já iria fazer dois anos que eu o descobri crescendo dentro de mim. Mais um pouco e o meu filho já estaria indo para a faculdade.. Eu tinha que controlar o meu lado dramático, eu havia aperfeiçoado o meu drama com o tempo.. Também havia o meu lado mãe super protetora e muitos outros lados que eu acabei descobrindo. No fim estavam certo quando diziam que quando um bebê nasce uma mãe também nasce... Só que no meu caso, várias mães surgiram dentro de mim, as vezes eu nem sabia controlá-las. —Ele está tão lindo.. Nem parece que
—Você.. Quer mesmo fazer Isso Gabi? – Julia me perguntou, eu tinha um currículo em mãos.. Ela havia me dado uma carona até a boate. Eu não sabia bem a resposta.. Quer dizer a até uma hora atrás me pareceu uma boa ideia, já agora.. Eu não tinha mais tanta certeza. Mas eu tinha que começar por algum lugar.. E Eu tinha que começar a vencer alguns traumas, tudo bem que não era assim algo tão traumático.. Mas aquilo fazia parte do meu drama recém adquirido. —Sim, eu tenho certeza! —afirmei com uma coragem digna de dar inveja.. Até eu me convenci que eu estava em poder de toda aquela certeza. —Eu tenho certeza.. Que não serei contratada —falei e ela me deu um olhar atravessado.—Então o que estamos indo fazer.. Quase do outro lado da cidade? – ela perguntou e eu ri —Gabi.. Nós podemos esperar mais um pouco, a rede de restaurantes onde trabalho.. Logo vai expandir e vão precisar de administradores novos – ela falou. —E até lá o que eu faço? Sento e espero você e o meu irmão se virarem c
—Eu consegui! – falei para mim mesmo, assim que eu fechei a porta atrás de mim. Meu coração estava palpitando fortemente, mas era de pura alegria. Eu tinha a intenção de esperar por Julia e Diogo para compartilhar aquilo, mas eu não consegui me conter e mandei uma mensagem para ambos, explicando tudo por alto e me celular começou a apitar com uma revoada de mensagens.. Mas eu o larguei de lado e fui buscar o meu filho.Assim que eu toquei a campainha da casa dos pais de Júlia. Helen abriu a porta para mim.. O meu bebê estava em seu colo, assim que ele me viu estendeu os seus bracinhos em minha direção. Eu percebi que aquilo poderia ser um problema, eu tinha que me separar dele por mais tempo do que eu estava acostumada em todo esse tempo.. Sei também que ele não iria ficar tão fácil assim todos os dias, mas eu tinha planos para nós dois.—A mamãe chegou Gio —Helen falou fazendo uma voz de bebê e o meu filho não quis nem saber.. Eu o peguei sentindo o cheiro de banho recente em sua p
Eu tive um dia cheio.. Alguns exames, médicos e psicológico forram necessário para dar entrada no contrato de trabalho. Quando eu vi o meu salário eu quase tive uma síncope.. Eu nunca tive salário, eu recebia dinheiro de alguns dos bicos que eu fazia e as vezes eu recebia o pagamento com alguns produtos das loja que eu prestava o serviço. Aquilo pra mim era o paraíso, ver toda aquela quantia no meu contracheque só me provava que havia sido uma boa decisão de trabalhar.. Eu só precisava agora convencer o meu coração a não sentir tanta saudade do meu pequeno durante o dia. Eu sabia que aquilo iria ser praticamente impossível, mas teria que ser de alguma forma.. Pelo que eu vi durante esses dias que eu me afastei, que eu iria sofrer bem mais do que ele. Gio é um garoto bem fácil de lhe dar e ele já gostava de Helen.. Então foi uma fácil adaptação, eu só não sabia como me adaptar com aquilo também. Fui puxada dos meus pensamentos com a entrada de Lorena na sala.. Ela que cuidou da minha
Lorena tinha razão ao dizer que Quim não era muito bom com a administração do lugar. Não que ele tenha atrapalhado, mas é que algumas coisas estavam muito fora de ordem e poderiam causar problemas futuros. Era bom ter algo grande para manter a ordem.. Assim me fazia concentrar mais nas minhas tarefas e esquecer a saudade do meu pequenino. Eu havia começado integralmente na semana seguinte após resolver tudo, bem quase tudo.. Ainda faltava a assinatura do senhor Mancini, mas como Lorena disse aquilo era o de menos. Eu passei o meu primeiro.. Segundo e terceiro dia, trabalhando duro para colocar tudo em ordem. Eu chegava em casa bem mais cansada do que eu poderia imaginar.. Mas eu nunca estava cansada o bastante para poder ficar um pouco com o meu filho, mesmo que eu só o tenha pegado acordado apenas uma noite, desses três dias. Foi uma verdadeira renovação das minhas forças, mas ainda bem que eu tinha Diogo, Julia e Helen que me entendia e me ajudavam mais do que eu poderia imaginar.
—Você está falando sério? – a pergunta demasiadamente alta de Julia, fez com que Gio levantasse os olhinhos assustados para ela. Lhe dediquei um olhar nada agradável e ela murmurou um “desculpa” aquela euforia toda dela era porquê, eu havia contado a ela sobre o almoço com Quim, também que ele havia me convidado para sair e eu não recusei. Podia ver os olhos dela brilhar de felicidade.. Até parece que era com ela que estava acontecendo tudo aquilo, no fundo eu sabia que não poderia julgá-la.—É.. Eu estou falando sério! —peguei o meu filho do berço, enquanto ele tentava morder o seu brinquedo de silicone. Beijei a sua bochecha coradinha, e ele balbuciou alguma coisa que eu não sabia o que era, mas que ele entoou com uma conotação entusiasmada.. Logo depois de se assustar com o jeito de Julia. – não era o que você tanto queria? Que eu seguisse em frente.. Você praticamente abriu um fã clube para o Quim, antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente. —falei e ela deu de ombros.—Você está ce