2 Cartas a mesa

A minha cabeça estava a ponto de explodir. Flashs do que aconteceu vinham e iam com facilidade. Era só eu abrir os meus olhos e era tomada de assalto por várias coisas que aconteceram na noite. Já era de manhã? Não havia claridade nenhuma no quarto. Quarto? Merda…O que foi que eu fiz? Será que eu estava tão louca assim para ir para a cama de um estranho?! Um estranho muito gostoso, afinal.

É, pelo visto eu fui sim. Sentei na cama, o deus italiano dormia profundamente ao meu lado. Peguei o meu celular que estava em minha bolsa, e já eram quase seis da manhã. Aquilo significava que eu só havia dormido por um hora desde que chegamos a esse quarto de hotel. Tudo o que fizemos foi matar o nosso desejo de maneira desenfreada e enlouquecedora. Ele se mexeu na cama, me lembrando que eu tinha que dar o fora dali o mais rápido possível. Tudo tinha sido muito incrível, mas apenas uma loucura que não vai voltar a se repetir. Eu nem sequer sei o nome dele, e nem ele o meu. Assim é bem melhor!

Catei as minhas coisas espalhadas pelo lugar. Caminhei lentamente até a porta, mas não sem olhar pra trás mais uma vez e ver dormindo a melhor transa da minha vida, e a certeza de que nunca mais nos veríamos novamente. O cara deveria ser um turista ou algo do tipo. Não costumávamos ter espécimes tão belos como esse por aqui.

Assim que eu cheguei em casa corri diretamente para o meu quarto. Eu com certeza iria dormir a manhã inteira, pois estava completamente quebrada. Meu corpo doía em lugares que eu nem sabia ser possível, mas só de lembrar o porquê de ele estar dolorido me fazia gemer instantaneamente. Lembrar dos beijos do meu deus italiano, das suas mãos, sua veneração… Me deixava quente e cheia de desejo novamente.

— Meu Deus, Gabi, nem acredito que você chegou. — O meu quarto foi invadido por Julia, que tinha uma expressão de alívio em seu rosto. — Meu Deus! Você não é irresponsável sempre. Mas, quando decide ser, você praticamente testa o meu coração. — Ela falou. Estava com o rosto todo amassado, mas o que me chamou mais atenção foi a camisa de Diogo em seu corpo.

— O que está fazendo aqui? Ou melhor, onde você dormiu e por que está com a camisa de Diogo? — Perguntei, e vi o seu rosto ser tingido por um vermelho carmim. Ai, meus Deus. Ai, meu Deus! Pelo visto não era só eu que tinha irresponsabilidades a confessar.

— Eu... É.. Primeiro me diga que irresponsabilidade foi essa, Gabi. — Ela pediu, claramente mudando de assunto e prolongando mais o seu tempo para inventar qualquer desculpa. — Você vai no banheiro, demora horas, e eu só recebo uma mensagem sua dizendo que tinha saído com alguém, que eu não precisava me preocupar. — Ela falou. Colocando daquele jeito, eu realmente parecia uma irresponsável agora.

— Tudo bem. Eu sei que eu agi muito errado, tá? Mas, caramba, eu tive a melhor noite da minha vida nos braços de um desconhecido! — Falei, e ela abriu a boca em choque. Percebi que ela tentou verbalizar os seus pensamentos, mas nenhuma palavra saiu. — Eu prometo te contar tudo, mas depois que eu dormir. Eu não preguei os olhos.

— É... Eu acho que nós teremos muito o que conversar depois. — Ela disse, e eu levantei a sobrancelha em sua direção. Senti que Julia não estava falando aquilo apenas por minha causa. — Eu também preciso dormir. Posso dormir com você? — Perguntou, e eu balancei a cabeça, oferecendo um sorriso singelo a ela.

Abri espaço na minha cama para uma Julia que se jogou ali, no meu habitat, como ela sempre fazia desde que eu me lembrava. Assim que ela se acomodou, eu coloquei a cabeça no meu travesseiro. As imagens da noite anterior me invadiram com força total. Enquanto Julia dormiu, assim que se deitou, eu fiquei rodando de um lado a outro. Olhos azuis escuros, sotaque italiano, beijos quentes e sexo selvagem povoavam a minha mente.

Deitei virada para o teto e levei a mão abaixo da cabeça. Eu tinha que parar com aqueles pensamentos e focar no fato de eu estar cansada. Foi só deitar e o meu sono se espalhou, eu dava aquele acontecimento como único e irresponsável. Depois que o efeito do deus italiano passasse eu voltaria ao normal! Eu tinha a plena e absoluta certeza daquilo.

Eu não me lembro exatamente o momento em que eu consegui pegar no sono finalmente. Mas em algum momento entre tentar me livrar dos pensamentos sobre o deus italiano e o meu cansaço eu consegui, enfim. Quando eu acordei, não tinha a mínima noção de tempo e nem que dia era aquele. Tudo o que sei era que eu estava sozinha na cama. Não sabia se Julia ainda estava em casa ou se ela já havia ido embora — o que eu apostava que não tinha acontecido.

Levantei e joguei apenas uma água no rosto. Ao olhar no espelho do banheiro eu quase caí para trás. O meu rosto estava horrível, mas a minha barriga roncando de fome estava bem pior. Não foi surpresa nenhuma encontrar Julia na cozinha comendo um sanduíche natural. Aprendemos aquele sanduíche com a avó dela e era ótimo para substituir por um hambúrguer, o que era mais gorduroso e não ajudava em nada a manter o nosso corpo.

— A bela adormecida acordou. — Na hora que eu entrei na cozinha, Julia falou, me paralisando. A palavra “Bella” me lembrava um certo italiano... Me lembrava de quantas vezes eu fui chamada de Bella em menos de vinte e quatro horas. De cada contexto que a palavra “Bella” foi colocada. — Eu estou falando com você. Está tudo bem? — Ela perguntou, franzindo o cenho e levando o suco de laranja à boca.

— Está... Está sim! — Falei, mas ela não desviou os olhos de mim. — Eu demorei a dormir. Que hora é essa? — Perguntei.

— Quase três da tarde. Senta aí, ainda tem sanduíche. — Ela falou. — Nós precisamos conversar. — Ela tinha razão, por isso eu cortei a distância da porta — onde eu me encontrava —, e me sentei na mesa da cozinha, de frente pra ela.

Contei cada detalhe. Do que eu senti desde a boate, quando o deus italiano colocou as mãos em mim. Julia ficou irritada por eu não ter lhe contado isso lá mesmo, mas também me entendeu. Contei da loucura que foi sair da boate com ele, mesmo assim eu não me arrependia de nada. O homem era maravilhoso. Ele me venerou — literalmente. Cada parte do meu corpo, cada célula minha se sentia vibrar assim que ele punha as mãos em mim. Não só as mãos: A boca e o pau.

Contei que eu nunca me senti tão bem com um homem. Bem, antes dele eu só tive um idiota na minha vida. Quer dizer: Ele não era um idiota. Era só um filhinho de papai, que tinha vergonha da namorada pobre. Pensando bem, ele era um idiota sim. Como eu me arrependia de ter dedicado tanto tempo de mim aquele babaca. Ele nunca me fez sentir um terço do que eu senti na noite passada. E nada madrugada também.

— Eu fico feliz por você, Gabi. Mas, merda! Você quase me matou. — Ela disse. — Se esse cara fosse um psicopata…Você pensou nisso? — Ela perguntou, e eu ri balançando a minha cabeça.

— Eu seria uma morta feliz agora. — Julia abriu a boca em ultraje. — Agora a senhora pode me dizer tudo o que me esconde também. — Falei e a vi engasgar. Agora é que eu tinha certeza que havia algo acontecendo.

— Eu.. é… — Levantei a sobrancelha quando ela começou a enrolar nas palavras. — Eu e Diogo estamos juntos. — Explicou de uma vez, me deixando de boca aberta. Eu tinha uma certa desconfiança, mas ouvir as palavras da boca dela era outra coisa.

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