Capítulo 2

Marina estava irritada, sua mãe era, pra dizer o mínimo, controladora demais. Fazer a filha sair da sua rotina para acompanhá-la em uma festa apenas para mostrar a família perfeita que tinha era no mínimo intragável. A verdade é que não existia a família perfeita! Ela nem ao menos sabia que elas poderiam ser chamadas de família. Em seu sonho, a família era aqueles que se apoiavam e se amavam acima de tudo e sua mãe estava longe disso. Mas nada abalava Mary Carter.

Aparência, era tudo o que importava. Revirou os olhos quando o marido perfeito da sua mãe, o doutor Harold Carter, riu de forma exagerada. O advogado estava agora concorrendo a um novo cargo político e sua mãe era a esposa troféu que poderia lhe dar a vitória.

— Ahhh, aí está ela. Nossa menina — revirou os olhos quando a voz jocosa do homem se fez ser ouvida, recebendo um olhar firme da mãe. Era óbvio o que significava, ela tinha que obedecer e fazer o papel dela. Ela e o padrasto nunca se deram bem, ela culpava ele pelo fim da sua família e culpava ainda mais sua mãe relapsa.

— Muito prazer, Marina — murmurou para o senhor à sua frente que a olhou com olhos ruins, fazendo ela gelar a alma. Já tinha recebido aquele tipo de olhar antes, desejo.

— Marina? Que nome curioso — a mulher que acompanhava o senhor falou, era simpática, alheia ao marido descarado.

— Ohhh é por causa de um filme A princesa e o soldado — a mãe falou feliz, Marina se conteve, detestava aquela história — Quando ela nasceu eu olhei para ela e pensei, ela nasceu para ser uma princesa — a mãe riu feliz tendo a atenção toda para ela — Então lembrei de Marina, bem a beleza dela é de família, como vocês bem sabem eu era modelo antes de advogada.

— Marina realmente é nosso orgulho, vai ser advogada igual a nós dois — Harold falou, recebendo a atenção da menina mais uma vez — Acho que ter tantos exemplos de caráter em casa influenciaram muito, ela sempre quis ser uma advogada — ela mordeu a bochecha, ela queria ser confeitaria, era o sonho dela, mas a mãe deu um jeito de fazer valer suas vontades e ela, sem forças teve que acatar — … é como se fosse minha filha — foi demais para ela, murmurou um pedido de licença e se arrastou dali.

Não conseguiu chegar no quarto antes que uma mão apertasse seu braço com brutalidade.

— O que você está fazendo? — a mãe falou entre dentes a empurrando para a primeira porta, um dos muitos quartos de hóspedes da casa.

— Tá me machucando — ela retrucou quando a mulher apertou mais forte seu braço clavando suas unhas na pele da filha.

— Cala a boca — a mãe soltou a filha com um empurrão jogando corpo da mais jovem na cama — Você não vai estregar essa noite, ela é extremamente importante para mim e para seu padrasto, então trate de se arrumar e voltar para aquela sala com um sorriso no rosto — dizendo isso, mulher se retirou, nunca dando um segundo olhar para a filha.

Sozinha, Marina desejou que seu destino não fosse aquele, onde tudo era artificial. Queria viver de verdade e não somente sobreviver.

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Marina suspirou sentindo o ligeiro desconforto ao passar ao lado de um caído. Ela se sentia assim desde o dia em que acordou com a notícia de que seu planeta estava sendo visitado por extraterrestres.

A noite de ontem tinha sido um inferno, e agora tinha que conviver com os caídos em sua faculdade.

Lembrará do pânico que aquela situação trouxe para seu povo. Os caídos eram humanóides, ela não conhecia nenhuma fêmea da espécie, mas os machos em sua maioria eram maiores que um metro e noventa de altura, corpo musculosos, e feições felinas. Eles tinham instintos aflorados e uma cauda.

Eram seres inteligentes, porém agressivos quando queriam. Marina tinha 10 anos quando eles desceram do céu. O pânico instaurado foi basicamente do medo que a incerteza trazia. Não saber o que aqueles seres queriam era desconfortável, então depois de semanas negociando, veio a notícia.

Os caídos se comprometeram em passar conhecimentos sobre tecnologia avançada, pela possibilidade dos guerreiros conseguirem algo que no mundo deles estavam faltando… As mulheres.

Quando uma guerra com uma outra espécie de um mundo longínquo se instaurou, os Geeks perderam 90% de suas mulheres, se encontrando à beira de uma extinção.

Para Marina aquilo era um monte de merda, afinal continuava não confiando nos extraterrestres. Não importava que as mulheres tivessem livre arbítrio, ela simplesmente não achava que eles, os terráqueos, tinham algo a ver com a extinção deles. A maioria achava isso, até que a primeira mulher a aceitar ir viver com um alienígena, veio visitar a Terra novamente. As mulheres eram super valorizadas por eles, e quando as outras puderam ver o tratamento que a número um recebia, havia uma fila de candidatas no dia seguinte.

— Se você é solteira, tem entre 18 e 30 anos e quer participar do projeto de seleção do Projeto Skyfall, é por aqui — uma das voluntárias disse. Marina rolou os olhos e se manteve afastada. Era o primeiro dia da faculdade dela, e não estava afim de perder tempo ouvindo sobre o projeto Skyfall — Só precisaremos de uma amostra de sangue, e você estará no registro de compatibilidade. Vamos ajudar a espécie em extinção… — ela caminhou com mais força quando viu um grupo de calouras irem para a inscrição.

— Mar… — sua amiga Jully a chamou. Jully iria cursar o mesmo curso que ela, o que era bom, teria alguém para estar contigo consigo.

— Olá — ela murmurou para um grupo de meninas da fraternidade.

— Uau, você é muito linda… oh, desculpa. Eu sou Ana — uma menina fofa se apresentou.

— E então Marina, já se inscreveu? — uma menina perto de Jully questionou.

— Me inscrever? Em que basicamente? — ela sabia o que elas queriam. O projeto Skyfall, ela tinha ânsia só de pensar, a mãe e o padrasto eram defensores do projeto e estavam se promovendo a custa dos alienígenas, ela sabia que se curvasse a vontade da mãe e ela seria o rosto do projeto Skyfall, o que daria vantagem política ao padrasto dela.

— No projeto Skyfall. Fala sério, é o sonho de qualquer mulher ser tratada como uma rainha, viver mais de 200 anos jovem, ter total compatibilidade com o marido… — ela explicou.

— Eu não me inscrevi, bem porque… — Ana ficou vermelha.

— Porque você está trepando com o nerd de computação, todo mundo sabe. — as meninas riram do visível constrangimento de Ana.

— Eu não vou me inscrever. Ser presa a um lugar e a uma pessoa pro resto da vida? Tô fora — ela murmurou.

— Não é assim também, Ma! Você deve se inscrever, e seu perfil passará pela compatibilidade genética e de interesse. Se for selecionada, deverá receber o alienígena como namorado por um mês na terra, e ao final desta data, irá com ele para passar onze meses lá. Se no final desse tempo você não quiser casar com ele, poderá voltar. É uma experiência única! — a menina terminou.

— Ah claro, e deixar um esquisito dominar sua vida? Tô fora — Jully se intrometeu. Marina observou que, se ela tinha aversão ao programa, Jully tinha ódio, sua mãe tinha sido escolhida como companheira de um alienígena a um ano atrás, aos trinta e nove anos. Ela tinha feito a inscrição na última semana antes de completar trinta anos.

— Na verdade eles são uma sociedade matriarcal, isso quer dizer que quem manda são as mulheres — Ana murmurou.

— Bem, isso não interessa tanto assim. Nós estamos fazendo faculdade, não dá pra se inscrever nem se quiséssemos — Jully murmurou.

Até o final do dia os voluntários do projeto Skyfall ficaram ali, e às vezes elas viam uma mulher se inscrever.

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— Ahhh até que fim! Essa semana foi puxada — Jully gritou enquanto saiam do campus.

— Barzinho? — Raissa perguntou.

— Barzinho! — todas concordaram.

Aliviar a tensão daquela semana era muito necessário. Marina não imaginou que a primeira semana da faculdade seria tão puxada, ela sabia que era algo muito mais sério do que o Ensino Médio, mas estar tão estressada e cansada já na primeira semana não era algo que ela um dia imaginou estar.

— Uma rodada — Lais gritou, oferecendo cinco shots de Vodca.

— Vodca? Sério? — Marina reclamou.

— Qual é? Essa semana foi puxada. — Raissa respondeu.

— Mas sério? Vodca? — perguntou pegando a bebida.

— Isa tem trauma com vodca. — Ana riu bebendo o conteúdo do próprio shot — Mais uma rodada — gritou para o garçom.

— Eu não tenho trauma com vodca. O meu problema é que ela apaga tudo. Por exemplo, em meia hora você vai acordar na sua cama sem lembrar de nada, pelo menos é essa a impressão que temos — murmurou tomando por fim seu shot, enquanto o garçom chegava com a segunda rodada.

— Primeira semana da faculdade — Jully gritou e brindou com as meninas na segunda rodada.

A noite passou num borrão. Ana foi a única que se manteve um pouco sóbria, mas saiu mais cedo.

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Marina acordou no dia seguinte com uma baita dor de cabeça, não lembrando de absolutamente nada do que tinha acontecido. Ela sabia que era ruim o gosto amargo que sentia na boca, além da cabeça latejando. Olhou para as amigas jogadas pelo chão e depois para o relógio, gemeu ao constatar que já eram quase duas da tarde. Que bela ressaca! Tomou banho e bebeu água, antes de fazer um café bem forte. Ligou e pediu comida japonesa, tentando comer algo leve para só então acordar as amigas uma por uma, para ir pro banho e tomar café. Quando acordou Jully, a última, a comida chegou.

— Vocês sabem o que aconteceu ontem a noite? — perguntou quando estavam todas reunidas comendo.

— Eu lembro de algumas coisas — Lais deu de ombros.

— Falem baixo pelo amor de Deus — Jully reclamou. Tinha o inconveniente da dor de cabeça, como ela foi a última a acordar, o remédio não tinha feito efeito ainda.

— Acho que vai ser difícil lembrar de qualquer coisa… quero dizer, eu esqueci meu nome depois da quinta dose — Lais fez cara feia.

— Eu falei que vodca era uma má ideia — Marina se lembrou de antes de beber a primeira dose — Espero que não tenhamos feito alguma besteira — murmurou.

— Isso com certeza fizemos. — Raissa riu e depois gemeu — Mar beijou um poste de luz — agora todas riram um pouco enrugando a testa quando doeu a cabeça.

— Eu não beijei um poste! — Marina reagiu indignada.

— Com toda certeza beijou. Você ficava falando: Me possua, meu amor. Beija minha boca…. Ai que tesão… — Lais riu quando Marina literalmente abriu a boca em assombro.

— Eu não fiz isso — tentou ser firme, muito embora sua convicção estava abalada pelo simples motivo dela não lembrar de nada. — Eu fiz? — se ela não soube, as amigas riram com mais vontade e não lhe contaram.

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Segunda-feira, Marina se arrastou do estacionamento da faculdade até o pátio totalmente desanimada para a segunda semana. A verdade era que só estava fazendo faculdade por causa da sua mãe. Seu sonho era abrir uma loja de doces caseiros, ela sabia fazer doces como ninguém, mas a mãe não achava promissor aquele futuro, e no quesito "promissor" ela sabia que a mãe pensava apenas em dinheiro. Quanto mais melhor! Sua mãe dizia, e era por isso que ela cursava advocacia. Pensou que se a primeira semana já foi estressante, ela não conseguiria imaginar como seria a próxima. Seu telefone vibrou, tinha chegado uma mensagem. Ela sacou rapidamente correndo para a sala de aula.

July diz: Meninas, acho que tô lembrando de algumas coisas da madrugada de sexta para sábado. Vocês não vão gostar!

Marina franziu a testa tentando não pensar nisso, mandando uma mensagem rapidamente para o grupo.

Marina diz: Nós falamos na hora do almoço.

Não demorou muito até que a Jully respondesse.

Jully diz: Tudo bem! Mas é urgente e sério.

Graças a tensão que as mensagens causaram, Marina não conseguiu se concentrar nas aulas. O que poderia ser tão ruim pra ser tão urgente assim?

Quando a hora do almoço chegou, Marina marchou até o refeitório, prometendo a si mesma que estrangularia Jully com as próprias mãos, por deixá-la tão ansiosa.

Quando chegou à mesa Lais e Raissa esperavam ansiosa, e nada de Jully.

— O que aconteceu? — Lais questionou.

— E eu que sei? Será que fizemos algo ruim? Eu nem lembro. Eu disse pra gente não beber vodca — murmurou irritada.

— Nem começa Marina, ninguém te agarrou e obrigou você a beber a merda da bebida — Raissa falou ácida.

— Ei! Qual é? Eu não disse isso, qual é a sua Raissa? — Marina perguntou irritada.

— Desculpa, eu tô nervosa — murmurou.

— Oi meninas — Ana chegou — Eita! Que cara são essas? — ela perguntou por fim.

— Nós bebemos demais na sexta, depois que você saiu, não lembramos de muita coisa. Mas Jully disse que acha que fizemos algo do qual, segundo as palavras dela, não iremos gostar — Lais explicou.

— Perda de memória coletiva? Sério? — Ana questionou.

— Teoricamente, não perdemos a memória. Lembramos de bastante coisa, só não lembramos de algumas… — até para Marina aquela desculpa parecia péssima.

Jully escolheu aquele momento pra chegar.

— Jully sua desgraçada, até que enfim… — Raissa foi a primeira a reagir.

— Meninas, é sério, acho que fizemos algo que não deveríamos fazer. Eu acho que… — ela foi interrompida quando todo o refeitório começou a ficar agitado de repente. Ela abriu a boca num ‘o' perfeito quando percebeu do que se tratava. Todas as meninas olharam para onde ela olhava.

Um alienígena, grande e musculoso, caminhava em direção ao norte do refeitório, onde elas se encontravam. Ele tinha cabelos negros, devia ter mais de dois metros de altura, não usava camisa, mas levava uma faixa em linguagem não conhecida, seus músculos bem evidenciados, suas feições como de um humano, mas muito mais marcadas e muito mais bonita. Seus olhos eram atípicos roxos, tinham traços como de um leão, o cabelo liso, mas o que mais chamava a atenção era sua cauda balançando no ar, era grossa na ponta e lisa, parecia um dedo, mas muito mais grossa.

— Que porra... — Lais murmurou totalmente perdida.

— Ele tá vindo pra cá? — Raissa questionou totalmente surpresa.

— Era isso que eu queria falar com vocês… — Jully começou, mas foi interrompida quando o estranho chegou perto da mesa e se ajoelhou. Elas se levantaram depressa.

— Marina Mackenzie da Terra, eu a aceitei segundo os exames de compatibilidade, sendo assim, durante os próximos doze meses terrestres, lhe farei corte segundo as leis de cooperação do programa Skyfall. No final dos doze meses decidiremos se… — a voz do homem se perdeu, quando a pequena mulher desmaiou e ele a segurou. Espantado ele olhou para as outras que estavam chocadas e murmurou — Eu fiz alguma coisa? — ele parecia desesperado.

—… acho que assinamos o acordo Skyfall — Jully terminou o que queria falar, recebendo um olhar sujo das amigas.

— Puta merda — Ana murmurou, totalmente perdida naquela confusão.

Era tudo culpa da maldita vodka.

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