— A Dra. Clarice sempre teve esse jeito frio e distante, e trata todo mundo do mesmo jeito. Para mim, o comportamento dela hoje está normal. — Normal? Ela deveria ter sido promovida a líder do grupo, mas perder esse posto para alguém que chegou agora deve ter deixado ela furiosa. Quem não ficaria com a cara fechada? — Só eu percebi que o Sr. Sterling ficou olhando para a Dra. Clarice por mais de um minuto? Será que ele está pensando em… Sei lá, dar uma “oportunidade” para ela? — Oportunidade? — Outra riu com desdém. — Antes que o Sr. Sterling pense em algo, aposto que a Clarice já deu um jeito de se enfiar na cama dele. Você sabe que ela é especialista nisso. Esses quatro anos aqui… Quantos homens ela já não seduziu para subir na carreira? Clarice soltou uma risada fria e, com calma, respondeu: — Eu achei que o que aconteceu ontem com a Isabelly fosse suficiente para fazer vocês calarem a boca. Mas parece que vocês continuam muito curiosas sobre a minha vida pessoal. Que tal
Mal terminou de falar, já se arrependeu amargamente, desejando poder morder a própria língua. Teresa, no entanto, respondeu de bom humor, com um sorriso evidente na voz. Ao ouvir o título "Sra. Davis", Clarice sentiu o sangue ferver. As pastas que segurava em suas mãos foram rasgadas ao meio num ato automático de raiva. Ela respirou fundo, controlando-se, antes de se virar para Lilian e dizer: — Vá falar com o cliente e levante mais informações sobre o caso. Eu vou conversar com a Sra. Teresa. Lilian lançou um olhar rápido para os papéis rasgados nas mãos de Clarice, mas não disse nada. Apressou-se em sair da sala, percebendo que a situação não era boa. Clarice parecia realmente furiosa, e Lilian não a culpava. Alguém tinha tomado o lugar de Clarice como líder do grupo. Qualquer um ficaria irritado. Lilian, no entanto, era ingênua demais para sequer imaginar que havia algo entre Clarice e Sterling. Assim que Lilian saiu, Teresa tomou a iniciativa, atacando primeiro: — C
— Acabei de ouvir que a Clarice tinha um relacionamento suspeito com o antigo dono da Torres Advocacia. Dizem que os dois saíam juntos com frequência, e ela passava horas no escritório dele! Também falam que o sucesso dela aqui no escritório veio todo de subir na cama dos outros. Aliás, em Londa, dizem que ela tem “envolvimento” com vários homens! — Teresa pausou, como se estivesse hesitando em continuar, numa tentativa calculada de parecer cuidadosa. Sterling, com o rosto fechado, massageou as têmporas e respondeu, irritado: — Você é advogada agora, deveria saber que, para acusar alguém, precisa ter provas. E você realmente acha que eu tenho tempo para ouvir fofocas de escritório? Antes de me trazer esse tipo de absurdo, use sua cabeça e verifique a veracidade. Não quero ouvir mais esse tipo de bobagem, entendeu? Sua voz estava carregada de impaciência, e a frustração era evidente. Eles estavam casados há três anos. Clarice era ocupada, sempre envolvida com trabalho, mas nunca
Lilian ficou paralisada por um instante, mas logo assentiu: — Entendi! Ela pensou consigo mesma: “Hoje o novo grande chefe trouxe Teresa pessoalmente. Isso é praticamente uma declaração oficial. Se Teresa não for a Sra. Davis, quem mais seria?” Mas, se Clarice disse que não era, então não era. Lilian confiava cegamente no que Clarice dizia, sem questionar. De repente, o som do celular interrompeu os pensamentos de ambas. Clarice pegou o aparelho e, ao ver que o número era desconhecido, hesitou por um instante, mas atendeu. — Alô, aqui é Clarice, da Torres Advocacia. — Clarice, sou eu. — Uma voz fria veio do outro lado da linha. Clarice reconheceu imediatamente: era Virgínia, a mãe de Sterling. Seus lábios se apertaram, e sua voz saiu distante e formal: — Sra. Virgínia, em que posso ajudá-la? — Me encontre no Café Nuvem. Precisamos conversar. — Virgínia foi direta ao ponto. — Agora estou no horário de trabalho. Posso ligar para a senhora depois do expediente e combin
— Clarice, o que você está tentando fazer? Por que foi encontrar com ela às escondidas? — Teresa questionou, a voz carregada de nervosismo. Lançou um olhar irritado para Lilian antes de se virar e sair apressada do escritório. Lilian soltou um longo suspiro. Aquela nova líder do grupo tinha um jeito tão imponente que era de assustar qualquer um. Teresa saiu diretamente em direção ao elevador, pegando o celular enquanto andava. Sua voz soou ameaçadora: — Clarice, volte para o escritório agora! Não se atreva a ir encontrá-la, ou eu juro que te demito na hora! Clarice, sem paciência para discutir, simplesmente encerrou a ligação. Guardando o celular no bolso, ela não resistiu e olhou mais uma vez para o prédio da Torres Advocacia, do outro lado da rua. Seus olhos brilhavam intensamente, quase hipnotizantes. Esperou mais alguns instantes. Quando viu uma figura apressada surgir em sua linha de visão, desviou o olhar e entrou calmamente no café. Virgínia já estava lá, e sua exp
Ela originalmente achava que Virgínia já havia desistido dessa ideia. Mas, pelo visto, nunca tinha desistido de verdade. Virgínia havia esperado pacientemente por três anos e, agora, de repente, não conseguia mais se conter. Clarice tinha certeza de que isso estava relacionado às ações que Túlio havia transferido para ela. Virgínia queria que ela se divorciasse o mais rápido possível, apenas para colocar outra pessoa na cama de Sterling. Assim que isso acontecesse, Sterling não teria escolha a não ser “assumir a responsabilidade”. Afinal, foi exatamente essa a tática que Virgínia usou para fazer Sterling se casar com Clarice. — Hm, eu não fazia ideia de que sou culpado de traição e bigamia. — Uma voz fria soou atrás dela, fazendo Clarice congelar por um instante. Sterling? O que ele estava fazendo ali? Mas, rapidamente, ela recuperou a compostura. Passou a mão pelos cabelos, ajeitando-os com elegância, e virou-se devagar. Seus olhos brilhantes encontraram os dele, e ela sorri
Clarice sentiu uma dor aguda na cintura, e seus olhos ficaram marejados. Sua voz saiu trêmula: — Sterling, você não percebeu que ela está fingindo desmaio? Sterling era um homem astuto. É claro que ele sabia que Teresa estava fingindo. Mas, ainda assim, ele escolheu protegê-la. Clarice estava claramente machucada, mas ele nem sequer perguntou. Pelo contrário, acusou-a de estar fingindo. Era isso que acontecia quando não se ama alguém? A frieza era tamanha que nem mesmo uma ferida física despertava sua preocupação? — Só vi que ela desmaiou, e você está perfeitamente de pé. Clarice, venha comigo agora. Caso contrário, a partir de amanhã, você não precisa mais ir trabalhar. — Sterling falou devagar, articulando cada palavra com clareza, como se quisesse que elas cravassem fundo. Clarice o encarou, chocada. Aquela era a pessoa com quem ela havia dividido os últimos três anos. Sentiu como se seu coração estivesse sendo despedaçado. — Achei que você fosse o tipo de homem que sepa
Não era de se estranhar que, em três anos de casamento, Sterling nunca a tivesse levado para nenhum evento ou festa. Para ele, Clarice era desprovida de classe, alguém que, em público, seria uma vergonha e colocaria sua reputação em risco. Mas Clarice sabia que isso não era verdade. Embora não tivesse sido bem tratada pelos pais, nos anos em que viveu com a avó, ela teve aulas de etiqueta. Cada sorriso, cada movimento, cada detalhe de comportamento à mesa... Tudo havia sido ensinado meticulosamente. Ela tinha certeza de que, no círculo da alta sociedade de Londa, não ficava atrás de nenhuma das socialites. Depois de se casar com Sterling, passou a ser ainda mais cuidadosa nos detalhes. Sempre achou que estava desempenhando bem o papel de uma esposa de elite, uma verdadeira senhora da alta sociedade. Mas, na verdade, tudo aquilo não passava de uma ilusão. Para Sterling, ela nunca foi nada além de uma companhia para o quarto. Etiqueta? Não era algo necessário entre quatro paredes.