A mão de Sterling que segurava a xícara de café pareceu ser subitamente agarrada por uma força invisível, junto com seu coração, que apertou de forma inexplicável. Do lado de fora, a noite era tão escura quanto tinta, enquanto a luz amarelada do interior não conseguia iluminar a confusão de emoções que tomava conta dele. Será que Túlio também havia contado isso a Clarice? Caso contrário, por que ela estaria tão decidida a pedir o divórcio? — Eu já te avisei inúmeras vezes para não se envolver tanto com os assuntos da Teresa, mas você ignorou completamente as minhas palavras! — A voz de Túlio era grave e carregada de autoridade. Cada palavra parecia um golpe direto no coração de Sterling. Ele sabia que Túlio não mencionaria Cidade F e Teresa sem motivo. Aquilo não era uma acusação vazia. Ele certamente havia investigado tudo. E se Túlio sabia, será que Clarice também sabia? Sterling permaneceu em silêncio, sem responder. — Teresa, aos olhos dos outros, parece frágil, simples
Enquanto pensava nisso, o toque do celular soou, e Simão arqueou as sobrancelhas.Será que Jaqueline finalmente tinha se dado conta e estava voltando com a comida para jantarem juntos? Se ela tivesse um bom comportamento, talvez ele até pegasse leve com ela mais tarde.Com esse pensamento, ele pegou o celular do bolso, mas ao olhar para a tela, viu que era Sterling ligando.Por que Sterling estava ligando de repente? O que será que tinha acontecido?Após um momento de hesitação, ele atendeu a ligação. Sterling foi direto ao ponto:— Vamos beber.— O que está acontecendo? — Simão perguntou, achando tudo muito estranho. Será que Sterling estava de mau humor? Por que outro motivo ele o chamaria para beber?— Perguntas demais. No mesmo lugar de sempre. — Respondeu Sterling, antes de desligar o telefone sem esperar por outra palavra.Simão guardou o celular, pegou os talheres e terminou de comer a única porção de vegetais que estava na mesa. Só depois disso, saiu de casa.Ao chegar no clube
Rita seguia Simão de perto, com o aroma suave de jasmim que exalava do homem invadindo seu nariz. Ela não conseguia evitar imaginar que tipo de homem Simão era.— Sente-se. A voz dele a despertou de seus devaneios. Sem perceber, os dois já haviam entrado no reservado. — O que foi? Eu sou tão bonito assim para você ficar me olhando desse jeito? — Simão brincou com um sorriso, como se fossem velhos amigos. Mas os dois tinham acabado de se conhecer naquele dia. Rita se inclinou para sentar, agradeceu com um leve movimento de cabeça e viu Simão acomodar-se à sua frente. O garçom chegou trazendo vinho e petiscos. Simão pegou o copo e começou a servir vinho. Rita observava cada movimento dele. Embora seu rosto mostrasse uma expressão tranquila, por dentro ela já começava a sentir algo diferente. Simão era bonito e atencioso. Um homem assim certamente encantaria qualquer mulher, pensou ela. — Se você souber beber, tome só um pouco. Se não, posso pedir para trazerem um suco para
Simão ajeitou o corpo na cadeira, enquanto seus longos dedos deslizavam levemente pela borda translúcida da taça de vinho. Havia algo em seus movimentos que parecia carregar histórias não contadas e sentimentos nunca resolvidos. No coração de Rita, surgiu um pressentimento ruim, algo que ela não conseguia afastar. Em seguida, a voz dele soou baixa e suave, quase como um sussurro ao seu ouvido: — Você deve saber que, nas famílias como as nossas, as decisões sobre casamento geralmente vão além dos sentimentos pessoais. Elas são cercadas pelo peso das responsabilidades e expectativas familiares. Por isso, não importa muito se existe ou não uma mulher que eu ame no fundo do meu coração. O que realmente importa é que a nossa união seja aprovada pelos nossos pais e que, no mínimo, possamos manter um tipo de convivência onde não nos detestemos. Enquanto Simão falava, seu olhar se perdeu em algum ponto distante, como se atravessasse o espaço em busca de alguém que só ele podia enxergar.
Logo atrás entrou Callum, vestindo roupas casuais que, mesmo simples, não conseguiam esconder sua elegância natural. Ele trazia nos lábios um leve sorriso, daqueles que, sem esforço, criam uma sensação de proximidade com qualquer pessoa. Já Valentino parecia um novato no mundo corporativo, com um ar de curiosidade e análise constante brilhando nos olhos. Os três entraram no reservado, e seus olhares, quase em sincronia, foram direto para Rita. Rita estava sentada à mesa, usando um vestido simples, mas de uma elegância sutil, que delineava perfeitamente suas curvas. Seu cabelo estava preso de forma casual, com algumas mechas soltas caindo suavemente sobre seu rosto, dando-lhe um toque de delicadeza e charme. Ela respondeu aos olhares curiosos com um sorriso sereno, sua postura confiante e natural despertando simpatia instantânea. Depois de algumas saudações e apresentações, a conversa fluiu com leveza. O ambiente foi rapidamente tomado por uma descontração que fazia o tempo pass
— Jaqueline? Aconteceu alguma coisa? A voz de Simão soou pelo celular. Clarice mordeu o lábio, hesitando por um instante. Ela estava prestes a falar quando uma voz familiar surgiu ao fundo: — O que foi? Sua mulher está te controlando? — Jaqueline, fala logo! — Simão lançou um olhar severo para Sterling, mas sua voz ficou mais suave, como se temesse assustar a mulher do outro lado da linha. Clarice respirou fundo antes de finalmente dizer: — A Jaqueline está bêbada. Se você estiver livre agora, venha ao Encanto do Vale buscá-la. Simão olhou para Sterling, que mantinha uma expressão fria, e respondeu: — Tudo bem, estou indo agora. Clarice hesitou por um momento antes de continuar: — Venha sozinho. Não deixe o Sterling ir com você. Eu não quero vê-lo. Desde a morte da avó, Clarice havia enterrado qualquer sentimento que nutria por Sterling. Ela não queria encontrá-lo, muito menos ouvir suas tentativas de explicação. Certas coisas, uma vez feitas, deixavam marcas que
— Aconteceu algo urgente em casa, preciso ir agora. Me desculpem! — Simão explicou com um tom gentil e um sorriso tranquilo no rosto, o que deixou Rita um pouco constrangida por desconfiar dele. — Se é algo urgente, vá logo! — Rita respondeu, tentando parecer compreensiva. — Simão, pode ficar tranquilo, eu vou levar a Rita para casa com toda segurança! — Valentino garantiu, batendo no peito como se quisesse reforçar sua sinceridade, temendo que Simão desconfiasse dele. — Está tudo bem para você, Rita? — Simão perguntou diretamente a ela, mantendo sua expressão serena, mesmo com a pressa evidente. Talvez por causa da gentileza dele, Rita acabou assentindo com a cabeça. — Pode ir, Simão. Ele então se aproximou e, de repente, apertou levemente a bochecha dela com os dedos. — Boa menina! Rita sentiu o rosto esquentar de leve, a timidez tomando conta. — Já vai, vai logo! — Disse Rita, apressando-o, embora estivesse surpresa com a intimidade daquele gesto. Eles tinham aca
Rita deu um leve sorriso antes de dizer: — As famílias Baptista e Azevedo são perfeitamente compatíveis. Meu encontro com o Simão era algo natural. Mesmo que ela não tivesse ido ao encontro com Simão, acabaria conhecendo outra pessoa em um contexto parecido. Depois de passar a noite com Simão, ela tinha uma boa impressão dele. Achava que ele era um homem agradável e, até agora, estava satisfeita com o que havia visto. Callum, por outro lado, permaneceu em silêncio, bebendo seu vinho. Ele sabia que Rita estava certa. Nas famílias como as deles, os casamentos sempre precisavam ser baseados em alianças entre famílias de status semelhante. Já a família Fonseca, de Teresa, estava em decadência há muito tempo. Além disso, Teresa era viúva, o que tornava tudo ainda mais difícil. Callum e Teresa nunca poderiam ficar juntos. Aquela constatação apertava o peito de Callum. Ele sentia uma dor silenciosa enquanto bebia. Rita percebeu que ele estava bebendo de forma introspectiva, sem