Jaqueline ouviu o choro desesperado de Clarice, e seu coração se apertou como se estivesse sendo esmagado. Ela rapidamente a envolveu em um abraço apertado. — Clarinha... — Jaqueline tentou dizer algo para confortá-la, mas as palavras ficaram presas na garganta. Ela não conseguiu dizer nada. Se ela já estava sentindo tanta dor só de ver Clarice assim, imaginava o que a amiga estava passando. A dor de Clarice devia ser mil vezes maior. Qualquer palavra de conforto naquele momento pareceria vazia e inútil. Um dos funcionários que estavam ali olhou para as duas com um semblante um pouco constrangido e disse: — Senhoritas, nós precisamos levar o corpo da falecida para o necrotério. Não podemos demorar muito aqui. Eles já tinham visto muitos familiares chorando por seus entes queridos. Alguns se desesperavam, outros aceitavam em silêncio. Mas, vendo aquela jovem, algo na maneira como ela chorava tocava profundamente. Era como se o sofrimento dela fosse capaz de quebrar até os cora
Jaqueline, assustada, segurou Clarice com firmeza, chamando-a suavemente: — Clarinha… Ela não sabia quem havia ligado ou o que tinha sido dito, mas era evidente que algo no telefonema havia abalado profundamente Clarice. — Foi Teresa quem te disse que eu fiz ela perder o bebê? — Clarice perguntou, com a voz controlada e cada palavra carregada de tensão. Após respirar fundo, ela continuou. — E você sabe por que eu fui até ela? — Não importa o motivo pelo qual você foi atrás dela. O que importa é que o bebê dela está morto! Agora Teresa está na mesa de cirurgia. Clarice, se algo acontecer com ela, você vai pagar caro! — Sterling respondeu com um tom pesado, carregado de ameaça. Na mente de Sterling, Teresa estava no hospital, quieta e em repouso, até Clarice aparecer, empurrá-la ao chão e chutar sua barriga, causando o aborto. O mais importante é que Teresa estava grávida do filho de Durval. Para Sterling, aquele bebê era a última ligação com Durval, o único laço de sangue qu
Quando Clarice acordou, percebeu que estava deitada em uma cama de hospital. O cheiro forte de desinfetante invadia suas narinas, deixando o ambiente ainda mais opressivo. Jaqueline, ao vê-la despertar, suspirou de alívio. — Clarinha, como você está se sentindo? Está tudo bem? Clarice balançou a cabeça levemente. — Estou bem. Sem dizer mais nada, ela afastou o cobertor e tentou se levantar. — Descansa mais um pouco. — Jaqueline disse, segurando-a pelo braço para impedir que ela saísse da cama. — Quero passar um pouco mais de tempo com minha avó. Quando o dia amanhecer, ela será reduzida a cinzas, guardada em um pequeno recipiente. Depois disso, nunca mais poderei vê-la novamente. — A voz de Clarice era calma, quase indiferente, o que deixou Jaqueline preocupada. Clarice estava lidando com a morte da avó de maneira fria demais. Jaqueline preferia mil vezes vê-la chorando e desabafando sua dor, como havia feito no início, do que reprimindo tudo dentro de si. Guardar tanto
Ao sair do necrotério, Clarice engoliu a tristeza e, com a cabeça fria, começou a organizar os preparativos para o velório da avó. Afinal, estando sozinha, que direito ela tinha de se entregar à dor? Depois de preparar a sala onde seria o velório, o celular de Clarice tocou. Era Ana, sua mãe. Clarice passou o endereço do hospital para ela e, em seguida, começou a avisar os parentes da família que viviam na cidade natal da avó. A avó havia passado anos sozinha, deitada em uma cama de hospital, esperando que alguém fosse visitá-la. Agora que ela havia partido, Clarice queria que ela fosse cercada de pessoas, que sua despedida fosse cheia de vida e calor humano. Não demorou muito para Ana chegar, acompanhada de Antônio e Beatriz. No entanto, o que deveria ser um momento de homenagem e respeito se transformou em algo completamente inesperado. A primeira coisa que fizeram ao entrar não foi prestar condolências à falecida, mas ir direto até Clarice. Antes que Clarice pudesse dizer
— A Sra. Ana, como filha da falecida, deveria estar ajoelhada diante do altar, chorando pela perda. Petrus, leve a senhora até lá para se ajoelhar! — Uma voz inesperada ecoou no ambiente, fazendo Clarice levantar a cabeça surpresa. Ela viu Asher parado não muito longe, emanando uma aura tranquila. Sua expressão carregava um leve sorriso, tão gentil que parecia capaz de curar qualquer ferida no coração. Naquele instante, Clarice não pôde evitar se lembrar de sua infância. Sempre que ela era repreendida ou castigada em casa, Asher aparecia com sua voz suave para acalmá-la. E, como mágica, ela sempre se sentia melhor. Mesmo depois de tantos anos, a presença dele ainda conseguia trazer paz ao coração dela. Ana foi forçada a se ajoelhar diante do altar de Fernanda. A grande foto da falecida parecia ter olhos vivos e penetrantes, o que fez Ana, sem querer, olhar diretamente para a imagem. O susto foi tão grande que ela ficou paralisada, esquecendo até mesmo de chorar. Para ela, era c
— Clarice, estou grávida. Você precisa se divorciar do Sterling o quanto antes, senão, quando a criança nascer, vai crescer sem pai. Que crueldade seria! — A voz chorosa da mulher ecoava pelo telefone.Clarice Preston apertou as têmporas com os dedos, o rosto impassível enquanto respondia com frieza:— Teresa, quer dizer mais alguma coisa? Fale logo, assim eu gravo tudo de uma vez. Vai ser útil no processo de divórcio para eu pegar mais dinheiro dele.— Clarice, sua desgraçada! Está gravando?! — Teresa gritou, furiosa, antes de desligar abruptamente.O som do telefone mudo ficou no ar. Clarice abaixou o olhar para o teste de gravidez que segurava nas mãos. As palavras "quatro semanas" saltavam da folha como se estivessem em negrito. Aquilo parecia um golpe, mas, ao mesmo tempo, uma chance de redenção.Ela havia planejado contar a Sterling sobre a gravidez naquela mesma noite, mas agora sabia que isso era desnecessário. A decisão já estava tomada: aquele filho, apesar de vir em um momen
Clarice olhou para o homem que havia falado. Era Callum Martinez, amigo de infância de Sterling. A família Martinez era uma das mais tradicionais de Londa, e Callum sempre desprezara Clarice por sua origem humilde. Contudo, aquele típico playboy arrogante não passava de uma ferramenta nas mãos de Teresa, constantemente usado por ela para atacá-la.Pensando nisso, Clarice esboçou um leve sorriso. Seus lábios vermelhos se moveram com delicadeza, e sua voz soou suave:— A senhora Teresa de quem você fala é a esposa legítima do irmão mais velho do Sterling. Se alguém ouvir o que você acabou de dizer, pode acabar pensando que existe algo... Inapropriado entre eles.Callum havia falado de propósito para irritá-la, mas Clarice não via necessidade de poupar Sterling na frente de seus amigos. Ela o amava, sim, mas não ao ponto de aceitar humilhações.Teresa, que até então parecia satisfeita, imediatamente apertou os punhos ao ouvir aquelas palavras. Uma expressão sombria passou rapidamente por
— Você não disse que alguém queria te matar? Só liguei para confirmar se você já morreu. — A voz do homem era carregada de sarcasmo. Clarice apertou o celular com força, respondendo palavra por palavra: — Eu sou dura na queda. Não vou morrer tão fácil! Assim que terminou de falar, desligou a ligação e bloqueou o número de Sterling em um movimento rápido e decidido. …Na suíte VIP de um hospital pertencente ao Grupo Davis, Teresa estava deitada na cama. Sua pele parecia pálida demais, quase translúcida, como se uma brisa pudesse derrubá-la. Sterling estava encostado em uma das paredes, segurando o celular. Seu rosto estava impassível, difícil de ler. Teresa, nervosa, tentou medir suas palavras: — Sterling, a Clarice está bem? Ele guardou o celular no bolso, sem mudar a expressão: — Ela está bem. Por dentro, Teresa amaldiçoava Clarice, mas manteve a voz doce e preocupada: — Você deveria ir para casa ficar com ela. Aqui tem médicos e enfermeiros, não precisa se preoc