Estar de quatro diante de um homem como Hansey, era, de fato, uma atitude um tanto quanto escandalosa. Waverly sentia em seus nervos.E foi sondando esse pensamento com afinco que ela de repente se deu conta.Hansey.Em sua mente, ele era Hansey. Simplesmente. Absolutamente Hansey. Waverly se negava apensar nele como Aaron. Até porque, por mais que olhasse, não conseguia ver nada do príncipe naquele espécime exótico masculino e bronzeado de temperamento volátil e perigoso. E o fato de estar de quatro perante ele só piorava a situação numa escala de graus e números.Porque não havia, definitivamente, nada de principesco nas órbitas esverdeadas daquele olhar sobre ela naquele dado momento.Nada, absolutamente nada.Sua mente, geralmente, lhe ofereceria o percentual de mais o menos vinte respostas diferentes e espirituosas para usar como desculpa para o fato de estar rastejando em baixo de um cortinado. E as probabilidades e variações numéricas de que algumas delas fossem convincentes er
― Tenha cuidado com suas escolhas de palavras, milady. Talvez eles acabem servindo também para assassinatos e omissão de corpos. Tudo exclusivo para ladys. ― ele murmurou os puxando para dentro de um cômodo, cujo teto altaneiro e brocado se erguia como uma abôbada em vergas arqueadas, vitrais coloridos e de formatos variados cobrindo o âmbito e criando um efeito claro e ao mesmo tempo colorido.A tapeçaria pesada das paredes era ornada com famosas pinturas provincianas, e a saleta estava infestada com esculturas de mármore e gesso em tamanho real, bustos de poetas enfeitando os alpendres e vasos de flores decorando o recinto, lhe rendendo um cheiro adocicado temperado com as notas rústicas dos materias dispostos pelo âmbito. Cinco janelões arcados se dispunham nas paredes dos fundos, arejando o espaço e deixando entrar leves seixos brilhantes de raios solares. Cortinas leves de matim davam voltas pela parte de cima delas num ar refinado.Ora, nem mesmo Waverly conhecia a coleção de es
Sua respiração descompassada pareceu empurrar os pulmões para o lado errado, o coração machucando a parede toráxia enquanto ela o observava se aproximar ainda mais, se agigantando em seu campo de visão e engolindo todo o resto num piscar de olhos. O mundo era apenas aquele par de olhos verde esmeralda e aquele furor masculino delineando cada um dos traços simétricos e sedutores daquele rosto, que não poderia ser comparado nem com o mais talentoso entalhe daquela sala. Eros, ao seu lado, parecia apenas uma peça amadora, esculpida pelas mãos de uma criança. E por trás de toda aquela natureza selvagem, sedutoramente primitiva e maligna, estava a altivez principesca que ela saberia, mesmo contra toda vontade, reconhecer em qualquer lugar. Um príncipe estava sempre ciente do poder ultrajante de sua presença.E um príncipe pirata parecia ser o resultado da soma perfeita entre as duas coisas.― Quarta coisa: ― ele repetiu, parando a apenas alguns centímetros dela, tão perto, que ela rapidame
Waverly tinha uma perfeita ideia de que a culpa deveria ser da lagosta.Ou melhor, do monstro exterminador com barbatanas que substituíu as lagostas."Oh! Kate irá me matar! ".Estava tão esporadicamente morta.Quando ela sugerira que a ceia principal da festa de aniversário de Kate fosse composta de cozidos do mar e arteletes feitos de vitelas e aves, ela logo soube que as lagostas seriam um autêntico problema. Ainda mais quando descobriu que a grande remessa que chegara há pouco da cabana de pescadores, havia sido levemente confundida, e uma frota de enguias aparentemente furiosas aportara na cozinha do castelo com a promessa de uma guerra sangrenta escorrendo em forma de baba pela beirada da boca encurvada. Não poderiam ter se confundido e enviado outros peixes? Siris, lulas... Até uma sereia ou um maldito tubarão!De repente, Waverly se arrependia amargamente de ter encomendado frotas de lagostas, contendo algumas mil ao todo.Quando as cozinheiras empalideceram, Waverly soube que
Waverly não recordava de ter corrido tanto em sua vida antes, tão pouco estava se esforçando em se parecer como uma dama. Mas como seu pai sempre dizia, "os fins justificam os meios".Não que ele não fosse enfartar se a visse naquele momento, segurando a saia acima dos joelhos e se portando como uma canibal velocista. Ou um coelho belga saltitante.Algo sobre aquilo tudo vinha estranho.Alladieren era simplesmente a nova e maior potência monárquica de força esmagadora e a menos vulnerável de todo o Império. O melhor exército desde que o príncipe Rhajaran e a princesa Khiera oficializaram matrimônio, unindo as duas terras e as transformando em algo que os Estreitos de Argel nunca viram antes, mesclando o armamento à arte e solidificando a visão de um novo mandato democrático que nunca funcionara tão bem. Desde quando a possibilidade de vencer um saque sobre o reino com essas características se fizera possível em algum momento? Havia algo sobre isso que ela houvesse perdido com o passar
Um enorme Galeão robusto e pesado, de estrutura imponente se erguia como um monstro negro na noite, suas fileiras e mais fileiras de velas ondulantes tremeluzindo orgulhosas contra as rajadas de vento, exibindo embevecido as indiscutíveis aberturas dos seus vinte e sete canhões, o castelo de proa criando uma rotunda inexplicavelmente extraordinária contra o azul petróleo escurecido do céu. Azeviche lustroso alisando cada pedaço do enorme e monstruoso navio negro. Ponteiras brilhantes de ouro puro decoravam as laterais da murada e da proa, cordames negros pendendo a estibordo e descendo até a terra. O nevoeiro branquicento rastejando ao seu redor e subindo por suas estruturas em uma reverente marcha lânguida.Um monstro.Um terrível e belo monstro rudimentar do mar.Era um claro limite onde a beleza se mesclava de forma indireta à monstruosidade barbárie.Waverly cristalizou por inteiro diante da visão, o coração ameaçando explodir contra a caixa toráxia enquanto engolia o pavor que ve
Waverly estava irredutivelmente perdida.Ela soube disso assim que vislumbrou o pirata à sua frente.E ele não era nada como ela achava que um pirata seria... foi a primeira coisa que lhe ocorreu quando teve certeza de que não despencaria para algum desmaio nos próximos segundos.A segunda, foi todo o resto.Ele era alto. Trajava uma espécie de fraque escuro aberto em V no peito, exibindo uma grossa corrente de prata repousada sob as linhas fundas de um peitoral esculpido e espantosamente definido, a cor da pele beirando o mel silvestre. Golas altas contornadas por lhama entrelaçada. As mangas levemente bufantes desciam até os pulsos, onde abotoaduras de jaspe brilhavam soturnas, um cinto grosso cruzava seu quadril estreito, que carregava uma linda espada dourada pendurada em um boldrié cravejado em rubis. As calças de couro eram lisas, suas pernas desaparecendo dentro de canos longos e lustrosos das botas negras. O punho entalhado de uma Arcabuz aparentemente cara se projetando por o
― Este foi um grande erro, sua pequena coisinha feroz.Waverly lutou, esperneou e chutou, mas a força do pirata era incrível. Ele logo deteve seus pulsos acima da cabeça sem muitas dificuldades enquanto pairava acima de si, uma nota clara de advertência cruzando seus olhos.― Eu não sou nenhuma coisinha! ― ela grunhiu enquanto tentava se libertar, se torcendo sobre o solo como uma minhoca acuada ― Ora, largue-me! Largue-me imediatamente! Seu... seu... seu pirata!Ele franziu o cenho enquanto a prendia mais firme, encerrando a luta de uma forma definitiva.― Isto deveria ter sido um insulto?Ela executou uma última tentativa de se libertar, mas o aperto de ferro em seus punhos era letal, e suas forças eram apenas cócegas no poder esmagador de todos aqueles músculos trabalhando juntos. Ela tentou não se ater muito sobre isso, especialmente porque todos estes músculos em questão estavam a poucos centímetros acima de si, nublando sua visão de uma forma bem desagradável.Ainda assim, ela p