RebeccaDesde o dia do chá com Anneliese, minha vida parecia ter ganhado uma nova cor. Passamos a conversar quase todos os dias, e sua energia contagiante fazia com que eu me sentisse menos sozinha. Ela era atenciosa de um jeito que eu não esperava, sempre perguntando sobre minhas aulas na escola de artes ou sobre como eu estava me adaptando à nova rotina. Era um alívio ter alguém com quem falar, alguém que parecia genuinamente interessada na minha felicidade.As aulas na escola também estavam me transformando. A cada pincelada ou exercício, sentia como se estivesse, finalmente, conectando-me com algo essencial. Pela primeira vez em muito tempo, a sensação de que a vida estava passando por mim deu lugar a um entusiasmo crescente. Era como se, pouco a pouco, eu estivesse construindo algo meu, um futuro que fizesse sentido.No fim de semana seguinte, Anneliese insistiu que eu conhecesse sua família. No começo, fiquei hesitante, mas ela era tão persistente e animada que acabou me conven
AaronAssim que Paolla entrou na sala, o ar pareceu congelar. Seus olhos passaram primeiro por Rebecca, fixando-se nela por um instante longo e carregado de tensão, antes de se voltarem para mim. Eu sabia que ela estava tentando entender o que estava acontecendo, mas sua expressão rapidamente mudou de confusão para algo muito mais ameaçador.— O que está acontecendo aqui? — Paolla perguntou, seu tom demonstrando toda a sua ira.Eu cerrei os punhos, tentando manter a calma, mas estava claro que uma guerra estava prestes a começar. E eu não estava disposto a recuar. Não agora, com Rebecca diante de mim e a verdade tão próxima de vir à tona. Por mais que soubesse que aquilo abalaria tudo — minha relação com minha família, minha posição na Baumann, e o equilíbrio que eu havia mantido por tanto tempo — não havia mais espaço para dúvidas. Eu precisava lutar por Rebecca.Paolla deu alguns passos firmes em minha direção, os olhos agora brilhando com um misto de raiva e desespero.— O que está
RebeccaApós a saída de Paolla da sala, o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Leonel me observava com uma expressão de desaprovação silenciosa, mas eu não me importava. Sua voz, grave e controlada, ecoou pela sala.— Aaron, venha comigo. Precisamos conversar. Agora. — Ele não estava pedindo; era uma ordem.Minha primeira reação foi recusar. Precisava falar com Rebecca, explicar tudo, tentar consertar o que ainda podia ser salvo.— Preciso resolver algo com Rebecca primeiro.Leonel estreitou os olhos, sua postura endurecendo ainda mais.— Resolver? — Ele deu um passo à frente, cada palavra carregada de desaprovação. — Você acabou de causar um escândalo na frente de toda a família. E agora acha que pode simplesmente sair e ignorar as consequências? Não tolero o comportamento de Paolla, mas o que você fez aqui é imperdoável.Senti minha raiva crescer, mas antes que eu pudesse dizer algo que piorasse a situação, Ettore interveio.— Aaron, talvez seja a hora de contar toda a verdade.
AaronLeonel me encarava com uma intensidade que fazia parecer que podia ver além das minhas palavras. Seus olhos não piscavam, e a tensão na sala era palpável. Quando ele finalmente quebrou o silêncio, sua voz saiu firme, como sempre, mas carregada de um peso que eu reconhecia: decepção.— Aaron, você tem certeza disso? Certeza dos seus sentimentos? E, mais importante, está absolutamente certo de sua separação de Paolla?Respirei fundo, sentindo o peso da pergunta, mas minha resposta veio sem hesitação.— Sim, vovô. Nunca estive tão certo em toda a minha vida. Mesmo que Rebecca não me queira, mesmo que isso termine sem nós dois juntos, não há a menor chance de eu voltar para Paolla.Busquei o olhar da minha avó, procurando por compreensão e ela me olhava com algo que parecia um misto de curiosidade e preocupação. Leonel, porém, continuava me observando com uma expressão severa. Ele então virou-se para Rebecca, sua postura endurecendo.— E você, Rebecca... — Ele fez uma pausa, e sua v
Leonel BaumannConvidei meus netos e Ettore para um jantar na mansão. Já era hora de decidir o futuro das Indústrias Baumann, e eu precisava de todos presentes para essa ocasião. Berenice, minha querida esposa, estava ao meu lado, lançando-me olhares de apoio. A sala de jantar, com seu lustre imponente e móveis antigos, estava preparada para uma noite memorável.Enquanto nos acomodamos à mesa, observei os rostos tensos dos meus netos. Aaron, com sua postura rígida e terno impecável, claramente estava à espera de algo importante. Paola, ao seu lado, tentava disfarçar sua ansiedade, mas o brilho em seus olhos a traía. Axel, sempre desconfiado, mantinha uma expressão cerrada, enquanto Anton, despreocupado, mexia no telefone e Annelise ria de algo que ele disse.Ettore, filho de um antigo funcionário falecido e meu homem de confiança, estava presente também. Para mim, ele é como um filho. Suas ações sempre foram pautadas pela lealdade e integridade, algo raro nos dias de hoje.O jantar tr
AaronVi meu avô sair da sala com passos firmes, deixando para trás um misto de incredulidade e choque em nossos rostos. Não era possível que ele realmente estivesse impondo tal condição para passar o controle das Indústrias Baumann. Um bisneto? Era isso que ele queria em troca do poder?Olhei para Paola, minha esposa, sentada ao meu lado. Ela estava linda como sempre, sua postura perfeita e seu rosto inexpressivo. Paola sempre foi a esposa troféu ideal, vinda de uma família tradicional paulistana. Elegante, educada, exatamente o que eu precisava para manter as aparências. Mas filhos? Esse era um assunto que nunca tínhamos discutido seriamente.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Axel se dirigiu ao luxuoso bar no canto da sala. Pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de uma dose generosa.— Alguém mais quer? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo e desdém. Ele nos olhou, sabendo que as chances de aceitar sua oferta eram poucas.Annelise foi a primeira a se levantar, ain
RebeccaDeixar minha cidade natal não foi uma decisão fácil, mas foi necessário. Minha paixão pela pintura sempre foi uma constante em minha vida. Meus pais, devotos fervorosos de uma vida simples e religiosa, nunca compreenderam essa paixão. Para eles, minha arte era uma distração tola."Você precisa se concentrar nas coisas importantes, Rebecca. Deus tem planos para você, mas a pintura não é um deles," meu pai dizia sempre, seu tom severo e inflexível. Minha mãe, embora mais compreensiva, também não conseguia enxergar além do horizonte limitado da nossa pequena cidade no interior de São Paulo.Quando finalmente tomei a decisão de ir embora, estava assustada, mas determinada. Juntei todas as minhas economias, coloquei minhas poucas roupas e meus materiais de pintura em uma mochila e deixei uma carta para meus pais, explicando minha partida. Peguei o primeiro ônibus para São Paulo, minha cabeça cheia de planos e expectativas. Quando finalmente desci na estação de metrô mais moviment
AaronNão consigo acreditar no que estou prestes a fazer. Meu coração bate descompassado dentro do peito, uma mistura de excitação e nervosismo. Mas não vou recuar. Tenho um objetivo em mente e farei qualquer coisa para alcançá-lo.Chego ao apartamento indicado por Eric e paro em frente ao número na porta. Demoro um momento antes de tocar a campainha, meu dedo hesitante sobre o botão. Mas logo decidi seguir em frente. Não há espaço para dúvidas agora. Preciso concluir isso o mais rápido possível.A porta se abre lentamente e Eric está lá, com um sorriso de satisfação no rosto, totalmente impróprio para o momento. Ele me dá um aceno de cabeça e me deixa entrar, fechando a porta atrás de mim.— Que bom que chegou. Pensei que tinha desistido. Eu permaneço no mesmo lugar e deixo-lhe saber os meus pensamentos.— Confesso que essa ideia passou pela minha cabeça — Digo, sentindo a tensão aumentar sobre os meus ombros.— Mentalize aquela velha e importante frase de Maquiavel: Os fins justifi