~BERNARDO~Assim que entramos na sala, meu pai me lançou um olhar firme, cheio de desaprovação, e eu já sabia que o confronto era inevitável. Fechei a porta atrás de mim, o som ecoando pela sala, e por um breve instante, ficamos em silêncio. Era a calma traiçoeira que antecede o choque, onde ambos aguardávamos o primeiro movimento.— Você perdeu completamente o juízo, Bernardo? — Ele explodiu, sua voz reverberando pelas paredes da sala. Ele avançou alguns passos, aproximando-se de mim com um olhar que misturava frustração e decepção. — Recebi a notícia de que você abdicou do cargo de CEO, e não foi por você, mas por Valentina ao me convocar para essa reunião ridícula. Você tem ideia da humilhação que me fez passar?Mantive-me firme, cruzando os braços como se isso pudesse me proteger do peso de suas palavras. Eu sabia que isso viria, mas queria que ele falasse tudo o que tinha para dizer antes de eu me defender.— Você tiraria o cargo de mim mais cedo ou mais tarde — retruquei, minha
Bernardo chegou em casa com uma expressão tensa e preocupada, que logo chamou minha atenção. Eu estava no terraço, aproveitando o sol, tentando relaxar um pouco após dias tão intensos — e eu precisava admitir... era fácil me acostumar ao lado bom do que a vida de gente rica tinha a oferecer. Ao vê-lo, levantei os óculos escuros e o observei com preocupação. Algo sério havia acontecido na empresa, eu sabia disso pelo modo como ele fechou a porta com um suspiro pesado.Ele caminhou até o bar, pegando duas taças de cristal e uma garrafa de vinho que eu abrira mais cedo. Sem dizer uma palavra, serviu as bebidas e trouxe uma para mim, sentando-se ao meu lado na espreguiçadeira. Eu não pressionei, apenas esperei, sabendo que ele precisava de um momento para organizar seus pensamentos.— Foi horrível — disse ele finalmente, entregando-me a taça e bebendo a sua com um gole longo. — Meu pai apareceu lá e… foi pior do que eu esperava.Eu me aproximei mais, tocando seu braço suavemente em um ges
O som abafado dos meus passos ecoava pelo corredor do hospital, misturando-se com o ruído distante dos monitores e o burburinho contínuo das conversas entre médicos e enfermeiros. Eu estava a caminho da sala do Dr. Mendes, o chefe da minha residência, e meu coração batia com um pouco mais de força do que o habitual. Não era a primeira vez que me encontrava em seu escritório, mas desta vez algo parecia diferente. Talvez fosse o fato de que, nas últimas semanas, minha vida tinha virado de cabeça para baixo, e eu sentia que esse encontro poderia definir o futuro da minha carreira.Entrei na sala após uma leve batida na porta e encontrei o Dr. Mendes sentado atrás de sua mesa, os olhos sérios por trás dos óculos. Ele acenou para que eu me sentasse e, por um momento, apenas me observou, como se estivesse tentando medir minha determinação ou talvez minha resistência.— Alice — começou ele, sua voz grave e firme. — Eu queria falar com você sobre a sua submissão para o congresso em Londres.M
Quando entrei na sala indicada por Fabrício e me deparei com Marisa, aquela mulher snobe que sempre me olhava como se eu fosse inferior, o ambiente pareceu mudar de forma imediata. O ar ficou mais pesado, quase sufocante, e havia algo na maneira como ela me encarou que fez meu estômago dar um nó. A atmosfera carregada se intensificou, e, por mais que eu tentasse manter a compostura, um arrepio indesejado percorreu minha espinha, alertando-me de que aquela conversa não seria nada fácil. Não que qualquer outra conversa que já tive com ela tivesse sido fácil.Marisa, com sua postura elegante e imponente, caminhou até mim. Ela tinha um ar de superioridade, quase como se estivesse no comando de tudo o que acontecia ao seu redor. Eu estava preparada para qualquer coisa, mas o que veio a seguir me pegou desprevenida.— Alice, precisamos conversar — disse ela, a voz baixa, mas firme, sem um vestígio de gentileza.— Acredito que sim, ou você não teria vindo até aqui sem precisar de nenhuma aju
~BERNARDO~Os dias em casa se arrastavam, e a sensação de inutilidade começava a me corroer por dentro. Eu, que sempre fui uma pessoa ativa, com um plano para cada situação, agora me via preso em um ciclo interminável de tédio e frustração. Cada manhã parecia uma cópia da anterior, e a ausência do meu cargo na Orsini Tech deixava um vazio que eu não sabia como preencher. Não tinha passado por uma situação como essa. Até as minhas férias costumavam ser bem planejadas e limitadas. Para falar a verdade, eu nem me lembrava de quando tinha tirado férias pela última vez.Lembrei-me de como Alice se sentiu durante o tempo em que esteve afastada do hospital. Ela ficava inquieta, tentando preencher seu tempo com atividades que não a satisfaziam. Agora, eu estava experimentando exatamente o mesmo sentimento. O que me incomodava era a falta de um caminho claro para retornar ao que considerava meu lugar. Eu não queria admitir, mas sentia que estava perdendo o controle da minha própria vida.Renat
Acordei com a melodia suave de Here Comes the Sun envolvendo o quarto, as notas da música pareciam dançar no ar enquanto as cortinas se abriam automaticamente, permitindo que os primeiros raios de sol invadissem o ambiente com uma luminosidade acolhedora. Um calor reconfortante se espalhou pelo meu corpo, e não pude evitar soltar uma gargalhada, o som alegre reverberando nas paredes. Ao meu lado, Bernardo se mexeu, seu riso suave acompanhando o meu. Ele estava deitado, os cabelos ligeiramente bagunçados e um sorriso preguiçoso estampado no rosto, como se o simples fato de estarmos ali juntos tornasse a manhã perfeita.— Bom dia, amor — murmurou ele, os olhos ainda semicerrados, mas brilhando com uma alegria tranquila.— Oi, meu amor — respondi, sentindo meu coração aquecer ainda mais ao vê-lo tão relaxado e em paz.O ambiente estava tão sereno que parecia impossível que qualquer preocupação pudesse nos alcançar ali.— Entrando no clima da Inglaterra? — perguntei, ainda rindo, enquanto
Acordei com a sensação familiar dos lábios de Bernardo roçando meu pescoço, enviando um arrepio agradável por todo o meu corpo. O calor do seu toque me fez sorrir, ainda meio adormecida, e instintivamente inclinei meu corpo para mais perto do dele, pressionando-me contra seu peito e provocando-o de forma deliberada. Seus braços fortes me envolveram, e senti suas mãos deslizarem suavemente pelas minhas costas, explorando cada curva com uma familiaridade que só fazia aumentar o desejo entre nós. Bernardo soltou um suspiro entrecortado, que soou como um misto de desejo e resignação.— Eu adoraria fazer isso agora — ele murmurou, a voz baixa e rouca, enquanto seus lábios se aproximavam perigosamente dos meus —, mas precisamos nos apressar se não quisermos perder o voo.Abri os olhos, ainda confusa, e virei o rosto para olhá-lo. O brilho malicioso em seus olhos contrastava com a seriedade de suas palavras.— O voo não era só à noite? — perguntei, ainda tentando entender por que ele estava
Imediatamente, meu instinto falou mais alto. Sem pensar duas vezes, levantei-me da cadeira e corri na direção da confusão que se formava na outra extremidade da sala de espera. Bernardo, que estava ao meu lado, soltou uma risada suave e comentou:— Igualzinho nos filmes.Eu sorri de volta para ele, uma mistura de nervosismo e adrenalina pulsando em minhas veias, antes de me dirigir à situação. Ao me aproximar, vi um senhor de idade deitado no chão, inconsciente. Ao redor, as pessoas observavam, algumas ansiosas, outras em pânico, mas todas sem saber como agir.— Sou médica — anunciei, com a voz mais firme do que me sentia por dentro, enquanto as pessoas ao redor rapidamente se afastavam para me dar espaço.Ajoelhei-me ao lado do homem e comecei uma avaliação rápida. Sua pele estava pálida e fria ao toque, e ele não respondia a estímulos. Seus sinais vitais estavam quase inexistentes, a respiração era superficial e entrecortada, e eu não consegui detectar nenhum pulso palpável. Meu cor