~BERNARDO~Os dias se arrastaram em uma sequência monótona e desgastante. A rotina na Orsini Tech estava cada vez mais difícil de suportar. A pressão que antes era gerenciável, agora parecia sufocante. Eu estava sendo atacado de todos os lados de forma velada — pequenas sabotagens, rumores maliciosos, decisões importantes sendo tomadas sem o meu conhecimento. Valentina continuava a pressionar para que a auditoria fosse iniciada, tentando minar minha autoridade com o conselho, enquanto eu tentava, discretamente, descobrir mais sobre seus planos.Contratei um investigador particular para ver se conseguia descobrir algo antes de ser atingido novamente. Até agora, os resultados foram vagos, mas já era evidente que Valentina não estava agindo sozinha. Seus aliados estavam bem posicionados dentro da empresa, e suas jogadas eram cuidadosas, o que tornava difícil encontrar algo que pudesse derrubá-la.No entanto, esse não era meu único fardo. Alice também estava passando por um inferno partic
O domingo se arrastava em um ritmo lento e quase entediante no Mercy Hospital. O som dos passos ecoava pelos corredores praticamente vazios, e o silêncio reinava nas áreas de descanso. A atmosfera ali era completamente diferente do que eu estava acostumada no São Lucas, onde o caos geralmente se instalava nos finais de semana. Aqui, tudo parecia calmo demais, quase surreal para um hospital. Por um lado, era um alívio não ter que lidar com a pressão constante de casos críticos, mas, por outro, essa calmaria me deixava com tempo demais para pensar.E pensar era a última coisa que eu queria fazer.Estava na sala de descanso, olhando para a janela que dava para o estacionamento vazio, e não conseguia evitar as comparações. No São Lucas, certamente haveria uma fila de ambulâncias, enfermeiros correndo para lá e para cá, e eu estaria completamente imersa em algum procedimento complicado, sem tempo para respirar, quem dirá para pensar. Aqui, no entanto, o tédio parecia se infiltrar nas pared
~BERNARDO~Voltar ao São Lucas não era exatamente o que eu chamaria de algo agradável, mas eu sabia que era necessário. O hospital tinha um ar familiar, com o cheiro característico de antisséptico no ar e as luzes brancas refletindo nas paredes limpas. Eu nunca estive ali para algo tão pessoal, mas, naquele dia, minha presença ali era por uma razão inegavelmente importante. Clarice tinha me pedido para estar com ela durante o ultrassom, e por mais que a situação fosse complicada, eu sabia que precisava estar lá. O bebê que ela carregava, afinal, era meu filho.Assim que entrei na sala de espera, a vi sentada em uma das poltronas de couro, mexendo freneticamente em seu celular. Seus olhos se ergueram assim que notaram minha presença, e um sorriso suave e caloroso apareceu em seu rosto. Ela parecia aliviada por me ver.— Que bom que você veio — disse ela, levantando-se com um movimento fluido e se aproximando de mim. Havia um leve toque de gratidão em seu tom, que não passou despercebid
O dia no hospital havia sido mais desgastante do que o normal. Não por causa da carga de trabalho, mas pelas dores nas mãos, que estavam se tornando mais frequentes e difíceis de ignorar. Cada pontada parecia um lembrete cruel de que algo estava errado, um lembrete que eu preferia enterrar no fundo da mente.Hoje, fui além do que estava disposta a admitir para qualquer um. Quando fui escalada para uma cirurgia no início da tarde, inventei uma desculpa e pedi para ser retirada da equipe. O medo de ter uma crise durante o procedimento e colocar a vida do paciente em risco era maior do que eu queria admitir. Dizer que estava "um pouco indisposta" soou falso até para mim, mas era melhor do que ter que enfrentar o que realmente estava acontecendo.Cheguei em casa sentindo o peso do dia nos ombros. Passei pela sala de estar, meus passos ecoando suavemente sobre o piso de mármore, e segui em direção ao terraço, onde a luz suave do fim da tarde iluminava o espaço de forma acolhedora. Assim qu
Encontrar um horário que funcionasse para mim e Jonas foi mais difícil do que eu imaginava. Nossos plantões não coincidiam facilmente, mas, no final das contas, consegui marcar um café com ele. Eu tinha a sensação de que ele fez um esforço extra para isso acontecer, e, por mais que estivesse relutante, sabia que essa conversa precisava acontecer.Quando o vi entrando na cafeteria, um misto de estranheza e familiaridade me invadiu. Era curioso como alguém que tinha sido parte tão presente da minha vida, alguém que eu via todos os dias, agora parecia uma figura quase distante. Já não havia qualquer resquício de sentimento amoroso da minha parte, e a mágoa por ele ter me beijado à força, além das coisas que ele dizia sobre Bernardo me abandonar, ainda pairava no ar. Mas, apesar de tudo, era inegável que ele tinha um espaço na minha história. E se havia uma chance de manter as coisas o mais amigável possível, eu estava disposta a tentar.Jonas sorriu de forma contida ao me ver e se aproxi
~BERNARDO~Aquela semana estava repleta de compromissos, e a verdade era que eu mal conseguia me concentrar em qualquer outra coisa que não fossem as audiências que tinha pela frente. A primeira, focada na regulamentação da pensão gravídica de Clarice, tinha sido surpreendentemente tranquila. Tanto eu quanto ela concordamos rapidamente com o valor estipulado pela juíza, e foi com um alívio inesperado que saímos de lá, já com o exame de DNA agendado para quando a obstetra desse a autorização. Tudo estava se encaminhando conforme o esperado.Mas era a segunda audiência, marcada para mais tarde naquele dia, que realmente me incomodava. Desde que acordei naquela manhã, um peso constante se aninhou no meu peito, e a culpa se misturava com a ansiedade em um turbilhão que eu não conseguia controlar.Alice, claro, notou. Assim que saímos de casa juntos, ela perguntou se eu tinha certeza de que ela não precisava ir. Eu, mantendo a calma, garanti que não. Afinal, era apenas uma audiência prelim
A rotina de um dia de trabalho começava como qualquer outra. Eu estava no hospital cedo, o café da manhã ainda fresco na minha mente enquanto eu revisava os prontuários dos pacientes. Uma cirurgia eletiva estava agendada para aquela manhã, e para mim, esse tipo de procedimento não era incomum. Já havia realizado operações muito mais complicadas ao longo da minha carreira, mas havia uma inquietação no fundo da minha mente que eu não conseguia ignorar.Enquanto revisava os detalhes do caso, sentada na sala de descanso dos médicos, meus pensamentos se dividiam entre a operação e as dores intermitentes que sentia nas mãos. Hoje, as dores não passavam de pequenas pontadas, nada que eu não tivesse sentido antes, mas o medo que elas carregavam era o que realmente me consumia. Ignorar os sintomas tinha sido minha estratégia até então, mas agora, com a cirurgia se aproximando, a ansiedade começou a se instalar.Coloquei meu jaleco, ajustei as luvas, e me preparei mentalmente para entrar na sal
~BERNARDO~Eu já deveria ter saído para trabalhar, mas algo dentro de mim me impedia de deixar o apartamento naquela manhã. Então, pedi que Cláudia reorganizasse minha agenda e fiquei esperando por Alice. Devido ao seu plantão, ela ainda não tinha voltado para casa quando acordei, e o pensamento de ter que encarar mais um dia na Orsini, sabendo de tudo o que estava acontecendo, me deixou inquieto. Decidi que não podia esperar mais para conversar com ela. Precisávamos tirar todos os segredos do caminho, antes que eles nos consumissem por completo.Quando Alice finalmente chegou, parecia exausta. O cansaço estava estampado em seu rosto, seus movimentos eram lentos e pesados. Ela murmurou alguma coisa e me deu um beijinho enquanto se dirigia diretamente para o banheiro. Fiquei ali, sentado na cama, esperando, meu coração batendo mais rápido a cada segundo que passava. Tinha passado a noite remoendo o encontro com Lúcia, e a culpa por ter mantido isso em segredo estava me corroendo.Alice