O que aconteceu poderia parecer corriqueiro, mas o fato de Théo ter passado o dia inteiro fora, acompanhando Amara de maneira tão obediente, era algo extraordinário. Nenhuma outra pessoa havia conseguido isso, nem mesmo o doutor da família, nem o psicólogo de Théo há anos.Durante muito tempo, todos acreditaram que Théo havia atingido seu limite, sendo capaz apenas de se comunicar com palavras simples. Mas os dois beijos espontâneos que ele deu hoje foram uma revelação surpreendente.Havia esperança para sua recuperação. Talvez um dia ele voltasse a ser uma criança comum, risonha, capaz de criar laços afetivos profundos com sua família. Talvez um dia ele falasse novamente...A chave para tudo isso parecia ser justamente aquela mulher que, no início, todos temiam que pudesse machucá-lo: Amara.Desde o início, tanto Madalena Kléo quanto o ancião mestre, os pais de Pitter, foram fortemente contra essa aproximação. Isso contribuiu para a delicada situação atual.O velho Riddel observava o
Quando Amara estava prestes a sair, Madalena Kléo percebeu que o velho ancião permanecia em silêncio, com uma expressão fria no rosto.Pitter se levantou e caminhou até Théo, pegando-o no colo e levando-o até Amara:— Vá acompanhar a tia Amara até a saída.Théo assentiu com a cabeça e segurou a mão de Amara.Ela lançou um olhar de gratidão a Pitter e, com seu coque levemente desfeito, saiu em direção ao pátio.O velho ancião fez menção de se levantar, mas Madalena Kléo o impediu com um gesto delicado. Ela balançou a cabeça e murmurou:— Deixe-os... Ele só está se despedindo dela.A expressão dele ainda era infeliz, mas ele cedeu, mesmo contrariado.Amara e Théo seguiram juntos por um curto caminho de seixos verdes, que levava cerca de dez minutos até o portão do pátio. Durante o trajeto, Amara buscava palavras que pudessem confortar o pequeno garoto, mas nada lhe parecia suficiente.Théo caminhava com o rosto abaixado, recusando-se a erguer os olhos.Após algum tempo, ele pegou seu qu
Ao mesmo tempo, na mansão da família Riddel, no Diamantina Palace.Amara estava parada à porta, conversando com a empregada Bela, suplicando com um sorriso desconcertado nos lábios.— Minha querida e doce bela, por favor, deixe-me entrar! Eu juro que vou embora assim que pegar minha bagagem! — implorou Amara, juntando as palmas das mãos, num gesto de súplica.Mais cedo, ao sair da antiga residência, ela pensou em aproveitar a folga de meio dia que conseguira com a equipe do teatro para buscar os pertences que havia deixado no residencial do CEO Pitter.Três meses não pareciam muito, mas, sem perceber, ela acabara levando quase tudo para aquele lugar. Durante esse tempo, sempre que precisava de algo com urgência, mas não podia vir buscá-lo, a frustração era grande.Claro, havia um motivo ainda mais importante: ela sabia que o grande gênio, Pitter, estaria na antiga residência — e não na segunda casa, o residencial. Então, aproveitou a chance para vir discretamente até ali.O que não es
Os olhos de Amara encontraram os olhos escuros e intensos do homem diante dela. Ela parou, hesitante, o medo e a incerteza travando seus passos, como se algo invisível a impedisse de se aproximar.Pitter acendeu um cigarro com movimentos calculados e se recostou à porta, relaxando o corpo aos poucos. O gesto, ainda que contido, fez com que o clima ali suavizasse um pouco. Só então Amara sentiu coragem suficiente para avançar alguns passos.Mas o que ela fez foi o oposto. Passou por Pitter com uma velocidade impressionante — “swoosh” — deixando para trás apenas sua sombra, como se fosse uma mestra de artes marciais num drama de ação.No centro do quarto, Amara permaneceu parada por um instante, atônita.Nada ali havia mudado.Revistas de moda estavam espalhadas sobre a cama de maneira caótica, o tapete de ioga ainda enrolado, largado de lado, o lápis de sobrancelha que ela deixara cair dias atrás permanecia no mesmo lugar, com a ponta quebrada posicionada exatamente como antes…A cena
O calor parecia incinerar cada célula do corpo de Amara. Era um incêndio interno, ardente como lava, e a única chance de alívio estava no toque do homem à sua frente...Instintivamente, seus dedos se agarraram à pele fria e marmórea. A sobrevivência falava mais alto, eliminando qualquer resistência. A dor misturava-se ao prazer, crescendo devagar, intensificando-se como fogos de artifício iluminando o céu noturno de sua mente. Era como estar à deriva em um mar escaldante, subindo e descendo sem controle, completamente incapaz de escapar.“Ei, acorde... Está frio aqui, você pode pegar um resfriado.”Um toque em seu ombro fez Amara abrir os olhos ligeiramente. O olhar preocupado da enfermeira trouxe-a de volta à realidade. Ainda desorientada, ela sentiu o calor ruborizar seu rosto, como se tivesse sido pega em flagrante.Droga. Mesmo depois de tanto tempo, aquela noite, cheia de calor e descontrole com Asllan, continuava invadindo seus sonhos.Por estar bêbada a ponto de perder a consci
Cinco anos se passaram.No bar Eton, em um corredor isolado no último andar, Amara estava com a cabeça latejando após horas acompanhando alguns investidores. Procurando um lugar tranquilo para se recompor, ela encontrou um canto discreto. Porém, antes que pudesse relaxar, ouviu os passos determinados de Pillar, sua empresária, que a seguira até ali.Amara respirou fundo, reunindo energia para encará-la.– Pillar, o que você quer? – perguntou, visivelmente cansada.– Amara, deixe-me ser direta: você se inscreveu para o teste do papel principal feminino em Se Amar nas Estrelas? – Pillar cruzou os braços, a expressão carregada.– Sim. E daí? – respondeu Amara, erguendo uma sobrancelha.– Você não tem permissão para ir amanhã! – Pillar declarou com firmeza.Embora soubesse que deveria se surpreender, Amara apenas sorriu de leve.– E qual seria o motivo?– Agiu pelas minhas costas! Como sua empresária, eu já havia providenciado para Melissa fazer o teste.– Isso não impede minha inscrição,
Na sala de recepção do Eton Bar, o ambiente era sufocante.O chefe do bar, gerentes, seguranças e todos os funcionários relacionados estavam alinhados, com os rostos tomados pelo pavor. A tensão era palpável, pois o pequeno príncipe da Família Rideel, o precioso filho de Pitter Rideel, havia desaparecido dentro do estabelecimento.Sentado no sofá, Pitter permanecia impassível, com o rosto tão frio quanto mármore. Não demonstrava emoção alguma, mas a autoridade que exalava parecia sufocar todos na sala. As pernas de alguns tremiam visivelmente, e o suor escorria de seus rostos, como se estivessem à beira de um julgamento final.Diante dele, ajoelhado, estava Pietro, o irmão mais novo de Pitter, que chorava desesperadamente: — Irmão! Me perdoe! Foi culpa minha! Eu não deveria ter levado Pequeno Théo para um bar! Se algo acontecer com ele, eu não me perdoarei!Mal terminou de falar e Pitter desferiu um chute certeiro contra seu peito.O som do impacto ecoou, seguido de um leve estalo. Os
Pitter observava Amara atentamente, seu olhar fixo parecia querer penetrar na mente dela, como se buscasse a verdade por trás de sua surpresa. Ele analisava cada traço do rosto dela, tentando entender se o espanto era genuíno ou uma farsa bem elaborada.Depois de um longo momento de silêncio, parecia que ele finalmente acreditava que Amara não tinha ideia da identidade de Théo. Sua voz soou fria, como se fosse esculpida em gelo:— Faça seu pedido.— Pedido? Que pedido? — Amara franziu o cenho, confusa.— Meu irmão quer agradecer por salvar Théo. Ele está pedindo que você declare seu pedido! — Pietro Riddel respondeu com uma expressão animada, como se tivesse acabado de encontrar um tesouro perdido.Amara processou rapidamente as palavras. Cautelosa, ela respondeu:— Vocês realmente não precisam me agradecer. É verdade que salvei o Théo, mas ele também me salvou. Se não fosse por ele saindo para buscar ajuda, eu ainda estaria presa lá. Podemos considerar que estamos quites.Ela sabia q