Talvez fosse porque ela havia reprimido seus sentimentos por tempo demais. Mesmo com o pequeno ao seu lado — e sabendo que não deveria agir daquela forma, pois poderia assustá-lo — Amara simplesmente não conseguiu mais se conter...O pequeno tesouro, Théo, sentou-se na cabeceira da cama, observando Amara chorar com o rosto afundado no travesseiro. Ele ficou paralisado, com os olhinhos arregalados, sem saber o que fazer diante daquele desespero.Passado algum tempo, ele estendeu sua pequena mão e tentou repetir o gesto que ela costumava fazer quando queria consolá-lo: deu um leve tapinha no ombro dela.No entanto, ao sentir o toque do menino, Amara começou a chorar ainda mais forte.Théo se assustou. Encolheu os ombros e não ousou tentar mais nada que pudesse piorar a situação.Os olhinhos dele, cheios de preocupação, acompanhavam os soluços profundos de Amara. Lentamente, seus olhos começaram a lacrimejar também, com um nó na garganta e uma enorme vontade de chorar junto.Mas ele não
— Mano! — Pietro exclamou, chocado. — Você está bem?!O velho mestre olhou para o filho mais novo, sem conseguir reagir de imediato. Desde pequenos, Pietro levava broncas e castigos constantes, mas essa foi a primeira vez que ele viu seu filho mais velho, Pitter, ferido de forma tão grave — alguém que sempre fora considerado imperturbável, quase inalcançável.Com uma expressão fria e implacável, Pitter limpou o sangue do canto da boca com as costas da mão e respondeu:— Prefiro que Théo tivesse morrido naquele acidente a vê-lo viver da forma como está vivendo agora.— Você... você... — O velho ancião levou as mãos ao peito e deu alguns passos cambaleantes para trás, visivelmente abalado com a provocação do filho.Madalena Kléo correu até ele para ampará-lo. — Pitter, você passou dos limites! Mesmo que seu pai e eu tenhamos errado na maneira como lidamos com as coisas, você não pode dizer essas barbaridades! O que é mais importante do que estar vivo?Quando o velho finalmente recuperou
— Irmão! É melhor você me contar honestamente — foi você quem ensinou esse truque ao Théo? Você planejou tudo desde o começo, só esperando o momento certo? Nossa! Já que tudo foi arquitetado com antecedência, podia ter me avisado! Eu estava morrendo de medo antes! — disse Pietro, enxugando o suor da testa, aliviado.Pitter olhou calmamente para o irmão, que ainda parecia assustado, e explicou:— O seu rosto teria entregado tudo. Se o pai percebesse que Théo foi instruído, isso só teria piorado a opinião que ele já tem sobre Amara.— Uhh... meu rosto é tão expressivo assim? — Pietro perguntou, surpreso.O irmão tinha razão, ele não tinha nenhum argumento de defesa...No entanto, assim que o clima tenso passou, Pietro rapidamente retomou sua energia habitual e riu animado:— Mano, você viu a cara dos nossos pais mais cedo? Foi hilário! O velho estava radiante, mas tentou parecer indiferente. E a mãe? Puxou Amara direto para dentro de casa. A cara dela estava impagável!Ele se lembrou da
O que aconteceu poderia parecer corriqueiro, mas o fato de Théo ter passado o dia inteiro fora, acompanhando Amara de maneira tão obediente, era algo extraordinário. Nenhuma outra pessoa havia conseguido isso, nem mesmo o doutor da família, nem o psicólogo de Théo há anos.Durante muito tempo, todos acreditaram que Théo havia atingido seu limite, sendo capaz apenas de se comunicar com palavras simples. Mas os dois beijos espontâneos que ele deu hoje foram uma revelação surpreendente.Havia esperança para sua recuperação. Talvez um dia ele voltasse a ser uma criança comum, risonha, capaz de criar laços afetivos profundos com sua família. Talvez um dia ele falasse novamente...A chave para tudo isso parecia ser justamente aquela mulher que, no início, todos temiam que pudesse machucá-lo: Amara.Desde o início, tanto Madalena Kléo quanto o ancião mestre, os pais de Pitter, foram fortemente contra essa aproximação. Isso contribuiu para a delicada situação atual.O velho Riddel observava o
Quando Amara estava prestes a sair, Madalena Kléo percebeu que o velho ancião permanecia em silêncio, com uma expressão fria no rosto.Pitter se levantou e caminhou até Théo, pegando-o no colo e levando-o até Amara:— Vá acompanhar a tia Amara até a saída.Théo assentiu com a cabeça e segurou a mão de Amara.Ela lançou um olhar de gratidão a Pitter e, com seu coque levemente desfeito, saiu em direção ao pátio.O velho ancião fez menção de se levantar, mas Madalena Kléo o impediu com um gesto delicado. Ela balançou a cabeça e murmurou:— Deixe-os... Ele só está se despedindo dela.A expressão dele ainda era infeliz, mas ele cedeu, mesmo contrariado.Amara e Théo seguiram juntos por um curto caminho de seixos verdes, que levava cerca de dez minutos até o portão do pátio. Durante o trajeto, Amara buscava palavras que pudessem confortar o pequeno garoto, mas nada lhe parecia suficiente.Théo caminhava com o rosto abaixado, recusando-se a erguer os olhos.Após algum tempo, ele pegou seu qu
Ao mesmo tempo, na mansão da família Riddel, no Diamantina Palace.Amara estava parada à porta, conversando com a empregada Bela, suplicando com um sorriso desconcertado nos lábios.— Minha querida e doce bela, por favor, deixe-me entrar! Eu juro que vou embora assim que pegar minha bagagem! — implorou Amara, juntando as palmas das mãos, num gesto de súplica.Mais cedo, ao sair da antiga residência, ela pensou em aproveitar a folga de meio dia que conseguira com a equipe do teatro para buscar os pertences que havia deixado no residencial do CEO Pitter.Três meses não pareciam muito, mas, sem perceber, ela acabara levando quase tudo para aquele lugar. Durante esse tempo, sempre que precisava de algo com urgência, mas não podia vir buscá-lo, a frustração era grande.Claro, havia um motivo ainda mais importante: ela sabia que o grande gênio, Pitter, estaria na antiga residência — e não na segunda casa, o residencial. Então, aproveitou a chance para vir discretamente até ali.O que não es
Os olhos de Amara encontraram os olhos escuros e intensos do homem diante dela. Ela parou, hesitante, o medo e a incerteza travando seus passos, como se algo invisível a impedisse de se aproximar.Pitter acendeu um cigarro com movimentos calculados e se recostou à porta, relaxando o corpo aos poucos. O gesto, ainda que contido, fez com que o clima ali suavizasse um pouco. Só então Amara sentiu coragem suficiente para avançar alguns passos.Mas o que ela fez foi o oposto. Passou por Pitter com uma velocidade impressionante — “swoosh” — deixando para trás apenas sua sombra, como se fosse uma mestra de artes marciais num drama de ação.No centro do quarto, Amara permaneceu parada por um instante, atônita.Nada ali havia mudado.Revistas de moda estavam espalhadas sobre a cama de maneira caótica, o tapete de ioga ainda enrolado, largado de lado, o lápis de sobrancelha que ela deixara cair dias atrás permanecia no mesmo lugar, com a ponta quebrada posicionada exatamente como antes…A cena
O calor parecia incinerar cada célula do corpo de Amara. Era um incêndio interno, ardente como lava, e a única chance de alívio estava no toque do homem à sua frente...Instintivamente, seus dedos se agarraram à pele fria e marmórea. A sobrevivência falava mais alto, eliminando qualquer resistência. A dor misturava-se ao prazer, crescendo devagar, intensificando-se como fogos de artifício iluminando o céu noturno de sua mente. Era como estar à deriva em um mar escaldante, subindo e descendo sem controle, completamente incapaz de escapar.“Ei, acorde... Está frio aqui, você pode pegar um resfriado.”Um toque em seu ombro fez Amara abrir os olhos ligeiramente. O olhar preocupado da enfermeira trouxe-a de volta à realidade. Ainda desorientada, ela sentiu o calor ruborizar seu rosto, como se tivesse sido pega em flagrante.Droga. Mesmo depois de tanto tempo, aquela noite, cheia de calor e descontrole com Asllan, continuava invadindo seus sonhos.Por estar bêbada a ponto de perder a consci