O velho ancião ficou visivelmente frustrado ao olhar para seu filho mais velho, Pitter, aquele homem de coração de pedra que mal demonstrava emoções. Em seguida, voltou-se para a cena desconcertante à sua frente: a esposa, Madalena Riddel, e o filho mais novo, Pietro, estavam desabando em prantos.— Vocês dois, já chega com esse choro! — esbravejou. — Não é como se o Théo estivesse gravemente doente! O médico disse que ele está sofrendo de indigestão... por estar suprimindo seus sentimentos!Madalena apertou um lenço contra os olhos, angustiada:— Como pode dizer isso tão friamente? Ele está reprimindo seus sentimentos! O autismo do nosso Théo vinha melhorando tanto… e se ele estiver entrando em depressão agora?— Não pode ser tão sério assim, crianças nem ficam deprimidas desse jeito...Foi nesse instante que a porta do quarto de Théo se abriu. O doutor da família saiu e pigarreou antes de falar com a voz firme:— Sr. Riddel, sob uma perspectiva médica, crianças podem sim sofrer de d
Melissa rapidamente recuperou sua postura e disse com um olhar de desdém:— Huh, Amara... eu estava mesmo curiosa para saber o quão impressionante você seria longe dos palcos, mas vejo que está só com uma atriz secundária!Nos últimos dias, rumores sobre o escândalo envolvendo Amara e Lenno Bráz haviam se espalhado rapidamente, mas, naturalmente, Melissa já sabia disso muito antes. Secretamente, ela contratara alguém para espioná-los, mas, para sua surpresa, nem precisou fazer tanto esforço: os próprios fãs trataram de espalhar tudo.Contudo, o resultado foi o oposto do que ela havia previsto com base em experiências anteriores. Ao invés de prejudicar a imagem de Amara, o escândalo só a impulsionou. Ganhou mais fãs, mais seguidores, mais brilho.Maldita bruxa, pensou Melissa, você realmente conseguiu lidar com Lenno Bráz... Agora entendo por que o contrato com a Riddel Entertainment foi assinado tão rápido.Embora tivesse dito com desprezo que ele era um “ator de pequeno porte”, ela s
Amara continuou a cantar—"A vida passa com os anos,envelhece com cabelos brancos,vai embora como você,deixando uma felicidade inaudita..."Enquanto a escutava, Lenno Bráz sentiu algo estranho no ar. Aquela escolha musical não parecia aleatória… Era como se tivesse sido feita para alguém. Uma mensagem embutida em cada verso."Sinto muito sua falta, sinto mesmo,mas não demonstro sinais.Ainda penso em você,ainda deixo as memórias tomarem conta,ainda finjo estar bem..."A percepção veio como um sussurro incômodo.— Ela está cantando para alguém…Do lado de fora da sala, uma figura alta permanecia imóvel. Ele tinha passado por ali apenas por acaso, mas, ao ouvir a melodia e reconhecer a voz, foi como se algo o prendesse ao chão. Ficou ali, hipnotizado.Seu assistente percebeu a súbita pausa e se apressou em chamá-lo:— Senhor Pitter, está tudo bem? O terceiro CEO e a responsável pelo cinematográfico ainda os aguardam no andar de cima...— Quieto. — A voz de Pitter saiu baixa, fria,
Pietro não teve coragem de dar a má notícia na frente de Théo e apenas assentiu, após muita hesitação.— Eu disse tudo o que podia, mas ela está realmente decidida desta vez. O pior é que ela conseguiu adivinhar que nossos pais descobriram sua identidade... e os sentimentos dela por ele...— Me dá seu celular — disse Pitter, estendendo a mão.— O quê? Pra quê você quer meu celular? — Pietro entregou o aparelho a contragosto.Pitter pegou o telefone, digitou a senha com facilidade, tirou uma foto do quarto de Théo e abriu a caixa de mensagens. Procurou pelo contato de Amara e enviou a imagem.— Caramba! Mano, como você sabia a senha do meu celular?! Isso é demais! Como assim eu não tenho nenhuma privacidade?! — Pietro reclamou ao pegar o aparelho de volta.Quase que imediatamente, uma nova mensagem chegou. Uma resposta tão rápida?Pietro abriu curioso para ver o que Amara havia dito.Tudo o que encontrou foi uma enxurrada de exclamações:[Pietro! Seu idiota!!!!!!!!!!!!!!!! Ótimo! Já es
Pietro suspirou fundo:— O psicólogo mencionou isso também… mas Théo nem sequer se afastou da antiga residência. Imagino que ele ainda esteja esperando que você o leve para casa.Ao ouvir aquilo, o coração de Amara se apertou.— A questão é que deixar você levar o Théo embora é uma decisão pesada demais… Não me sinto no direito de concedê-la assim, de forma leviana — completou Pietro, coçando a nuca, indeciso.Ele ainda refletia sobre o que fazer, quando seu celular vibrou com uma nova mensagem. Era de seu irmão, Pitter:[Se ela quiser levar o Théo embora, deixe-a.]Uau. Mais uma vez, seu irmão havia previsto os pensamentos de Amara com precisão surpreendente. Pietro nem teve tempo de reagir.Com o “decreto” oficial em mãos, ele rapidamente mudou de postura:— Amara, leve-o! Leve o Théo para onde quiser, está tudo certo. A partir de agora, ele está por sua conta.Amara estreitou os olhos, desconfiada:— Você não acabou de dizer que essa decisão era difícil demais? Que não queria dizer
Kayky apagou o cigarro enquanto observava Amara se aproximar com total despreocupação. Arregaçou as mangas e exclamou:— Não pode ser! Você está nos zoando. Que velocidade era aquela? Por que você tá andando no meu veículo como se fosse qualquer automóvel velho? Está me subestimando?Ele finalmente havia vencido Amara pela primeira vez, mas, em vez de sentir orgulho, foi motivo de piada. Na verdade, aquilo tinha sido até pior do que perder.— Exatamente, Amara, isso foi maldade pura! A gente tá te esperando aqui há pelo menos meia hora!— Você é insuportável! Me fez perder um beijo, e olha, eu não vou aceitar isso. O Kayky nem ganhou direito! Você precisa correr de novo, só assim eu me convenço!— Com certeza, podemos competir outra vez. Não tenho medo! Quero te vencer de forma justa e honesta!. . .Todos começaram a comentar ao mesmo tempo, enquanto Amara, em silêncio, retirava o capacete. Ela saiu do veículo com calma, fez o automóvel se inclinar firmemente para o lado e, sem dizer
Talvez fosse porque ela havia reprimido seus sentimentos por tempo demais. Mesmo com o pequeno ao seu lado — e sabendo que não deveria agir daquela forma, pois poderia assustá-lo — Amara simplesmente não conseguiu mais se conter...O pequeno tesouro, Théo, sentou-se na cabeceira da cama, observando Amara chorar com o rosto afundado no travesseiro. Ele ficou paralisado, com os olhinhos arregalados, sem saber o que fazer diante daquele desespero.Passado algum tempo, ele estendeu sua pequena mão e tentou repetir o gesto que ela costumava fazer quando queria consolá-lo: deu um leve tapinha no ombro dela.No entanto, ao sentir o toque do menino, Amara começou a chorar ainda mais forte.Théo se assustou. Encolheu os ombros e não ousou tentar mais nada que pudesse piorar a situação.Os olhinhos dele, cheios de preocupação, acompanhavam os soluços profundos de Amara. Lentamente, seus olhos começaram a lacrimejar também, com um nó na garganta e uma enorme vontade de chorar junto.Mas ele não
— Mano! — Pietro exclamou, chocado. — Você está bem?!O velho mestre olhou para o filho mais novo, sem conseguir reagir de imediato. Desde pequenos, Pietro levava broncas e castigos constantes, mas essa foi a primeira vez que ele viu seu filho mais velho, Pitter, ferido de forma tão grave — alguém que sempre fora considerado imperturbável, quase inalcançável.Com uma expressão fria e implacável, Pitter limpou o sangue do canto da boca com as costas da mão e respondeu:— Prefiro que Théo tivesse morrido naquele acidente a vê-lo viver da forma como está vivendo agora.— Você... você... — O velho ancião levou as mãos ao peito e deu alguns passos cambaleantes para trás, visivelmente abalado com a provocação do filho.Madalena Kléo correu até ele para ampará-lo. — Pitter, você passou dos limites! Mesmo que seu pai e eu tenhamos errado na maneira como lidamos com as coisas, você não pode dizer essas barbaridades! O que é mais importante do que estar vivo?Quando o velho finalmente recuperou