Amara continuou a cantar—"A vida passa com os anos,envelhece com cabelos brancos,vai embora como você,deixando uma felicidade inaudita..."Enquanto a escutava, Lenno Bráz sentiu algo estranho no ar. Aquela escolha musical não parecia aleatória… Era como se tivesse sido feita para alguém. Uma mensagem embutida em cada verso."Sinto muito sua falta, sinto mesmo,mas não demonstro sinais.Ainda penso em você,ainda deixo as memórias tomarem conta,ainda finjo estar bem..."A percepção veio como um sussurro incômodo.— Ela está cantando para alguém…Do lado de fora da sala, uma figura alta permanecia imóvel. Ele tinha passado por ali apenas por acaso, mas, ao ouvir a melodia e reconhecer a voz, foi como se algo o prendesse ao chão. Ficou ali, hipnotizado.Seu assistente percebeu a súbita pausa e se apressou em chamá-lo:— Senhor Pitter, está tudo bem? O terceiro CEO e a responsável pelo cinematográfico ainda os aguardam no andar de cima...— Quieto. — A voz de Pitter saiu baixa, fria,
Pietro não teve coragem de dar a má notícia na frente de Théo e apenas assentiu, após muita hesitação.— Eu disse tudo o que podia, mas ela está realmente decidida desta vez. O pior é que ela conseguiu adivinhar que nossos pais descobriram sua identidade... e os sentimentos dela por ele...— Me dá seu celular — disse Pitter, estendendo a mão.— O quê? Pra quê você quer meu celular? — Pietro entregou o aparelho a contragosto.Pitter pegou o telefone, digitou a senha com facilidade, tirou uma foto do quarto de Théo e abriu a caixa de mensagens. Procurou pelo contato de Amara e enviou a imagem.— Caramba! Mano, como você sabia a senha do meu celular?! Isso é demais! Como assim eu não tenho nenhuma privacidade?! — Pietro reclamou ao pegar o aparelho de volta.Quase que imediatamente, uma nova mensagem chegou. Uma resposta tão rápida?Pietro abriu curioso para ver o que Amara havia dito.Tudo o que encontrou foi uma enxurrada de exclamações:[Pietro! Seu idiota!!!!!!!!!!!!!!!! Ótimo! Já es
Pietro suspirou fundo:— O psicólogo mencionou isso também… mas Théo nem sequer se afastou da antiga residência. Imagino que ele ainda esteja esperando que você o leve para casa.Ao ouvir aquilo, o coração de Amara se apertou.— A questão é que deixar você levar o Théo embora é uma decisão pesada demais… Não me sinto no direito de concedê-la assim, de forma leviana — completou Pietro, coçando a nuca, indeciso.Ele ainda refletia sobre o que fazer, quando seu celular vibrou com uma nova mensagem. Era de seu irmão, Pitter:[Se ela quiser levar o Théo embora, deixe-a.]Uau. Mais uma vez, seu irmão havia previsto os pensamentos de Amara com precisão surpreendente. Pietro nem teve tempo de reagir.Com o “decreto” oficial em mãos, ele rapidamente mudou de postura:— Amara, leve-o! Leve o Théo para onde quiser, está tudo certo. A partir de agora, ele está por sua conta.Amara estreitou os olhos, desconfiada:— Você não acabou de dizer que essa decisão era difícil demais? Que não queria dizer
Kayky apagou o cigarro enquanto observava Amara se aproximar com total despreocupação. Arregaçou as mangas e exclamou:— Não pode ser! Você está nos zoando. Que velocidade era aquela? Por que você tá andando no meu veículo como se fosse qualquer automóvel velho? Está me subestimando?Ele finalmente havia vencido Amara pela primeira vez, mas, em vez de sentir orgulho, foi motivo de piada. Na verdade, aquilo tinha sido até pior do que perder.— Exatamente, Amara, isso foi maldade pura! A gente tá te esperando aqui há pelo menos meia hora!— Você é insuportável! Me fez perder um beijo, e olha, eu não vou aceitar isso. O Kayky nem ganhou direito! Você precisa correr de novo, só assim eu me convenço!— Com certeza, podemos competir outra vez. Não tenho medo! Quero te vencer de forma justa e honesta!. . .Todos começaram a comentar ao mesmo tempo, enquanto Amara, em silêncio, retirava o capacete. Ela saiu do veículo com calma, fez o automóvel se inclinar firmemente para o lado e, sem dizer
Talvez fosse porque ela havia reprimido seus sentimentos por tempo demais. Mesmo com o pequeno ao seu lado — e sabendo que não deveria agir daquela forma, pois poderia assustá-lo — Amara simplesmente não conseguiu mais se conter...O pequeno tesouro, Théo, sentou-se na cabeceira da cama, observando Amara chorar com o rosto afundado no travesseiro. Ele ficou paralisado, com os olhinhos arregalados, sem saber o que fazer diante daquele desespero.Passado algum tempo, ele estendeu sua pequena mão e tentou repetir o gesto que ela costumava fazer quando queria consolá-lo: deu um leve tapinha no ombro dela.No entanto, ao sentir o toque do menino, Amara começou a chorar ainda mais forte.Théo se assustou. Encolheu os ombros e não ousou tentar mais nada que pudesse piorar a situação.Os olhinhos dele, cheios de preocupação, acompanhavam os soluços profundos de Amara. Lentamente, seus olhos começaram a lacrimejar também, com um nó na garganta e uma enorme vontade de chorar junto.Mas ele não
— Mano! — Pietro exclamou, chocado. — Você está bem?!O velho mestre olhou para o filho mais novo, sem conseguir reagir de imediato. Desde pequenos, Pietro levava broncas e castigos constantes, mas essa foi a primeira vez que ele viu seu filho mais velho, Pitter, ferido de forma tão grave — alguém que sempre fora considerado imperturbável, quase inalcançável.Com uma expressão fria e implacável, Pitter limpou o sangue do canto da boca com as costas da mão e respondeu:— Prefiro que Théo tivesse morrido naquele acidente a vê-lo viver da forma como está vivendo agora.— Você... você... — O velho ancião levou as mãos ao peito e deu alguns passos cambaleantes para trás, visivelmente abalado com a provocação do filho.Madalena Kléo correu até ele para ampará-lo. — Pitter, você passou dos limites! Mesmo que seu pai e eu tenhamos errado na maneira como lidamos com as coisas, você não pode dizer essas barbaridades! O que é mais importante do que estar vivo?Quando o velho finalmente recuperou
O calor parecia incinerar cada célula do corpo de Amara. Era um incêndio interno, ardente como lava, e a única chance de alívio estava no toque do homem à sua frente...Instintivamente, seus dedos se agarraram à pele fria e marmórea. A sobrevivência falava mais alto, eliminando qualquer resistência. A dor misturava-se ao prazer, crescendo devagar, intensificando-se como fogos de artifício iluminando o céu noturno de sua mente. Era como estar à deriva em um mar escaldante, subindo e descendo sem controle, completamente incapaz de escapar.“Ei, acorde... Está frio aqui, você pode pegar um resfriado.”Um toque em seu ombro fez Amara abrir os olhos ligeiramente. O olhar preocupado da enfermeira trouxe-a de volta à realidade. Ainda desorientada, ela sentiu o calor ruborizar seu rosto, como se tivesse sido pega em flagrante.Droga. Mesmo depois de tanto tempo, aquela noite, cheia de calor e descontrole com Asllan, continuava invadindo seus sonhos.Por estar bêbada a ponto de perder a consci
Cinco anos se passaram.No bar Eton, em um corredor isolado no último andar, Amara estava com a cabeça latejando após horas acompanhando alguns investidores. Procurando um lugar tranquilo para se recompor, ela encontrou um canto discreto. Porém, antes que pudesse relaxar, ouviu os passos determinados de Pillar, sua empresária, que a seguira até ali.Amara respirou fundo, reunindo energia para encará-la.– Pillar, o que você quer? – perguntou, visivelmente cansada.– Amara, deixe-me ser direta: você se inscreveu para o teste do papel principal feminino em Se Amar nas Estrelas? – Pillar cruzou os braços, a expressão carregada.– Sim. E daí? – respondeu Amara, erguendo uma sobrancelha.– Você não tem permissão para ir amanhã! – Pillar declarou com firmeza.Embora soubesse que deveria se surpreender, Amara apenas sorriu de leve.– E qual seria o motivo?– Agiu pelas minhas costas! Como sua empresária, eu já havia providenciado para Melissa fazer o teste.– Isso não impede minha inscrição,