Muito longe dali. Outra pessoa tinha voltado para casa, Lara havia se formado em medicina, apesar disso, nunca fez a residência, nem pegou o diploma, faltou durante todo o estágio.Há sonhos que se realizam de uma forma diferente da que pensamos, Lara queria ser médica para poder comprar a própria liberdade. E por fim, foi a prisão de um casamento arranjado que deu a ela essa tão sonhada liberdade.O problema era que abandonar a faculdade tinha seu ônus, ela sabia muito, mas não o bastante para resolver o problema de Kwami.— Precisa se acalmar, os remédios não fazem efeito e só consigo controlar a sua pressão quando te dou sedativos. Isso está errado, mas não sei o que fazer.Fez o que qualquer pessoa faria, ligou para Jocellyn. A ex-namorada de Lobo era neurocirurgiã, mas tinha muito mais experiência do que Lara.— Jô, preciso da sua ajuda.— Não posso, estou ocupada.A médica que inicialmente ficou na ilha africana com a desculpa de investigar a melhora de Nick em relação a deficiê
Quando Kwami abriu os olhos ela sorriu, ele demorou um tempo até perceber onde estava e o que estava acontecendo. A cada vez que acordou sempre foi Marina que encontrou então perguntou por ela quase que automaticamente.— MarinaJocellyn sentiu os olhos encherem de lágrimas, a boca secou, sentiu algo se partir dentro dela, algo que nem sabia que ainda estava inteiro. Não esperava que Kwami fizesse algo assim, não ele.Foi como voltar no tempo e ouvir Lobo chamando pela ex-mulher, mas daquela vez, a pessoa por quem o africano chamava, estava mais viva do que nunca e tinha alguns anos a menos do que ela.A médica passou a língua umedecendo os lábios e ao invés de responder seguiu com o procedimento padrão, verificou os sinais vitais, a oxigenação, a pressão arterial e os reflexos.Lembrou dos olhos de Kwami o dia em que ela o acusou de ser prosaico. Se achou ingênua por achar que ele ficaria tão feliz em vê-la como ela ficou ao saber que se reencontrariam.Na ocasião ela beirou a crueld
Jocellyn se afastou de Marina como se estivesse fugindo de um incêndio. O corredor pareceu ter quilômetros e sentia como se nas suas costas a mulher se divertisse com a sua humilhação.Cada passo era dolorido, cada respiração uma luta para não ceder às lágrimas. Não era cansaço, sabia que não.Era a certeza do que sempre evitou admitir.Nunca foi boa em cuidar de pessoas. Só sabia consertá-las, nisso sim ela era imbatível. Pensou que talvez por isso ela e Lobo se davam tão bem.— É ursão! Erámos dois vazios tentando preencher um ao outro. Sinto a sua falta.A médica ficou no próprio consultório, na organização um pedido dela era como uma ordem, muitos ali deviam as vidas a ela, ou a Lobo e homens como eles não se esqueciam das próprias dívidas.Lara ganhava presentes fofos das mulheres e das crianças, mas Jocellyn era cercada de tudo o que desejasse.Encontrou o consultório cheio de caixas, um computador novo, joias, um relógio de colecionador, um vestido exclusivo e até dois ingresso
Ainda estava no avião quando descobriu que na cesta de palha havia uma serpente, o réptil parecia sonolento, obviamente tinha se alimentado há pouco tempo. Fechou novamente o cesto, mas dessa vez amarrou cada parte que conseguiu.Lembrou que o animal ficou no carro durante o tempo em que ela ficou com Kwami, havia se esquecido de tudo, só não se esquecia dele.Uma ideia quase maluca passou pela cabeça da médica. Talvez o africano e seu feiticeiro estranho tivessem feito algo para que ela ficasse daquele jeito.Afastou a ideia em seguida.— Isso não existe! Estou ficando louca.Saiu do centro médico tentando não olhar para trás, imaginando o que o melhor que podia fazer era se dedicar a coisas que não a machucaria, se lembrou de uma frase que gostava de usar com os residentes a quem dava aula.— O fundo do poço é o lugar que guarda mais vida. Aprendam a viver nele e farão descobertas incríveis. Quem tem medo do escuro jamais aprenderá a ser a própria luz.Foi até o carro, pegou a cesta
Jocellyn ouviu as reclamações de Ayla, estava escrito em cada lágrima que nenhuma daquelas palavras era falta de amor, aliás cada uma delas parecia carregar o peso de um sentimento imenso.Ainda assim, a médica apenas ouviu, estava convencida de que não era boa para cuidar de pessoas.No passado, ela havia consertado Ayla, fez um bom trabalho com isso, a israelense estava andando depois de levar um tiro que causou uma lesão definitiva na medula. Sempre seria mais fácil consertar, ainda que parecesse impossível Jocellyn não desistia, mas não se achava boa suficiente para falar de amor.Continuou brincando com o pequeno Aron, lembrando das cirurgias que fez com Lobo, das noites que passaram fazendo pesquisas e anotando cada uma das descobertas.Falou de uma vez, como se dissesse para si mesma.— Deveria ir embora, encontrar alguém que não seja perfeito, mas que te olhe com tanta intensidade que te deixe sem palavras. Ele é um idiota arrogante!Não era de Elijah que Jocellyn estava falan
Kwami melhorou rápido e no dia seguinte quis sair do posto médico, não gostava de dar trabalho, além disso estava com o corpo dolorido de passar tanto tempo deitado.Marina trouxe uma refeição leve e saudável como Lara disse que seria o ideal, mas o africano precisou fazer um esforço enorme para comer.— Muito obrigado, senhora. Está muito bom, mas não precisava.— Eu gosto de fazer as coisas para você.— Obrigado.Kwami já tinha perdido as contas de quantas vezes havia agradecido Marina. E ainda assim, ela não parava de fazer coisas estranhas.Comidas que ele não gostava, roupas que ele não queria, travesseiros que não precisava. O mais engraçado foi quando a senhora apareceu no posto médico com uma espécie de amuleto com um desenho de algum orixá que ele nem imaginava quem fosse.— Trouxe isso para você. É da sua religião, esse deus protege os doentes né?— Obrigado, senhora.Kwami não tinha nem sequer ideia de quem fosse o homem coberto de palha que estava desenhado em um saquinho
E como se a roda da vida fosse um labirinto, Jocellyn caminhou para o lado oposto ao de Kwami e ele dançou com a mulher errada.Marina se encantou ainda mais quando ele perdido na ilusão dos pensamentos com Jocellyn apertou a mulher em um abraço mais forte.— Você vai ficar, não vai?Ela sussurrou com medo de se entregar a alguém que não pretendesse ficar, achou que aquele aperto significava uma chance.Mas a voz de Jocellyn era inconfundível e Kwami despertou daquele sonho.— Desculpe, senhora.Marina o puxou de volta.— Não para! Eu também quero.Kwami ficou envergonhado, não sabia o que responder, estava errado e tinha consciência disso.— Senhora, por favor, me desculpe, mas é melhor parar. Gosto da sua companhia, é uma mulher maravilhosa. Só que não penso na senhora dessa maneira. E juro que não tem nada de errado, eu não gosto disso.Quis dizer que não gostava de estar com várias mulheres, se casou com o seu primeiro amor e depois dela, nenhuma outra frequentou a sua cama ou o s
Não queria e nem precisava de desculpas, mas agarrou no ar a caneta que o capo jogou. Talvez nem fosse o que Endi pensava, de alguma forma cuidar dele podia ter sido só uma forma da médica pedir desculpas, não importava! Ela estava lá e isso bastava.Bateu na porta da médica segurando a caneta dela como quem se agarra a esperança.Ficou impaciente, ansioso, preocupado. Por que ela não abria logo aquela porta? Estava no banho? Ou com alguém? Teria visto por alguma câmera e não queria falar com ele?Se fez várias perguntas e nenhuma delas fazia o coração bater mais devagar.Enquanto isso, nos fundos da casa, a médica conversava com um réptil que trouxe de Zanzibar e que por alguma razão teria a resposta que o nganga achava que ela queria.Segurou a serpente com carinho, pela primeira vez não a viu como um objeto de estudo e sim como um ser vivo. Precisava desabafar com alguém.— Você sabe? Sabe por que nunca consegui ser feliz?Uma pergunta carregada de sentimento, de culpa, se arrepend