Segurava o papel com tanta força que as beiradas amassaram enquanto o vermelho ficava mais intenso. Era como se cada gota daquele vermelho queimasse a sua alma, cada traço do desenho tivesse sido pintado com a angústia de Olivia.— Não…Ele entendeu que cada um daqueles desenhos foi desenhado com sangue, com o sangue que ele não estava lá para evitar que caísse, a imaginou sozinha, lutando para sobreviver em meio a doçura que só é possuía, que só alguém com a alma de Olívia seria capaz. Ninguém além dela transformaria a dor em arte, só a sua ratinha.Foi arremessado para o passado, o dia em que ela foi levada por Vikran, as noites intermináveis sem respostas, os rostos que olhavam para ele com pena, como se soubessem algo que só ele não sabia. O som da risada de Olívia, os beijos, o jeito que ela parecia não conseguir controlar a respiração sempre que se beijavam e apesar da falta de ar ela o puxava de novo e de novo.— Nick, filho! Escuta. Precisa ver isso.Entregou o celular para o
Correu, mas isso não significava o fim, ao menos não para Nick, não estava desesperado pela fala do padrinho, sabia que Olie estava viva, mas também sabia que aquele vídeo era real.Chorou, chorou como se as lágrimas pudessem apagar aquelas cenas, a dor que sentia, o absurdo daquela luta que Olívia travou sozinha. Lembrou do corpo pequeno e ainda assim, deliciosamente provocante, quando conheceu Olívia ela parecia só uma adolescente rebelde, roupas largas e estranhas, olhar confuso, e um jeito estranho. Mas a primeira vez que a viu de biquini, quase infartou com o que sentiu.Queria conversar com a irmã, tinha acesso livre a casa de Mel, abriu a geladeira, pegou uma garrafa com água e foi para os fundos da casa.O dia quente o fez beber no gargalo, achou que a irmã estivesse com as crianças na piscina, mas o que encontrou o fez esquecer completamente de Mel e dos sobrinhos.Olie deitada na espreguiçadeira, perdeu o fôlego. A boca secou ao mesmo tempo em que salivava. O sangue corria
Depois de assistir aquele vídeo, passou a noite andando sem rumo, lembrando do sangue, da dor, do nome escrito no papel. Imaginava, mas sempre o pensamento lhe dizia o pior, Nick tentava se convencer de que ninguém teria coragem de machucar alguém tão doce quanto Olíe.Mas naquele vídeo, havia a prova irrefutável de que estava errado, de que a crueldade humana não tem limites.E apesar dela ter escrito com o próprio sangue naquele papel, ele não era o Deus do trovão e nem conseguiu encontra-la antes que ela descobrisse que o mal existe em uma forma tão miserável que era capaz de fazer um homem adulto espancar uma criança que só estava lutando pela própria liberdade.THOREla passou a chamá-lo daquele jeito em um tempo do passado que ele nem mesmo imaginava que Olívia significaria tanto para ele.Os castigos na máfia são escritos com sangue, não há misericórdia, nem mesmo para quem nasceu entre eles, aliás, para os filhos da máfia o peso do erro é mil vezes maior, afinal, nasceram sob
Se ao menos naquele dia tivesse tido coragem de dizer a Olivia que nunca deu atenção aquelas garotas, que beijos e amassos no escuro jamais seria o que ela imaginava ser, ao menos não com ele, ao contrário, tinha raiva daquelas meninas, tanta que brincar com elas ofereceu um tipo de prazer que não tinha nada a ver com sentimentos ou desejos.Escolheu a dedo cada uma das garotas que ficou na noite em que voltou para o condomínio, lembrava dos rostos, das risadas e principalmente dos comentários. “Cabeça pequena! Morto de fome! A segunda filha do chefe”.Foi motivo de piada para aquelas garotas tantas vezes que os nomes ficaram gravados em sua mente por muito tempo, mas quando voltou, não se parecia, nem de longe com o garoto franzino que elas desprezavam. Tinha se tornado um homem e com todos os detalhes fúteis que elas admiravam, músculos, dinheiro, poder e arrogância.No dia em que Olíe o confrontou com o fato de que elas não estavam lá para ajudá-lo ele acabou rindo, nunca esperou qu
Foi com essas lembranças que Nick se cobriu na noite em que assistiu o vídeo de Olívia, já tinha visto mulheres serem espancadas, injustiças acontecerem e muitas vezes nem mesmo se importou.Mas as coisas mudam quando saímos do papel de espectadores e entramos no de protagonistas.Aquele vídeo foi o estopim de algo que sempre esteve prestes a explodir, havia deixado que Bode vivesse, tinha um plano, mas agora o ódio havia crescido em seu peito de uma forma que não podia controlar.Chegou a uma casa simples, mas até aquele momento, não deveria ser uma prisão, no máximo uma hospedagem forçada.Abriu a porta com tanta violência que a maçaneta cedeu com a força que usou, a madeira bateu no móvel que havia ao lado e o garotinho que ainda estava dormindo acordou assustado.Estava decidido, ao menos pensou que estava, mas o menino que deveria chorar e tentar fugir correu até Nick e o abraçou.— Estava com medoO menino que devia ter entre cinco e seis anos olhou para cima, mas continuou abra
Usou a foto daquela brincadeira para chantagear o mercenário, precisava que ele acreditasse, porque se precisasse machucar Arjun para ter Olívia de volta, temia que não seria capaz.Tirou Bode do baú, o homem estava completamente mole, o calor causou uma desidratação que enfraqueceu o mercenário ao ponto de ele não conseguir nem mesmo manter o próprio corpo em pé.Nick pegou um balde e encheu com água, jogou sobre ele fazendo com que os espasmos daquele homem, lembrasse de um peixe fora da água.— Acordou, verme? Lembra o que eu te disse? Um pelo outro.Mostrou a foto de Arjun, sabia que homens como Bode não cediam até terem uma prova. Depois de um tempo, percebeu que o mercenário realmente acreditava que Jane era só mais uma dançarina do clube de Omar.Falou chorando enquanto implorava pelo filho.— Por favor, é só uma putα, te arrumo quantas mulheres você quiser, só deixa meu Arjun em paz ele não te fez nada, por favor!Nick sentiu o ar faltar quando Bode chamou Olívia de putα, mas
Nick abriu a porta, não que isso fosse uma escolha, ele cresceu vendo os homens da organização terem medo das decisões do conselho, até mesmo o capo estava abaixo deles, mas com Endi as coisas eram muito diferentes. O novo capo tinha um tipo de frieza capaz de congelar a alma de quem o olhasse. Não havia nenhum tipo de moralidade nas decisões do atual líder, homens, mulheres e crianças respondiam a mesma lógica estática de que o certo e o errado são contrapontos claros.Um monstro que habitava um corpo humano, Endi era o que chamamos de sociopata, alguém capaz de sentir prazer com a dor e o sangue dos outros, a única forma de se manter vivo, era seguindo as regras, por isso, apesar da frustração, Nick abriu a porta para o cunhado. — O que você está fazendo aqui? Eu disse que queria ficar sozinho.— E vai ficar, não me importo com você. Vim resolver um assunto meu e minha mãe me pediu pra te obrigar a comer.Todos têm pontos fracos, até mesmo pessoas com Endi Foster, o capo não se im
As piores buscas sempre serão as mais bonitas, Nick estava perdido em dores, desconfianças e conflitos.Mas Olívia, a menina que ele tanto procurava, diferente dele, sabia exatamente o que queria e onde queria estar.Ambos buscavam a beleza no passado, sem se darem conta de que talvez, a felicidade estivesse a um passo. Enquanto Jane fazia a maquiagem tentando cobrir os hematomas que Omar havia deixado em seu rosto, as lágrimas caiam estragando tudo, mas não estava chorando pelas marcas, nem pela dor, era pelo rapaz que estava sentado naquela mesa há quilômetros de distância de casa.No começo, imaginou que fosse só uma coincidência terrível, algum tipo de brincadeira do destino. Achou que Nick estivesse ali pelos mesmos motivos que centenas de homens antes dele, apenas em busca de diversão sem compromisso.Achou que ele já nem se lembrava dela, talvez ela pudesse se sentar naquela mesa e beber ao seu lado e Nick não se lembraria da promessa que fez. “Vou te fazer Olívia Bianchi”.Ma