Nick começou a explicar, tentou contextualizar todos os detalhes da postura de Kyara desde que ele e Olíe retornaram ao condomínio, mas foi interrompido.— Você respondeu o meu padrinho?O rapaz parou de falar, ficou confuso com a pergunta, parecia completamente sem lógica. A cada dia achava o novo capo mais louco.— Você está me ouvindo, estou falando da Kyara, aquela garota que tinha problemas nas pernas, a de cabelo preto e bundão.— Sua namorada sabe que andou reparando na bunda da sua amiga de infância?Nick suspirou impaciente, Endi mudava de assunto mais rápido do que ele conseguia processar, principalmente com a dor de cabeça que estava sentindo. Resolveu entrar na onda do amigo.— Não respondi o meu pai, estou sem telefone, deixei o meu com a ratinha e depois esqueci. E não, Endi, não reparei em ninguém, só no óbvio, a menina é bonita e ponto, acabou por aí. Pessoas são bonitas ou feias, mas isso não muda nada para mim eu amo a minha ratinha e ela sabe disso.— Deveria respon
Nick saiu da casa da irmã com mais dor de cabeça do que tinha chegado, mas pelo menos tinha respostas, algumas confusas, outras completas, ainda assim era mais do que tinha até chegar ali, saiu intrigado com uma das falas do capo, na verdade com várias, mas uma em especial o deixou quase preocupado.— O seu sangue tem esse hábito de não ver o óbvio.Quis entender, mas refletiu sobre aquilo somente até chegar na propriedade de Dragon, o conselheiro da organização bem diferente da maioria daqueles homens, praticamente vivia em um mundo paralelo.Conversava com todos, não gostava de lutar se não fosse para matar, lidava bem com facas e armas, mas dificilmente era visto com algo além da faca curvada de caça. Era gentil com todas as pessoas, mas preferia ficar afastado.Não aceitava as cestas de alimentos que mandavam entregar nas casas dos soldados e era o único entre eles que não aceitava receber pelos serviços, pagou pelo terreno em que morava com a esposa e os filhos e ajudava com quas
Nada pode piorar. Essa é uma das frases menos corretas usadas pela humanidade.Algo sempre pode ser pior e foi isso que Enfim fez com os castigos usados na máfia. Por muitos anos, o pior que poderia acontecer a um soldado seria ficar confinado ao que chamavam de A câmara, uma ideia simples, mas cruel o bastante para fazer matadores profissionais chorarem como crianças.Um buraco de três metros e meio cavado na terra, meio metro de largura e uma tampa de grade. O infrator era posto em pé dentro do foço e permanecia confinado até o fim do prazo dado pelo capo.Só isso já faria muitos enlouquecerem, mas havia seus requintes de crueldade. O prisioneiro não recebia nada, água apenas a que caia do céu, comida só se fosse visitado por algum animal e tivesse forças para devora-lo cru.A única forma de receber algum auxílio era caso alguém aceitasse se submeter a dez chicotadas a cada item que quisesse levar ao castigado.Um castigo para o prisioneiro e para os que ousavam amar um traidor do c
Vikran tentava implorar por ajuda a cada voz que aparecia, todos os dias, sentia os vermes rastejaram embaixo da pele, comendo a sua carne.Tentou gritar, mas muitas vezes achava que o que saia da sua boca mais se parecia com os grunhidos dos porcos presos ao seu redor.Sentiu alívio quando um homem se aproximou, finalmente estava sendo ouvido, normalmente tudo o que recebia era uma lavagem que caia de um cano bem acima da sua boca, restos de tripas, verduras podres, cabeças de galinhas e outras nojeiras que ele não conseguia identificar.Comer aquilo não era uma opção, aquela mistura podre caia sobre o seu rosto, entrava pela boca e pelo nariz, se virasse se afogava na lama, se ficasse se afogava naquilo até que a tosse o fazia abrir a boca e engolir a podridão.O alívio percorreu seu corpo por um seguindo, não se lembrava do rosto de Nick, muito menos da voz, para ele tudo não tinha passado de um negócio.— VIKRAN!Ouviu seu próprio nome sair da boca daquele homem em um rosnado chei
Kwami olhou assustado, não teve tempo de fazer nada, mas achava que mesmo que tivesse, não conseguiria. Nick se ajoelhou na lama ao lado de Vikran, segurou o pescoço do indiano apertando as pontas dos dedos com tanta força que a pele necrosada soltou.A mão escorregou como se puxasse uma geleia fedida e nojenta.— Olívia! Lembra dela?A voz de Nick saia misturada a uma respiração estranha e barulhenta, uma espécie de choro e ira que fez Vikran segurar o próprio grunhido de dor.— RESPONDE! OLHA PARA MIM! POR QUÊ? O QUE ELA TE FEZ?A humanidade que o indiano havia esperado finalmente estava diante dele, mas não tinha a face da esperança como ele imaginava que teria, ao contrário, era uma humanidade crua, dilacerada, cheia de ódio e loucura.Vikran não conseguia lembrar daquele nome, não sabia do que Nick estava falando, achou que a mente estava o aprisionando em mais uma alucinação, mas então uma frase o levou de volta ao dia em que Helena foi assassinada.— Ela era uma menina! A minha
Nick chegou em casa coberto de lama e sangue, uma mistura que afastaria qualquer um. A atadura que deveria estar protegendo a cabeça estava molhada de excremento fétido.O barulho da porta fez com que Olívia viesse correndo, queria contar ao namorado o que tinha combinado com a sogra, estava feliz, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto segurando uma caixa de adesivos de carrinhos, dinossauros e outros apliques para parede.Sara tinha tudo para o quarto de Arjun, só não tinha usado por razões que compartilhou apenas com Endi e agora com a nora.Derrubou tudo no chão assim que viu o namorado.— NICK!A voz saiu como um chamado desesperado, o choque percorreu o seu corpo e de repente o medo de perdê-lo a dominou outra vez.Correu pisando nos papeis caídos, nada mais tinha importância, nem a raiva que sentiu quando Sara falou sobre a conversa que teve com Kyara, nem o quarto do filho, nem ela mesmo.O mundo pareceu se resumir naquele olhar perdido que o namorado trazia na face.Abraçou
Amor, provavelmente a maior força da natureza, capaz de fazer uma menina resistir ao inferno e de mandar um Deus para buscá-la.Olívia estava sozinha em casa quando o namorado voltou, os filhos estavam com a avó. Sara queria compensar o neto, já havia chorado abraçada a Olívia, mas ainda sentia o peso da culpa queimar dentro dela.Deixou a nora entretida com a reforma, gostaria de ajudar, mas além de ser uma surpresa para Arjun, também queria mostrar os brinquedos que tinha comprado e que infelizmente ficaram esquecidos no antigo quarto de Nick.— Ele vai adorar conhecer o quarto do pai— E a tia dele vai amar ajudar a abrir os pacotes, Ive ama tirar os laços.Ive era a irmã caçula de Nick, a garotinha que era chamada de maçãzinha tinha a delicadeza da mãe e a personalidade arteira e divertida do pai.Sara teve certeza de que Arjun e Zuri adorariam brincar com a menininha.Deixou a nora na casa sem imaginar o que estava por vir e Olíe, apesar da dor que sentiu nos braços, continuou ol
Não seria! Olívia estava olhando para a própria dor enquanto era abraçada tão forte que tudo desapareceu, tudo exceto ele. E foi aquele pedido estranho e que parecia sem sentido algum também o levou para a missão que tinha assumido para a vida. Fazer a sua ratinha feliz. — Olie, eu não estou bem — Eu sei, Thor, eu sei meu amor, só deixa eu cuidar de você. A gente vai ficar bem. Ela também não estava, mas mulheres tem o hábito de guardar a própria dor em um cantinho secreto da alma e se tornarem gigantes quando precisam. E foi exatamente o que Olívia fez. Abaixou devagar, mas sem soltar a mão do namorado. — Confia em mim Falou pouco antes de cortar a camiseta que Nick usava. Puxou o tecido para baixo e repetiu o processo com o restante da roupa, com a atadura, tentou se abaixar para ajudar com os sapatos, mas o rapaz a segurou. — Eu vou Teria dito que só queria descalçá-lo, mas ficou quieta quando ele puxou o top preto que ela usava, havia pouca roupa para tirar, ainda assim N