Endi ficou olhando enquanto o soldado se machucava ainda mais, teria chegado bem mais rápido na área baixa do condomínio se esperasse para descerem de moto, mas de alguma forma, ele entendia aquele desespero. Provavelmente estaria tão cego quanto Tank se o assunto em questão fosse Mel.Fechou a porta do galpão e desceu pensando nas coisas que tinha ouvido, o soldado confirmou que teria forçado Dállia a estar com ele, mas pelo que ele se lembrava do rosto daquela menina, a única pessoa de quem ela realmente tinha ódio era Russo.Seria possível que apesar de ser forçada a algo, uma mulher se apaixonar?E enquanto o capo pensava nos caminhos que o amor pode percorrer, Tank se cobrava por todos os trajetos que se recusou a fazer.Caiu várias vezes, chegou sujo de terra e sangue, a maioria dos pontos ficaram nas pedras em que ele se cortou, mas a mente estava na pergunta que o capo fez.Ela é sua mulher, ou dele?E se a resposta fosse que Dállia não pertencia a nenhum deles?Dois soldados
Dállia puxou a maçaneta, mas a porta não abriu, estava tão perdida naquela voz que não havia destrancado, a dor do impacto seco a fez afastar a mão por um milésimo de segundo, mas em seguida destravou a porta e abriu.A visão de Tank na sua frente foi como se sonhos pudessem se tornar reais. A maior dor que experimentou como mulher não foi a infância perdida, nem ser vendida a um homem que tinha idade para ser seu avô, foi não ter nem sequer o direito de chorar pelo homem que amava.Precisar fingir enquanto aquelas pessoas julgavam Tank como se o conhecessem foi a coisa mais difícil e dolorosa que fez na vida.Se jogou nos braços dele como quem se atira para o infinito com a certeza de que seria segurada. O soldado a abraçou tão forte que chegou a doer. Talvez a felicidade também doa.Porque nenhum dos dois se soltou, Tank segurava o corpo de Dállia colado no seu e dessa vez ela não era só um corpo, era a mulher que amava, a pessoa por quem daria a vida. Beijou o rosto da garota sem a
Tank não a soltou, não queria que ela o olhasse, nunca teve medo de que uma mulher o rejeitasse, podia comprar a que quisesse, mas não sabia como pagar pelo coração daquela menina em seus braços. E se ela não o quisesse? Se Dállia descobrisse que ele não era nada além de um monte de músculos sem nada para oferecer além de pancadas? Sabia bater, nada mais. Nunca tinha nem sequer escrito um bilhete para ela porque tinha vergonha da letra. Tentou se convencer de que eram dois errados tentando dar certo, de que ela também não era muito melhor do que ele, que ao menos ele podia se sustentar. Mas, no fim, segurou o rosto da menina entre as mãos e implorou. — Eu vou melhorar, minha flor. Me perdoa, eu fiz tudo errado. Acho que estou fazendo errado agora né? Eu não sei fazer isso direito, mas eu vou aprender, por favor. Você é... Parou, parou a frase no meio porque se sentiu ridículo. Sempre conversou com outros caras do condomínio que mulheres gostam dos homens que as desprezam. Que
Estar inteiro na maioria das vezes não resume um relacionamento, nem sempre é sobre estar junto nos sorrisos, muitas vezes, o mais importante é ter alguém que entenda e recolha os seus pedaços.E foi exatamente isso que aconteceu, porque enquanto Tank e Dállia aprendiam aos poucos a viverem aquela nova realidade, o avião da organização estava pousando em Nápoles.Nick olhou em volta, tudo parecia diferente, como se um clima tenso estivesse pesando no ar. Abraçou Olívia tentando protegê-la de algo que nem ele sabia o que era ou significava.Ficou ainda mais tenso quando dois homens de ternos se aproximaram com passos fortes.— Che bella surpresa ver-te! És dos nossos, espero.— Tuo padre è a Scampia... VieniOlíe se prendeu ao namorado, não entendia o que aquele homem estava falando, mas o tom era ameaçador.Nick abaixou e traduziu palavra por palavra como se fosse um profissional que estava ali apenas para isso.— Ele disse: Que está honrado com a nossa chegada, mas que espera que rea
A pergunta que girava e se repetia na cabeça de Nick era como aquilo podia ser verdade? Como ninguém teria percebido?Ivan era invejado pela forma física, apesar da idade ainda ostentava mais músculos do que a maioria dos soldados, lembrou de quando ainda criança ouviu Sara preocupada com um exame do marido.— Esses níveis de creatina estão muito alterados!Na época Nick chegou a pensar que se o pai estivesse mesmo doente, talvez ficasse mais tempo em casa. Gostava de como Sara ficava naturalmente feliz e sorridente quando o marido estava por perto.Ela se levantava mais cedo, preparava tudo cantando, e não importava o que acontecesse, ela sempre sorria como resposta.— Isso é normal, pequena. A creatina é produzida pela atividade muscular, eu tenho só 8% de gordura no corpo, todo o resto está produzindo creatina o tempo todo. Estou forte como um leão.E estava, Ivan dificilmente ficava doente, mesmo quando se perdeu de si mesmo, quando passou a beber o dia todo, deixou os exercícios,
Nunca um número ecoou tão fundo na mente de um homem quanto aquele SEIS, na cabeça de Ivan. Ainda tinha tantas coisas que queria fazer, tanto tempo que precisava recuperar, tantas palavras que não disse aos filhos. Lembrou de Ive, a garotinha era tão pequena, queria poder ver a sua caçula crescer, quem sabe se apaixonar, contar para ele sobre algum rapaz que ele com certeza desejaria matar. E tinha Nick, o rapaz que tinha acabado de abrir os olhos. Na Tanzânia Ivan tinha pedido a Deus Um pedido silêncio, mas sincero. — Se tem que levar alguém, que seja eu. Deixa meu filho viver, deixa meu menino experimentar a felicidade. E quando se lembrou daquela oração, agradeceu por ter sido ouvido. Dobrou o papel e colocou no bolso, seguiu a sua missão. Precisava garantir que tudo ficaria bem, que Nick poderia enfim viver em paz depois de toda a luta que teve para recuperar seu primeiro amor. Mas nada aconteceu como queria, Sombra insistia em agir com política, em descobrir mais sob
Na casa, a esposa de Ivan, ao contrário do filho, estava feliz. Sara preparou o jantar para todos, mas focou naquilo que o marido gostava. Enfeitou cada prato com um guardanapo que ela dobrou em formato de laço, no prato de Ivan o guardanapo tinha o formato de um coração.— Nossa, acho que no máximo eu colocaria alguns guardanapos de papel no centro da mesa.Olíe não entendia o motivo para tanto capricho se no final os papeis ficariam sujos, os pratos iriam para a lava-louças e o restante da comida que Sara decorou com tanto cuidado acabaria em potes plásticos dentro da geladeira.A sogra da menina sorriu antes de explicar.— Esse tomatinho aqui serve para dizer que morri de saudade do meu homem, já esse raminho de salsa diz que ele é importante para mim, o guardanapo é uma declaração de amor. As pessoas mais importantes da minha vida vão se sentar nessa mesa hoje, o homem que esteve ao meu lado por uma vida inteira, mesmo que muitas vezes eu não merecesse, o meu menininho que voltou
Quando Ivan terminou de se arrumar até tentou se preocupar com o amigo, mas a saudade que estava da esposa falou bem mais alto, não tinha tempo a perder. Se lembrou do trecho de uma música brasileira. “A morte, surda, caminha ao meu lado. E eu não sei em que esquina ela vai me beijar” Respondeu ao próprio pensamento. — Eu sei exatamente qual será o seu beijo Nick que estava perdido nos próprios pensamentos ficou sem entender o que o pai havia dito. — Quê? — Nada, só vamos. Estou doido de saudade da pequena. Entraram no carro em silêncio, mas o rapaz acabou perguntando com um tom de quem apenas puxava um assunto para quebrar o gelo. — Por que nunca liga para casa? A minha mãe ficava colada no telefone sempre que você estava longe de casa, sabia? — Eu sei, mas se eu ligasse, se ouvisse a voz dela, o jeito que ela sempre chorava pedindo para eu voltar teria jogado tudo para o alto, filho. Ficar longe dela era uma tortura que eu fazia por ela. Sempre quis ser só o engravatado