Nunca um número ecoou tão fundo na mente de um homem quanto aquele SEIS, na cabeça de Ivan. Ainda tinha tantas coisas que queria fazer, tanto tempo que precisava recuperar, tantas palavras que não disse aos filhos. Lembrou de Ive, a garotinha era tão pequena, queria poder ver a sua caçula crescer, quem sabe se apaixonar, contar para ele sobre algum rapaz que ele com certeza desejaria matar. E tinha Nick, o rapaz que tinha acabado de abrir os olhos. Na Tanzânia Ivan tinha pedido a Deus Um pedido silêncio, mas sincero. — Se tem que levar alguém, que seja eu. Deixa meu filho viver, deixa meu menino experimentar a felicidade. E quando se lembrou daquela oração, agradeceu por ter sido ouvido. Dobrou o papel e colocou no bolso, seguiu a sua missão. Precisava garantir que tudo ficaria bem, que Nick poderia enfim viver em paz depois de toda a luta que teve para recuperar seu primeiro amor. Mas nada aconteceu como queria, Sombra insistia em agir com política, em descobrir mais sob
Na casa, a esposa de Ivan, ao contrário do filho, estava feliz. Sara preparou o jantar para todos, mas focou naquilo que o marido gostava. Enfeitou cada prato com um guardanapo que ela dobrou em formato de laço, no prato de Ivan o guardanapo tinha o formato de um coração.— Nossa, acho que no máximo eu colocaria alguns guardanapos de papel no centro da mesa.Olíe não entendia o motivo para tanto capricho se no final os papeis ficariam sujos, os pratos iriam para a lava-louças e o restante da comida que Sara decorou com tanto cuidado acabaria em potes plásticos dentro da geladeira.A sogra da menina sorriu antes de explicar.— Esse tomatinho aqui serve para dizer que morri de saudade do meu homem, já esse raminho de salsa diz que ele é importante para mim, o guardanapo é uma declaração de amor. As pessoas mais importantes da minha vida vão se sentar nessa mesa hoje, o homem que esteve ao meu lado por uma vida inteira, mesmo que muitas vezes eu não merecesse, o meu menininho que voltou
Quando Ivan terminou de se arrumar até tentou se preocupar com o amigo, mas a saudade que estava da esposa falou bem mais alto, não tinha tempo a perder. Se lembrou do trecho de uma música brasileira. “A morte, surda, caminha ao meu lado. E eu não sei em que esquina ela vai me beijar” Respondeu ao próprio pensamento. — Eu sei exatamente qual será o seu beijo Nick que estava perdido nos próprios pensamentos ficou sem entender o que o pai havia dito. — Quê? — Nada, só vamos. Estou doido de saudade da pequena. Entraram no carro em silêncio, mas o rapaz acabou perguntando com um tom de quem apenas puxava um assunto para quebrar o gelo. — Por que nunca liga para casa? A minha mãe ficava colada no telefone sempre que você estava longe de casa, sabia? — Eu sei, mas se eu ligasse, se ouvisse a voz dela, o jeito que ela sempre chorava pedindo para eu voltar teria jogado tudo para o alto, filho. Ficar longe dela era uma tortura que eu fazia por ela. Sempre quis ser só o engravatado
Em uma casa isolada, mas ironicamente perto dali, Clara tentava explicar o que estava fazendo. Também não queria agir daquela forma, mas Paolo havia empurrado forte. Não podia apenas aceitar. — Uma omelete não se faz sem quebrar os ovos. Eu não queria que fosse assim, mas estávamos bem até se meterem no meu país. O Luigi não tem culpa de nada! Eu fui tentar ajudar e olha que aconteceu. Desculpa. Sombra não conseguia responder, mas se pudesse diria apenas para que ela confiasse, que daria um jeito nas coisas, que Clara não ficaria sozinha. Ainda se lembrava da menina assustada que foi esquecida por todos, inclusive por ele. Ninguém havia olhado para o que estava acontecendo no telhado de vidro que eles não sabiam possuir. Clara nasceu na mesma organização em que Sombra havia sido subchefe e que Fera foi Capo por muitos anos até passar o bastão para o genro e se aposentar junto com o melhor amigo. No entanto, ele ainda se lembrava das coisas que ela falou no meio da sala do conselh
Promessas e juramentos são vistos com seriedade dentro da máfia, não importa a idade, o gênero ou crença. A palavra deve ter o mesmo peso que o sangue e só o sangue paga a desonra da palavra.Sara sabia disso, apesar de não ter nascido na máfia, nasceu da máfia, filha de um antigo capo e com sangue das duas maiores organizações criminosas do mundo, ela foi criada como filha única de um médico, mas a roda do destino a levou de volta para casa e o seu lar tinha um nome e quase dois metros de altura.Assim que a porta se abriu Ivan olhou para a mulher e sentiu o peito paralisar, torceu para que não existisse saudade do outro lado, porque fugiria até do inferno só para poder olhar para ela.Sara estava com a cabeça apoiada no ombro na nora e as duas dormiam tranquilas, alheias as guerras que seus homens lutavam por elas.— Ela é linda, não é?Ivan falou com o filho quase como se conversasse com um amigo, estava com os olhos fixos em Sara.— Perfeita!Nick respondeu, mas estava se referind
Sara estava deitada sobre o marido quando se lembrou do jantar, era difícil pensar em qualquer coisa quando Ivan a segurava em seus braços.Beijou o tórax masculino, se aninhou ali, sempre ficavam daquele jeito depois de fazerem amor. Um tipo de silêncio que carregava milhões de declarações que não precisavam de palavras, mas depois do prazer ela se lembrou.— Vou buscar sua comida.Levantou animada, feliz como uma adolescente apaixonada. Talvez ainda tivesse o mesmo coração da menina que se apaixonou por um desconhecido no meio da rua e em um acidente encontrou um abrigo para a intensidade que sempre morou em seu peito.Ivan não teve tempo de recusar, daquela vez, o silêncio dele era saudade, um tipo de saudade estranha, daquilo que ainda não tinha perdido, mas sabia que estava no fim.A mesma angústia que se sente no fim de uma viagem perfeita e que apesar de não ser o momento de partir, arrumar as malas também traz uma certa melancolia dolorosa.Se pudesse fazer um último pedido se
Perto dali, Sombra tentou de todas as formas se livrar daquelas cordas. O olhar molhado de Clara mostrava que ela era tão prisioneira quanto ele, apesar de ter dado a ordem para levá-lo até aquele cômodo mofado.Pensou que tinha sido ingênuo ao acreditar que Cosimo aceitaria em silêncio toda aquela movimentação. O que parecia pouco para ele, para os italianos significava tudo.Não podiam comparar o alcance que tinham com o poder quase irrisório da Camorra, mas Cosimo e o pai tinham ambição, não podia negar.Movimentou o corpo para um lado, depois para o outro, na cadeira de trás Elijah estava desmaiado, e Sombra pensou que a queda doeria bem mais no irmão do que nele, mas precisavam sair daliContinuou tentando usar o corpo para provocar uma queda, o irmão era pesado e demorou até conseguir, sabia que assim que caíssem teria pouco tempo para encontrar uma saída daquela situação, os homens que Clara havia deixado ainda estavam por ali.Conseguiu depois de um tempo e diferente do que ac
Sombra sabia o que o amor é capaz de fazer com as pessoas, ele também era uma das vítimas desse sentimento, foi arrebatado há muito tempo por uma menina com quem não tinha nada em comum.Ela uma doce enfermeira de uma cidade pequena, ele, o executor da máfia americana. Dois destinos que se cruzaram por acidente e com o tempo e algumas batalhas, se tornaram um. Não teve raiva de Clara, mas brincou ao olhar o corte pelo retrovisor do carro.— Vou descontar naquele italiano fresquinho, há se vou!Se referia assim ao príncipe da Cosa Nostra, o rapaz não se parecia em nada com o pai, muito pelo contrário, enquanto o antigo Dom lidava com seus inimigos com punhos de aço, o filho sempre foi conhecido como um apreciador da esbornia.Luigi costumava ser visto com várias mulheres. Patrocinava festas em cruzeiros onde ele e poucos amigos eram ou únicos entre dezenas de garotas que dariam as vidas para caírem nas graças do rapaz.Quis o destino que justamente a menina com menos chances fosse a es