Eu estava no jardim, tentando encontrar alguma paz. O céu começava a se tingir com os tons do pôr do sol, mas minha mente estava longe de qualquer serenidade. Fazia algumas horas que Ana havia partido, levando consigo toda a agitação e os resquícios do dia. Era um alívio momentâneo, mas também deixava espaço para que outras questões tomassem conta. O beijo. A memória queimava em mim como um segredo proibido. A sensação da boca de Damien contra a minha era tão nítida que eu quase podia sentir o calor outra vez. A intensidade do momento me deixava confusa e inquieta, como se algo dentro de mim estivesse fora de lugar. Desde o instante em que aconteceu, uma avalanche de pensamentos me consumia. O que significava aquilo? E o que ele achava de tudo isso? O som de passos no cascalho interrompeu minha linha de pensamento. Olhei para cima, esperando encontrar Alex, talvez com sua costumeira preocupação exagerada. Mas quando meus olhos se encontraram com Damien, meu coração disparou. Por u
O caminho de volta para casa foi silencioso, exceto pelo zumbido constante do motor e o murmúrio abafado da cidade lá fora. Minhas mãos estavam firmes no volante, mas minha mente vagava longe. A conversa com Olívia tinha sido necessária, mas de um jeito frustrante que eu não conseguia entender completamente. Eu devia estar satisfeito. Tudo estava esclarecido. Regras definidas, expectativas ajustadas. Ela concordou com tudo, sem hesitação, mas havia algo em seus olhos que ainda me incomodava. Algo que parecia impossível de ignorar. Cheguei em casa e fui recebido pelo silêncio familiar. O hall principal parecia mais vazio do que nunca, iluminado por uma luz fria que destacava os móveis impecavelmente organizados. Joguei as chaves na mesa lateral e fui direto para o escritório. O trabalho sempre foi meu refúgio, e hoje eu precisava dele mais do que nunca. No meu escritório, sentei-me à mesa e abri o laptop. Por alguns minutos, o som das teclas preenchia o ambiente, e eu entrei no modo
O sol já estava alto, mas o quarto permanecia mergulhado em penumbra, com as cortinas fechadas abafando a luz do dia. Eu estava sentada no canto da cama, com um livro aberto no colo, mas as palavras na página dançavam sem sentido. Minha mente estava longe, longe de onde eu queria estar, e, mesmo tentando me concentrar, as sombras dos meus pensamentos sempre me encontravam. A conversa com Damien ainda ressoava na minha cabeça, como um eco distante e incômodo. Tudo parecia tão…impessoal. Como se estivéssemos seguindo um roteiro. Ele estabeleceu as regras, definiu os limites, e eu, mais uma vez, estava tentando me encaixar nelas. Era um acordo, e eu deveria estar satisfeita com isso. Mas a sensação de desconforto persistia, como se algo estivesse prestes a romper a calma aparente. Tentava afastar esses pensamentos quando a porta do quarto se abriu de repente, com um estrondo. Minha mãe entrou com o rosto contorcido de raiva, sua postura rígida e altiva, a mesma de sempre quando estava
A luz fraca da manhã filtrava-se pelas cortinas fechadas, sombras no quarto. A escuridão ainda dominava o ambiente, abafando a luz do dia que tentava invadir. Eu estava deitado na cama, com a cabeça pesando de maneira insuportável, a sensação de estar à deriva, em algum lugar entre o sono e a realidade. Ao meu lado, a mulher com quem eu havia passado a noite estava encolhida sob as cobertas, completamente alheia ao meu movimento. O cheiro de álcool e perfume barato ainda pairava no ar, mas não foi isso que me fez ficar em silêncio. Era a sensação de desconforto, algo que não se explicava, mas que estava se arrastando comigo, como uma sombra indesejada. A noite de sábado tinha sido um reflexo do que eu procurava: uma fuga. Mas, como quase tudo na minha vida, ela não havia trazido o alívio que eu imaginava. Eu estava distante de tudo o que importava. As risadas, a música alta, os corpos dançando freneticamente, estavam ali apenas para me manter ocupado, para desviar minha atenção de al
Alex colocou a última mala no porta-malas do carro e limpou as mãos, me lançando um olhar encorajador. Apesar de toda a determinação que eu tinha momentos atrás, o peso da decisão parecia aumentar com cada segundo. Estávamos indo embora juntos, mas parte de mim ainda se sentia presa àquela casa. — Liv, estamos fazendo isso juntos. Você não está sozinha, nunca estará — ele disse, com aquela firmeza que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem. Olhei para a casa uma última vez. O lugar onde cresci, onde aprendi quem eu era, mas também onde colecionei tantas mágoas. As paredes agora pareciam um lembrete constante de tudo o que eu precisava superar. Por mais que doesse, não havia mais espaço para mim ali. — Tenho sorte de ter você, Alex — murmurei, a voz embargada, enquanto lutava contra as lágrimas que queriam cair. Ele me abraçou de lado, apertando de leve, como se quisesse transferir parte da força dele para mim. — Sempre vou estar aqui para você. E agora, no nosso apartamento,
O som do motor do carro diminuía lentamente até desaparecer por completo. Lá se iam Olívia e Alex, deixando para trás a casa que, por anos, fora o lar de todos nós. Fiquei parado na entrada, olhando o horizonte vazio, sentindo o peso da decisão deles e a culpa inevitável que me sufocava. Era mais do que apenas a partida da minha filha; era a constatação de que meu papel como pai havia falhado em protegê-la de tudo — inclusive de sua própria mãe. Respirei fundo, tentando aliviar o nó que parecia se formar no meu peito. As palavras dela ecoavam na minha mente: “Eu só quero me sentir bem em algum lugar.” Olívia merecia isso. Mais do que qualquer coisa. Caminhei de volta para dentro de casa, cada passo mais pesado do que o anterior. O silêncio da sala parecia maior, mais opressor do que nunca. Victoria estava lá, sentada no sofá com o celular na mão, tão alheia quanto sempre esteve. — Então, ela finalmente foi — comentou, sem desviar os olhos da tela, a voz carregada de indiferença. P
O som do despertador ecoava pelo apartamento, cortando o silêncio da manhã. Estendi a mão para desligá-lo, sentindo a exaustão familiar que parecia mais pesada a cada dia. Fiquei alguns segundos sentado na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, observando a luz fraca do sol filtrando pelas cortinas. Outro dia de trabalho, outra reunião importante. Depois de um banho rápido e um café amargo mal preparado, vesti meu terno cinza. O projeto da Future Mind estava em uma fase crucial; o sucesso dele não era apenas mais um marco para a Orion. Era a chave para o acordo com a Elysium, um passo essencial para a consolidação da nossa presença no mercado europeu. Mais do que isso, era minha chance de consolidar minha posição como CEO definitivo. Ao chegar ao escritório, caminhei direto para a sala de reuniões, onde Simone já aguardava ao lado de Ronan e de outros membros da equipe. O ambiente estava carregado de seriedade, com gráficos e relatórios espalhados pela mesa de madeira. — Vamo
Fazia algumas horas que o Alex tinha ido para o escritório. Eu estava na sala de estar, relaxando e tentando pensar em quando voltaria a trabalhar. Sentia falta do restaurante, então peguei uma das revistas de paisagismo e comecei a folhear. Talvez eu encontrasse alguma inspiração para novos projetos, embora não tivesse o costume de pegar muitos trabalhos, já que preferia o restaurante. Estava absorta na leitura quando meu celular começou a tocar. Olhei para o número que estava piscando na tela e uma onda de nervosismo me atingiu. Era Damien. A tensão no meu peito aumentou instantaneamente. O que ele queria? Por que ele estava me ligando? Respirei fundo, tentando disfarçar o tremor na minha voz, antes de atender. — Onde está, Montenegro? — Ele perguntou, como se não tivesse ideia do quanto sua simples pergunta estava me deixando ansiosa. — Estou em casa… — eu disse, quase automaticamente, antes de me corrigir. — Quero dizer, no apartamento do Alex. Ele fez uma pausa, e por um mome