Liam
Acordei disposto a encontrar uma esposa. Se a condição para que eu assuma a Laser Inc. e a minha fortuna é essa, é exatamente isso o que farei. Porém, após uma noite mal dormida, em que perdi horas rolando na cama pensando sobre esse assunto, decidi que meu pai terá uma grande surpresa quando descobrir o que eu pretendo fazer.
Ele estabeleceu que eu deveria me casar, porém, ele não especificou com quem. Eu pretendo encontrar uma esposa completamente oposta ao que ele acredita ser a pessoa que eu vou escolher para me casar.
Decidido a seguir meu próprio caminho e fazer uma escolha que desafiasse as expectativas de meu pai, eu me pus a buscar uma esposa que fosse completamente diferente do que ele imaginava. Alguém que não se encaixava no estereótipo de uma mulher fútil da alta sociedade paulistana.
Mas onde eu poderia encontrar alguém assim? Eu não tenho a menor ideia. Talvez eu deva sair, conhecer lugares diferentes dos quais eu costumo frequentar. Estava pensando sobre isso quando a minha secretária entrou na minha sala após uma rápida batida na porta.
Marta é uma mulher na casa dos cinquenta anos, eficiente, porém nada prática. Não tenho paciência alguma com ela. Porém, notei que ela parecia triste naquela manhã. Aquela era a segunda vez que ela vinha à minha sala e ficava em silêncio absoluto, algo bastante incomum para Marta.
— Algum problema? — Perguntei com irritação, enquanto assinava alguns documentos que ela colocou sobre a minha mesa.
— Não.
— E por que você está com essa cara de velório? — Eu sei, sou um idiota.
— Não há nada, senhor Ricci.
Marta saiu após eu concluir todos os documentos sem nada dizer e assim foi durante todo o dia. Ela se resumia sempre ao estritamente necessário e eu me perguntava o que será que tinha acontecido com ela.
Quando chegou o fim do expediente, eu passei pela sua mesa em direção ao elevador, pois as portas ficam frente a frente, mas diferente do que acontece todos os dias quando estou saindo do escritório, Marta não me cumprimentou nem desejou “um ótimo descanso” como ela faz todas as vezes.
Ao chegar do trabalho me deparei novamente com a mesma cena da noite anterior, mas desta vez eu simplesmente me recolhi ao meu quarto. Não estou com paciência para Frederico e Julian juntos.
Porém, não consegui escapar de Frederico na manhã seguinte, o que contribuiu para me deixar com muita raiva, principalmente quando recebi uma mensagem do Caíque me provocando sobre cuidar bem da empresa dele.
Ou seja, mais copos jogados contra a parede e uma bela bagunça na minha sala para limpar. Quando liguei para Marta, ela me surpreendeu ao dizer:
— Já solicitei a limpeza para a sua sala.
Ela encerrou a ligação após isso e me deixou mais intrigado com o seu comportamento incomum. Alguns minutos depois, entrou um jovem usando um macacão igual ao da garota que sempre vinha limpar a minha sala, mas não foi esse fato que chamou a minha atenção.
— Onde está a garota? — Perguntei de maneira brusca.
— Desculpe, senhor Ricci. Eu não sei sobre qual garota o senhor está falando.
Percebi que não estava sendo claro e corrigi.
— Onde está a garota da limpeza, responsável por limpar a minha sala?
— O senhor a demitiu ontem, senhor Ricci.
A explicação do rapaz foi clara, porém eu levei alguns segundos para assimilar as suas palavras. A recordação da cena do dia anterior no meu escritório voltou a minha mente e me senti um babaca, mesmo que a garota realmente tenha se excedido ao dizer o que disse a mim.
Perceber que eu havia demitido a garota da limpeza por causa de um comentário inofensivo, mesmo que deslocado, fez com que eu sentisse um peso de culpa em meu peito. Eu havia agido de forma impulsiva e arrogante, deixando minha raiva controlar minhas ações.
Aquelas palavras inocentes, "você já pensou em procurar ajuda?", ecoavam em minha mente. Naquele momento, eu havia interpretado como um insulto, uma afronta à minha superioridade. No entanto, agora, eu me senti compelido a fazer algo para corrigir meu erro.
Percebi que o rapaz ainda estava me encarando, provavelmente aguardava por mais alguma pergunta, então eu apenas fiz um gesto com a mão, para que ele continuasse a sua tarefa e liguei para a minha secretária, solicitando a sua presença em minha sala, após o término da limpeza.
— Gostaria que você solicitasse ao RH para que entre em contato com a garota da limpeza e a recontrate — Eu falei enquanto digitava algumas informações em meu computador, então um minuto se passou até eu perceber que Marta ficou em silêncio absoluto sobre a minha ordem — Marta? — perguntei, um pouco impaciente.
— Desculpe, senhor Ricci, mas confesso que estou surpresa com a sua decisão. Claro, vou imediatamente entrar em contato com o RH e providenciar a recontratação da funcionária da limpeza. Ela estará de volta ao trabalho o mais rápido possível.
Fiquei satisfeito ao ouvir a resposta de Marta. Eu precisava corrigir a injustiça que havia cometido e oferecer uma oportunidade para a garota da limpeza, demonstrando que eu era capaz de reconhecer meus erros e agir de forma justa. Ou seja, eu não preciso de ajuda, como ela sugeriu erroneamente.
— A propósito, o nome dela é Cecília — Marta disse, já segurando a maçaneta da porta.
— Não entendi.
— A garota da limpeza que o senhor demitiu — Marta explicou — Ela chama-se Cecília.
— Isso realmente não importa. Apenas faça o que eu mandei.
Antes do final do expediente Marta voltou à minha sala e informou que o RH não estava conseguindo contato com a garota da limpeza, ou seja, não foi possível ainda a recontratação. Marta permaneceu mais alguns segundos diante da minha mesa, como se estivesse à espera de algo, mas eu apenas a dispensei e logo ela se retirou da minha sala.
Eu tentei consertar a situação, agora, está fora das minhas mãos.
Contudo, por algum estranho motivo, aquele assunto não saiu da minha cabeça por toda a noite, tirando o meu sono. Dessa vez eu nem mesmo lembrei da condição absurda que o meu pai impôs para que eu possa continuar à frente da empresa. Todos os meus pensamentos estavam em Cecília, um nome muito belo para uma garota tão sem graça, mas o meu corpo responde de maneira idiota em todas as vezes que eu lembro da sua voz doce e meiga.
CecíliaOlhei em torno do cômodo minúsculo, a tristeza me invadindo mais uma vez. As paredes estavam úmidas e como estava chovendo muito naquela noite, temi pela minha segurança, pois parece que o teto pode cair a qualquer momento. Voltei a orar por uma ajuda divina.Não havia muito a fazer além disso, afinal. Não estava conseguindo me concentrar na leitura de nenhum dos livros que eu trouxe na mudança, o que é absolutamente normal, considerando-se a minha situação atual.Fui demitida do meu emprego e quando cheguei em casa e contei para a minha família, o meu padrasto me mandou embora de casa no mesmo instante. Lembrei das palavras de Jean e o meu peito doeu uma vez mais.— Se não pode contribuir com as despesas de casa, também não vai ficar debaixo do meu teto — Ele disse com extrema frieza — Não posso sustentar mais uma boca. Já me basta ter que sustentar a sua mãe e os seus irmãos.Eu poderia ter dito que os meus irmãos são filhos dele e que a minha mãe é a sua esposa, mas na situ
LiamEu não consigo entender o que está acontecendo com Marta ultimamente. Ela parece estar cada dia mais estranha e até mesmo com raiva de mim. Eu sei que não sou um chefe fácil de lidar, mas isso não justifica essa mudança de comportamento, afinal, ela já trabalha comigo há mais de cinco anos. Pensava sobre isso quando Caíque entrou na minha sala sem ser anunciado e logo Marta estava atrás dele, preocupada com a minha reação, como já aconteceu outras vezes.— O que está fazendo aqui, Caíque? — Perguntei furioso, ficando de pé por trás da minha mesa — Essa sala é minha e você não pode entrar aqui sem a minha autorização.Caíque não demonstrou preocupação alguma com as minhas palavras, sentando-se na cadeira em frente a mesa e cruzando as pernas sobre o tornozelo com tranquilidade. Ele demonstrou estar bastante à vontade.— Por pouco tempo, meu caro.Eu encarei o meu primo sem conseguir entender o que ele estava tentando insinuar com aquela frase, e quando o questionei, ele respondeu
CecíliaConsegui um trabalho como garçonete em uma boate na zona sul da cidade. Estou odiando, mas foi a única coisa que apareceu. Consegui através da indicação de uma das garotas que também moram na pensão. Na verdade, não é bem uma boate, percebi no meu primeiro dia de trabalho. Não sei como denominar o local, mas eles o chamam de Clube Sussex. A maioria do público é constituído de homens e em alguns locais mais reservados do clube acontecem shows de pole dance e outras coisas que eu realmente não tive o menor interesse em saber. Por sorte eu fui designada a ficar nos arredores do bar comum, a parte em que não acontece nada em especial. Apenas música e bebidas. — Essa noite está uma loucura! — Manuela comentou, quando chegamos juntas ao bar para pegar os pedidos dos clientes — Não consegui ir ao banheiro desde que chegamos aqui.— Sim, está bastante movimentado hoje — Concordei.Rapidamente o barman atendeu aos pedidos e nos afastamos.O clube estava realmente lotado, principalmen
LiamNo momento em que meus olhos encontraram os dela, reconheci a garota imediatamente. Era Cecília, a ex-funcionária de limpeza que eu havia demitido impulsivamente em um acesso de raiva. Um sentimento desconfortável tomou conta de mim. Evitei seu olhar, lembrando-me de que ela era apenas uma empregada.Pensar que Marta estava preocupada com a garota e na verdade ela já está trabalhando em um clube noturno, provavelmente ganhando mais do que quando estava na minha empresa, me trouxe um sorriso cínico no rosto.Estendi a mão para ajudá-la a se levantar, fazendo o máximo que podia por ela naquele momento. Porém, tão logo ela conseguiu ficar de pé, afastei minha mão rapidamente, sentindo-me incomodado.— Obrigada, senhor — disse ela com uma voz falsamente doce.— Não precisa me agradecer. Apenas vá embora daqui. Você já causou problemas demais para uma noite só — Cortei-a bruscamente.Cecília pareceu surpresa com a minha reação hostil. Seus olhos, que outrora demonstravam tristeza, ago
CecíliaEra final da tarde e eu estava caminhando para o ponto de ônibus com Manuela quando um homem estranho me abordou no meio da rua, segurando meu braço com força e me encarando com um olhar cheio de ira. — Você sabe onde está o Bobby? — Ele perguntou, seu olhar segurando o meu de maneira perigosa.Senti todo o meu corpo trêmulo, o pavor me deixando completamente sem palavras. Eu não consegui emitir nem mesmo um único som.— Responde, garota! — O homem mau encarado gritou dessa vez, chegando a cuspir em meu rosto.— Eu… eu não… — Gaguejei, simplesmente aterrorizada.— Não brinca comigo, garota! — Voltou e me pressionar.— Ela não sabe nada sobre o Bobby, Marcão — Manuela veio em minha defesa, sua voz trêmula, mas ao menos ela estava falando — Ela não tem contato algum com o Bobby!— Não se mete, Manu — O homem gritou para a minha colega — Eu tô falando com ela. O Bobby disse que ela é a gatinha dele..Bem, agora eu estou simplesmente em desespero com essa informação. — Eu não te
LiamFicava cada vez mais aborrecido com a teimosa recusa de Cecília em falar comigo. Ela estava se comportando como uma grande tola, desperdiçando meu precioso tempo. Entretanto, não tinha muita escolha a não ser aguardar. Eu tinha pedido a Marta para me levar na casa da família de Cecília, para buscar informações sobre onde poderia encontrá-la, mas a pessoa que nos atendeu foi o padrasto dela e depois de destratar a minha secretária e eu, acabamos indo embora sem ao menos uma pista sobre o lugar para onde Cecília. Meu pai estipulou um prazo rígido para que eu encontrasse uma noiva, e o tempo estava se esgotando rapidamente. Não havia um plano B. Eu sabia um pouco de sua história e seu passado, tanto porque ela já havia trabalhado em minha empresa quanto porque minha secretária a conhecia. Cecília era a única garota que eu conhecia e que estava em uma situação difícil o suficiente para considerar a proposta que eu estava prestes a fazer. Quando pedi meu terceiro drinque, aproveite
CecíliaNão tenho a menor idéia de por quanto tempo eu permaneci em silêncio, enquanto encarava Liam Ricci com uma mistura de choque e descrença.— Você… o quê!? — Minha pergunta saiu alto demais.— Eu entendo que isso é inesperado, Cecília — ele começou, sua voz cheia da mais completa arrogância. — Mas eu preciso me casar o quanto antes. E cheguei a conclusão de que você é a pessoa ideal para os meus planos.Eu o observei atentamente, tentando entender a lógica por trás desse pedido insano. Liam Ricci, o notório mulherengo, estava me pedindo em casamento? A ideia de que aquele homem egocêntri
LiamSegurar a mão de Cecília era algo que eu não havia planejado. Não naquele momento. O aperto de mãos ao selar nosso acordo era uma formalidade, mas acabei prolongando aquele contato mais do que o necessário. E, de repente, aquilo se tornou incômodo.Quando percebi que segurava sua mão por tempo demais, a soltei quase que imediatamente, como se o simples toque entre nós tivesse o poder de queimar. Ela também pareceu desconfortável com a situação, e isso me incomodou além do normal.Por outro lado, eu estava satisfeito por Cecília ter aceitado minha proposta maluca de um casamento por conveniência. Era um alívio saber que a solução para meus problemas estava bem diante de mim, mesmo que