Liam
Eu não consigo entender o que está acontecendo com Marta ultimamente. Ela parece estar cada dia mais estranha e até mesmo com raiva de mim. Eu sei que não sou um chefe fácil de lidar, mas isso não justifica essa mudança de comportamento, afinal, ela já trabalha comigo há mais de cinco anos.
Pensava sobre isso quando Caíque entrou na minha sala sem ser anunciado e logo Marta estava atrás dele, preocupada com a minha reação, como já aconteceu outras vezes.
— O que está fazendo aqui, Caíque? — Perguntei furioso, ficando de pé por trás da minha mesa — Essa sala é minha e você não pode entrar aqui sem a minha autorização.
Caíque não demonstrou preocupação alguma com as minhas palavras, sentando-se na cadeira em frente a mesa e cruzando as pernas sobre o tornozelo com tranquilidade. Ele demonstrou estar bastante à vontade.
— Por pouco tempo, meu caro.
Eu encarei o meu primo sem conseguir entender o que ele estava tentando insinuar com aquela frase, e quando o questionei, ele respondeu com grande satisfação.
— Tenho certeza de que você sabe sobre o que eu estou falando — Caíque usou de grande cinismo para falar comigo — Afinal, você não atendeu às condições impostas pelo tio Frederico e a empresa será minha em breve.
— Primeiro ponto — Comecei a enumerar nos dedos, raiva me consumindo — Eu ainda tenho dez dias para cumprir a exigência de meu pai. Segundo ponto: A empresa não será sua caso isso não aconteça. Você apenas será o presidente da companhia.
Caíque soltou uma risada sarcástica.
— Serei presidente e você não será nada, além do filho do dono. Nem mesmo poderá trabalhar aqui.
A verdade contida nas palavras de Caíque me incomodaram, mas eu não iria deixar que ele percebesse que conseguiu me atingir. Eu mantive minha postura arrogante e desdenhei do que Caíque estava dizendo.
— Você acha mesmo que eu me importo com isso? Essas condições absurdas impostas pelo meu pai não significam nada para mim. Eu farei o que eu quiser e ninguém poderá me impedir.
Caíque sorriu de forma provocativa, como se soubesse algo que eu não sabia.
— Ah, Liam, você sempre foi um tolo. Acha mesmo que pode desafiar a vontade do tio Frederico? Não seja ingênuo. Ele tem um plano, e você não está seguindo as regras.
Aquelas palavras me irritaram profundamente, mas tentei manter a calma.
— Eu não vou me submeter a nenhum plano ou chantagem.
Caíque se levantou, me encarando com um olhar de superioridade.
— Você pode até pensar assim, mas a verdade é que você sempre viveu à sombra dele. E agora, está prestes a perder tudo o que acredita ter conquistado.
Aquelas palavras atingiram em cheio meu orgulho, mas eu não deixei transparecer. Mantive a postura altiva e o olhar desafiador.
— Veremos quem sairá vitorioso no final. Não me subestime.
Caíque deu de ombros, como se tudo aquilo fosse apenas um jogo divertido para ele.
— Quero a minha sala livre em dez dias.
Ele se retirou da minha sala com um sorriso de satisfação, deixando-me com um misto de raiva e preocupação.
Quando Marta veio até a minha sala alguns minutos depois, eu ainda estava com o sangue fervente pela raiva que senti do Caíque, então, ao ver a expressão de desagrado no rosto da minha secretária, decidi colocar um ponto final naquela situação de uma vez por todas.
— Marta, o que está acontecendo? Não entendo o motivo de toda essa raiva repentina. E não me venha com desculpas tolas.
Marta me encarou com um brilho de determinação e percebi naquele instante que agora ela me dirá a verdade. Não estava enganado, logo constatei.
— Eu não entendo como o senhor pode ser tão duro e cruel com uma pessoa que não fez absolutamente nada de mal — Marta disse de maneira audaciosa.
— Está falando sobre a garota da limpeza? — Perguntei com grande surpresa.
— Cecília. O nome dela é Cecília, senhor — Marta me corrigiu — Ela é uma jovem humilde que realmente precisava do trabalho. Saiba que o padrasto dela ameaçava expulsá-la de casa, se ela não ajudasse com as despesas.
— Acredito que isso tenha sido apenas uma ameaça vazia, Marta — Falei com fingida tranquilidade — Você está sendo dramática.
— Não foi uma ameaça vazia! — Ela protestou com veemência — Eu fui até a casa onde ela morava com a família e o padrasto realmente a expulsou. Ela não tinha economias, nem mesmo um aparelho celular ela tinha, senhor. Eu a chamei para morar na minha casa, mas Cecília não aceitou. Agora não tenho a menor ideia de onde ela possa estar.
Marta pareceu genuinamente preocupada com a garota. Seus olhos estavam a um passo de derramar as lágrimas neles acumuladas. Confesso que até mesmo eu consegui perceber o quanto fui insensível em minhas ações.
As palavras de Marta ecoaram em minha mente, despertando um sentimento de culpa e remorso.
— Espero que você consiga encontrar a sua amiga, então — Falei, fingindo voltar a minha atenção para o computador e dispensando Marta de maneira arrogante.
Marta entendeu a minha intenção e saiu da minha sala após me lançar um olhar de desânimo, os ombros caídos, como se o peso do mundo estivesse sobre eles. É realmente admirável a amizade dela pela garota.
Depois que Marta saiu, eu me peguei imaginando onde a garota poderia estar e se está passando por dificuldades tão sérias como Marta acredita.
— Ah, era só o que me faltava! — Eu me repreendi em voz alta, odiando essa sensação estranha no meu peito.
Eu já tenho um grande problema para resolver e não posso perder tempo pensando nos problemas dos outros.
CecíliaConsegui um trabalho como garçonete em uma boate na zona sul da cidade. Estou odiando, mas foi a única coisa que apareceu. Consegui através da indicação de uma das garotas que também moram na pensão. Na verdade, não é bem uma boate, percebi no meu primeiro dia de trabalho. Não sei como denominar o local, mas eles o chamam de Clube Sussex. A maioria do público é constituído de homens e em alguns locais mais reservados do clube acontecem shows de pole dance e outras coisas que eu realmente não tive o menor interesse em saber. Por sorte eu fui designada a ficar nos arredores do bar comum, a parte em que não acontece nada em especial. Apenas música e bebidas. — Essa noite está uma loucura! — Manuela comentou, quando chegamos juntas ao bar para pegar os pedidos dos clientes — Não consegui ir ao banheiro desde que chegamos aqui.— Sim, está bastante movimentado hoje — Concordei.Rapidamente o barman atendeu aos pedidos e nos afastamos.O clube estava realmente lotado, principalmen
LiamNo momento em que meus olhos encontraram os dela, reconheci a garota imediatamente. Era Cecília, a ex-funcionária de limpeza que eu havia demitido impulsivamente em um acesso de raiva. Um sentimento desconfortável tomou conta de mim. Evitei seu olhar, lembrando-me de que ela era apenas uma empregada.Pensar que Marta estava preocupada com a garota e na verdade ela já está trabalhando em um clube noturno, provavelmente ganhando mais do que quando estava na minha empresa, me trouxe um sorriso cínico no rosto.Estendi a mão para ajudá-la a se levantar, fazendo o máximo que podia por ela naquele momento. Porém, tão logo ela conseguiu ficar de pé, afastei minha mão rapidamente, sentindo-me incomodado.— Obrigada, senhor — disse ela com uma voz falsamente doce.— Não precisa me agradecer. Apenas vá embora daqui. Você já causou problemas demais para uma noite só — Cortei-a bruscamente.Cecília pareceu surpresa com a minha reação hostil. Seus olhos, que outrora demonstravam tristeza, ago
CecíliaEra final da tarde e eu estava caminhando para o ponto de ônibus com Manuela quando um homem estranho me abordou no meio da rua, segurando meu braço com força e me encarando com um olhar cheio de ira. — Você sabe onde está o Bobby? — Ele perguntou, seu olhar segurando o meu de maneira perigosa.Senti todo o meu corpo trêmulo, o pavor me deixando completamente sem palavras. Eu não consegui emitir nem mesmo um único som.— Responde, garota! — O homem mau encarado gritou dessa vez, chegando a cuspir em meu rosto.— Eu… eu não… — Gaguejei, simplesmente aterrorizada.— Não brinca comigo, garota! — Voltou e me pressionar.— Ela não sabe nada sobre o Bobby, Marcão — Manuela veio em minha defesa, sua voz trêmula, mas ao menos ela estava falando — Ela não tem contato algum com o Bobby!— Não se mete, Manu — O homem gritou para a minha colega — Eu tô falando com ela. O Bobby disse que ela é a gatinha dele..Bem, agora eu estou simplesmente em desespero com essa informação. — Eu não te
LiamFicava cada vez mais aborrecido com a teimosa recusa de Cecília em falar comigo. Ela estava se comportando como uma grande tola, desperdiçando meu precioso tempo. Entretanto, não tinha muita escolha a não ser aguardar. Eu tinha pedido a Marta para me levar na casa da família de Cecília, para buscar informações sobre onde poderia encontrá-la, mas a pessoa que nos atendeu foi o padrasto dela e depois de destratar a minha secretária e eu, acabamos indo embora sem ao menos uma pista sobre o lugar para onde Cecília. Meu pai estipulou um prazo rígido para que eu encontrasse uma noiva, e o tempo estava se esgotando rapidamente. Não havia um plano B. Eu sabia um pouco de sua história e seu passado, tanto porque ela já havia trabalhado em minha empresa quanto porque minha secretária a conhecia. Cecília era a única garota que eu conhecia e que estava em uma situação difícil o suficiente para considerar a proposta que eu estava prestes a fazer. Quando pedi meu terceiro drinque, aproveite
CecíliaNão tenho a menor idéia de por quanto tempo eu permaneci em silêncio, enquanto encarava Liam Ricci com uma mistura de choque e descrença.— Você… o quê!? — Minha pergunta saiu alto demais.— Eu entendo que isso é inesperado, Cecília — ele começou, sua voz cheia da mais completa arrogância. — Mas eu preciso me casar o quanto antes. E cheguei a conclusão de que você é a pessoa ideal para os meus planos.Eu o observei atentamente, tentando entender a lógica por trás desse pedido insano. Liam Ricci, o notório mulherengo, estava me pedindo em casamento? A ideia de que aquele homem egocêntri
LiamSegurar a mão de Cecília era algo que eu não havia planejado. Não naquele momento. O aperto de mãos ao selar nosso acordo era uma formalidade, mas acabei prolongando aquele contato mais do que o necessário. E, de repente, aquilo se tornou incômodo.Quando percebi que segurava sua mão por tempo demais, a soltei quase que imediatamente, como se o simples toque entre nós tivesse o poder de queimar. Ela também pareceu desconfortável com a situação, e isso me incomodou além do normal.Por outro lado, eu estava satisfeito por Cecília ter aceitado minha proposta maluca de um casamento por conveniência. Era um alívio saber que a solução para meus problemas estava bem diante de mim, mesmo que
CecíliaA sensação de acordar naquela manhã em um quarto incrivelmente bonito e uma cama absurdamente macia me deixou desorientada. Nunca na minha vida eu tinha dormido em uma cama tão confortável. Lentamente, as lembranças da noite anterior começaram a retornar, como flashes de uma história maluca que eu havia vivido. A proposta surpreendente de casamento de Liam, ainda ecoava na minha mente. E as notícias alarmantes sobre a pensão e Marcão, que me levaram a aceitar a ideia de ir para o apartamento de Liam, também ressurgiram.Tudo isso me deixou um pouco chocada, e levei alguns minutos para processar tudo o que estava acontecendo. Era como se minha vida tivesse sido virada de cabeça para baixo em uma única noite, e eu estava apenas começando a compreender a extensão das mudanças que estavam por vir.Decidi levantar-me, mas ao fazê-lo, percebi que só estava usando um roupão atoalhado que encontrei nos armários do luxuoso banheiro da suíte em que foi instalada na noite anterior. A ún
LiamFui ao quarto de hóspedes do meu apartamento com um misto de aborrecimento e determinação. Não era uma visita que eu estava ansioso para fazer, mas sabia que era necessária. Precisava deixar tudo claro com aquela garota. Não queria ter problemas futuros ou enfrentar expectativas as quais eu jamais poderia realizar.— Eu vou providenciar os papéis do nosso casamento no civil o mais breve possível — expliquei com enfado, enfatizando o caráter estritamente formal da situação. — Casaremos, e você irá morar aqui no apartamento. É apenas isso.— Você falou algo sobre criar uma imagem de casal para convencer as pessoas… — Sim, temos que fazer com que pareça real aos olhos de todos, especialmente da minha família. Precisamos sair juntos, comparecer a eventos sociais e agir como um casal normal. Mas lembre-se, Cecília, tudo isso é apenas fachada. Não quero qualquer engano ou mal-entendido a respeito disso. — Deixei claro com firmeza.— Você já disse isso. Não precisa repetir o tempo todo