Emily
Eu estava concentrada no design de uma nova campanha publicitária quando vi o buquê de flores sobre a minha mesa. O aroma doce preencheu o pequeno cubículo, e minha mente quase imediatamente voltou a flutuar, distraída pela mesma pergunta que vinha me atormentando nas últimas semanas: Quem está por trás disso?
Já fazia três meses que comecei a trabalhar na Blake Industries, e desde então, tenho recebido flores regularmente. Primeiro, foi um buquê simples de lírios brancos. Depois vieram rosas amarelas, orquídeas, e agora, uma combinação de tulipas e gérberas. Sempre com um pequeno bilhete, curto e impessoal: "Para alegrar seu dia" ou "Um pequeno gesto". Nada que desse qualquer pista concreta sobre quem poderia ser o remetente.
No começo, pensei que fosse um erro. Talvez algum outro funcionário estivesse recebendo presentes e eles estavam vindo parar na minha mesa por engano. Mas quando as flores começaram a chegar de maneira consistente, ficou claro que não era coincidência. Eu tinha um admirador. Um admirador anônimo.
Um homem misterioso — pensei, um sorriso involuntário se formando em meus lábios. Eu não era o tipo de pessoa que se importava muito com flores ou com gestos grandiosos. Cresci em uma casa onde o pragmatismo era a regra. Tudo era muito calculado. Mas essas flores... de alguma forma, elas despertavam algo em mim que eu não esperava.
Com um suspiro, deixei o trabalho de lado por um momento e peguei o pequeno cartão que acompanhava o buquê de hoje. Era simples, como sempre.
"Espero que estas flores tragam um pouco de cor ao seu dia."
Sorri. Não podia negar que era um gesto doce. Mas quem? Quem poderia estar fazendo isso? Passei rapidamente pelos rostos conhecidos da empresa, tentando identificar qualquer comportamento suspeito. Será que era alguém do meu departamento? Algum colega tentando chamar minha atenção? Ou talvez fosse alguém que eu nunca consideraria, alguém mais distante.
Enquanto organizava as flores ao lado do meu monitor, a voz de Daniel, meu chefe de departamento, me tirou dos devaneios.
— Emily, você viu o e-mail que o Oliver enviou sobre a revisão do design da campanha?
— Oliver? — Perguntei, um pouco distraída.
— Oliver Blake, o CEO. O chefe dos chefes. Você sabe, aquele cara que provavelmente não sorri desde 1995? — Daniel fez uma careta e riu de seu próprio comentário.
Revirei os olhos, mas ri junto com ele. O famoso Oliver Blake, CEO da Blake Industries, era uma lenda por aqui. Conhecido por ser frio, calculista, quase uma máquina em sua maneira de lidar com negócios. Não que eu esperasse outra coisa de alguém que comandava uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Mas, ao contrário de muitos, eu nunca o vi pessoalmente. Apenas ouvi histórias sobre como ele impunha respeito com um simples olhar.
— Eu vi o e-mail, sim. Ele quer o briefing da campanha pronto até amanhã — respondi, voltando minha atenção para a tela. — O que acha que ele vai dizer sobre nosso conceito?
— Provavelmente nada. Talvez um aceno de cabeça, se estivermos com sorte — Daniel riu novamente. — Mas não se preocupe, seu trabalho está incrível. Mas, sendo o chefe insuportavelmente perfeccionista, ele pediu algumas alterações, você pode fazê-las e me enviar até o final do dia? — Ele revirou os olhos sorrindo, imitindo a expressão do CEO quando fala.
— É claro, farei agora mesmo — murmurei, tentando me concentrar. Mas a verdade era que a presença invisível de Oliver Blake me deixava um pouco nervosa.
Eu sabia que ele acompanhava os projetos de perto, e a ideia de que ele poderia assistir cada movimento meu, avaliar cada escolha que eu fazia, era desconcertante.
Voltei minha atenção para o computador, tentando bloquear esses pensamentos. Tinha uma campanha para finalizar, e esse mistério das flores... bem, teria que esperar.
No final do dia, enquanto caminhava para fora do escritório, algo me fez parar por um momento. Eu estava saindo pela mesma porta de vidro que sempre usava, quando vi, no reflexo da porta, a figura alta e imponente de Oliver Blake atravessando o saguão. Ele estava distante, quase invisível na penumbra do fim de tarde, mas sua presença era inconfundível.
Eu nunca tinha estado perto dele antes, e ver sua figura, mesmo que de relance, foi... intimidante. Ele não parecia ser o tipo de homem que notava as pessoas. Eu era uma entre centenas de funcionários em uma empresa gigante. Ele, o CEO, era o tipo de pessoa inalcançável, tão distante quanto o topo de uma montanha.
Ele atravessou o saguão com passos firmes e seguros, sem olhar para ninguém. Parecia que o mundo ao seu redor existia apenas como pano de fundo para seus pensamentos. Algo sobre a maneira como ele andava, a maneira como ele parecia absorvido em si mesmo, me fez hesitar por um segundo.
Sacudi a cabeça e continuei andando. Eu tinha flores para cuidar em casa e um projeto para finalizar. O CEO continuaria a ser apenas uma presença distante e impessoal, como deveria ser.
***
Na manhã seguinte, o briefing da campanha foi marcado para as nove da manhã. Eu já estava no escritório cedo, preparando os últimos detalhes da apresentação. Daniel estava ao meu lado, ajustando as cores e fontes que havíamos escolhido para a campanha. Eu tentava me concentrar no trabalho, mas minha mente voltava continuamente para os mistérios dos últimos dias.
Poucos minutos antes da reunião, Alice, a assistente de Oliver, apareceu na porta do departamento de marketing.
— Emily, o Sr. Blake gostaria que você estivesse na apresentação. E leve o relatório impresso, por favor.
— Eu? — Perguntei, surpresa. — Eu achei que seria o Daniel...
— Ele pediu especificamente você. — Alice me olhou por um momento, avaliando minha reação. — Não se preocupe, é apenas uma formalidade. Ele só quer garantir que a equipe principal de design esteja presente.
Engoli em seco e assenti. Havia algo no jeito profissional de Alice que me acalmava um pouco, mas não o suficiente. Sabia que Oliver Blake não fazia nada sem uma razão. Se ele queria que eu estivesse presente, havia algo mais por trás disso.
Quando entrei na sala de reuniões, Oliver já estava lá, sentado à cabeceira da mesa, olhando o tablet em suas mãos. Seu rosto era impassível, frio. Ele mal levantou os olhos quando entrei. Ao redor da mesa, outros diretores de departamentos estavam sentados, mas o foco da sala estava nele. Tudo girava ao redor dele, como se sua presença dominasse o ambiente.
Sentei-me em silêncio, com o relatório impresso em mãos, esperando que ele falasse. O briefing começou, com Daniel apresentando a campanha enquanto eu permanecia quieta, observando Oliver de soslaio. Sua expressão não mudava. Ele estava concentrado nos números, nas projeções, nos gráficos que Daniel mostrava. Nenhuma reação. Nenhum sinal.
Quando a apresentação terminou, Oliver finalmente olhou diretamente para mim. E naquele momento, algo mudou. Por uma fração de segundo, seus olhos pareceram se suavizar, quase imperceptivelmente, antes de voltar à sua máscara impenetrável.
— Bom trabalho. Continuem com isso — ele disse, sua voz tão fria quanto eu esperava.
Levantei-me, aliviada por não ter havido nenhum problema com o projeto. Eu estava pronta para sair da sala e continuar com o dia, mas enquanto me dirigia à porta, ouvi Alice se aproximar.
— Emily, posso falar com você? — ela perguntou, sua voz sempre suave e eficiente.
— Claro. — Parei imediatamente.
Alice se aproximou e olhou para mim com uma expressão neutra, mas um leve sorriso apareceu em seus lábios.
— O Sr. Blake ficou bastante impressionado com o seu trabalho. Ele acha que sua visão criativa traz algo diferente para a empresa — ela fez uma pausa antes de prosseguir. — Mas ele irá encaminhar algumas alterações para que tudo fique ainda mais perfeito.
Lembrei-me da maneira como Daniel o imitou chamando de insuportável e perfeccionista e quase sorri.
Ainda assim, as palavras dela me pegaram de surpresa. O próprio Oliver Blake, o homem que raramente demonstrava qualquer emoção ou dava elogios, aparentemente havia gostado do meu trabalho?
— Ah, obrigada... isso significa muito — murmurei, sentindo as bochechas esquentarem levemente. Não era comum eu receber elogios desse tipo, ainda mais vindos de alguém tão distante quanto ele.
Alice assentiu e me deu um breve aceno antes de partir. Respirei fundo e voltei rapidamente ao meu posto no departamento de marketing.
O dia continuou como de costume, com exceção do leve sorriso que se formava em meu rosto de vez em quando. Eu ainda não tinha ideia de quem estava me enviando as flores, mas, de repente, isso parecia menos importante.
Oliver Blake havia me notado.
Mas por que isso mexia tanto comigo?
OliverA sala de reuniões ainda tinha o cheiro familiar de café e papel novo, misturado ao ar-condicionado incessante, quando me levantei para sair. A apresentação da campanha de marketing terminou sem grandes complicações, como deveria ser. Emily Carter se movia com desenvoltura, embora discretamente, no canto da sala. Ela manteve o silêncio enquanto seu colega de equipe, Daniel, liderava a apresentação, mas eu a observava de perto. Sempre.É impressionante como ela parece alheia à atenção que atrai. Três meses na Blake Industries e eu já conhecia bem o seu trabalho, a sua dedicação. No entanto, ela não fazia ideia do que estava por trás das flores que sempre encontrava em sua mesa. E é exatamente assim que deve ser.A verdade é que controle é o que define minha vida, e permitir que qualquer coisa, ou qualquer pessoa, comprometa isso seria um sinal de fraqueza. Eu não posso ser fraco. Não na minha posição. Não com tantas pessoas observando, esperando pelo menor sinal de erro para ata
OliverEu não deveria estar fazendo isso.Enquanto a luz fria da tela iluminava o escuro do meu escritório, observei Emily Carter mais uma vez pelas câmeras de segurança. Ela estava em seu cubículo, a essa hora em que a maioria dos funcionários já havia ido embora. Todos os outros andares estavam vazios, exceto pelo fraco brilho da luz sobre seu local de trabalho. As mãos dela se moviam ágeis, organizando papéis e pastas, e eu estava ali, observando, como um maldito stalker.Senti a familiar onda de frustração tomar conta de mim. O que estou fazendo? Eu, Oliver Blake, CEO da Blake Industries, assistindo uma funcionária pela tela das câmeras de segurança. Isso era insano. Eu sabia que era. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim me mantinha grudado à tela, incapaz de desviar o olhar.Tentei justificar isso para mim mesmo inúmeras vezes. Fiquei convencido de que o que me prendia a Emily era sua dedicação, sua capacidade de mergulhar tão profundamente no trabalho que se esquecia de tudo ao redo
EmilyMeus olhos permaneciam fechados, como se, ao mantê-los assim, eu pudesse segurar aquele momento por mais alguns segundos. Minha respiração ainda estava acelerada, o coração martelando no peito, e os lábios formigavam.O beijo. Aquele beijo.Ainda podia sentir a pressão suave, mas ao mesmo tempo intensa, de seus lábios nos meus. A forma como o calor do seu corpo tinha me envolvido, o toque de suas mãos deslizando por minha pele. Era como se eu tivesse sido arrancada da realidade por alguns instantes. O elevador voltou a descer, e eu sentia o mundo ao meu redor girar.E então, as portas se abriram, e o som foi o suficiente para me puxar de volta ao presente.Ele se foi. Sem dizer uma palavra, o homem que me beijou – o homem misterioso que eu sequer consegui ver – desapareceu para fora do elevador. Minhas mãos ainda tremiam, como se meu corpo não tivesse compreendido que o momento havia acabado, que eu estava ali, sozinha.Meus olhos, que ainda estavam se acostumando com a luz, foc
EmilyOs dias seguintes passaram como um borrão. Eu mergulhei no trabalho, tentando a todo custo me afastar das lembranças do elevador. Mas era como tentar escapar da própria sombra; por mais que eu tentasse me focar nos projetos, nas reuniões, nos relatórios, os pensamentos sobre aquele momento me seguiam.Eu ainda não sabia quem ele era, o homem que me beijou e desapareceu sem dizer nada. Mas, de alguma forma, ele continuava presente. Cada vez que o elevador se fechava, cada vez que eu passava pelos corredores vazios da empresa, uma tensão invisível me envolvia, como se ele pudesse aparecer a qualquer instante. Uma sensação que, embora eu tentasse ignorar, era ao mesmo tempo instigante e... inquietante.A lembrança daquele momento assombrou meus sonhos, e eu me vi tentando repassar cada detalhe, cada sensação, como se pudesse descobrir uma resposta escondida. O toque das mãos dele em meu rosto, o perfume amadeirado que parecia entorpecer meus sentidos, a forma como o mundo inteiro d
EmilyA segunda-feira chegou mais rápido do que eu imaginava. A madrugada de domingo me encontrou finalizando cada detalhe da nova versão da campanha de marketing, adaptada exatamente como Oliver Blake havia pedido. Cada cor e imagem, agora refletia o tom sóbrio e elegante que ele solicitou. Mas, como prometi a mim mesma, mantive a essência da minha proposta original. Eu tinha que encontrar uma forma de equilibrar o que ele desejava sem sacrificar completamente a visão que eu tinha para o projeto.Quando entrei no escritório naquela manhã, uma mistura de ansiedade e cansaço pesava em meus ombros. Hoje é o dia. Deixar Oliver Blake satisfeito com o resultado do meu trabalho se tornou mais do que um objetivo; era uma questão de orgulho.Cheguei à minha mesa e, antes que pudesse sequer abrir o notebook, Alice, a assistente pessoal do CEO, apareceu à porta do departamento.— Srta. Carter, bom dia — sua voz era sempre controlada, sem pressa, como se o mundo girasse em um ritmo só dela. — O
OliverA reunião com Emily havia terminado, e eu me encontrava novamente sozinho em meu escritório, observando a vista da cidade pela janela. A tensão que pairava no ar ainda era quase palpável, e as palavras dela ecoavam em minha mente. “Discordo, senhor Blake.”Quantas vezes alguém já havia dito isso para mim? Talvez nenhuma.A verdade é que poucos ousavam discordar de mim abertamente, e os que tentavam eram rapidamente lembrados de onde ficavam os limites. Eu nunca dei espaço para desentendimentos. Sou direto, exigente e... frio. Sempre me orgulhei disso. Essa era a imagem que construí ao longo dos anos, e que trazia resultados inquestionáveis. Eu não era o tipo de líder que inspirava pelas emoções ou simpatia. Minhas decisões eram respeitadas, e ponto.Mas Emily Carter estava me testando.Ela não fazia ideia de quem eu realmente era, ou de como eu observava cada movimento seu. O perfume dela ainda estava no ar, uma lembrança de seu olhar intenso, de seu tom de voz firme ao defende
OliverEla sempre soube como me tirar do controle, manipular as situações a seu favor. Sofia Harrington era especialista em fazer as pessoas dançarem conforme a sua música. Rica, mimada, acostumada a ter tudo o que queria. Eu sabia disso desde o início do nosso relacionamento, mas, de alguma forma, aquela intensidade dela me prendeu.Nos primeiros meses, foi fascinante. Eu, que sempre controlei tudo ao meu redor, encontrei em Sofia uma força oposta, alguém que não se dobrava facilmente. Alguém que queria não apenas estar ao meu lado, mas me ter por completo.Ela sempre teve tudo o que queria. E quando percebeu que eu não era uma de suas posses, foi aí que os problemas começaram.Quando entramos no relacionamento, Sofia fez questão de deixar claro que esperava mais. Casamento, filhos, uma vida que eu não estava preparado para oferecer. Enquanto ela sonhava com festas luxuosas, uma aliança de diamantes e o status de “Sra. Blake”, eu a via como alguém com quem podia me divertir, alguém q
EmilyA semana havia sido longa, mas produtiva. Eu estava ajustando os últimos detalhes da campanha e preparando a apresentação que faria diretamente para Oliver no fim do dia. A pressão era intensa, mas eu estava confiante no trabalho que havia feito. Cada detalhe da campanha estava minuciosamente planejado, e meu foco era apenas apresentar o projeto da forma mais clara e convincente possível.Peguei minha pasta com os materiais impressos e o tablet e segui para o elevador. A sala de Oliver ficava no andar mais alto, e as poucas vezes em que precisei ir até lá, um nervosismo quase automático tomava conta de mim. Eu ainda me lembrava das reuniões intensas com ele, do olhar atento e dos comentários incisivos. Mesmo quando ele concordava, sua aprovação parecia mais um teste do que um elogio.Assim que entrei no elevador, respirei fundo, ajustando a postura para parecer segura e confiante. Precisava me concentrar apenas no que estava prestes a apresentar, mas, antes que as portas se fech