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O beijo que mudou tudo

Emily

Meus olhos permaneciam fechados, como se, ao mantê-los assim, eu pudesse segurar aquele momento por mais alguns segundos. Minha respiração ainda estava acelerada, o coração martelando no peito, e os lábios formigavam.

O beijo. Aquele beijo.

Ainda podia sentir a pressão suave, mas ao mesmo tempo intensa, de seus lábios nos meus. A forma como o calor do seu corpo tinha me envolvido, o toque de suas mãos deslizando por minha pele. Era como se eu tivesse sido arrancada da realidade por alguns instantes. O elevador voltou a descer, e eu sentia o mundo ao meu redor girar.

E então, as portas se abriram, e o som foi o suficiente para me puxar de volta ao presente.

Ele se foi. Sem dizer uma palavra, o homem que me beijou – o homem misterioso que eu sequer consegui ver – desapareceu para fora do elevador. Minhas mãos ainda tremiam, como se meu corpo não tivesse compreendido que o momento havia acabado, que eu estava ali, sozinha.

Meus olhos, que ainda estavam se acostumando com a luz, focando na porta do elevador agora vazia, e uma onda de choque percorreu meu corpo.

O que acabou de acontecer? — Minha mente estava em um turbilhão de pensamentos, tentando desesperadamente encontrar uma lógica que explicasse tudo aquilo. Mas não havia lógica. Não havia razão. Só havia aquela sensação esmagadora que eu ainda não conseguia entender.

Eu me afastei da parede do elevador, meus dedos roçando os lábios enquanto tentava processar o que tinha acabado de viver.

— Como isso aconteceu? — murmurei em voz alta, ainda atordoada.

Eu não esperava resposta, e claro, ninguém respondeu. O elevador estava vazio, exceto pelo eco dos meus próprios pensamentos.

Era como se o ar no elevador tivesse mudado de repente, como se, em um momento, tudo estivesse normal, e no próximo, eu tivesse sido sugada para algo que estava muito além do meu controle.

Por que eu não o afastei? Por que não pedi para ele parar?

Isso era o que me assombrava. Durante cada segundo daquele beijo, eu sabia que poderia ter dito alguma coisa. Poderia ter me afastado, poderia ter parado. E, no entanto, tudo em mim gritava o oposto. Tudo em mim queria mais. E essa verdade me atingia como uma onda de culpa que eu não conseguia ignorar.

Nunca deveria ter permitido isso... não assim.

Eu me condenava. Como pude deixar um completo estranho me beijar. Não era assim que eu funcionava. Sempre me orgulhei de ser alguém racional, alguém que controlava suas próprias emoções. Nunca me envolvi em aventuras. Nunca fui de me permitir mergulhar em algo que não pudesse ser planejado, previsto.

Talvez seja por isso que, até hoje, meus relacionamentos sempre foram tão... superficiais. Controlados. Eu sempre fui a pessoa que mantinha os pés no chão, que sabia o que estava fazendo a cada passo que dava.

Mas agora, esse desconhecido... esse beijo... ele havia me feito perceber algo que eu não queria admitir. Talvez, apenas talvez, eu nunca tivesse realmente vivido de verdade.

— Emily, o que você estava pensando? — minha voz saiu quase como um suspiro. Eu sabia a resposta, mas não queria admitir para mim mesma.

A sensação dos lábios dele nos meus ainda estava presente, como um fantasma que eu não conseguia afastar. O cheiro dele... aquele cheiro. Era inebriante, algo amadeirado, com um toque de frescor que mexia com os meus sentidos de uma maneira que nunca havia experimentado antes. E era isso que estava me destruindo por dentro.

Por que eu deixei?

A culpa começou a pesar, uma sensação amarga que me apertava o peito. Não posso agir assim. Isso não sou eu. Eu deveria estar zangada. Deveria estar sentindo vergonha por ter deixado isso acontecer, por ter me permitido ser tão vulnerável com alguém que nem sei quem é.

— Quem você é, Emily? — perguntei, dessa vez mais alto, tentando achar alguma resposta dentro de mim mesma.

Mas a verdade é que eu estava tão perdida quanto antes. Cada fibra do meu corpo gritava que eu deveria estar me controlando, que eu deveria ter parado. Mas, ao mesmo tempo, cada parte de mim ainda estava vibrando, ainda queria aquele toque, aquele beijo.

Saí do elevador como se estivesse em transe, o prédio praticamente deserto. A sensação de solidão apenas intensificava o eco dos meus pensamentos. Caminhei até a porta da saída, as luzes da recepção já apagadas, exceto por alguns pontos que iluminavam vagamente o corredor. Cada passo que eu dava me afastava do elevador, mas não conseguia deixar o momento para trás. Não conseguia fugir da realidade que acabara de me engolir.

— Isso não faz sentido... — murmurei mais uma vez para mim mesma, já fora do prédio. A brisa fria da noite me atingiu, mas não foi suficiente para me tirar daquela névoa em que eu me encontrava. Meu corpo ainda estava em chamas, como se cada parte de mim estivesse viva de uma maneira que eu nunca havia experimentado. Eu queria odiar isso. Queria me sentir envergonhada.

Mas, a verdade era outra. A verdade era muito mais perturbadora.

Eu queria mais.

Aquela constatação me atingiu com força. Eu deveria estar irritada, confusa, talvez até um pouco assustada. E, no entanto, em vez de tentar afastar esse sentimento, tudo o que conseguia pensar era em como o beijo tinha sido perfeito. Como foi intenso e inesperado. Eu não sabia quem ele era, mas o desejo que eu sentia era palpável.

Por que eu estou assim?

Ele não disse uma palavra. Apenas desapareceu depois que as portas do elevador se abriram. E, no entanto, ele deixou uma marca em mim. Uma marca que eu não conseguia ignorar.

— Você está ficando louca, Emily... isso não é real — balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento. Eu não sou a mulher que se entrega a desejos impulsivos, que se deixa levar por algo assim.

Eu nunca vivi de verdade. Esse pensamento me assombrava, ecoava dentro de mim. Passei a vida toda sendo a pessoa prática, aquela que sempre pensava antes de agir, que nunca se permitia fazer algo apenas porque queria. Nunca me envolvi em paixões intensas. Nunca deixei alguém me dominar assim.

Talvez eu tivesse medo de me machucar, de me perder em algo que eu não pudesse controlar. Mas agora... tudo parecia diferente. Como se, pela primeira vez, eu tivesse permitido que meu corpo tomasse a frente, que eu sentisse de verdade.

— Eu nunca senti algo assim... — sussurrei, caminhando pela calçada até meu apartamento, as luzes dos postes criando sombras ao meu redor. Minhas mãos ainda tremiam levemente, como se o calor do momento ainda estivesse comigo.

Por mais que eu quisesse lutar contra isso, o que eu realmente sentia era o oposto. Eu queria mais. Queria saber quem ele era, queria entender o que estava acontecendo, queria sentir aquela sensação outra vez.

Cheguei à porta do meu prédio, a mente ainda longe, perdida naquele elevador, naquele beijo que havia virado tudo de cabeça para baixo. Entrei no apartamento, mas minha mente ainda estava presa lá.

Quem era aquele homem?

Eu não sabia. Mas o que eu sabia, de forma inegável, é que minha vida não seria a mesma depois daquela noite.

Preciso saber quem ele é, mas será que vou gostar do que descobrir?

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