Oliver
A sala de reuniões ainda tinha o cheiro familiar de café e papel novo, misturado ao ar-condicionado incessante, quando me levantei para sair. A apresentação da campanha de marketing terminou sem grandes complicações, como deveria ser. Emily Carter se movia com desenvoltura, embora discretamente, no canto da sala. Ela manteve o silêncio enquanto seu colega de equipe, Daniel, liderava a apresentação, mas eu a observava de perto. Sempre.
É impressionante como ela parece alheia à atenção que atrai. Três meses na Blake Industries e eu já conhecia bem o seu trabalho, a sua dedicação. No entanto, ela não fazia ideia do que estava por trás das flores que sempre encontrava em sua mesa. E é exatamente assim que deve ser.
A verdade é que controle é o que define minha vida, e permitir que qualquer coisa, ou qualquer pessoa, comprometa isso seria um sinal de fraqueza. Eu não posso ser fraco. Não na minha posição. Não com tantas pessoas observando, esperando pelo menor sinal de erro para atacar.
— Senhor Blake, mais alguma coisa antes de finalizarmos a reunião? — A voz de Alice trouxe meus pensamentos de volta ao presente.
— Não, Alice. Isso é tudo por agora. Reagende minha reunião com os investidores para as duas da tarde — respondi, minha voz fria e neutra, como sempre. Ela assentiu com a cabeça e fez uma anotação rápida no tablet.
Os outros diretores começaram a se levantar e sair da sala em silêncio. Todos estavam acostumados a isso. Minhas reuniões raramente eram uma oportunidade para longas discussões. Não era assim que as coisas funcionavam na Blake Industries. Minha palavra era final, e quem não se adaptasse a isso não ficava por muito tempo.
Observei de relance enquanto Emily organizava seus papéis e se preparava para sair também. Não era nada de especial, apenas uma designer gráfica entre muitos outros. Ela mal olhava em minha direção, o que era uma vantagem. Eu não queria que ela soubesse que estava constantemente sob meu radar. Que seus talentos e sua paixão pelo que fazia eram mais do que notáveis para mim.
Quando a porta se fechou, me vi sozinho na sala por um momento. Olhei para o tablet em minhas mãos, revisando os detalhes do projeto que havia sido apresentado. Mais uma vez, ela tinha superado as expectativas. A visão criativa de Emily elevava a campanha a um nível que poucos da equipe de marketing conseguiriam alcançar. E foi isso que me chamou a atenção pela primeira vez. Sua dedicação e a maneira como ela se diferenciava no que fazia.
Mas, ainda assim, enviar flores foi um movimento impensado. Descontrolado. Era algo que eu não fazia. Não há espaço para gentilezas ou gestos românticos na minha vida. E, no entanto, toda semana eu me via pedindo que um novo buquê fosse entregue ao seu escritório, com um bilhete impessoal, como se isso fosse o suficiente para satisfazer essa necessidade que eu não entendia.
— Senhor?
Alice estava de volta à porta, sua expressão neutra de sempre. Eu não precisei falar para que ela continuasse.
— Eu estava atualizando sua agenda para a semana que vem. Precisamos reagendar a reunião com o diretor de operações para segunda-feira às dez. Posso mover outros compromissos, se necessário — ela ofereceu, já pronta para ajustar qualquer detalhe que fosse preciso.
— Sim, mova os compromissos da tarde para outro dia — respondi, colocando o tablet na mesa. — E certifique-se de que a equipe de finanças tenha todos os relatórios atualizados para a próxima revisão de desempenho.
Alice assentiu rapidamente. Ela sabia que eu não gostava de repetições, e tampouco tolerava incompetência. Meu tempo era valioso, e Alice, talvez mais do que qualquer outra pessoa na Blake Industries, entendia isso.
— Há algo mais? — perguntei, notando que ela ainda estava parada na porta, como se estivesse esperando uma oportunidade para dizer algo.
— Na verdade, sim, senhor Blake — ela respondeu, hesitando levemente. — Recebi um pedido de um dos diretores do departamento de design, mencionando que gostariam de propor uma nova abordagem criativa para a próxima campanha de produto. Achei que talvez fosse de seu interesse.
Ergui uma sobrancelha. Isso era incomum. Alice raramente mencionava coisas que não estivessem diretamente ligadas aos números.
— E o que exatamente eles têm em mente?
— Eles querem que a campanha seja mais centrada em histórias visuais e menos em especificações técnicas. Algo que... conecte emocionalmente com o público, sem perder o foco nos avanços tecnológicos.
Emoção. Algo que sempre pareceu irrelevante para mim. Mas a verdade era que o sucesso no mercado muitas vezes dependia de como o produto fazia as pessoas se sentirem, não apenas de como funcionava. Isso era algo que eu sabia, mesmo que não fosse algo com que me importasse.
— Quem lideraria essa nova abordagem?
— Emily Carter foi mencionada como a principal criadora da proposta. Ela tem uma visão muito clara sobre como podemos equilibrar a inovação técnica com uma narrativa mais envolvente — respondeu Alice, sempre precisa em suas informações.
Emily, novamente. Ela não parava de se destacar, mesmo sem perceber. Era irritante, em certo nível, como essa funcionária que eu mal conhecia conseguia me fascinar com suas ideias.
— Diga à equipe de design que eu aprovo a iniciativa. Quero uma apresentação completa na próxima semana — finalizei.
— Certamente. Algo mais que eu possa fazer?
— Não, Alice. Apenas cuide dos agendamentos.
Ela assentiu e saiu da sala com a mesma discrição de sempre. Assim que a porta se fechou, um pensamento me ocorreu: até onde esse jogo com Emily poderia ir antes de fugir do meu controle? Eu estava investindo tempo e atenção em alguém que, no grande esquema das coisas, não deveria sequer estar no meu radar. Ela era talentosa, sim, mas não o suficiente para justificar essa distração.
Por que, então, eu continuo?
O telefone sobre a mesa vibrou, trazendo-me de volta à realidade. Uma mensagem. Abri-a com um toque, esperando por algo trivial, mas o conteúdo me surpreendeu.
"Obrigada pelas flores, de novo. Elas realmente iluminaram meu dia. É um gesto gentil e inesperado, obrigada a quer que você seja."
Era uma resposta direta ao bilhete que mandei com o último buquê. Nada pessoal, mas o suficiente para me fazer hesitar por um momento.
Eu não devia estar envolvido nisso. E, no entanto, aqui estava eu, esperando uma simples mensagem de agradecimento como se fosse um adolescente inseguro. Isso não era eu. Isso não podia ser eu.
Com um toque rápido, apaguei a mensagem e voltei minha atenção para o trabalho. Tinha decisões a tomar. Reuniões a preparar. O mundo ao meu redor precisava continuar funcionando sem falhas, como uma máquina perfeitamente calibrada. E eu? Eu sou o homem que mantém essa máquina rodando.
***
Naquela tarde, as reuniões com os investidores se arrastaram por mais tempo do que o esperado. Eles queriam garantias. Queriam resultados. Como sempre. E, como sempre, eu forneci o que era necessário para acalmá-los, mantendo as previsões de crescimento intocadas.
Era um ciclo que eu dominava. Controle. Eu sempre mantinha o controle.
Assim que terminei o último encontro, voltei para o meu escritório, sentindo o peso do dia nas costas. Alice estava lá, como de costume, ajustando os detalhes finais da minha agenda para o resto da semana. Parecia que cada segundo do meu tempo estava ocupado por algo ou alguém que demandava minha atenção.
Ela me olhou por cima dos óculos ao perceber que eu entrava.
— Tudo conforme o planejado, senhor Blake? — perguntou, sem tirar os olhos do tablet.
— Sim. Como esperado. Alguma novidade?
— Nenhuma relevante. Todos os relatórios financeiros foram revisados e os cronogramas estão em ordem para a próxima semana.
Assenti, tentando ignorar o leve cansaço que se instalava. Precisava manter o foco. Havia ainda muito o que fazer, muitos detalhes a ajustar. Nada poderia ser deixado ao acaso.
— E sobre o projeto de design? — perguntei, mais por curiosidade do que por necessidade. Alice sabia o que eu esperava dela, mas me interessava saber como as coisas estavam se movendo.
— A equipe de Emily está fazendo avanços sólidos. Eles planejam apresentar algo mais concreto até o final da próxima semana.
— Certo. Mantenha-me informado.
Alice saiu logo depois, deixando-me sozinho com meus pensamentos novamente. O relógio já marcava seis da tarde, e eu sabia que deveria ir embora, mas algo me mantinha preso à cadeira.
As flores, os bilhetes, os pequenos gestos que enviei. Por quê? Eu não era alguém que fazia essas coisas. O que me motivava a continuar com esse jogo?
Parei por um momento e olhei para o horizonte além das janelas enormes do meu escritório. A cidade se estendia abaixo de mim, uma vastidão de luzes e sombras. Tudo parecia pequeno daqui de cima. E, no entanto, essa pequena distração, essa mulher que eu mal conhecia, estava começando a penetrar nas barreiras que passei anos construindo.
Emily Carter. Ela não sabia disso, mas havia se tornado mais do que uma funcionária em minha empresa. Havia algo nela que desafiava o meu controle, e que me fazia querer continuar com o que, claramente, era uma distração.
Talvez fosse hora de parar. Cortar o que ainda podia ser cortado antes que fosse longe demais. Antes que eu perdesse o controle sobre o que mais importava.
Levantei-me, decidido a voltar ao foco que sempre me guiou.
Não posso deixar que ela continue bagunçando a minha vida, mas por que diabos continuo permitindo?
OliverEu não deveria estar fazendo isso.Enquanto a luz fria da tela iluminava o escuro do meu escritório, observei Emily Carter mais uma vez pelas câmeras de segurança. Ela estava em seu cubículo, a essa hora em que a maioria dos funcionários já havia ido embora. Todos os outros andares estavam vazios, exceto pelo fraco brilho da luz sobre seu local de trabalho. As mãos dela se moviam ágeis, organizando papéis e pastas, e eu estava ali, observando, como um maldito stalker.Senti a familiar onda de frustração tomar conta de mim. O que estou fazendo? Eu, Oliver Blake, CEO da Blake Industries, assistindo uma funcionária pela tela das câmeras de segurança. Isso era insano. Eu sabia que era. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim me mantinha grudado à tela, incapaz de desviar o olhar.Tentei justificar isso para mim mesmo inúmeras vezes. Fiquei convencido de que o que me prendia a Emily era sua dedicação, sua capacidade de mergulhar tão profundamente no trabalho que se esquecia de tudo ao redo
EmilyMeus olhos permaneciam fechados, como se, ao mantê-los assim, eu pudesse segurar aquele momento por mais alguns segundos. Minha respiração ainda estava acelerada, o coração martelando no peito, e os lábios formigavam.O beijo. Aquele beijo.Ainda podia sentir a pressão suave, mas ao mesmo tempo intensa, de seus lábios nos meus. A forma como o calor do seu corpo tinha me envolvido, o toque de suas mãos deslizando por minha pele. Era como se eu tivesse sido arrancada da realidade por alguns instantes. O elevador voltou a descer, e eu sentia o mundo ao meu redor girar.E então, as portas se abriram, e o som foi o suficiente para me puxar de volta ao presente.Ele se foi. Sem dizer uma palavra, o homem que me beijou – o homem misterioso que eu sequer consegui ver – desapareceu para fora do elevador. Minhas mãos ainda tremiam, como se meu corpo não tivesse compreendido que o momento havia acabado, que eu estava ali, sozinha.Meus olhos, que ainda estavam se acostumando com a luz, foc
EmilyOs dias seguintes passaram como um borrão. Eu mergulhei no trabalho, tentando a todo custo me afastar das lembranças do elevador. Mas era como tentar escapar da própria sombra; por mais que eu tentasse me focar nos projetos, nas reuniões, nos relatórios, os pensamentos sobre aquele momento me seguiam.Eu ainda não sabia quem ele era, o homem que me beijou e desapareceu sem dizer nada. Mas, de alguma forma, ele continuava presente. Cada vez que o elevador se fechava, cada vez que eu passava pelos corredores vazios da empresa, uma tensão invisível me envolvia, como se ele pudesse aparecer a qualquer instante. Uma sensação que, embora eu tentasse ignorar, era ao mesmo tempo instigante e... inquietante.A lembrança daquele momento assombrou meus sonhos, e eu me vi tentando repassar cada detalhe, cada sensação, como se pudesse descobrir uma resposta escondida. O toque das mãos dele em meu rosto, o perfume amadeirado que parecia entorpecer meus sentidos, a forma como o mundo inteiro d
EmilyA segunda-feira chegou mais rápido do que eu imaginava. A madrugada de domingo me encontrou finalizando cada detalhe da nova versão da campanha de marketing, adaptada exatamente como Oliver Blake havia pedido. Cada cor e imagem, agora refletia o tom sóbrio e elegante que ele solicitou. Mas, como prometi a mim mesma, mantive a essência da minha proposta original. Eu tinha que encontrar uma forma de equilibrar o que ele desejava sem sacrificar completamente a visão que eu tinha para o projeto.Quando entrei no escritório naquela manhã, uma mistura de ansiedade e cansaço pesava em meus ombros. Hoje é o dia. Deixar Oliver Blake satisfeito com o resultado do meu trabalho se tornou mais do que um objetivo; era uma questão de orgulho.Cheguei à minha mesa e, antes que pudesse sequer abrir o notebook, Alice, a assistente pessoal do CEO, apareceu à porta do departamento.— Srta. Carter, bom dia — sua voz era sempre controlada, sem pressa, como se o mundo girasse em um ritmo só dela. — O
OliverA reunião com Emily havia terminado, e eu me encontrava novamente sozinho em meu escritório, observando a vista da cidade pela janela. A tensão que pairava no ar ainda era quase palpável, e as palavras dela ecoavam em minha mente. “Discordo, senhor Blake.”Quantas vezes alguém já havia dito isso para mim? Talvez nenhuma.A verdade é que poucos ousavam discordar de mim abertamente, e os que tentavam eram rapidamente lembrados de onde ficavam os limites. Eu nunca dei espaço para desentendimentos. Sou direto, exigente e... frio. Sempre me orgulhei disso. Essa era a imagem que construí ao longo dos anos, e que trazia resultados inquestionáveis. Eu não era o tipo de líder que inspirava pelas emoções ou simpatia. Minhas decisões eram respeitadas, e ponto.Mas Emily Carter estava me testando.Ela não fazia ideia de quem eu realmente era, ou de como eu observava cada movimento seu. O perfume dela ainda estava no ar, uma lembrança de seu olhar intenso, de seu tom de voz firme ao defende
OliverEla sempre soube como me tirar do controle, manipular as situações a seu favor. Sofia Harrington era especialista em fazer as pessoas dançarem conforme a sua música. Rica, mimada, acostumada a ter tudo o que queria. Eu sabia disso desde o início do nosso relacionamento, mas, de alguma forma, aquela intensidade dela me prendeu.Nos primeiros meses, foi fascinante. Eu, que sempre controlei tudo ao meu redor, encontrei em Sofia uma força oposta, alguém que não se dobrava facilmente. Alguém que queria não apenas estar ao meu lado, mas me ter por completo.Ela sempre teve tudo o que queria. E quando percebeu que eu não era uma de suas posses, foi aí que os problemas começaram.Quando entramos no relacionamento, Sofia fez questão de deixar claro que esperava mais. Casamento, filhos, uma vida que eu não estava preparado para oferecer. Enquanto ela sonhava com festas luxuosas, uma aliança de diamantes e o status de “Sra. Blake”, eu a via como alguém com quem podia me divertir, alguém q
EmilyA semana havia sido longa, mas produtiva. Eu estava ajustando os últimos detalhes da campanha e preparando a apresentação que faria diretamente para Oliver no fim do dia. A pressão era intensa, mas eu estava confiante no trabalho que havia feito. Cada detalhe da campanha estava minuciosamente planejado, e meu foco era apenas apresentar o projeto da forma mais clara e convincente possível.Peguei minha pasta com os materiais impressos e o tablet e segui para o elevador. A sala de Oliver ficava no andar mais alto, e as poucas vezes em que precisei ir até lá, um nervosismo quase automático tomava conta de mim. Eu ainda me lembrava das reuniões intensas com ele, do olhar atento e dos comentários incisivos. Mesmo quando ele concordava, sua aprovação parecia mais um teste do que um elogio.Assim que entrei no elevador, respirei fundo, ajustando a postura para parecer segura e confiante. Precisava me concentrar apenas no que estava prestes a apresentar, mas, antes que as portas se fech
OliverSofia estava sentada à minha frente na sala de reuniões, sem sequer ter avisado, os olhos me avaliando enquanto fazia comentários despretensiosos sobre o mercado, como se tivesse vindo para uma visita casual. Mas eu sabia que ela raramente fazia algo sem um propósito oculto. Desde que reapareceu na Blake Industries, minha ex-namorada, como sempre, tentava retomar alguma forma de controle sobre mim. Ela ainda carregava aquele ar de superioridade, uma segurança inabalável de que tudo e todos deveriam girar ao seu redor.Ela ajeitou o cabelo loiro sobre o ombro e lançou um sorriso enigmático, como se esperasse uma reação. Quando se tratava de Sofia, eu sabia que paciência era a melhor estratégia, embora cada segundo de sua presença me lembrasse do porquê de nosso relacionamento não ter funcionado. Seu desejo de controle era tão insaciável quanto o meu, e, em algum momento, eu sabia que não poderíamos dividir o mesmo espaço.— Oliver, não acha que a fusão que comentei é uma ideia i