EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 2. Algo pior que uma avalancheNão era charme, talvez isso fosse o pior de tudo. O que transbordava daquela mulher pelos poros era determinação.Peter franziu a testa quando a viu dar um passo atrás, porque se queria seduzi-lo definitivamente se afastar do contato físico não era a melhor maneira, mas a moça só se aproximou da janela e olhou pros altos picos nevados que eram os verdadeiros protagonistas dos Jogos de Inverno.—Sei que você é um dos poucos que já se lançou do Pico Skatgan —comentou e Peter franziu a testa.—Quando era jovem, sexy e imprudente, algumas vezes —respondeu com curiosidade porque não muita gente perguntava sobre isso.—Então quer dizer que agora você é só imprudente? —replicou ela levantando uma sobrancelha provocante e Peter quase lançou um olhar assassino.—Por que você se interessa pelo Pico Skatgan? —questionou—. É perigoso demais. Não permitem competições lá porque é arriscado demais. Não tem esporte legal que se poss
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 3. Sozinhos na tempestadeKim sentiu que cada fibra de seu corpo estremecia enquanto corria desesperadamente atrás de Peter. Sabia que o Pico Skatgan era perigoso, mas entre as muitas coisas em que tinha pensado antes de fazer aquela viagem, em nenhum momento tinha ocorrido checar como estaria o clima.—Peter... Peter, o que é isso?! —gritou, mas sabia que o vento era tão forte ao redor que ele não podia escutá-la.Peter puxou ela com violência, e Kim percebeu que não iam pra cima nem pra baixo, mas de lado, tentando cruzar a montanha até a passagem mais próxima. Era como um estreito entre duas elevações rochosas na montanha, a única coisa que estava coberta ao redor.Peter não estava tão louco a ponto de subir num lugar perigoso e não ter opções de backup, no entanto nem tinha esperado ficar tanto tempo, nem tinha esperado que a tempestade se desencadeasse tão rápido.Então a única coisa que podiam fazer era continuar avançando até que conseguiram
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 4. Presos—Nada vai acontecer com a gente —garantiu Peter com um suspiro porque de verdade era isso que esperava—. Esta cabana é feita pra enfrentar situações piores, uma tempestade passa no Pico Skatgan a cada duas ou três semanas, então não se preocupe —sibilou entre os dentes porque a verdade era, infelizmente, que ninguém podia prever uma situação como aquela.Certamente a cabana estava preparada pra isso e muito mais, mas esse não era o verdadeiro problema, e sim que uma tempestade podia demorar desde horas até dias.—Droga! Isso pode ser um desastre dos infernos! —rosnou com impotência porque sabia que se a tempestade demorasse pra terminar, não ia poder participar em sua segunda competição dos Jogos de Inverno.Andou pela cabana passando as mãos pelos cabelos com impotência e se virou pra moça que estava encolhida num canto.—Vamos, levanta daí, você tá completamente encharcada com a neve e eu também, e a última coisa que precisamos é que ag
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 5. Uma última esperança... perdidaAgora sim estava assustada, estava tão assustada que sentia que os joelhos tremiam a ponto de derrubá-la. Kim olhou pra neve que caía do alto da porta segurada por Peter, e isso só significava que lá fora tinham que ter se amontoado contra a porta quase dois metros de neve.Ajudou ele a empurrar até que voltou a fechá-la com dificuldade e os dois apoiaram as costas contra a madeira com os corações acelerados.—Não pode ser... não pode ser! —exclamou a moça levando as mãos à cabeça—. Deus não pode fazer isso comigo, tenho que sair daqui... temos que... você tem um campeonato e eu...! Meu Deus...!Parecia que não seria capaz de juntar uma frase com outra ou sequer um pensamento coerente. Então Peter respirou fundo e tentou alcançá-la, mas parecia que de um momento pro outro ela estava à beira desse ponto onde não tinha chegado nem no pior momento da tempestade: a histeria.—Ei, não tem problema, ainda tem esperança.
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 6. Uma aventuraTalvez "calma" não fosse a palavra correta, talvez "letárgica" fosse o melhor termo pra descrever como se sentia naquele momento.Cobriu a cabeça com as mãos e se encolheu, mas nada, absolutamente nada podia mudar o fato de que estavam presos ali e que não poderia sair, que não poderia entregar aquela foto ou ganhar o dinheiro que precisava.Kim chorou com aquele desespero e aquela impotência de quem já recebeu golpes demais da vida e não quer suportar nenhum mais, mas a realidade era que em certo ponto tinha que aceitar que já nada estava sob seu controle, especialmente sua própria vida.Nem sabia quanto tempo tinha passado, talvez uma hora, talvez seis, mas no mesmo momento em que o vento começou a soar de novo como um enorme tambor desafinado, sentiu os braços de Peter levantando-a com firmeza e empurrando-a pra cabana, onde voltaram a se refugiar daquele clima terrível.—Tinha esperado que fosse menos tempo, mas agora não podemo
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 7. MarcasPeter respirou devagar. Ela era tão suave, tão estranhamente pequena comparada com ele, que sentia como se a tivessem fabricado como uma parte mais de seu corpo, pronta pra se encaixar como uma engrenagem perfeita ao seu lado.Não pôde negar, o que restou do dia e o resto daquela noite foi tortuosamente difícil. Às vezes a ouvia chorar um pouco no meio da escuridão, mas muito baixo, como se de verdade esperasse que ele não percebesse aquela angústia que estava torturando ela.Mas finalmente um novo dia amanheceu, um em que Peter devia estar já competindo na segunda rodada do campeonato, e ela... só Deus sabia onde devia estar ela nesse dia, mas era óbvio que nenhum dos dois chegaria ao seu destino.Peter se levantou devagar e a deixou aconchegada, e foi limpar um pouco um dos vidros da janela pra olhar lá fora. O céu continuava escuro e cinza, e o clima não tinha melhorado em absoluto.Fez algo pro café da manhã e tentou que Kim comesse u
EM MINHA PRÓXIMA VIDA.Capítulo 8. Uma oportunidade.—Posso ver essa foto?Por um segundo, para Kim aquela pergunta foi como voltar a lembrar que todo o risco já não valia mais nada; mas sua câmera estava num canto, intacta, e não havia nenhum motivo real para não mostrar o que tinha ali.Levantou-se devagar e a tirou do estojo, aproximando-a, enquanto Peter sentava atrás dela e a aconchegava contra seu peito. A pequena tela digital se iluminou em questão de segundos e logo puderam ver aquela última foto que ela tinha tirado.O perfil era estranho e parecia distorcido, a prancha de snowboard parecia gigantesca vista de baixo, com ele em cima e sua expressão entre furiosa e concentrada debaixo dos óculos de neve. Atrás via-se o céu escuro pela tempestade e aquela sombra aterrorizante que era o Pico Skatgan.Era realmente uma foto incrível, e dava pra notar que ela era uma profissional muito experiente.—Caramba! Quantos anos você tem e de quem mais você já tirou fotos na sua vida
EM MINHA PRÓXIMA VIDA. Capítulo 9. Sombras do desejoNão estava mentindo. Porque naquele momento, por mais estranho que pudesse parecer, o sorriso daquele homem fazia com que tudo dentro do corpo de Kim se enchesse de paz. Sabia que deveria haver um momento para o remorso, mas definitivamente não seria aquele.Para Peter Ferguson, aquele dia em que tinha entrado por acaso em seu quarto de hotel, essa era a primeira vez que sabia que ela existia. Kim, por outro lado, já o tinha visto vezes demais. Tinha estudado cada um de seus saltos, cada uma de suas competições, para se certificar de que aquele era, de fato, o homem que queria fotografar.E talvez fosse esse encontro unilateral, ou talvez fosse simplesmente a sedução implícita do desconhecido e do perigoso, mas sabia que no fundo havia apenas um motivo pelo qual o tinha escolhido: porque gostava dele, porque tinha gostado mais do que qualquer outro, mesmo que fossem melhores atletas.Sentiu que derretia enquanto toda sua pele e