Anja sentia que o coração sairia do peito ao perceber que mal conseguia se mexer. Seus membros pareciam pesados e sua fraqueza era evidente.—Doutor, o que está acontecendo? —perguntou Milo ao ver a cara de preocupação do médico.—Me desculpe, Anja, mas preciso fazer um novo teste de sensibilidade para termos mais certeza. Posso? —disse o médico tirando sua caneta do bolso do jaleco.—Sim... claro...O médico pegou a caneta e com delicadeza, começou a passar a ponta sobre as mãos e os pés de Anja.—Preciso que você me diga em que direção sente o toque.Anja tentou responder apesar de estar nervosa. Ela sentia cada toque, mas sua resposta era fraca, como se seus sentidos estivessem diminuídos.—Anja —disse o médico suavemente—, parece que seus nervos estão funcionando corretamente, mas você está apresentando uma fraqueza notável. Precisamos realizar mais exames para determinar o quão sério é, tudo bem? Os médicos vão levá-la e eu estarei com você em um minuto.Anja, incapaz de conter as
Momentos depois, o médico entrou com uma folha de resultados nas mãos e expressão tranquila.—Tenho boas notícias, todas boas, Anja, então por favor preciso que você fique calma —explicou—. Você ficou um tempo em hipóxia quando aconteceu o... acidente. Então é normal que fiquem algumas sequelas, mas acredite, não são tão graves. A fraqueza muscular que você tem pode ser reversível. Em alguns dias, se você evoluir bem, vamos dar alta e imediatamente começaremos com o tratamento. A melhor notícia de todas é que sua recuperação, absolutamente toda ela, dependerá de você, e já sabemos que você é uma guerreira, então com força de vontade em seis meses tudo isso terá ficado para trás.Anja assentiu enquanto um soluço escapava de seu peito.—Posso aguentar seis meses —garantiu entre lágrimas—. Eu posso aguentar seis meses.—Você pode com tudo —garantiu Milo beijando sua testa.—Então vamos nos acalmar e celebrar que você está viva e que muito em breve estará totalmente recuperada —animou o do
Milo pegou Anja no colo para levá-la até o carro, acomodou-a no banco do passageiro e depois sentou-se ao volante pronto para levá-la para casa. Pegaram o trânsito em silêncio, mas ele notou como um dos dedos de Anja se mexia sobre o botão da janela. Ele abaixou o vidro para ela do seu lado e a moça suspirou com a brisa suave da manhã.—Obrigada —murmurou ela fechando o punho—. Já tenho bastante controle das minhas mãos, mas ainda não tenho muita força.—Logo você terá, fica tranquila. Enquanto isso, vamos para casa tirar esse cheiro horrível de hospital —sorriu Milo, mas não pôde evitar notar a expressão triste e preocupada de Anja, como se algo a estivesse perturbando profundamente. Enquanto dirigia, decidiu criar coragem e abordar o assunto.—Anja, querida, como você está se sentindo, no que está pensando? —perguntou Milo com suavidade.Anja olhou pela janela por um momento antes de responder com voz trêmula:—Não consigo parar de pensar nas palavras daquela enfermeira. E se for ver
E talvez naquele momento Anja soube que algo em sua vida tinha mudado para sempre, e não tinha nada a ver com sua doença.No dia seguinte, Milo a acordou cedo para sua primeira sessão de fisioterapia, e Anja nem pensou em reclamar de começar o dia na banheira com ele.—Querida, você está me mordendo? —perguntou Milo de repente e a viu fazer uma careta de criança pega no flagra.—Mmmm... não, estava te beijando.—O pescoço? Agora você é vampira?—Não, mas pensei que talvez uma marquinha manteria longe a próxima assanhada —suspirou ela—. Como ainda não sei quem vai ser meu fisioterapeuta...—Bom, então estamos ferrados, porque se for mulher você tem um treco, e se for homem eu tenho. Espera aí, deixa eu te marcar também, só por precaução.Anja caiu na gargalhada e aquele era o melhor som do mundo para Milo, embora sendo honesto quando viu que o fisioterapeuta de Anja era uma cópia sarada do Pé Grande, quase teve um treco de verdade.Por sorte ele também era um tirano, ranzinza, rabugento
JANEIROSEATTLE— Como você foi capaz de fazer isso?! — O rugido furioso de Zack Keller deteve sua namorada na porta de casa assim que a viu chegar.Giselle viu um papel em sua mão e nem sabia do que ele estava falando, mas nunca o tinha visto tão alterado como naquele momento.— Não sei do que você está falando...— Claro que sabe! Você abortou meu filho! Você o perdeu de propósito! — ele a acusou com raiva. — Você ao menos tinha a maldita intenção de me contar alguma coisa?!A mulher à sua frente ficou pálida.— Como... como você sabe...?Zack jogou aquele papel na direção dela e a olhou com decepção.— Você esquece que está no plano de saúde da minha empresa? — ele cuspiu, aproximando-se dela. — Assim que seu sobrenome apareceu nos registros de pagamento, me avisaram. Imagine minha alegria quando soube que o seguro tinha pago por um teste de gravidez e depois por uma ultrassonografia!Giselle se afastou dele com o rosto vermelho de vergonha, mas Zack não era do tipo que da
NOVEMBROVANCOUVER— Andrea! Na minha sala! Agora!O grito de seu chefe, um gerente médio na empresa SportUnike, a fez pular na cadeira, angustiada, porque sabia que ele estava de muito mau-humor naquele dia.— Isso é uma maldita piada? — rosnou, jogando uma pasta de documentos em seu rosto. — Eu disse claramente que precisava dos relatórios de orçamento da divisão de esportes aquáticos do mês passado!Andrea arregalou os olhos.— Mas... senhor Trembley... tenho certeza de que o senhor me disse que queria os deste mês...— Não discuta comigo, sua inútil! — vociferou o chefe. Aos cinquenta anos, Peter Trembley era tão desagradável quanto sua barriga inchada, mas Andrea tinha que suportá-lo porque mal tinha conseguido um emprego como sua assistente e disso dependiam ela e sua filha para viver. — Você não percebe o que está acontecendo? A SportUnike desapareceu! Um suíço filho da mãe a comprou e agora seremos apenas uma filial da empresa dele! Sabe o que isso significa?Andrea sab
Mas se Zack achava que algo naquela empresa estava errado, seu instinto disparou quando desceu ao estacionamento e viu Andrea encostada em uma das paredes. Ela tentava trocar os sapatos de salto por tênis baixos, mas suas mãos tremiam.Ele ficou tentado a ir falar com ela, mas algo nele ainda resistia a se envolver nos problemas alheios. Tinha uma nova empresa para dirigir, e se queria que Andrea se sentisse melhor, só precisava consertar sua empresa, não a vida pessoal dela.Por fim, viu ela ajustar o casaco e sair para o frio da rua.Observou-a de longe e percebeu que ela não pegava um táxi nem um ônibus, então provavelmente morava perto. Mas Zack não fazia ideia de quão errado estava, porque Andrea não morava nem remotamente perto; simplesmente não podia se dar ao luxo de pagar nenhum tipo de transporte.Durante quarenta minutos, a moça caminhou no frio de um inverno canadense, e quando finalmente chegou ao seu prédio, já estava quase escurecendo.— Boa tarde, senhora Wilson —
O rosto de Trembley ficou visivelmente vermelho e a dureza em seus olhos permaneceu.— Esperando Andrea? — rosnou. — Você está brincando ou acabou de chegar e não sabe que relacionamentos interpessoais são proibidos nesta empresa?— Bom, sou de aprendizado lento, mas tendo a imitar — replicou Zack com sarcasmo. — Talvez eu tenha me confundido quando vi o senhor se agarrando a ela como uma iguana com falta de sol.O velho cerrou os dentes e soltou Andrea bruscamente antes de caminhar até ele.— Não se meta no meu caminho, moleque. Você é só um recém-chegado e eu posso...— O quê? Me demitir? — interrompeu Zack com voz gélida. — Bem... pode tentar, mas verá que meu trabalho aqui não depende do senhor. Faço parte da equipe dos sonhos desta companhia e só ele pode me demitir. Tenho certeza de que não veria com bons olhos o gerente de plantão tentando me demitir sem justa causa.Trembley cerrou os punhos e o encarou com uma expressão maldosa e desafiadora.— Talvez seu emprego esteja